quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Revivalismo Ligeiro CCLVIII

Doces


Terminamos o ano, e bem, com a nossa habitual incursão no comércio local. O Mercado estava cheio de gente e bem recheado, desde marisco vivo - com uma fila de espera de meter medo - até uma bela oferta de docinhos. Não resistimos e trouxemos uma pequena variedade como consta da foto acima.

Post de HMJ

Em contraciclo


É de bom tom, tradicionalmente, jornais, revistas e pessoas fazerem, pelo fim do ano, o balanço dos livros ou melhores obras que leram, no decurso do ano que passou. Eu, porém, tenho uma pedra no sapato: há uma série de livros, altamente considerados pelos cânones literários que eu nunca consegui ler até ao fim, ou que abandonei ao principio da leitura - penitencio-me, embora, nalguns casos tenha tentado várias vezes, ao longo da vida, acabar de os ler.

Para minha vergonha (!), aqui vai, por ordem alfabética de apelidos dos escritores, a lista infamante:

1. A., Rúben - A Torre de Barbela.

2. Broch, Hermann - A Morte de Vergílio.

3. Céline, Louis-Ferdinand - Viagem ao fim da Noite.

4. Döblin, Alfred - Berlim Alexanderplatz.

5. Figueiredo, Tomaz de - Dom Tanas de Barbatanas.

6. Joyce, James - Ulisses.

7. Mann, Thomas - José do Egipto.

8. Musil, Robert - Um Homem sem Qualidades.

9. Pasternak, Boris - O Doutor Jivago.

10. Proust, Marcel - À Procura do Tempo Perdido.

11. Régio, José - A Velha Casa.

Passagem


Votos de boas saídas de 2020 e melhores entradas para o Ano Novo de 2021! 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Carta de J. Guimarães Rosa para Óscar Lopes

Desconheço se esta carta, do singular romancista brasileiro Guimarães Rosa (1908-1967) para o professor e historiador de literatura Óscar Lopes (1917-2013), está inédita. Quem me poderia elucidar, já não pertence ao número dos vivos - o meu grande amigo António de Almeida Mattos (1944-2020).

Provavelmente, a fotocópia da missiva destinava-se a ser usada no Jornal Letras & Letras, do Porto, em algum dossiê sobre o professor universitário, e que este a teria facultado ao meu amigo António. Que, dentro de um envelope, que já me estava endereçado, o meu Amigo não me chegou a enviar. Foi a Isabel, a quem agradeço, que, encontrando-a, ma fez chegar.



Nota pessoal: resta-me acrescentar o interesse da carta. E, lateralmente, lembrar as amenas relações que existiram entre o António e o Professor Óscar Lopes. O que ajuda a explicar que eu tenha a oportunidade de publicar, no Arpose, este documento.

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Bibliofilia 184


Não são muito abundantes os elementos biográficos ou dados críticos sobre o poeta José Maria da Costa e Silva (1788-1854), que foi também tradutor e historiador de literatura. Óscar Lopes dedica-lhe apenas duas entradas mínimas na sua obra maior, apesar do escritor ter uma bibliografia extensa, como aliás Inocêncio refere nos volumes V (pgs. 25, 450), VII (120) e XIII (90) do seu Dicionário.

Se a tradução, em 1850, de Os Argonautas, de Apolónio de Rodes, foi bem recebida pelos seus leitores, o poema O Passeio, cuja segunda edição, aumentada, saiu em 1844, foi elogiado por José Agostinho de Macedo e Almeida Garrett. Dono de uma importante biblioteca, que contava cerca de 16.000 livros, sobretudo de poesia, Costa e Silva dedicou-se, já nos últimos anos de vida, à escrita do Ensaio Biographico-Critico sobre os Melhores Poetas Portuguezes ( 1850/9).


Obra monumental em 10 volumes (os 2 últimos livros são já póstumos) que, apesar de algumas inexactidões, lhe grangearam fama e prestígio, no final da vida. Consta de uma análise por escolas literárias, cronológica, e da recensão interpretativa dos vários poetas portugueses, com transcrições de muitas poesias. Este notável trabalho merecia ser mais bem conhecido. E lido...

sábado, 26 de dezembro de 2020

Divagações 166


Numa das suas últimas entrevistas, reproduzida no JL especial editado aquando da sua desaparição do mundo dos vivos, Eduardo Lourenço (1923-2020), a propósito da morte, falava de números. Lembrei-me que, durante a guerra colonial (1961-1974), nos jornais portugueses e em local pouco destacado, quase diariamente, aparecia o número das baixas humanas, nos vários teatros de guerra. Em média era o número 3. Curiosamente, como agora com a pandemia, é um algarismo anónimo, embora muito maior, e descriminado por diversas alíneas, que aparece, quotidiano... 

O terrorista é agora o Covid-19, inimigo oculto e anónimo também, mas que parece ter uma personalidade própria, agressiva e letal. E que não conseguimos perceber se luta para ele próprio conseguir sobreviver ou se apenas pretende ceifar e ceifar, indiscriminadamente, apenas para destruir, cada vez mais, em números indiferentes e arrasadores, os seres humanos. Numa contabilidade impiedosa e cega. Mesmo que o nosso não fosse um tempo em que a economia predomina e submerge tudo, também assim a palavra cada vez perde mais espaço. Cedendo o lugar aos números. 

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Citações CDLII


Meditar em filosofia é passar do familiar ao estranho e, naquilo que é estranho, afrontar o real.

Paul Valéry (1871-1945), in Choses tues (1930).

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Para todos...

 


...os Amigos, Comentadores e Seguidores, um bom Natal. E votos de um melhor Ano Novo de 2021.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Manoel de Barros (1916-2014)

Uma das grandes singularidades do poeta brasileiro Manoel de Barros, tal como Guimarães Rosa (1908-1967), seu amigo, é que conseguia insubordinar as palavras da língua portuguesa, de forma a criar, nos seus poemas, virtualidades insuspeitadas, mas extremamente originais e novas. Para o caso, um poema seu: 



11

A maior riqueza do homem é a sua incompletude.

Nesse ponto sou abastado.

Palavras que me aceitam como sou - eu não

aceito.

Não aguento ser apenas um sujeito que abre

portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que

compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora,

que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.

Perdoai.

Mas eu preciso ser Outros.

Eu penso renovar o homem usando borboletas.


Manoel de Barros, in Retrato do Artista quando Coisa (1998).

domingo, 20 de dezembro de 2020

Sobre o Trabalho

 


Trabalho, na sua forma alargada e inclusiva, é a temática da revista Electra (10) de Outono, acabada de sair. Com a qualidade gráfica a que nos habituou. Sobre os textos, é cedo para me pronunciar...

sábado, 19 de dezembro de 2020

Pinacoteca Pessoal 171



Este auto-retrato (c. 1640) do pintor italiano Salvator Rosa (1615-1673) basta-me, pelo que expressa de determinação e, porventura, de realismo humano. Mas será conveniente traduzir também as palavras em latim que acompanham a sua figura, como legenda:  Fica calado, a menos que aquilo que tenhas para dizer seja mais importante que o silêncio. Fica assim completo o quadro.

Ludwig Van Beethoven (1770-1827) : Abertura Egmont

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Inglaterra, uma perspectiva



Não estamos proibidos de pensar que, se a Inglaterra nunca mais foi invadida depois de 1066, terá sido porque os estrangeiros evitam lá passar os domingos. 

Pierre Daninos (1913-2005), in Les Carnets du Major Thompson (1954).

Mercearias Finas 164

 


Nos almoços natalícios, pensando no que nos espera à Consoada, no Cozido de Bacalhau da praxe, há que usar de parcimónia nos preparos. E, por isso, tentaram-me os gigantescos Camarões Tigre que a Leonor tinha na banca do Mercado, ao lado dos linguados médios, bonitos, que estavam a 17 euros o quilo. Leonor perguntou à filha, Tânia, o preço de que já não se lembrava. Escapou-se-me um chiça! desbocado, quando ouvi : 42 euros, pronunciados pela Tânia. Leonor riu-se da minha reacção. E lá vieram, humildemente, 18 gambas maneirinhas, a 14 euros o quilo; e que hão-de merecer um Alvarinho de Monção, no almoço de 24.



quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Lembrete 78

 


A época convida. O arrumo de textos e a qualidade da iconografia da revista são, como sempre, excelentes. São convocados Brillat-Savarin e Escoffier, entre muitos outros. Este Le Point, acabado de sair, inclui 6 receitas da gastronomia francesa disponibilizadas por Jean-François Piège.

Estou a imaginar algumas dessas donas de casa que abundam pela net, cozinheiras platónicas, a salivarem copiosamente...

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Do que fui lendo por aí... 40

 


Em meados do século XX proliferavam, pelo menos a Norte, pelas estradas de Portugal, cartazes ou painéis de azulejos de propaganda ao Nitrato do Chile. Creio que ainda se podem ver incrustados nalgumas casas de pedra, alguns sobreviventes destes impressivos anúncios.



Ao iniciar a leitura do tomo XIX do Viajante Universal (Typografia Rollandiana, 1802), obra de que tenho vindo a falar, lembrei-me logo, por associação, dessas imagens que me ficaram da meninice...

Rachmaninov / Lisitsa

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

John Le Carré (1931-2020)


Uma das consequências da idade, quando se prolonga, é o fatal afunilamento e desaparição daquilo que fomos apreciando durante a nossa vida. Fossem livrarias, restaurantes e, sobretudo, pessoas. Que, de um ou outro modo, nos acompanhavam de uma forma próxima, simpática e significativa. No meu caso, o escritor John Le Carré (pseudónimo de David John Moore Cornwell ) era uma dessas sombras tutelares.

domingo, 13 de dezembro de 2020

Esquecidos (5)


Actualmente, não é muito diferente do tempo antes de Moniz Barreto (1865-1896) o panorama da crítica literária, em Portugal. Quase não existe, isenta, e a que há é enfeudada a interesses diversos, quando não obscuros. Já Vitorino Nemésio afirmava: "A literatura portuguesa tem fraca consciência crítica." E eu acrescentaria que os portugueses raramente têm sentido crítico. Em literatura e não só.


Guilherme Joaquim de Moniz Barreto nasceu em Goa a 15 de Março de 1865, de ascendentes açorianos com origem minhota e veio a falecer em Paris, com apenas 31 anos de idade. Conviveu com Junqueiro, Nobre e Eça de Queiroz. Estudou com argúcia a Geração de 70 e, de algum modo, iniciou o ensaísmo e a crítica literária moderna em Portugal. Está hoje completamente esquecido - creio.

Desabafo (60)

 

Definitivamente, em algumas paragens, o verbo amar (ou, em vez dele, o verbo adorar) substituiu o antigo, tradicional e algo discreto verbo gostar, colocado no ferro-velho lexical, para sempre, talvez porque nessas pobres cabecitas era necessário algo de mais supino e grandiloquente, para expressar a inundação de sentimentos incontinentes que se apossara da sua imaginação transbordante.

(Repare-se, entretanto, nesta maravilha de comentário metafísico aparecido num blogue dito cultural (?) que, quase invariavelmente, começa os seus textos por: "Assisti...". Remata essa comentarista, num poste dedicado a um filme austríaco, assim: "Amei sua resenha." Filosóficamente abstracto, não é?)

Pergunto-me, cismando, como é que essas generosas criaturas de mãos rotas verbalizarão o seu amor pelas criancinhas inocentes que, porventura, terão lá por casa...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Revivalismo Ligeiro CCVII

Citações CDLI

 


A paciência é a coragem da virtude.

Bernardin de Saint-Pierre (1737-1814), in Paul et Virginie.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Últimas aquisições (29)


O custo foi mínimo, 6 euros pelos dois livros usados, mas em bom estado. Embora os tenha já comprado há dias, mal lhes toquei e folheei. A obra do Pe. Manuel Antunes (1918-1985) é, com certeza, um valor seguro; espero, entretanto, que o livro sobre Guimarães Rosa (1993, Brotéria) tenha algum interesse e me traga novidades. 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Obras de caridade

 

Eu já tinha chamado o elevador quando, neste mesmo andar, ouvi barulho interior de chaves na porta de Dona F. Claro que lhe dei prioridade, após muita insistência de ambas as partes e mútuos agradecimentos. Fiquei assim à espera do outro elevador. Depois, foi no regresso de comprar o jornal, que a Cabeça de Fósforo (alcunha pelo seu cabelo pintado cor de fogo...) foi objecto da minha caridade, ao abrir a porta da rua. A vizinha, do segundo andar, roliça e mais nova que eu, já se apoia, porém, a uma bengala. Trazia copioso lixo e, cavalheirosamente, segurei-lhe a porta para que ela passasse primeiro. Agradeceu-me, reconhecida.

Se fosse escuteiro, logo pela manhã, teria já praticado duas boas acções...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Joaquín Rodrigo / Lope de Vega / Dúo Vianello


Será talvez um registo de qualidade amadora, mas ganha em naturalidade esta execução de um vilancico de Joaquín Rodrigo (1901-1999) sobre versos do poeta espanhol Lope de Vega (1562-1635), a que o Dúo Vianello deu forma, própria e alusiva à quadra natalícia.

Um CD por mês (20)


Durante quase cerca de 20 anos, comprei mensalmente a BBC Music Magazine, revista conceituada britânica que era acompanhada de um CD de qualidade, com música clássica. Por alturas do Natal, era certo e sabido, a publicação fazia-se acompanhar de uma selecção gravada e alusiva à quadra em questão. Se eu já conhecia de Bach a Oratória de Natal, a banalíssima Stille Nacht do austríaco Frank Gruber e o Concerto de Natal de Corelli, desconhecia, no entanto, a Nussbaum, de Schumann ou a Star Carol, de Rutter, que a BBC Music me veio dar a conhecer, entre muitas outras bonitas melodias natalícias.



domingo, 6 de dezembro de 2020

Uma fotografia, de vez em quando... 147

 


Só me ocorre dizer: refastelado e com cara de poucos amigos. Talvez do frio e da chuva.

sábado, 5 de dezembro de 2020

Citações CDL



Sabendo embora que o excesso é um início, não devemos nunca usar termos caros em literatura barata.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Da rua Tenente Valadim, na Póvoa, à rua do Alecrim, em Lisboa

Já aqui falei dela (16 de Junho de 2010), desta obra extensíssima, creio que com 51 volumes pequenos, editada pela Typografia Rollandiana, intitulada O Viajante Universal... De uma temática que as universidades classificariam hoje, imediatamente, de literatura de viagens. Iniciei-me na obra, no princípio dos anos 70, na Póvoa de Varzim, na Livraria Académica, donde trouxe cerca de 40 voluminhos.

Ora o meu estimado Bernardo Trindade, à rua do Alecrim 44, tinha a sua loja, há dias, abundante de livros, sobretudo modernos, mas também ostentava na vitrine, próxima da sua mesa, uma rara primeira edição (1644) da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes, que fez questão de mostrar-me, e os Cuidados Literários..., de Cenáculo.

 


Soltos, havia três pequenos volumes do Sr. De Laporte, em muito bom estado. Sem ilusões, fui confrontá-los com a minha lista de faltas. E não é que, miraculosamente, dois deles me serviam (o XII e o XIX)? Tinha ganho o dia! Agradeci ao Bernardo e vim feliz para casa.
Ficaram a faltar-me apenas 6 livrinhos: XX, XXIX, XXXIII, IXL, XLIV e L, para a obra ficar completa.



quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Valéry Giscard d'Estaing (1926-2020)


Noutros tempos, havia uma direita esclarecida, às vezes algo aristocrática, mas também havia uma esquerda terrunha, muitas vezes remediada de horizontes... 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Eduardo - Eugénio

 




Eduardo Lourenço (1923-2020)

Num país sem filósofos e apenas pretensos pensadores auto-nomeados, Eduardo Lourenço foi um notável ensaísta, e acompanhante crítico do que em literatura se foi publicando em Portugal. Mas, também em política, foi julgando e interpretando o que se foi fazendo por nós, sobretudo na segunda metade do século XX. A sua Heterodoxia (1949) demarcou, inicialmente, a equidistância saudável do seu pensamento livre.


Deixou-nos hoje, bem como nos legou uma obra escrita de qualidade, que nos permite pensar melhor Portugal.



Adagiário CCCXVII

 

Inglese italianizzato diavolo incarnato.


(Provérbio italiano.)