quarta-feira, 30 de abril de 2014

Apontamento 44: O encontro de miseráveis



Se tivesse capacidade e dotes especiais para transpor factos reais para um universo de ficção, engenho e arte que, de facto, não me foram concedidos, poderia transformar um evento insólito, presenciado, numa prosa com laivos de verosimilhança.
Na ausência de dotes superiores, fico-me pela narração factual de um encontro de miseráveis, claro está, falando de condição social e mental, tão ao sabor dos nossos tempos.
Imaginemos, pois, um “artista português”, falando alto para dar nas vistas, a aproximar-se do seu local de trabalho. Neste caso, o Teatro Municipal S. Luís, em Lisboa. Berrava, de dentro da sua viatura, para uma nova figura típica de Lisboa, o “arrumador” – sabe-se lá da quantidade de “arrumos” de que ele vive. Eles são tantos ! Como o artista não conseguia um lugar de estacionamento, maçada reservada aos restantes cidadãos, recorreu ao “lobby dos arrumos” estabelecido, há muito, na zona. Ele até anda com um molho de chaves de tanta gente, mais uma não lhe faz diferença nenhuma. E ter a chave de carro de um artista, mesmo por minutos para lhe fazer o “serviço”, até lhe dá uma certa “ficha” e promoção social na miséria que nos cerca.
O processo até é simples. O presumível cliente pára o carro num sítio, entrega a chave ao arrumador e vai à vida.



Ele faz o trabalho dele, frequentemente barrando um lugar ao cidadão comum, para servir o “seu cliente”. Foi o que aconteceu.


Apenas uma completa ausência de princípios morais e cívicos poderá explicar essa profusão de “lobbies”, do mais comezinho e miserável ao mais elaborado e pernicioso, vivendo sempre da conivência e do pequeno “jeito”, de “siguranças” a arrumadores e quejandos, em vez de se empenhar na construção de uma democracia adulta, em que a lei e as regras são de cumprimento e respeito obrigatórios para todos.

Enquanto uma Câmara Municipal da capital de um país tolera esta subversão, e até os agentes de autoridade declaram desconhecer semelhante fenómeno, estaremos longe de uma democracia real em que o cidadão cumpridor e consciente não se sinta esmagado por esse mundo de “novos miseráveis” em ascensão.

Post de HMJ

Historinhas


Era uma vez, aqui há muitos anos atrás, em que uma carcaça, honesta e bem cozida, custava,  numa padaria modesta, Esc. $50, enquanto uma acção, na Bolsa de Lisboa, de uma companhia, que se prezasse de o ser, custava, no mínimo, Esc. 1.000$00.
Era essa a proporção divina e economicamente saudável entre o mercado alimentar e o mercado financeiro. Hoje, uma carcaça custa, em padarias (que continuam a ser) honestas, entre 0,11 e 0,12 Cêntimos (do Euro), mas uma acção, por exemplo, do Banif, na Bolsa de Lisboa, pode ser adquirida por 0,01 cêntimo (do Euro). Não seria meritório que estes papéis desamparassem a Bolsa (ou PSI-20), para sempre? Bem como outros que tais...

Pascal Comelade, para gente ingrata

Citações CLXXII


Celebridade: a vantagem de ser conhecido por aqueles que não vos conhecem.

Nicolas Chamfort (1741-1794).

As palavras de hoje


"... Portugal, hoje, é a ditadura do mesmo: os mesmos debates, os mesmos círculos, as mesmas opiniões e os mesmos partidos, fazendo as coisas sempre da mesma maneira, e coreografando as mesmas controvérsias com as mesmas palavras e o mesmo vazio de significado.
Quando há quarenta anos Salgueiro Maia quis acabar com a ditadura, nem precisou de a descrever: bastou dizer «o estado a que chegámos» e toda a gente entendeu.
O mesmo se passa hoje. Há regimes que são oligarquias, burocracias, tecnocracias ou bancocracias. O nosso regime é a mesmocracia.
Alguém quer vir ajudar a acabar com isto? Já basta."

Rui Tavares, in A ditadura do mesmo (jornal Público de 30/4/2014).

terça-feira, 29 de abril de 2014

Ilustrações...


No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.
(...)
Drummond de Andrade (1902-1987).

Interlúdio 47


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Pinacoteca Pessoal 76





Há nomes, e alguns que nos foram chegados, que ficam esquecidos, anos e anos. E, quando damos por isso, há uma espécie de remorso, uma fina vergonha que quase nos chega à carne e aos ossos. Pode ser de um amigo que deixou de dar sinal, de um escritor que não publicava há muito, de um artista que parece ter deixado de circular, como referência consensual. Às vezes, podem até ter morrido, e nós não sabermos.

Na minha juventude, eu gostava muito das obras do pintor francês Marcel Gromaire (1892-1971). Talvez pela sua essencialidade geométrica, pela austeridade das suas cores, pela centralidade dos seus motivos sociais, enfim, pela singularidade de não pertencer a escolas, muito embora o expressionismo nórdico e o cubismo andem, subtilmente, pelas suas obras.
Vim hoje pagar a minha dívida a Gromaire, por vários motivos. Em imagem, "La Guerre" (1925) e o quadro de 1936, que tem por título "O Desempregado".

Um poema


Numa pequena ilha, Tenos ou Andros, não me lembro,
perdido no tempo, junto a um limoeiro já sem frutos,
um velho aedo, olhos parados, cantava ainda
histórias de deuses, suas quezílias, feitos de heróis.
Se detinha contando de Éris uma velha lenda,
e tudo confundia ao recordar os factos ocorridos.
Parava um pouco, às vezes, para tornar à lengalenga,
a mesma, nomes diversos, misturando reis, heróis,
tantas coisas seus olhos cansados tinham visto já.
Na colina suave, o velho aedo, junto ao limoeiro,
recortava-se bizarramente contra o céu azul.
Do sul, de África, vinha um vento suave, adormecente,
e o sol caía, indiferente, para os lados da Pérsia.
Sem ninguém a ouvi-lo, desanimado, o velho
pensava nos que viriam depois contar o mesmo.


António de Almeida Mattos, in Água Clara - Poetas em Vila Viçosa (Lisboa, 1987).

A par e passo 89


Todo o género literário que nasce do uso particular de um discurso, como o romance que sabe utilizar o poder imediato da palavra, para nos comunicar uma ou diversas vidas imaginárias, de que ele institui as personagens, fixa o tempo e o lugar, enuncia os incidentes, que encadeia através de uma teia de casualidades mais ou menos suficientes.
Enquanto que o poema põe em jogo directamente o nosso organismo e tem por limite o canto, que é um exercício de ligação exacto e seguido  entre o ouvir, a forma da voz e a expressão articulada, - o romance pretende excitar e manter em nós esta expectativa geral e irregular que é a nossa atenção aos acontecimentos reais: a arte do contador imita a sua bizarra dedução, ou as sequências normais.
E enquanto o mundo do poema é essencialmente fechado e completo em si mesmo, sendo um sistema puro de ornamentos e de tipos de linguagem, o universo do romance, mesmo do fantástico, religa-se ao mundo real, como o trompe-l'oeil se relaciona com as coisas tangíveis por entre as quais um espectador vai e vem.

Paul Valéry, in Variété I (pg. 152).

domingo, 27 de abril de 2014

Christian Sinding (1856-1941)


Marcadores 21


Uma iniciativa do Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, estes marcadores têm como motivos desenhos de Almada Negreiros, que apareceram, previamente, no jornal Diário de Lisboa (1928 e 1935) e no Nuevo Mundo ( Madrid,1928).

sábado, 26 de abril de 2014

Apontamento 43: Purgatório ou Inferno ?



Ao que parece não é apenas a Constituição da República Portuguesa, mas também a Carta de Direitos Fundamentais da EU, que estabelecem os valores universais da dignidade do ser humano, sem discriminarem, negativamente, os “velhos”, os “incapazes” ou outras “espécies a abater”.

Ora, a pergunta da Visão: O melhor mesmo é falecer ?, dirigida aos pensionistas, esconde, por detrás do livre exercício da liberdade de expressão, uma retórica totalitária que, noutros contextos e países, já teve os seus efeitos práticos na aniquilação de “gente” incómoda. Por associação histórica, também me lembrei de uma célebre afirmação do actual inquilino do Palácio de Belém, quando se referia, em termos muito semelhantes, a uma solução drástica para reduzir o número de funcionários públicos. Portanto, o “cheiro a bafio” que infesta determinadas ideologias políticas já ganhou estatuto para sair em parangonas nos jornais.

A partir deste momento é apenas esperar pelo passo seguinte na concretização do objectivo.

Não será, certamente, pelos métodos antigos e pouco higiénicos! A vaga de fundo das botas dos “camisas castanhas” modernizou-se e as suas roupagens apresentam-se mais executivas, empreendedoras e financeiras. Com efeito, a nova fogueira para os velhinhos está a ser preparada, entregando a sua sorte ao mercado todo-poderoso. E os novos carrascos têm outra lenha, aparentemente mais esterilizada, a saber, a produtividade e a evolução demográfica. São achas para a fogueira que só eles escolhem e dominam.


O dia 26 de Abril de 2014 não poderia ter sido mais dantesco!

Post de HMJ

Regionalismos transmontanos (35)


1. Escano - banco comprido de madeira com encosto, junto à lareira.
2. Escarolado - diz-se do pão que tem o miolo separado da côdea.
3. Escarrapachar - mostrar, evidenciar. Bater. Sentar.
4. Escorrichar - tirar a última gota, esvaziar o líquido totalmente. (Conheço na forma: escorropichar.)
5. Esgúvio - escorregadio.
6. Esmechar - tornar seco, mirrar.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

De outra maneira


Retro (46)


Duplamente desenquadrados, no tempo, estes mata-borrões cinquentenários (1958) lembram paisagens desaparecidas de um Império que teve o seu fim no 25 de Abril de 1974.
E a sua função de absorver os excessos de tinta, na escrita, já quase deixou de ter utilidade. O calendário de Abril de 1958, no entanto, revela-nos uma curiosidade: como hoje, o dia 25 foi uma sexta-feira.

40 anos


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Revivalismo Ligeiro XCVI


Uma fotografia, de vez em quando (36)


Perante este inspirado instantâneo, inserto no jornal Público de hoje, o difícil era escolher a rubrica mais ajustada. Pensei no Adagiário ("Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele."), no Comic Relief, nos Produtos Nacionais... Por delicadeza, para com a sra. ministra, optei por uma rubrica mais inócua.

Entre amigos


Oferta generosa de um bom Amigo, este livro de poemas (Survivals), do norte-americano Edwin Honig (1919-2011), tem uma calorosa dedicatória a José Palla e Carmo (1923-1995), a quem terá pertencido. 
Ambos, o meu Amigo ofertante e eu, coincidimos na preferência por este pequeno poema (Don't be wounded) da página 54, que eu procurei verter, para português, depois. Acabando, no entanto, por não me decidir, quanto ao título. Ficam, assim, as 2 hipóteses: ...as you like it...
para H. N., cordialmente.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Da Janela do Aposento 46: A cereja em cima do bolo



Um sistema de ensino dedicado, essencialmente, a uma tarefa difícil e prolongada no tempo, i.e., fazer pensar não se coaduna com uma ausência de reflexão permanente sobre a estratégia mais adequada para atingir esse fim, nem, e muito menos, com soluções “ao sabor da onda” como demonstra a imagem acima.

Assim como me tem preocupado a lenta, mas persistente, anulação do direito fundamental do docente à autonomia na concepção e implementação de um Programa Nacional para uma dada matéria, tem havido um processo administrativo contínuo na castração de alunos. Em nome de uma pretensa objectividade, contrária à natureza da língua que, nas suas combinações ilimitadas, não permite textos idênticos, o ME tem produzido “papel” com uma prosa admirável.

Para exemplificar, se um exame nacional, qualquer que ele seja, tem três páginas de enunciado, a burocracia aumenta em três vezes esse aglomerado de indigências, acrescentando “critérios”, “descritores” e “cenários de resposta”, tudo em nome de uma falsa tentativa de alcançar a objectividade da avaliação. A autonomia do docente, claro está, fica reduzida ao cumprimento desta fatalidade, sacrificando, se não tiver o remédio de sair a tempo, a sua sanidade mental e contribuindo para industriar “macacos” em vez de desenvolver a autonomia de pensamento de alunos. Dispenso-me de sublinhar pormenores perversos como a “penalização” por usar mais do que um determinado número de palavras nas respostas, o que, obviamente, leva os alunos a contar as palavras em vez de se preocuparem com o essencial, a saber, o conteúdo.

Dito isto, basta olhar para a imagem acima para atestar a miséria a que chegamos e, sobretudo, sem vergonha ! De uma velada tentativa de instrumentalizar os professores para  a formação de “empregados diligentes”, de Azevedos e quejandos, surge, finalmente, a revelação por uma editora que enriquece à custa do treino institucionalizado.

Definitivamente, e sem pejo, o exame nacional passou a ter a figura de um avião e as restantes provas são meras malas de viagens. Não me parece que a mensagem pudesse ser mais concludente quanto à natureza de uma máquina instalada e com o objectivo de esvaziar, totalmente, a autonomia e a nobreza do ensino, anulando, por completo, a dignidade do pensamento humano.


 Post de HMJ

Três tons


"...As carruagens estão abertas e a locomotiva principia a cuspir fumo. Toca uma sineta. Em França há nestas ocasiões um homem que diz: Meus senhores, queiram subir às carruagens. Em Portugal diz-se: Então os senhores despachem-se daí ou querem ficar em terra? Em Badajoz, uma voz de comando, ferrugenta e ameaçadora, brada apenas com um berro seco: Viajeros, al tren! E esta simples diferença no modo de convidar os viajantes a entrarem nos vagões basta para caracterizar num só traço o espírito desses três povos.
Estamos em Espanha."

Ramalho Ortigão, in Pela Terra Alheia.

Entre o Dia do Livro e o 25 de Abril


A ideia pareceu-me boa, até porque, como dizem: uma imagem vale mil palavras. O centro de Lisboa tem instaladas fotografias alusivas ao 25 de Abril, distribuídas por ruas e praças onde os principais acontecimentos se deram, há 40 anos. Vi fotos, algumas pouco conhecidas, de Alfredo Cunha, Eduardo Gageiro...
Hoje, no entanto, celebrava-se o Dia do Livro e, no Camões, duas meninas simpáticas ofereciam livros, que tiravam de 2 pequenos cestos. Perguntei se podia escolher e acenaram-me que sim. A oferta era pobre: provavelmente eram livros de que os editores se queriam ver livres...
Quando optei por este "Livro de Reuniões", encadernado a verde, com mais de 100 páginas em branco, onde poderei escrever, a menina ainda me disse: "Olhe que esse deve ter vindo por engano, pois não é para ler, mas para escrever..." Respondi-lhe, sorrindo, que não fazia mal.

Karl Jenkins (1944)

terça-feira, 22 de abril de 2014

Curiosidades 26


Os gráficos e números das imagens foram recolhidos do nº 2 (Fevereiro 1940) dos "Cadernos Mensais de Estatística e Informação do Instituto do Vinho do Porto". A sua consulta permitirá várias leituras. Para mim, foi uma surpresa saber que, na altura (1939), a Noruega era o maior consumidor, per capita, do nosso Porto (hoje, será talvez a Bélgica).  Bem como Moçambique se destacar, entre as ex-Colónias, como principal destino. A vizinhança das colónias inglesas africanas talvez ajude a explicar este facto.

Citações CLXXI


Nada há de mais degradante do que a preocupação constante com os meios de subsistência. O dinheiro é semelhante a um sexto sentido sem o qual não se poderá fazer um uso completo dos cinco outros.

Somerset Maugham (1874-1965), in Of Human Bondage (1915).

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Sobre a melancolia, José Saramago


Montale


L'Arno in Rovezzano

Os grandes rios são a imagem do tempo,
cruel, impessoal. Vistos de uma ponte
afirmam a sua inexorável nulidade.
Só a curva vacilante de um juncal
pantanoso, algum espelho que brilha
por entre as ervas daninhas e o musgo,
pode vir a revelar que a água se pensa,
como nós, a si mesma,
antes de ser turbilhão e rapina.
Passou já tanto tempo, mas nada se passou
desde quando eu te cantava ao telefone "tu
que te fazes adormecida" em dupla brincadeira.
A tua casa era um relâmpago vista do comboio.
Debruçada sobre o Arno como a árvore de Judas,
que parecia protegê-la. Talvez agora seja
ou não uma ruína. Toda cheia - dizias -
de insectos, de todo inabitável.
Outra comodidade nos convém agora,
outro desconforto.

Eugenio Montale (1896-1981), in Satura (1971).

Edvard Grieg (1843-1907)


Filatelia XCI


Há selos que, pela sua extrema raridade, são considerados míticos e cuja existência, improvável, faz sonhar ou especular a imaginação de qualquer filatelista avançado. É o caso do 3 sk., amarelo, da Suécia, na primeira imagem do poste, de que se conhece apenas 1 exemplar, aparecido em 1885. A taxa foi impressa na cor verde, mas esta única variedade, acidental e inexplicavelmente, surgiu em cor amarela. É inútil dizer que tem um valor incalculável...
A filatelia portuguesa, na sua versão alargada, que abrange as ex-Colónias, tem várias peças raras, embora não únicas, que fariam o júbilo de qualquer filatelista, que as possuísse. Estou a lembrar-me da variante de um selo de Cabo Verde, tipo Coroa, ou de alguns selos, ditos Nativos, da Índia Portuguesa, por exemplo.
Os dois selos portugueses, na segunda imagem deste poste, não sendo únicos, não são, também, nada frequentes e muito raramente aparecem à venda, ou mesmo em colecções avançadas, em exposições filatélicas abertas ao público.
O primeiro dos selos, da emissão não denteada de D. Pedro V (1856-1858), cabelos anelados, 25 réis, corresponde ao nº 13 do catálogo do Ateneu e, se não fosse a anormal perfuração em zig-zag, seria um exemplar banal. Acontece que, uma empresa alemã (Eisenach), de Lisboa, para maior facilidade de separação das estampilhas, para uso da sua correspondência, resolveu usar este processo mecânico original. Que acabou por tornar raros os poucos selos ainda existentes.
O segundo selo, da segunda imagem, da emissão de D. Luís (1870-1876), Fita direita, também da taxa de 25 réis (carmim), tem o nº 40 no catálogo acima referido. Este selo é vulgar nos denteados 12 1/2 e 13 1/2. Menos frequente, aparece com a perfuração 14. Mas, com o denteado 11 ("...é possível que tenha sido feito fora da Casa da Moeda..." - A. H. de Oliveira Marques) poderá considerar-se raro. Este meu exemplar tem, batido, o carimbo 38, correspondente a Sobral de Monte Agraço.
Ambos os selos vieram de Inglaterra, onde os adquiri.

domingo, 20 de abril de 2014

Arte e estados de alma


Dizia Pessoa que a metafísica era uma consequência de estar mal disposto; e eu acrescentaria que uma forte constipação em nada contribui para o optimismo humano.
Que tom, ou atmosfera, ressuma das grandes obras de arte? Não, decerto, o da felicidade, embora por vezes o ver e o ler, por um certo mimetismo de experiências, tenham quase o sabor grato do encontro, onde, se não há alegria, ao menos se pode respirar e retirar tranquilidade, num equilíbrio paralelo de entendimento entre os humanos.
Quando saturado de leituras, faço uma pausa, é quase sempre por Simenon que recomeço. E, tirando dois ou três romances, os seus livros têm habitualmente um pano de fundo sombrio, um determinismo fatal, donde raras personagens se libertam. Mas, para mim, estas leituras funcionam como um antídoto - libertam as minhas defesas naturais. Tal como as reflexões pessimistas de Cioran.
Nem a poesia é a arte da alegria. A menos, que de versinhos se trate, ou quadras populares postas a circular por almas cândidas e leves. Mas tenho de conceder que há pinturas que me fazem feliz: algum Dufy, Renoir, Matisse... Da claridade da escrita de Yourcenar à ingenuidade sem culpa de algumas personagens de Guimarães Rosa - quanto à prosa - há que ir por aí...

A Páscoa rural, segundo Aquilino


...Nesse ledo clima de outrora, e até ainda durante a guerra, por toda a Quadragésima, as aldeias ouviam reboar as matracas a chamar os fiéis para a Via-Sacra. A um sinal tão áspero como estranho cada um montava o seu corcel fogoso e ala, fantasia. Como é que Deus se deixava matar por meia dúzia de safardanas?! (...)
Nesses dias de treva as janelas das casas, em observância com a pragmática, fechavam as portadas. O comércio aderia. O senhor Pereira pesava o bacalhau em voz baixa, com gestos comedidos, e os caixeiros que tinham gravata preta punham-na. E como não, se à noite, no afogo das cerimónias quaresmais, se encontravam com as meninas e ia morrer um Deus?! Os altares estavam velados com crepes e lençarias pintadas, pois não seria decoroso que a jucunda graça da Senhora dos Remédios, o manto garrido do S. João, a estola sarapintada de estrelas de Santa Catarina continuassem a alegrar os olhos e a perfumar o mundo na hora lacrimosa. (...)
Abril quase no termo, antecipava-se em seu advento o sol estival. As rolas, o cuco e a poupa cantavam e recantavam no coruto dos pinheiros. De quando em quando o marantéu lançava sobre a natureza amodorrada o seu gorgeio vibrante, amarelo como ele, como o sol, como o fogo, como as flores mais plebeias dos prados. Os gaios pinchavam nas casticeiras, que se recobriam de rebentos primaveris, penugem verde-amarela, breve e imponderável como uma musselina, e travavam com aqueles o provável despique:
- Viste lo abade?
- Lá o vi, lá o vi.
- Com'ia vestido?
- Ia com'a mi.
- Comeste-lhos figos?
- Pois comi, comi!

(...) Domingo de Páscoa, manhã alta, perpassava ao cabo da rua braçada rúbida de camélias. Uma, a mais vermelha, ia o juiz da igreja entalá-la na cruz de prata de guizeiras entre a aspa e o braço do justiçado. E, assim guarnecida, o senhor padre dava a beijar às famílias ajoelhadas Cristo e a Primavera:
- Aleluia! Aleluia!
(...)
Aquilino Ribeiro, in Aldeia - Terra, Gente e Bichos (pgs. 65, 67, 71).

Boa Páscoa !



Osterglocke [= narciso]


Mestre Lampe a ensinar os meninos coelhos

Post de HMJ

sábado, 19 de abril de 2014

Para o Domingo de Páscoa


para os nossos Amigos e Seguidores, com os melhores votos.

A par e passo 88


Eu não tenho nem o tempo nem a capacidade de definir o estado intelectual da Europa em 1914. E quem teria a ousadia de traçar um quadro desta envergadura? O assunto é imenso; exige conhecimentos de toda a ordem, uma informação infinita. Uma vez que se trata dum conjunto tão complexo, a dificuldade de reconstituir o passado, mesmo o mais recente, é em tudo comparável à dificuldade de construir o futuro, mesmo o mais próximo; em resumo, a dificuldade é idêntica. O profeta está no mesmo compartimento em que está o historiador. Deixemo-los aí. (...) 
Os físicos ensinaram-nos que num forno elevado à incandescência, se os nossos olhos pudessem subsistir, eles não veriam - nada. Nenhuma diferença luminosa se mantém e não se distinguem sequer os pontos do espaço. Esta energia formidável, encerrada, leva à invisibilidade, à igualdade insensível. Ora, uma igualdade deste tipo não é outra coisa senão a desordem no seu estado perfeito.

Paul Valéry, in Variété I (pgs. 16/7).

Divagações 64


Ninguém poderia imaginar que a tarde e o final do dia viriam a ter as cores macambúzias de um indiferenciado Inverno, sem estilo nem alma. Salvou-se apenas, pouco antes das 20h00, o azul-Toledo do céu, à Greco, que o Sol iluminou, por breves minutos.
Porque a manhã até tinha sido bem promissora, na cor e de luz. E o pintassilgo, nosso vizinho, como algumas vezes faz, veio empoleirar-se no limoeiro da varanda a Leste, e começou a trinar, para ensaiar o dia. Pouco depois, veio outro fazer-lhe companhia, e andaram por ali numa brincadeira esvoaçante e despreocupada. Mas o melhor estava ainda para vir.
Quando fui à sala, buscar um livro à prateleira, não é que estava uma rola arrulhando meditativa, para cá e para lá, no peitoril da varanda a Sul? Parei, expectante e quieto, para que ela não desse por mim, e eu pudesse vê-la, à vontade. E durou isto uns bons dois minutos. Pensei: já ganhei o dia!
Só que o Sol caprichoso resolveu ir brilhar para outras paragens mais felizes. E o dia murchou completamente.

De um editorial do "Obs."


Será que teremos de nos resignar à morte lenta da Europa? Os erros repetidos dos responsáveis de Bruxelas, o dogmatismo trágico das autoridades monetárias, o crescimento generalizado das obsessões identitárias: tudo concorre para isso. O continente estagna, as instituições fraquejam, as economias divergem, o desemprego persiste, a obra comum estiola-se, os povos distanciam-se de uma construção de que eles não compreendem nem a utilidade nem a finalidade e que vêem apenas como o braço armado duma abertura a todos os ventos que ameaçam os seus bens adquiridos e o seu futuro. Dentro de seis semanas, os Europeus votam: eles correm o risco de votar contra a Europa. Ou, em todo o caso, de enviar para o Parlamento, encarregado de representar o espírito comum, um contingente de partidos anti-europeus suficientemente forte para conseguir destruí-lo. (...)

Laurent Joffrin, in SOS Europe (17/4/2014).

John Rutter / Catrin Finch


Regionalismos transmontanos (34)


1. Envide - cordão umbilical.
2. Enxido - pequena cortinha, junto da povoação, onde normalmente se cultivam couves e outros legumes de primeira necessidade.
3. Enzamar - enganar, ludibriar, burlar.
4. Enzarel - pessoa franzina, enfermiça e fraca. Fio partidiço. Armadilha de pesca.
5. Esbrugar (ou Esburgar) - cobrar grossa maquia. Separar a carne dos ossos. Descascar, limpar, raspar.
6. Escacha-Piolhos - dedo polegar.

Aceitar ou não aderir


Foi Samuel T. Colerige que, no início do séc. XIX, cunhou pela primeira vez o conceito de suspension of disbelief (suspensão da descrença) caracterizando-o como: a capacidade (ou não) de um escritor conseguir introduzir suficiente interesse humano e verosimilhança de realidade numa obra de ficção, de forma a que o leitor suspenda, em si, a atitude de desconfiança sobre a inverosimilhança de uma narrativa.
A cerrada marcação psicológica, e até o aspecto físico, que Georges Simenon imprimiu, subtilmente, à sua personagem Maigret, em quase uma centena de livros, torna extremamente difícil ao leitor aceitar o desempenho visual e de interpretação, em filme ou séries televisivas, de vários actores que encarnaram a figura do célebre comissário francês.
E, embora na maioria dos casos os actores tenham aparência tranquila e voz  pausada, alguma corpulência e robustez, algo escapa a uma sobreposição credível, que permita aceitar, por parte do espectador, a verosimilhança da personagem. De Jean Richard a Bruno Crémer, de Albert Préjean a Gino Cervi ou Michael Gambon, franceses ou não, todos eles falham em criar essa tal suspension of disbelief de que falava Coleridge.
Para mim, o único que quase conseguiu encarnar, parcialmente, o comissário Maigret, terá sido Jean Gabin.
E, mesmo assim...

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Adagiário CLXXIX


Páscoa molhada não dá boas nozes.

Joseph Haydn : de "Die Sieben letzten Worte..."


Um soneto para a Páscoa de 2014


É um soneto áspero, rouco de palavras tensas e duras, este, de Jorge de Lima (1893-1953), poeta brasileiro irregular e excessivo, na qualidade desigual da sua obra. O poema, na altura inédito, foi publicado na revista Árvore (vol. II - primeiro fascículo). Se tivesse que lhe juntar uma imagem, optaria decerto pelos pés, quase animalescos, de Cristo, da Crucificação de Grünewald, ou por alguma das cruéis e agressivas telas de Francis Bacon.
São versos que retratam, de forma dramática, a ansiedade tensa da criação, num quase misticismo trágico de libertação humana, mesmo que imperfeita. O poema é, para mim, um dos grandes sonetos da língua portuguesa.

Divina Voz, divino Sopro santo,
respiro-me em teu Voo, veloz Amor.
E sinto-me pequeno de poesia.
Vezes uns uivos, longe de ser canto

vestem-me os pêlos como Manto novo,
cordas revoando. Louvo-te Senhor.
Tenho em roda ao pescoço uma coleira
de cão, de pobre cão entre o meu povo.

Nem sei dizer se esse mudado Verbo,
nem sei dizer se essa gaguêz furiosa,
essa rosa de vento que é meu berro

se tornou na asfixia de Teu perro
- canto com que cantar-te, canto-chão,
nessa Tua divina ventania.

Lembrete 16


De Cardoso Pires e incluído na pequena, mas prestigiada colecção 3 Abelhas, com capa de Victor Palla, este livro foi, liminarmente, condenado e proibido pela Censura, em 1952.
Em edição fac-similada, da original, podia comprar-se, ontem, com o jornal Público. E, muito embora, estes contos viessem a integrar, com alterações, a obra Jogos de Azar, mais tarde, valerá bem a pena adquirir esta primeira versão, que foi condenada no tempo.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Romarias


Num determinismo e previsibilidade fatais, começaram já as visitas intensivas e contínuas aos postes, no Arpose, com imagens de quadros da crucificação de Cristo (Dali, Memling, Grünewald, Mantegna) e das cavacas (Páscoa), bem como, embora menos, ao 25 de Abril - é um facto que este seguidismo atávico se repete todos os anos, como a comprovar a teoria de Pavlov...
De tal modo que, este ano, nem sequer tenho vontade de vir a celebrar estas datas, de forma a não banalizar, ainda mais, os acontecimentos e a romaria.
O primeiro é o autêntico e verdadeiro: o 25 de Abril foi aquele que vivemos e como o vivemos, há quase 40 anos. E, há que dizê-lo, foi uma experiência emocionante que não é possível retransmitir e recriar. Muito menos, aos mais novos, sobretudo porque, no ponto em que nos encontramos, hoje, quase não dá para acreditar na bondade das intenções antigas. E, se chegámos aqui, foi por laxismo e comodismo, complacências diversas, porque as elites, em grande parte, se venderam à Finança, pagando com silêncio e cedências o seu prato de lentilhas. E o vazio foi ocupado pelos homens dos números e pelos mercenários políticos, cá, como por toda a Europa. 
Não se pode dizer, se formos realistas, que o balanço é positivo, nem eu quero terminar com esperançosas palavras moralistas de misericórdia cristã. Porque também Cristo, inalterável e simbolicamente, vai morrendo todos os anos... Para exemplo de uma certa inevitabilidade trágica e humana.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Música e Poesia LVI

Joan Manuel Serrat (1943) canta Antonio Machado (1875-1939).

Fait divers


Muito me honrou esta visita de todo inesperada que, pelo Arpose, se demorou 7 minutos e 8, preciosos, segundos, e que foi iniciada às 12h30, de hoje. O seu registo indicava, claramente: IP Adress 194. 65. 31 (Ministro das Finanças).
O(a) ilustre visitante ocupou-se de 2 postes: Uma louvável iniciativa (de 31/3/2014) e Comprados de fresco (de 3/4/2014).
A menos que o Ministério das Finanças funcione de ATL, nestas férias escolares da Páscoa, começo a ficar seriamente preocupado com a produtividade portuguesa...

Comic Relief (88)


Trabalho sazonal e precário, ou nova profissão liberal, a deste rapaz de Lamego?
Mas eu gostei, sobretudo, do bom gosto desta placa informativa.

com agradecimentos a A. de A. M. .

Respeitinho e conivência jornalística


Por várias razões, não vi, ontem, a entrevista do PM, na televisão, feita pelo jornalista da SIC, Gomes Ferreira. Mas não resisto, pela pertinência, a citar uma pequena parte da crónica, intitulada "Impulso jornalístico", que Rui Tavares lhe dedicou, no jornal Público de hoje. Segue o excerto:
"...A realidade, porém, não só ultrapassou a imaginação como a atropelou e fugiu. No único momento em que José Gomes Ferreira se lembrou de insistir numa pergunta, Pedro Passos Coelho franziu o sobrolho e levou o jornalista a escusar-se: «Desculpe, foi um impulso jornalístico.»
Quando um jornalista pede desculpa por fazer jornalismo, está tudo dito. Um dia, este Governo conseguirá que os juízes peçam desculpa por fazer justiça, os pensionistas por estarem vivos e os desempregados por ainda não terem emigrado. ..."

Uma fotografia, de vez em quando (35)


Perguntámo-nos, muitas vezes, perante uma bela fotografia, se o mérito é inteiramente do fotógrafo, ou se o motivo era em si suficiente e o artista soube apenas encontrar o momento certo e a perspectiva exacta e perfeita. Seja o objecto fotografado um rosto, uma paisagem, um acontecimento. Em tudo isto, o olhar e a luz são fundamentais - parece-me.
O fotógrafo norte-americano Ansel Adams (1902-1984) teve nas paisagens o seu motivo, por excelência. A preto e branco. Outros as teriam visto de outra forma e modo. Ele viu-as assim.


terça-feira, 15 de abril de 2014

Franz Schubert : 8ª Sinfonia (Incompleta)


O fascínio pelo perdido ou inacabado


Será talvez característico da natureza humana criar um grande fascínio por obras que, desaparecidas por razões acidentais, misteriosas ou outras, nunca mais foram descobertas. Bem como por algumas que, tendo sido projectadas, nunca foram feitas.
De incunábulos referidos no passado, mas nunca encontrados, até ao desaparecido Parnaso que Camões andaria a escrever, e jamais apareceu. Do fresco A Batalha de Anghiari, que Leonardo da Vinci teria pintado, por volta de 1505, e de que só se conhecem esboços, nos seus cadernos, e uma cópia feita por Rubens, posteriormente. Muito embora, em 2012, se tenha aventado a hipótese de ele se encontrar por trás de um fresco de Vasari, no Palazzo Vecchio, em Florença. Mas tudo são suposições.
Mais recentemente, poder-se-ia falar, também, de Il viaggio di G. Mastorna, que Fellini planificou ao pormenor e escreveu, com Dino Buzzati, mas que acabou por jamais realizar.
Não esquecendo a 8ª Sinfonia (Incompleta) de Schubert, que o compositor nunca chegou a terminar, e que nos deixa, ainda hoje, suspensos, do que poderia ter sido...

O falar dos animais (3)


Provavelmente, este será o último poste desta rubrica, uma vez que as informações e livros, sobre o linguajar dos animais, não abundam. Os elementos foram recolhidos da obra de Júlio de Lemos, de 1951, intitulado Vozes de Animais (Onomatopeias e Definições), em edição da "Revista de Portugal", Lisboa.
E aqui vão:

1. Cachorro - cainhar.
2. Cegonha - glotear.
3. Gamo - bramar.
4. Grilo - azerir ou ririlar.
5. Macaco - chalrar.
6. Pardal - chirlar.
7. Pega - carquear.
8. Rato - cilrear.

2.135 milhões de euros



As boas almas caridosas, cá e lá fora, estão sempre prontas a denunciar, como virgens ofendidas, o despautério de os portugueses viverem acima das suas posses.
E a Banca nacional, será que não terá exagerado no luxo? Ao contabilizar 2,135 mil milhões de euros de prejuízos, no ano de 2013.

Ludovico Einaudi : "Primavera"


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Dos "Cahiers" de Cioran


21 de Abril de 1969

Esta noite reflecti sobre a vida, a aventura que ela representa à superfície desta matéria hostil, e senti-me tomado por um sentimento de piedade por ela, e pela infinidade dos vivos, por esta improvisação que é todo o indivíduo.

E. M. Cioran, in Cahiers - 1957/1972 (pg. 714).

Bibliofilia 101


Este portuense ilustre, cujo retrato, em litografia de José Alves Ferreira Lima, encima o poste, nasceu a 2 de Março de 1807, na Cidade Invicta. De seu nome, José Gomes Monteiro, estudou, em Coimbra, leis e cânones, não chegando a completar o curso. Foi para Inglaterra, ainda novo, e, posteriormente, veio a fixar-se em Hamburgo, alguns anos, onde chegou a criar uma empresa comercial, que não foi bem sucedida.
Na cidade hanseática, viria a publicar os Autos de Gil Vicente, baseados numa edição original, existente na Universidade de Göttingen. Mais tarde, regressou ao Porto, onde viria a falecer a 2 de Junho de 1879.
Bom conhecedor da língua alemã, traduziu e publicou, na sua cidade, em 1848, o livro Eccos da Lyra Teutonica, com versões de poemas de Uhland, Chamisso, Heine, Goethe, Schiller, Lessing e outros poetas germânicos, alguns deles em apresentação bilingue. Esforço meritório, que fez acompanhar de um Appendix, com notas explicativas. O conhecimento e amizade que teve com Almeida Garrett, terá tido, provavelmente, alguma importância no seu interesse por poesia.
Comprado em finais dos anos 80, do século passado, este meu exemplar custou-me Esc. 1.700$00, e encontra-se em bom estado de conservação.