É sabido, de quem se interessa por temas de qualidade alimentar que, por exemplo, nos iogurtes a data de validade é, de um modo geral, meramente indicativa e não científica. E, por isso, o produto tem, normalmente, mais uma semana de vida, podendo ser consumido, nesse período posterior, sem qualquer perigo para a saúde. Sabemos também que muitos frutos são rejeitados pelo não cumprimento do calibre (ou tamanho), graças a uma directiva burocrática, obnóxia e aristocrática da UE, idealizada na assepcia dos gabinetes refrigerados de Bruxelas, por rapazes que, na infância, nunca colheram fruta verde das árvores, para trincar. São os príncipes da irrealidade...
Sabemos também que, hoje em dia, muitos legumes, nas grandes superfícies, vão à noite para o lixo, por não apresentarem aquele aspecto de frescura que o cliente, habitualmente, procura. Mas estão bons e não fazem nenhum mal à saúde. Simplesmente, não preenchem os requisitos visuais de fotogenia gustativa. Por isso, os dados apontam e dizem que os povos do Ocidente e primeiro mundo têm à sua disposição cerca de 1,5 a 2 vezes mais alimentos do que seria necessário. Daí, num mundo onde há Fome, ser este desperdício, burocrático e aristocrático, simplesmente imoral e criminoso.
Tristram Stuart (1977), inglês, sendo sensível a este facto, e contando com alguns apoios, inicialmente particulares, resolveu agir. Em 2009, anunciou e organizou para a Trafalgar Square, uma gigantesca refeição frugal e grátis, para 5.000 pessoas carenciadas. Chamou-lhe "Feeding 5.000". No dia aprazado, chovia bastante, em Londres, mas os necessitados ocorreram e a comida simples (arroz de caril e legumes variados) esgotou completamente. Em 2011 repetiu esta acção, com o mesmo resultado. A 13 de Outubro, passado, terá repetido, em Paris, o "Feeding 5.000", já com o apoio de várias empresas que cederam as viandas, já quase no limite do seu prazo de validade.
O jovem Tristram Stuart não pretende substituir-se aos Governos, nem às Ong's, nem às instituições de assistência social. O seu objectivo é chamar a atenção para o desperdício que o Primeiro Mundo pratica, com leviandade, de forma imoral e criminosa. Não é pouco, convenhamos.