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quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Do que fui lendo por aí...67



É um livro maciço (1.060 páginas, incluindo as notas finais) que terminei há pouco de ler, sem no entanto, ao longo do percurso, ter feito batota na leitura ou me ter desinteressado, porque Pierre Assouline (1953) fez um bom trabalho sobre a vida e obra de Georges Simenon (1903-1989).
Pelo caminho, fui tomando os meus apontamentoss com citações da obra, de que retenho duas mais interessantes, que traduzi:

- Simenon é desde há pouco o autor mais roubado nas bibliotecas municipais da cidade de Paris. (pg. 559)

- "É tempo de me passar para o clã dos velhotes", ou ainda: "Envelhecer é uma sucessão de últimas vezes." (pg. 912)

sábado, 31 de agosto de 2024

Diálogo de final de Agosto



O patrocínio de Cícero (103-43 a. C.) impunha-se até por questões geriátricas, na conversa. Antes, viera o nome e dois poemas de Eugénio. Ao tribuno romano, seguiu-se, naturalmente, Beauvoir por causa de La Vieillesse, na minha opinião, obra bem mais conseguida na caracterização dessa idade. Lembrei-me também do mau envelhecer de Yeats. No diálogo de amigos, Camilo foi referido, nas leituras recíprocas; do outro lado, Sara, de Olga Gonçalves. E releituras que já íamos fazendo, por este final de Agosto.

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Divagações 194



Com o tempo, a sensação do desarrumo começa a parecer mais frequente, quer nas coisas que nos rodeiam, quer na associação das reflexões que nos ocorrem. Para além de mais coisas que fomos juntando, há talvez uma liberdade na velhice que quase parece confundir-se com a anarquia, no seu melhor sentido.
Mas também é verdade que há algumas palavras de outros desaparecidos que, uma vez pronunciadas, nos hão-de acompanhar arrumadas para sempre, na memória dos dias. Mantendo o seu lugar parcialmente imperecível enquanto formos vivos e lúcidos.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Adagiário CCCLIV


Com a temática velhice,  aqui vai uma pequena selecção de meia dúzia de provérbios: 

1 - A vida passada faz a velhice pesada.
2 - Quem quiser ser muito tempo velho, comece-o a ser cedo.
3 - Quem em velho engorda, de boa mocidade se logra.
4 - Homem magro, e não de fome, fugir dele, que ele é homem.
5 - Não digas ao velho que se deite, nem ao menino que se levante.
6 - Velho que não adivinha, não vale uma sardinha.

 

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Circunstâncias

 

Do Bloc-Notes V (pg. 147), traduzindo, reproduzo um pequeno excerto de François Mauriac:

"«Senhor Marechal, não se é mais feliz, na nossa idade.» Foi esta a única objecção do idoso Luís XIV ao velho marechal de Villeroy que acabava de ser vencido e perder tudo em Ramillies."

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Citações CDLX

 

O verdadeiro mal da velhice não é o enfraquecimento do corpo, é a indiferença da alma.

André Maurois (1885-1967).

terça-feira, 26 de maio de 2020

Sociedades secretas e passagem de testemunhos


A italiana e mafiosa palavra omertá vem à colação a propósito do tema, mas não só. Ao longo da minha vida, os velhos de minha estimação e proximidade sempre me referiram o enfraquecimento da sua memória, alguns a puerilidade crescente das emoções, também a insegurança, a perda de forças e o cansaço progressivo, o balbuceio da voz e a cada vez mais difícil procura de expressão, outros o tédio do dejá vu e a repetição mesma dos grandes acontecimentos. Mais raros, me confidenciaram outras fraquezas mais íntimas, perdas de controlo, reacções infantis, incontinências...
Quando chegou a minha idade biológica de velhice, humildemente, procurei informar-me e preparar-me um pouco mais: li Cícero, Beauvoir... E todos eles eram omissos. Nenhum foi capaz de me informar,( malandros!), da fraqueza das pernas que sobrevém inexorável e fatalmente com os anos!
( Para que não me acusem de corporativismo, aqui fica o aviso aos mais novos. )

sábado, 8 de dezembro de 2018

Cioran e a velhice


A vantagem de envelhecer é de poder observar de perto a lenta e metódica degradação dos órgãos; eles começam a estalar, uns de forma flagrante, outros, de maneira mais discreta. Destacam-se do corpo, como o corpo se vai separando de nós: ele escapa-nos, foge-nos, já não nos pertence mais. É um desertor que nós nem podemos denunciar, uma vez que ele não parte para nenhures, nem se põe, sequer, ao serviço de mais ninguém. (pg. 997)

E. M. Cioran (1911-1995), in Cahiers - 1957/1972 (1997).



Nota pessoal: terminei ontem, cerca das 19h00, a parcimoniosa leitura poupada destes "Cadernos" de Cioran, obra que me levou quase 20 anos a terminar, procurando prolongar o mais possível este diálogo estimulante, que me foi útil e sempre agradável pela diversidade e riqueza das suas reflexões.
Em termos de comparação, poderei dizer que me deu muito mais prazer do que a leitura de "Guerra e Paz", de Tolstoi, que também foi lenta e morosa, mas por outras razões. Porque, bem vistas as coisas, um livro de ficção pode não excluir, também, a reflexão e o pensamento... Embora raramente isso aconteça. Principalmente, nos dias de hoje.

quinta-feira, 22 de março de 2018

Citações CCCXXXVII


A sabedoria dos velhos é uma ilusão. Não é mais sábios que eles se tornam, mas mais prudentes.

Ernest Hemingway (1898-1961), in O Adeus às Armas (1929).

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Perdido


Perdido é um conceito amplo. De largo espectro, raramente trágico. Aqui há uns anos, perdi-me em Colónia (Köln), mas mesmo sem pedir informações, consegui reencontrar-me. Não foi grave, nem muito demorado.
Mas hoje foi diferente e eu apenas servi de mera bússola  na reorientação de um ser humano. Conheço-o de vista, tem aspecto mais ou menos cuidado, barba pequena, andar concentrado. A mulher, talvez octogenária, é que já não parece deste mundo...
Pois, hoje de manhã, quando despejava lixo no contentor dos papéis e cartão, ouvi chamar. Olhei e vi, numa janela dum rés-do-chão, o tal sujeito. Fiquei, então, espectante e ele perguntou-me, bem alto: "Que dia é hoje?" Passada a minha surpresa, respondi-lhe: "É Segunda-feira!" E vendo que não era suficiente, acrescentei: "29 de Agosto."

sábado, 19 de dezembro de 2015

Cioran, sobre o envelhecer


4 de Janeiro de 1970

O argumento de Sócrates, perante os seus amigos que lhe propuseram a fuga, e depois da sua condenação à morte, era que morrer nessa altura era morrer bem, nas vésperas da velhice e da decadência, e que não havia para ele melhor ocasião para desaparecer. Tudo lhe parecia preferível às humilhações da idade. Que lição para os Modernos, que se apegam a tudo para retardar a sua morte. Sócrates, hoje, teria aceitado os planos de evasão dos seus amigos e ter-se-ia submetido ou inclinado a dar razão aos seus juízes. É sempre a mesma história: desaprendemos a arte de desaparecermos a tempo. Vivemos até à última infâmia do envelhecer. Chafurdar na decrepitude, é o que define melhor a sociedade, de há uns séculos para cá.

E. M. Cioran, in Cahiers / 1957-1972 (pg. 784).

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Recuperado de um moleskine (17)



A ausência de interesses secundários, ou hobbies, é fatal para a velhice. O horizonte reduz-se ao espaço corporal e ao olhar, quando vê ou observa, do horizonte contíguo, ou mais próximo. Há, talvez, uma letargia, ou hibernação que vai alastrando com o desinteresse mundano. Não há muito a fazer, porque o despertar é, apenas e quase sempre, para necessidades imediatas, momentâneas. O monossílabo acaba por ser a palavra de ordem, num resumo de tudo, mesmo que a vida tenha sido pujante de movimento, intensa, interessante de contrastes. E rica, na sua humanidade inteira, passada.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Sobre a cristalização


Talvez esteja a ser espartano, ou não tenha tido em conta algumas, possíveis, excepções, mas permito-me constatar: a antologia faz-se entre os 20 e os 40, pouco mais ou menos. Depois, muito pouco entra, possam embora ser muitos os convidados. Ou, para citar a Bíblia: muitos são os chamados, poucos os escolhidos. Porque há uma diferença de tom, em cada geração. Ou de gosto. De parte a parte. Na música, em poesia, na pintura...

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Este país não é para velhos ( W. B. Yeats)

É um eufemismo, e até mesmo um erro, dizer-se que é uma conquista da civilização e melhor qualidade de vida viver-se até mais tarde. Às vezes, muito raramente, pode ser.
É também um mito afirmar-se que o sistema de saúde, nos países do Norte da Europa, é uma maravilha. O nosso SNS, do meu ponto de vista, é melhor. E mais humano. O vídeo não o aconselho a pessoas excessivamente sensíveis.

agradecimentos a C. S..

domingo, 26 de julho de 2015

Para o António, no seu aniversário


Difícil é apresentarmo-nos, circunspectos e felizes, que as manchas na pele não correspondem, talvez por miopia ou cegueira, à claridade que sentimos, nem as rugas, ainda que poucas, representem as fracturas e abismos que conseguimos ultrapassar. A Primavera ainda vibra no sangue quando chegam as andorinhas, nos seus voos nervosos; como o Verão se cola a aventuras que já não pode haver. Esperam de nós a sabedoria da idade e a ponderação tranquila dos anos, que, por vezes, conseguimos. Apesar desse buliçoso diabinho, na alma, que nos tenta, a "desmanchar a regra", a fazer travessuras (tantas vezes!) como quando trepávamos às árvores, desmanchávamos um brinquedo, ou "tropeçávamos de ternura" e lágrimas, por um amor infeliz.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A velhice e os ingleses


Depois da sra. Thatcher, dos srs. Blair, católico convertido, Brown, esquivo, e do leitoso sr. David Cameron, tenho algumas dúvidas sobre a apreciação que Lytton Strachey (1880-1932) faz sobre a velhice e os ingleses, a propósito da popularidade dos últimos anos da rainha Victoria, na biografia que lhe dedicou. Em qualquer dos casos, aqui vai uma tradução das suas palavras:
"É verdade, Victoria era a rainha de Inglaterra, a imperatriz da Índia, o centro em volta do qual girava toda a máquina magnífica, mas era também, ainda, uma outra coisa. Primeiro, é que ela era muito velha: e uma idade avançada é, na Inglaterra, uma condição quase indispensável da popularidade."

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

"Este mundo não é para velhos"


O título deste poste plagia, com a diferença de apenas uma palavra, parte do verso inicial (That is no country for old men...) do poema de Yeats, "Sailing to Byzantium", que aqui traduzi, em 1 de Maio de 2010. Os irmãos Coen também o usaram para título de um seu filme recente.
Pese embora o facto do irlandês Yeats ter aceitado muito mal a sua velhice, também Leonard Cohen a encara com amargura e, em muitos casos, essa idade ser propícia à insegurança e ao cepticismo acentuado para com o mundo à volta.
O regresso à "estrada" das digressões e a intensidade de gravações, nos últimos anos, explica-se, sobretudo, pelas necessidades financeiras do cantautor canadiano. Que, já no início do século XXI, foi vítima de abuso de confiança por parte da sua antiga companheira, Kelly Lynch, que era também gestora dos seus dinheiros. E o defraudou, desviando 3,8 milhões de dólares...
No seu último livro, também Herberto Helder diz, no poema final:

...e só tenho a dizer que não sei como arranjar dinheiro para outra bilha,
se vendessem o gás a retalho comprava apenas o gás da morte,/ ...

Diferentes perspectivas que convergem por motivos de insegurança e tristeza na velhice, mas que não impedem, porém, a existência de beleza nos poemas tardios destes três poetas de países bem diferentes.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Uma reflexão de Goethe, na velhice


O quê? Então cheguei eu aos 80 anos para pensar as mesmas coisas de sempre? Pelo contrário, eu esforço-me em pensar algo de diferente, algo de novo em cada dia, para evitar aborrecer-me.

J. W. Goethe (1749-1832).

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Desabafos


Faz bem falar com um amigo que já conhecemos há muito, e que já nos conhece há décadas de caminho. A velhice não gosta de mudanças, porque o cepticismo do tempo raramente nos promete grandes coisas. Lembrem-se as Primaveras árabes que rapidamente se transformaram em tempestuosos e anárquicos, ou ditatoriais Invernos islâmicos.
Esta moda de mudanças, que incipientes e atoleimados jornalistas acolhem com um sorriso alvar e olhos de pasmo e alegria, assertivamente, não me afecta um milímetro, muito embora acompanhe, com algum cuidado e ponderação os desenvolvimentos, até poder chegar a alguma conclusão fundamentada.
Preocupa-me, sim, este desejo de mudança, como se os passos fossem sempre seguros, estas modas trepidantes a qualquer preço, estes aggiornamentos (pontifícios ou não), em que tudo se troca numa freudiana procura da fonte da felicidade e juventude, ou na mania cega e acéfala de acompanhar o mais recente - que quase me irrita, pelo imediatismo, pela ligeireza, pela leviandade mental.
Há um cerco de estar em dia, que nos sitia. Desde o amigo volúvel que se surpreende por ainda demolharmos, em casa, um bacalhau escolhido com cuidado na mercearia, em vez de comprarmos o universal e asséptico riberalves, até ao velhinho moderno que não percebe porque somos tão ignorantes em relação aos tablets - aos Magalhães ainda eu cheguei...
Depois é o Google rural e ianque, é o Adobe Flash Player, é o...que estão sempre com actualizações, e que me atrasam, estupidamente, no meu trabalho quotidiano e despretencioso. E eu lá acabo, céptico e benevolente, por aceitar estas actualizações ignaras e frenéticas, periodicamente incomodativas, de que já conheço, de antemão, o resultado. No dia seguinte, o computador, com as suas fragilidades habituais, está na mesma. Ou pior.