terça-feira, 30 de novembro de 2021

Antologia 6



O Eça tem a vantagem de ser dado no ensino secundário, embora eu tenha dúvidas quanto à capacidade de gerações que escrevem e falam de forma gutural e com um vocabulário mínimo entenderem metade das palavras, e que percebam todas as referências a personagens históricas, da mitologia ou da Bíblia, incluindo alunos e professores, pelo menos os da idade do Facebook e do telemóvel "inteligente".

José Pacheco Pereira (1949), in Personalia (pg. 134).

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Impromptu 58


Com alguma frequência nos dão conta que, por trás de uma antiga pintura conhecida, através dos raios-x, se revelam e escondem traços e esboços anteriores, e até mesmo outras cores que revelam as dúvidas iniciais do seu autor para atingir a versão final, ne varietur da obra. 
Este pequeno vídeo de 1955 ilustra, até certo ponto, as variações por que passou a imaginação do pintor até ao seu resultado final. Mérito de Picasso (1881-1973), certamente, muito bem secundado pelo realizador Henri-Georges Clouzot (1907-1977), neste seu trabalho.

sábado, 27 de novembro de 2021

Advento e Bolo Rei



Com a constância pontual das amizades sólidas, lá nos chegou da Germânia o calendário do Advento, oriundo do nosso amigo Franck B., na altura oportuna. As broas castelares já tinham sido provadas. E este mini Bolo Rei já vai na sua terceira versão. Ninguém diga que o Natal vem longe...

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Divagações 175



Uma vez mais confirmei que o livro brasileiro está caro. Mas constatei também uma vez mais que o atendimento na Livraria da Travessa, à Escola Politécnica, de gestão e orientação brasileira, é dos mais competentes e profissionais de toda a Lisboa (qual Bertrand, qual FNAC!...).
Dois livros de J. M. Coetzee (1940) vieram comigo, depois de um breve diálogo interessante com a empregada brasileira, que também era fã do escritor sul-africano, Nobel de Literatura 2003. Os textos são, no mínimo, originais - as recensões são mais informativas do que críticas. Mas cumprem.
As resenhas reproduzem artigos da New York Review of Books ou prefácios para obras de escritores. A tradução de Sergio Flaksman pareceu-me boa. E estou satisfeito com a compra dos 2 volumes cartonados. Apesar do preço...


Comic Relief (155)



A memória humana é relativamente curta. Até para nomes. Mas se eu tivesse que dar um nome às criaturas destes dois instantâneos, optaria por plagiar o saudoso grupo radiofónico de Igrejas Caeiro (1917-2012), intitulado Os Companheiros da Alegria. Creio que era tudo gente honesta, na altura...
(Em tempo: lembrar o dito popular, a despropósito - Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.)



quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Citações CDLXIX



Os piores desmandos são cometidos por entusiasmo, estado mórbido responsável por quase todas as infelicidades públicas e privadas.

E. M. Cioran (1911-1995), in De l'inconvénient d'être né (Gallimard, 1973).

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Ostensiva assimetria


Apesar de tudo, hoje, as minorias, graças ao politicamente correcto, acabam muitas vezes por vencer.

 

(O) A anedota do dia



É preciso ter lata!... 
Mas também com os cómicos de grande parte dos juízes que temos, tudo é possível.

Revivalismo Ligeiro CCIC


Esta canção de 1979, Os Amantes, foi um grande sucesso de Mara Abrantes (1934-2021). Não sendo uma melodia extraordinária, o seu êxito deve-se em grande parte à suavíssima voz da cantora brasileira e à sua forma sempre profissional de interpretação.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Ideias fixas 65


Ainda não consegui perceber muito bem se as diversas instituições, editoras, google, muitos blogues, anúncios e quejandos, usam sistematicamente desenhos infantis para ilustração por canhestrice atávica ou por definitivo atraso mental... 

Da leitura 49



De Laurent Greilsamer, René Char (2004), a páginas 563, traduzindo:

Tigron* declina. Também ele sofre de vários males: problemas respiratórios, problemas de visão. Char fala dele com respeito e consideração: "Ele sabe, sobre o essencial, talvez mais do que nós. E isso não me surpreenderia que ele pensasse como um frade franciscano."

e

Tal como Orion, Tigron* cegou. Os seus olhos dourados ganharam uma sombra de tom azulado. Char manda chamar um amigo biólogo, Léo Goudard, que lhe promete atenuar esta situação. E, de facto, um tratamento - uma injecção diária - permite-lhe recuperar a visão e poder rever a aurora. (pg. 569)


* nome do cão de René Char (1907-1988).

domingo, 21 de novembro de 2021

Descubra as diferenças...



Sou, a partir do meio desta semana, um dos portugueses que já tomou a terceira dose da Pfizer contra o Covid 19, antecipando as sequelas do Inverno que vem aí...
Se o local da vacinação foi o mesmo, no antigo Picadeiro do Colégio dos Nobres, à Escola Politécnica, muita coisa entretanto se modificou das vezes anteriores. Para já, as chefias que baixaram de nivel de patente: de vice-almirante (Marinha) para coronel (Exército).
As filas de espera eram maiores, no exterior (felizmente, estava bom tempo) e no espaço para sermos atendidos. Alguma desorganização, lá dentro. As meninas da CML, com o anterior kit-Medina (fruta, bolacha e embalagem de água), tinham desaparecido, substituídas por marciais sapadores-bombeiros lisbonenses palavrosos, mas sem oferendas-Moedas para recobro. 
A airosa enfermeira das duas primeiras doses, foi também substituída por uma profissional de meia idade, de paupérrimas feições. Muito embora exercendo a tarefa com correcta competência - valha a verdade!
Mas que saudades eu tive, mesmo assim, dos tempos do vice-almirante...

sábado, 20 de novembro de 2021

Glinka/Balakirev "The Lark" (A Cotovia)


Para acomodar este fim-de-semana, que se prevê de chuva...

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

António Osório (1933-2021)



O Canto do Cisne 

Nunca o ouvi.
Que seja inextinguível.
Ou então silencioso
por pudor ou tremendo
de raiva.
E que dure o bastante
para que nada fique por cantar.


António Osório, in A Luz Fraterna (2009).

Citações CDLXVIII



Viajar, - que horror! O que é, às vezes, agradável e útil, é ter viajado. Os incómodos passam - e as boas recordações ficam.

Júlio Dantas (1876-1962), in Páginas de Memórias (pg. 226).

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Últimas aquisições (34)




Li muito Júlio Dantas (1876-1962) durante a minha juventude, pelo menos até conhecer o Manifesto do Almada que me pareceu expurgatório. Mais tarde, vencidos os pruridos adolescentes e o politicamente correcto, voltei-lhe à carga nas leituras, porque o seu estilo sempre me pareceu pitoresco e a escrita, elegante.
Ontem, reincidi mais uma vez e por bem. Num dos já raros alfarrabistas lisboetas adquiri, usado e por 4 euros, o póstumo Páginas de Memórias (Portugália, 1968). E já vou na página 97...

Adenda temporal: bem vistas as coisas, Júlio Dantas não era mais nem menos do que um artista do regime, tal como hoje, a Joana Vasconcelos, salvo as devidas proporções estéticas. Embora o escritor trabalhasse sozinho. Ou mesmo Almada Negreiros, que se academizou nos últimos anos da sua vida.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Recomendado : noventa e dois



Com a qualidade literária a que nos habituou e o bom gosto estético da iconografia seleccionada, saiu mais um número Hors-Série de Le Point, muito recentemente. Sobre Gustave Flaubert (1821-1880), cujo bicentenário de nascimento ocorre em Dezembro próximo. Fica a recomendação de compra desta revista literária, desde já.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Ora, adivinhem lá...

 

Sempre que vejo a imagem matreira do pimp criador do Facebook, o seu rosto faz-me lembrar, pelas feições toscas, mal paridas e mal ajustadas, o monstro Frankenstein da ficção. Não fora tão inchada, esta imagem, acima, de uma raiz de vegetal poderia aparentar-se com a caricatura do multimilionário marcano e chupista...
Sabem de que vegetal se trata?

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Uso Pessoal 17

 

Militar próximo dizia-me, uma vez, que tinha habitado, pelo menos, 32 casas. É certo que, na altura, tinhamos a guerra colonial à porta, mas nunca mais me esqueci deste número desmedido, que abarcava três continentes. Eu nem metade de moradias contabilizava e apenas na Europa, nesse tempo. 
Creio que uma forma de avaliarmos as nossas errâncias ou sedentarizações é fazermos o balanço das habitações que ocupámos ao longo da vida por períodos de mais de um ano consecutivo ou em fases intercaladas que atingissem esse tempo total. Se bem me lembro, não ultrapassarei os 14 locais.
A cada um as suas deambulações e residências...

domingo, 14 de novembro de 2021

Uma fotografia, de vez em quando... (152)



Bastaria talvez o icónico e célebre retrato de Winston Churchill, aparecido na revista Life, em 1941, para tornar conhecido o fotógrafo Yousuf Karsh (1908-2002). Nascido na Arménia, cedo se fixou no Canadá onde veio a aprender a sua profissão com um tio, já lá estabelecido e radicado. Para além do retrato do estadista inglês, são de referir os de De Gaulle, Picasso, Nehru e Hemingway, pelo menos.




Esses trabalhos, além de muitos outros, associaram-no à qualidade de destacado retratista profissional. São dele, estas palavras claras e significativas sobre a sua arte: "O fascínio interminável pelas pessoas que fotografo reside naquilo a que chamo a sua força interna. Faz parte do segredo de difícil descrição que se esconde dentro de cada um e a tentativa de captá-lo em filme tem sido o trabalho da minha vida."





sábado, 13 de novembro de 2021

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Na primeira página

 

Através de Le Monde des Livres, a primeira página do suplemento literário do jornal francês dá destaque significativo à recente saída de La Poésie du Portugal des origines au XX siècle, publicado e traduzido por Max de Carvalho (Brasil, 1961). Uma edição bilingue sob a chancela da Chandeigne, com 1.892 páginas e ao preço de 49 euros. 
Há que saudar o facto.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Do que fui lendo por aí... 46



De uma saborosa introdução: 

Mas acautelai-vos: o poeta é um distraído terrivelmente atento. A sua distracção é pura economia. Apostado em caçar o essencial, o poeta resvala de olhos vagos pelo que já viu e reviu. Ele sabe que até morrer nunca mais terá tempo. (...)

Alexandre O'Neill (1924-1986), in prefácio às Obras de Nicolau Tolentino (Estúdios Cor, 1968).

Doze

 


Apenas para assinalar que se completaram 12 anos de vida do Arpose. E que agora se inicia o décimo terceiro ano. A intensidade dos postes foi (e vai) diminuindo, naturalmente. Por haver já pouco para dizer ou para lembrar de importante, sem nos repetirmos. Ainda assim, o Blogue contabiliza, até este de aniversário, 11.834 postes já lançados nestes 12 anos de exercício. 
Aos que nos vem visitando, Amigos e Seguidores, Comentadores que connosco interagem, o nosso agradecimento pela companhia e pelo estímulo de camaradagem.

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Para lembrar três poetas



Em 24 de Julho de 2004, o suplemento Mil Folhas do jornal Público editou um dossiê sobre o poeta Gastão Cruz (1941) que incluía esta foto acima e, do lado direito, um poema que evocava Ruy Belo (1933-1978) e Sophia Andresen (1919-2004). Aqui ficam.

Gluck / Freire


Considerado como o mais importante pianista brasileiro da actualidade, Nelson Freire faleceu há pouco mais de uma semana (1/11/2021), com 77 anos.

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Curiosidades 89


É tema recorrente, à falta de melhor assunto, que oposições e comentadores políticos, após a nomeação de um novo governo, se venham pronunciar sobre a exiguidade ou enormidade do número de membros do executivo. Por associação, do livro que ando a ler, achei curiosa a transcrição de dados fornecidos pelo historiador Jean Aubin (1927-1998) quanto aos "moradores" da Casa Real de 4 dos monarcas portugueses. Assim:



Se o número do reinado de D. Afonso V não me surpreendeu, por o monarca ser um mãos-rotas de generosidade, nem a exiguidade dos beneficiados do tempo do austero D. João II, já a balda alargada da corte de D. João III foi para mim uma grande surpresa. No passado, tal como hoje, os critérios oscilam muito, possivelmente sem causas directas, mas apenas para satisfazer clientelas...

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Animação a Sul



Com o bom tempo, embora frio, a Natureza, na varanda a Sul, tem andado num rodopio. O limoeiro, fora de tempo e desalinhado, resolveu dar de si e já tem 6 brotos extemporâneos, dois dos quais floridos. Uma osga jovem veio não sei de donde, a grimpar pelas paredes, até se esconder atrás do vaso grande do lilaseiro. Mais importante ainda, uma felosa novinha visitou-nos esvoaçando demoradamente e, por 2 ou 3 vezes, quase esbarrava nos vidros da janela, parecendo querer entrar, para nos fazer companhia na sala.
Só a hortênsia está sossegada no seu vaso grande do canto, fazendo o seu luto hibernante de flores secas e folhas amarelecidas e escassas. 


Murilo Mendes (1901-1975)

 


Reflexão Nº 1


Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
é a circulação e o movimento infinito.

Ainda não estamos habituados com o mundo
nascer é muito comprido.



Murilo Mendes, in Os Quatro Elementos (1935).

domingo, 7 de novembro de 2021

Idiotismos 49



Diz-me o meu bom amigo C. S. que, afinal, a expressão idiomática, ou idiotismo, andar com o rei na barriga tem uma origem prosaica e duplamente real. Terá sido usada, pela primeira vez, por um vassalo bem disposto ao aperceber-se que a rainha do seu país andava finalmente grávida. Teria sido a rainha Maria Ana de Áustria, mulher de D. João V? Isso é que já não conseguimos apurar...
Mas isto de andar na barriga tem antecedentes bíblicos, que remontam a Jonas engolido por um gigantesco peixe (baleia?) no bojo do qual lá foi vivendo uns dias até ser vomitado por ele. Na sequência de mar, veio-me à ideia a pescadinha de rabo na boca, prato que vai ser o nosso almoço de hoje, com um arrozinho malandro de tomate. A situação de arrumo do peixe, em si, é para mim uma incógnita esquisita. Arrisco 2 hipóteses:
1. Neste posição, o peixe será mais fácil de fritar (esta razão de ordem prática).
2. Forma exemplificativa de sugerir um círculo vicioso (ordem teórica).
Se alguém lhe souber a origem - estranha aliás quanto a mim - muito agradeço a explicação.

sábado, 6 de novembro de 2021

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Casas de escrita



Mão amiga fez-me chegar, de empréstimo, este número especial de Le Monde sobre casas matriciais ou mais importantes de alguns escritores, sobretudo franceses ou que em língua francesa escreveram. No capítulo do turismo esta é uma das temáticas mais frequentadas. Por cá, em Portugal, também terá os seus cultores: Tormes e Seide, são bons exemplos...



O exílio de Victor Hugo em Guernesey ou a opção de Marguerite Yourcenar pela ilha de Monts-Deserts, no Maine, são abordados no magazine, muito embora Maupassant, George Sand e Chopin tenham habitado luxuosas mansões, em suas vidas, conforme a revista também refere.



No entanto, pelo exotismo singular, eu destacaria indiscutivelmente o ninho de águias do escritor italiano Curzio Malaparte (1898-1957), em Capri.



cordiais agradecimentos a H. N.


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Leilão de Livros



Ainda há dias, em tertúlia familiar, falávamos  da extinção de grande parte dos bons alfarrabistas lisboetas e da desaparição dos leilões de livros do mercado alfacinha. Por excepção e para contrariar a regra, chegou-nos hoje um catálogo de José F. Vicente, da Livraria Olisipo, que vai realizar uma importante almoeda, no Palácio da Independência (Lisboa), a 17 de Novembro de 2021. Composto por 437 lotes, em grande parte de obras da temática de "Estrangeiros sobre Portugal", o leilão inclui também uma primeira edição de Os Simples (1892), de Guerra Junqueiro, a edição original de Erro Próprio (1922), de António Maria Lisboa, e muito principalmente, no lote 283, um conjunto excepcional de 47 manuscritos de Eugénio de Andrade (1923-2005) ou com o poeta relacionados, alguns deles inéditos, com uma base de licitação entre 4.000 e 8.000 euros.

A quem possa interessar



Saíu há pouco o número 14 da revista Electra, correspondente ao Outono de 2021. A temática é dedicada à Arte Moderna. E inclui colaborações de qualidade, como habitualmente, bem como um grafismo cuidado que bem merece ser destacado.




quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Marrar sempre no mesmo



Ali, para os lados de Sta. Apolónia, há pelo menos 3 paquetes-paquidermes acostados. De gentalha que se espalha pela Baixa, até voltar ao redil, ao fim da tarde, para zarpar de novo a poluir novas paragens.
Esquecidas as aflições, tudo volta ao mesmo paradigma. Num determinismo fatal, cego, a que ninguém põe cobro nem limites. Medina ou Moedas, tanto faz, para o caso.

Pieter van Maldere (1729-1768), especialmente para uma Aniversariante


Para o dia de anos de Margarida Elias, no seu Memórias e Imagens, com muitos parabéns e votos de um dia feliz. E de um ano ainda melhor!

terça-feira, 2 de novembro de 2021

À desfilada...


Penso que um comentarista de qualidade deve ter, por princípio, algum equilíbrio e rigor naquilo que diz, pensa e escreve, a menos que seja autista ou apoucado maior. Ou ainda irresponsável.
No jornal Público, há um cronista provinciano, e parolo de cabeça, de que o nosso PR se aproveitou, aqui há tempos, para tentar reatar e reinventar o Dia da Raça. Não foi bem sucedido e foi bem feito. O gorducho barbudo - é evidente - não tem as qualidades de um António Ferro.
Agora, o plumitivo desmiolado anda a ver se deita abaixo o Chicão e o Rui Rio, por escrito. Coitado do mentecapto...

Citações CDLXVII



Todo o homem verdadeiramente livre deve ter um dos pés no campo adverso.

Louis Pauwels (1920-1997).

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Instrumental a Tarantela, dos Inti-Illimani

Antologia 5

 

Morte ao Meio-Dia


No meu país não acontece nada
à terra vai-se pela estrada em frente
Novembro é quanta cor o céu consente
às casas com que o frio abre a praça

Dezembro vibra vidros brande as folhas
a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
que o mais zeloso varredor municipal
Mas que fazer de toda esta cor azul

que cobre os campos neste meu país do sul?
A gente é previdente tem saúde e assistência
                                    [cala-se e mais nada
A boca é pra comer e pra trazer fechada
o único caminho é direito ao sol
(...)

Ruy Belo (1933-1978)

(excerto inicial de poema de País Possível, 1973) 

Mercearias Finas 173

 

Diz quem sabe que as uvas da Touriga Franca, este ano no Douro, se portaram mal, mas a casta Baga, fundamental na Bairrada, não lhe ficou muito atrás. E, no Alentejo, de uma forma geral as uvas terão sido tardias no amadurecer. As vindimas atrasaram-se muito, por isso. No primeiro caso será a produção do Vinho do Porto a ressentir-se em qualidade, pois utiliza a casta Touriga Franca como uma das principais nos lotes.
Era do Douro que as Garrafeiras da CRF (Carvalho, Ribeiro & Ferreira, Lda.) traziam as uvas, nos anos em que as vindimas no Ribatejo corriam pior - ao que diz a tradição... Infelizmente, essas garrafeiras de renome e qualidade verdadeira deixaram de se produzir ultimamente. Ainda tenho algumas garrafas na adega e, há dias, abri uma delas da colheita (12,5º) de 1985, por questões de precaução temporal. Em conclusão, este ano vinícola nem foi famoso, nem para recordar.
Ora, o néctar estava austero ainda, mas de taninos domados, ligeiramente frutado no sabor - lindo na cor acastanhada, suave. Honrando as linhagens nobres, nos seus 36 anos de maturidade. Acompanhou ao almoço, sedoso, dois queijos da Serra (de diferentes maturações) e outro do Fratel, macios e complexos todos eles de interior... E, mais tarde, ainda se chegou com ele às castanhas outoniças, cozidas, com um cheirinho a erva-doce, inebriante.

Adagiário CCCXXVIII

 

1. Nunca se matou ouriço-cacheiro às punhadas.

2. Muitas coisas sabe a raposa, e o ouriço-cacheiro uma só.