É um risco que já corri várias vezes, pelo meu apreço a vinhos velhos, mas que, na maior parte dos casos, compensou. Diz-se que "a sorte protege os audazes" e, apesar de eu ser cauteloso por natureza, na compra de vinhos antigos, normalmente, arrisco, por não conseguir resistir à tentação que me assalta...
Numa loja improvável, pelo seu ramo específico, comprei, há cerca de um mês, dois vinhos tintos trintões. O mais idoso (Garrafeira 1980), de produção limitada (garrafa nº 63.172), da Vinícola do Cartaxo, Lda.; o menos antigo (Reserva 1983), da Sogrape, fora lotado com castas de uvas da região do Dão: Touriga Nacional, Tinta Pinheira, Tinta Carvalha, Alvarelhão e Jaen.
Quem mos vendeu, cordialmente me disse: "É um tiro no escuro... Levo-lhe 5 euros por garrafa." - e eu aceitei o repto. A única bússola de segurança, que me norteou, era a altura do vinho nas garrafas. Na do Cartaxo, o líquido estava muito ligeiramente acima, no gargalo, e no da Sogrape, muito pouco abaixo, ainda antes da curva da garrafa. Pela tabela da Christie's (ver imagem) para os vinhos de Bordéus, havia uma certa margem de segurança.
Abri, hoje ao almoço, a Garrafeira do Cartaxo, com 12,2º, para acompanhar um bom bife de alcatra, com batata frita e feijão verde (refogado em cebola, temperado com segurelha). Deixei a garrafa aberta, duas horas, para o vinho respirar e nem foi preciso decantá-lo. De cor rubi pálido, parecia um clarete quase transparente. Tinha um aroma suave e requintado ao tempo (Touriga? Castelão? Aragonês?), muito tranquilo na boca, sem nenhuma aspereza. Excelente, em suma, para um tinto velho de 33 anos.
O da Sogrape fica para outra vez...