sábado, 31 de março de 2018

Fim de linha, mudança de ramal


Natal e Páscoa definem, normalmente, uma hierarquia cronológica de hospedagem familiar ou, ao menos, prandial na precedência e poder dos anfitriões. E se as noras, habitualmente, nos levam os filhos para as suas (delas) casas de infância, numa fidelidade afectuosa a seus pais, também as filhas, por sentimento atávico, nos garantem a constância de uma mesa bem preenchida de gratidão.
O nosso anho pascal* vai ter, este ano, convivas domingueiros pouco habituais, mas a vida é assim, na sua plenitude, cheia de surpresas. Com a contribuição inesperada de um folar à moda de Tondela, que nos vão trazer. E que irá enriquecer o nosso almoço de Domingo de Aleluia.

* a imagem é uma mera ficção antecipada. Que o anho ainda está em vinha de alhos, por agora... 

Bach / Stokowski / Bamert

Uma boa Páscoa para todos os que passem por aqui.

sexta-feira, 30 de março de 2018

Memória (120)


Era dia, na infância, de visitar ao fim da tarde - creio - as sete igrejas canónicas a que obrigava a tradição. Sob o signo do roxo, que cobria as imagens, lá se rezavam algumas preces. O itinerário cobria uma espécie de círculo religioso vimaranense. Visitando-se, talvez por esta ordem, igrejas e capelas de: N. S. da Guia, do Campo da Feira, Oliveira, Misericórdia, S. Dâmaso, S. Francisco, S. Pedro. A partir de meados dos anos 50, e quando a pequena capela da Guia estava fechada, havia a opção da novel e moderna igreja dos Redentoristas, ao fundo da rua Francisco Agra.
E eu, menino, perguntava-me como seria, nas terras pequenas onde não houvesse 7 igrejas. E imaginava que os crentes, na Sexta-feira da Paixão, por certo, teriam de entrar, sair e voltar a entrar, repetidamente. E por sete vezes, para cumprir a obrigação devota da tradição cristã. 

quinta-feira, 29 de março de 2018

Se estiver em Lisboa, e até 1 de Abril...

...poderá ver esta exposição na Gulbenkian.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Desabafo (33)


Andam por aí uns falcõezinhos de bornil, com longos pios e tentames de altos voos, a querer imitar as águias-reais... Deus lhes dê juízo e sentido de proporções!

Mistérios


A Amazon.com, Ashton visitou, hoje, o Arpose (até agora) por oito vezes. Cerca de 1/4 do total das visitas, é obra! Ou obsessão.
Será que a Cambridge Analytica resolveu criar um pseudónimo? Isto, com anglo-americanos, nunca se sabe. Já não nos bastava a NSA e a suja promiscuidade do sandeu do Zuckerberg, a aproveitar-se da ingenuidade inocente dos clientes do Facebook...
Seja como for, aqui fica um esconjuro.

terça-feira, 27 de março de 2018

A propósito de vinhos, em geral, e o de Colares, em particular


Creio que a mais antiga referência escrita a vinho português é ao Charneco que, provavelmente, identificava o vinho de Bucelas. Shakespeare, no seu Ricardo III, perpetua a lenda (?) de o duque de Clarence (1449-1478) se ter afogado, ou ter sido afogado, num tonel de Malvasia. O que significa que, já nessa altura, o vinho da Madeira (?) era conhecido na Inglaterra.



Se, enologica e literariamente, Eça é cosmopolita e variado, referindo, nos seus romances, vinhos espanhóis e franceses, o Dão e  o Colares (abundante em Os Maias), o Bucelas e outros vinhos nacionais, Camilo é mais terrunho e limitado. O vinho Verde, nomeadamente de Basto, é muito citado, mas pouco mais aparece, para além de um vago vinho de Setúbal (?) e outro do Cartaxo, nos seus livros.



O Estado Novo optou, marcadamente e com bom gosto, é certo, pelo vinho do Dão, seguindo os seus chefes. Que Salazar produzia nas suas courelas de Santa Comba o vinho que ele consumia em S. Bento, e o venerando Thomaz tinha um fraquinho especial pelo Dão Terras Altas que, na época, era seguramente um bom vinho, lotado com Touriga Nacional, Tinta Roriz e Jaen.



Mas voltemos ao vinho de Colares, predominante da casta Ramisco, em chão de areia, que conseguiu resistir à filoxera, e que era uma referência literária até meados do século XX. Eu não sou grande apreciador da sua rudeza, apenas mastigável nos primeiros anos. Depois, escapa.
Mas que belos cartazes publicitários, e postais se fizeram dele! Aqui deixo, em imagem, alguns que têm como motivo trajes regionais portugueses.
(Pena não saber quem os fez...)


segunda-feira, 26 de março de 2018

Curiosidades 69


De há muito que o coração é usado como imagem e símbolo maior do amor. Já os egípcios o usavam assim. Muito embora alguns filósofos gregos dele tentassem fazer a morada da alma, sem grande sucesso. Também o cristianismo, iconograficamente, o atribuiu e personificou nas figuras do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria, em definitivo. Pascal e Descartes pronunciaram-se sobre o assunto, em reflexões conhecidas. De uma forma mais terrena e concreta, poder-se-ia falar do coração de D. Pedro IV, que se conserva, embalsamado, na Igreja da Lapa, e que o monarca português doou, como prova de afecto, à cidade do Porto.
Mais interessante porém é o mito anatómico, criado pelos romanos, de ligar, através de uma fina veia (vena amoris), o coração ao dedo anelar (não sei o que a acupunctura mais séria teria a dizer sobre isto...). E, residualmente, a ideia se ter perpetuado no facto e no símbolo de se usar a aliança de casamento no dedo anelar (esquerdo, muitas vezes). Ao que parece, e até ver, também para sempre.

domingo, 25 de março de 2018

Para abrir caminho ao poste seguinte, John Philip Sousa (1854-1932)

Made in U. S. A.


Jovens professores norte-americanos preparando-se para a loucura do dia a dia?
Assim parece...

Uma louvável iniciativa (54)


Não é muito extensa a bibliografia de Raul Brandão (1867-1930). Pouco passará de vinte, o rol de livros publicados, muitos dos quais, hoje, se encontram esgotados. As suas primícias literárias ocorreram em 1890, com o livro de contos Impressões e Paizagens, editado no Porto. Creio que esta obra nunca terá sido reeditada. O primeiro dos contos (A Pimpinella) é dedicado a Eça de Queiroz.



Era das poucas obras brandonianas que eu não tinha, nem nunca tinha lido. Em boa hora, o jornal Público decidiu, recentemente, publicar alguns dos livros de Raul Brandão, em edição fac-similada. Assim adquiri o voluminho (saído a 3/3/18), com gosto e proveito, por preço módico (5,95 euros).
Ainda sem a maturidade maior que viria a consagrar o Escritor, o livrinho juvenil tem ritmo picaresco, pinceladas anti-clericais, como era de tom na época, e lê-se lindamente.

sábado, 24 de março de 2018

Lembrete 63


Talvez seja noite de recolher mais cedo, que o sono vai ser mais curto, de hoje para amanhã...

A propósito de tomates, e de cenouras


É uma curta carta ao director do TLS (nº 5997), curiosíssima, que um leitor, atento e bem informado, dirigiu, clarificando alguns pormenores de um artigo antecedente, sobre tomates, publicado num número anterior do jornal literário inglês, numa recensão de um colaborador. Vou procurar traduzi-la o melhor possível, pois é interessante:

Senhor, - D. H. (NB, 26 de Janeiro) parece surpreendido por o tomate ser um vegetal. Na realidade, para um botânico, e porque tem sementes, o tomate é um fruto. Mas nos Estados Unidos, de acordo com a mais conceituada autoridade possível, o tomate é um vegetal. No século XIX, os EUA atribuiram uma taxa de importação aos vegetais, mas isentaram os frutos de qualquer alcavala fiscal. Os irmãos Nix recusaram-se a pagar imposto sobre os seus tomates importados, porque eram frutos. Em 1893 o Supremo Tribunal de Justiça decidiu que os tomates, sendo preparados e comidos tal como os vegetais, e de modo diferente dos frutos, deveriam ser considerados vegetais. Os Europeus não devem fazer chacota da ignorância científica transatlântica: em 2001, a União Europeia classificou a cenoura, que é desprovida de sementes, como um fruto.

A. H. Woodward
Portland, Oregon 97225





sexta-feira, 23 de março de 2018

Ravel / Fray

Ponha-se de lado uma certa pose excessiva e juvenil do novel pianista, e as coisas quase ficam perfeitas...

quinta-feira, 22 de março de 2018

Citações CCCXXXVII


A sabedoria dos velhos é uma ilusão. Não é mais sábios que eles se tornam, mas mais prudentes.

Ernest Hemingway (1898-1961), in O Adeus às Armas (1929).

quarta-feira, 21 de março de 2018

Soma e segue (2)


A notícia é de hoje, no Público.
E, nos casos referidos, a causa continua a ter origem no abusivo aumento de rendas.
Como diz um meu amigo, qualquer dia, nas zonas nobres das cidades portuguesas, os turistas irão cruzar-se apenas com turistas. E com hotéis, acrescento eu.

Sobre transvases, nomeadamente, em poesia


Os poetas chegam normalmente tarde a outras línguas, ou, pelo menos, mais tarde do que os prosadores. Quero eu dizer, através de traduções e em tempo muito diferido. Por outro lado, nem sempre encontram o língua exacto e merecido. Que os traia, ao menos, com nobreza e honestidade profissional. Depois, muitas das vezes, o crivo é rarefeito e datado, e a sua poesia perdeu esse frescor de novidade no tempo, acabando por obedecer a critérios de academia e a internacionais de gosto conservador e a interesses muito particulares.
Se, por exemplo, Pessoa teve sorte e oportunidade temporal em França (Pierre Hourcade, nos anos 30), que dizer, em contrapartida, do conhecimento tardio de Cavafy, que chegou a Portugal, somente pela voz esforçada e redentora de Jorge de Sena, já só nos anos 60.

Sic, a propósito do tempo que passa


Um só mau oficial
que ha em üa cidade
destrui a comunidade:
vede bem se faram mal
muitos desta qualidade.
Deus e el-rei nom sam servidos,
os povos sam destruidos,
a policia damnada,
a república roubada,
e os pobres oprimidos.


Miscelânea (estância XXXIII), de Garcia de Resende (1470-1536).


............................................
Nota pessoal: por razões porventura líricas e primaveris, resolveu a Unesco consagrar o Dia Mundial da Poesia neste 21 de Março de 2018. Evitando o derrame lírico, optei, no entanto, por um excerto mais musculado, do séc. XVI, onde costumes e gentes são objecto de crítica, pela voz de Garcia  de Resende. Como hoje, aliás, também poderiam ser, numa ausência, que se vai notando, de ética e de princípios...

terça-feira, 20 de março de 2018

O que fazem os livros...


Por razões de natureza temática, adquiri, recentemente, num alfarrabista, uma separata da Revista Militar, cuja capa encima este poste. O opúsculo, de 56 páginas, ostenta uma calorosa e cordial dedicatória do autor, para um colega, também militar. Ambos falecidos, já.
Para melhor localização e por curiosidade, dei-me a procurar quem tinham sido e acabei, assim, por entrar na sua intimidade biográfica. Que, até hoje, era para mim, totalmente, desconhecida. Por momentos breves, os dois militares amigos re-existiram, virtualmente.


Receita para esgalhar um comentário de sucesso


Cinicamente, Reinaldo Ferreira (1922-1959) escreveu um poema intitulado: Receita para fazer um herói.
Ora, é sempre vantajoso mostrar admiração, surpresa perante o tema e abordagem de um poste que se comenta. Uma ponta de ingenuidade ou ignorância é sempre bem-vinda, e ajuda. Qualquer tipo de sentido crítico, ou discordância, é absolutamente dispensável, mas o exercício de prosa poética, mesmo que deslavada e fruste, no comentário, revela caridade e é, quase sempre, acolhido com manifesta alegria incontida (e correspondente) pelo administrador do blogue. Evite-se, de todo, a ironia. Raramente é percebida, e pode gerar equívocos lamentáveis. Obrigando a explicações posteriores sempre penosas e redundantes.
É preferível ser banal e comentar sobretudo postes muito banais, e com muitas imagens. Pensar, na net, é quase sempre exorbitar. A simplicidade no ciberespaço é dominante e aconselhável, em nome dos bons costumes. Não convém perturbar almas, nem criaturas. O cinismo para com os inocentes é um pecado capital. E indesculpável, em absoluto. Daí os like, tão queridos do feicebuque.
Finalmente, evitem-se os palavrões, por ordinários, mesmo vindos de anónimos tímidos, a quem os pais tiveram vergonha de baptizar, por pudor e manifesta dignidade própria e humana, acautelando o futuro.

domingo, 18 de março de 2018

Uma fotografia, de vez em quando... (104)


Embora com nacionalidade norte-americana, muitas das fotografias de Clarence H. White (1871-1925) fazem-me lembrar telas de pintores pré-rafaelitas, movimento de Pintura que se iniciou, na Inglaterra, por volta do ano de 1848.



Autodidacta, já depois dos 20 anos de idade é que começou a interessar-se, intensamente, pela fotografia, fundando até uma escola de aprendizagem, que veio a contar com alunos notáveis e talentosos que incluíram, por exemplo, Dorothea Lange.



O tratamento e abordagem delicada da luz e uma especial sensibilidade para retratar modelos femininos caracterizam de forma impressiva e muito singular grande parte dos seus trabalhos. De que a fotografia O Pomar, de 1902, me parece um magnífico exemplo.


Vivaldi / Avital

sexta-feira, 16 de março de 2018

Ideias fixas 12


Cada vez vejo, com mais inquietação, o tempo que se perde, em Portugal, com os E. U. A. e o seu títere. Ele são as damas pressurosas, os comentadores fastidiosos, os embaixadores aposentados, os políticos desocupados, os pobrezinhos dos jornalistas, os bloggers sem motivos (até eu, em suma, agora e aqui...), os clientes do Centrão nacional, essa tropa fandanga que anda por aí...
Dentro de 100 anos estaremos todos mortos (se não for antes), para quê tanto frenesi beato e obsequioso?
Irra!

Adagiário CCLXXVII


Quem faz força é o boi, e quem geme é o carro.

quinta-feira, 15 de março de 2018

Comic Relief (139)


Para tudo há solução:
mas há que ter sempre
um Speedy González
voluntário, à mão.


grato reconhecimento a AVP.

Casamentos felizes


Nem sempre cinema e literatura casam bem. E há, por vezes, alguma desproporção entre uma obra literária célebre, que foi adaptada ao cinema, e o filme realizado. Acontece que, normalmente, existe um certo desequilíbrio entre as duas formas de Arte, pese embora a força impressiva das imagens de um filme, em confronto com o poder (menor?) das palavras de um romance, conto ou novela. Para citar Camilo, nem sempre há casamentos felizes. Do que li e vi, não consigo, no balanço de memória, encontrar Doze Casamentos Felizes, como no romance do Escritor. No meu cotejo, dou por fé, no entanto, 9 adaptações primorosas de literatura ao cinema. Cronologicamente, aqui ficam, com referência aos respectivos autores e datas dos filmes:

- "À beira do abismo" (The Big Sleep), de Raymond Chandler - Howard Hawks (1948).
- "O Leopardo", de Giuseppe Tomasi di Lampedusa - Luchino Visconti (1963).
- "O Doutor Jivago",  de Boris Pasternak - David Lean (1965). 
- "Fahrenheit 451", de Ray Bradbury - François Truffaut (1966).
- "2001 - Odisseia no Espaço", de Arthur C. Clarke - Stanley Kubrick (1968).
- "Morte em Veneza", de Thomas Mann - Luchino Visconti (1971).
- "Amor de Perdição", de Camilo Castelo Branco - Manoel de Oliveira (1978).
- "The Dead", de James Joyce - John Huston (1987).
- "The End of the Affair", de Graham Greene - Neil Jordan (1999).

Terei esquecido alguma geminação equilibrada? É possível. E convém acrescentar a limitação das minhas leituras e dos filmes que tive ocasão de ver. Para não falar do gosto pessoal. Sempre subjectivo.

para Maria Franco, e por causa de um seu comentário (ao poste anterior), aqui no Arpose...

quarta-feira, 14 de março de 2018

Impromptu (34)

Umas Mercearias Finas ou Incursões Culinárias, com a ajuda de Wes Anderson...

Triunfo sobre a adversidade


Só uma férrea vontade de espírito permitiu a sua vida cumprida e útil. Stephen Hawking (1942-2018) faleceu hoje, durante o sono.

Um poema inglês em versão portuguesa


Um Epílogo

Eu vi flores crescerem em lugares rochosos
E coisas suaves virem de homens muito feios,
E a taça dourada ser ganha pelo pior cavalo das corridas,
Por isso também acredito.


John Masefield (1878-1967).

terça-feira, 13 de março de 2018

Pinacoteca Pessoal 133


É sabido e notório que os rostos humanos são assimétricos. Às vezes, de forma extravagante, o lado direito da face é muito diferente do esquerdo, o que provoca alguma incomodidade estética a quem vê ou o constata.
A primeira tentativa de dar um retrato de rosto tanto quanto possível completo, nas suas diversas perspectivas e posições, creio poder atribuir-se ao pintor italiano Lorenzo Lotto (1480-1557), que terá executado um retrato triplo, na mesma tela, de um joalheiro veneziano, no ano de 1530. O quadro encontra-se num museu de Viena.



Poucos anos depois, o flamengo Anthony van Dick (1599-1641), a convite da corte inglesa e, possivelmente, conhecedor da ousadia de Lorenzo Lotto, veio a retratar também o rei inglês Carlos I,  em três perspectivas, entre os anos de 1535 e 1536. A obra pertence à Royal Collection Trusts.



Cerca de 100 anos depois, o pintor francês Philippe de Champaigne (1602-1674) viria a executar um retrato tripartido do Cardeal Richelieu, por volta de 1642. Este obra integra, hoje, o acervo da National Gallery, em Londres.



Estamos, no entanto, ainda longe das decomposições de rostos a que Picasso (1881-1973) procedeu, a partir da tela Les demoiselles d'Avignon (1907) e que, de alguma forma, dariam origem ao Cubismo, segundo alguns estudiosos de Pintura.

segunda-feira, 12 de março de 2018

Para que conste...


Ia jurar que vi hoje a primeira andorinha (outrabandista) deste ano. Foi de relance e breve a aparição, mas o tipo de voo só poderia ser de andorinha. Naquele bater de asas nervoso e ziguezagueante...

Humor negro (8) e judeu


É muito singular, mas complexo, o tipo de humor dos judeus. Se nos lembrarmos de alguns filmes de Woody Allen, por exemplo, verificar-se-á aquilo de que estou a falar. Mas até mesmo George Steiner recorre muitas vezes, nos seus livros de ensaios, a um tipo de humor muito particular...
O penúltimo TLS dedica uma das suas temáticas a Jokes and Jewishness e o director do jornal literário, Stig Abell (também ele judeu, creio), no seu editorial, conta uma anedota curiosa, que eu vou tentar adaptar à lingua portuguesa. Assim: um judeu, sobrevivente do holocausto, morreu e vai para o céu. Ao encontrar-se com deus, para meter conversa, resolve contar-lhe uma anedota sobre o holocausto. Quando acaba, deus diz-lhe: não achei piada nenhuma! Ao que o judeu lhe responde: porque não esteve lá!...

domingo, 11 de março de 2018

Grieg / Gilels: Peças Líricas

Bibliofilia 160


Com colaboração de grande qualidade, a revista Almanaque publicou-se de Outubro de 1959 a Maio de 1961, e tinha como director A. Joaquim de Figueiredo Magalhães (1916-2008), proprietário da editora Ulisseia. Foram editados 18 números, sendo os primeiros orientados graficamente por Sebastião Rodrigues. A revista, irreverente para a época, foi uma pedrada no charco do conformismo salazarista. Uma breve evocação da revista e do seu director formal foi feita por VPV, em Novembro de 2008, no jornal Público:



Informalmente, parece ter sido José Cardoso Pires o seu director literário, mas a publicação contava com colaboradores de peso: Sttau Monteiro, Vasco Pulido Valente, Baptista Bastos, José Cutileiro, Augusto Abelaira e, episodicamente, Alexandre O'Neill. João Abel Manta também contribuiu, graficamente. Carlos de Oliveira e Eugénio de Andrade, entre outros, lá publicaram poemas, também.



Abordando variados assuntos, da astrologia à grafologia, da hagiografia à agricultura, a revista privilegiava os temas literários, tendo publicado alguns inéditos de escritores portugueses.
Recentemente, a Livraria Manuel Ferreira (Porto) tinha à venda os 18 números da Almanaque, ao preço de 250 euros.

sexta-feira, 9 de março de 2018

Pernambucana

Tenho uma vaga suspeita de que muitos dos tijolos, nos transportes públicos portugueses, são lidos desta forma...

quinta-feira, 8 de março de 2018

O poema 10 da "Biografia do Orvalho", de Manoel de Barros


10

A menina apareceu grávida de um gavião.
Veio falou para a mãe: O gavião me desmoçou.
A mãe disse: Você vai parir uma árvore para
a gente comer goiaba nela.
E comeram goiaba.
Naquele tempo de dantes não havia limites
para ser.
Se a gente encostava em ser ave ganhava o
poder de alçar.
Se a gente falasse a partir de um córrego
a gente pegava murmúrios.
Não havia comportamento de estar.
Urubus conversavam sobre auroras.
Pessoas viravam árvore.
Pedras viravam rouxinóis.
Depois veio a ordem das coisas e as pedras
têm que rolar seu destino de pedra para o resto
dos tempos.
Só as palavras não foram castigadas com
a ordem natural das coisas.
As palavras continuam com os seus deslimites.


Manoel de Barros (1916-2014).

quarta-feira, 7 de março de 2018

Para MR, na passagem do aniversário


Estas singelas papoilas e uns breves minutos, de arte e humor, com muitos parabéns.

terça-feira, 6 de março de 2018

Uma brilhante tirada política, de humor


Os Balcãs produzem mais História do que aquela que são capazes de consumir.

Winston Churchill (1874-1965).

segunda-feira, 5 de março de 2018

A literatura e a vida, segundo Alberto Manguel (1948)

Do que fui lendo por aí... 18


Por razões muito exteriores, principalmente, tenho sido disciplinadíssimo em leituras, nos últimos meses. Perante esta singularidade, acabei até por fazer um tosco apontamento (em imagem) dos livros que principiei e acabei de ler, nos mais recentes 4 meses e meio. E cheguei ao bonito número redondo de uma dúzia, fora dois ou três folhetos pequenos, oitocentistas.
O facto de ter estado fora (Inglaterra e Alemanha) e com limitadas provisões de leitura, contribuiu, espartanamente, para o facto. Até porque não me pude, quase, reabastecer lá fora. Ou muito limitadamente, pelo menos. Dos autores, bisei, com proveito, Alec Guinness e W. G. Sebald. Das más experiências e perdas de tempo, destacaria John Fante e James Baldwin.
De qualquer forma, o balancete de leituras, que fiz, não me desagrada, sobretudo pelo aspecto disciplinado de ter lido, em tempo prático e continuado, estes 12 livros, do princípio até ao fim. A ver vamos se o método se irá manter...

domingo, 4 de março de 2018

O tempo dos primores


Os morangos ainda sabem a nada, ou a água chilra deslavada, porque só em Maio começam a ganhar personalidade gustativa. Mas os nossos queijos tradicionais ainda estão na sua plenitude de sabor. Está a acabar-se a saison da lampreia que, castiçamente, é muito curta: Fevereiro e Março. E ainda não me começou a apetecer sardinha: lá para finais de Abril, talvez. Mas, hoje em dia, há de tudo sempre e em qualquer altura. Perdeu-se assim a espera desejada dos primores.
Ontem, vieram para a mesa umas Vieiras gratinadas, que estavam um espanto, com o seu recheio doméstico, mesclado de bocadinhos de lombo de linguado e segmentos róseos de gambas. Hoje, fora de tempo também, há-de comer-se uma especiosa maionese de lagosta, porque era preciso descongelar o frigorífico. E tudo isto vai indo assim, fora de tempo. Acessível de preço, saboroso nem sempre, mas sem os rituais antigos, que a memória conserva.
Porque dantes, Lagosta era uma vez por ano e na Póvoa de Varzim, quando a minha Mãe decidia ir à rua Tenente Valadim escolher, do tanque da loja de marisco, o bicho que lhe parecesse mais maneirinho e a contento. A loja tinha viveiros próprios encravados e cavados em penedos do mar da Póvoa, que eu cheguei a visitar e conhecer. E a Lagosta era o primor e o ritual de Agosto. Vinha, viva, de patas ou pinças atadas para casa, onde era metida na panela, cruelmente, em água fervente com algumas, poucas, pedrinhas de sal grosso...


Citações CCCXXXVI


O ser humano deixa de ser criança quando toma consciência de que contar a alguém os seus problemas não resolve as questões.

Cesare Pavese (1908-1950), referido por W. H. Auden.

sábado, 3 de março de 2018

Maria Farantouri (1947)

Pequena história (49)


Francis Ford Coppola (1939) sempre sonhou em grande, mas os seus projectos fizeram-no pagar altos preços, pela sua concretização. A fundação dos estúdios American Zoetrope (1969) foi seriamente abalada pela construção, in loco, de uma Las Vegas simulada, para filmar One from the Heart (1982).
Mas, já antes, em 1979, a decisão, contra todos os conselhos, de ir filmar nas Filipinas o Apocalipse Now se revelou um desastre financeiro. Os problemas, durante as filmagens, foram tantos e os percalços tão inesperados, que a equipa, entre si, passou a chamar ao filme: Apocalipse Never...

sexta-feira, 2 de março de 2018

Dos contos, como ficção

Não sei se hoje os leitores contumazes costumam ler muitos contos. Mas creio que as editoras preferem editar aqueles tijolos, que vemos muito pelos transportes públicos. E que permitem aos putativos e ocasionais leitores, sem grande concentração (eu creio que também há leitura automática!...), entreter, sem pensarem muito e à tona, o seu tempo de deslocação.



Durante uma boa parte da minha vida, sobretudo até à maturidade, eu comprava muitos livros de contos. E havia bons contistas portugueses. O meu tempo livre não era muito, mas era muito intercalado e havia contos, de 3 ou 4 páginas, admiráveis, que deixavam um rasto prolongado, e imorredouro, na minha memória. Estou a lembrar-me de pequenas narrativas de Somerset Maugam ou de Guy de Maupassant, por exemplo.



Na altura, eu não era esquisito. Quanto aos de temática policial, Edgar Allan Poe ou Conan Doyle eram dos meus preferidos. Na índole histórica, Alexandre Herculano e as suas Lendas e Narrativas mereciam-me emoção e respeito. De pura ficção, mais moderna, para ser justo, terei de lembrar vários contos de  Jorge de Sena e Cardoso Pires. E muitos outros, que seria fastidioso, aqui, enumerar.

quinta-feira, 1 de março de 2018

Soma e segue


Mais duas livrarias que fecham portas, em breve. A livraria Miguel de Carvalho, em Coimbra, e a Pó dos Livros, às Avenidas Novas, em Lisboa, no final deste mês de Março de 2018.
Espaço para lembrar a famigerada Lei das Rendas, e a inefável boneca de louça Cristas, sua responsável...