sábado, 19 de dezembro de 2015

Cioran, sobre o envelhecer


4 de Janeiro de 1970

O argumento de Sócrates, perante os seus amigos que lhe propuseram a fuga, e depois da sua condenação à morte, era que morrer nessa altura era morrer bem, nas vésperas da velhice e da decadência, e que não havia para ele melhor ocasião para desaparecer. Tudo lhe parecia preferível às humilhações da idade. Que lição para os Modernos, que se apegam a tudo para retardar a sua morte. Sócrates, hoje, teria aceitado os planos de evasão dos seus amigos e ter-se-ia submetido ou inclinado a dar razão aos seus juízes. É sempre a mesma história: desaprendemos a arte de desaparecermos a tempo. Vivemos até à última infâmia do envelhecer. Chafurdar na decrepitude, é o que define melhor a sociedade, de há uns séculos para cá.

E. M. Cioran, in Cahiers / 1957-1972 (pg. 784).

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