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sábado, 26 de maio de 2018

Neruda


Quem tiver lido na juventude, ou em idade ainda propícia a arrebatamentos, não se terá esquecido, por certo, das palavras Puedo escribir los versos más tristes esta noche (que Paco Ibáñez, mais tarde, veio a musicar e cantou), que iniciam o penúltimo poema do livro 20 Poemas de Amor y una canción desesperada, do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), que foi prémio Nobel da Literatura, em 1971. 
O tempo, o surgimento do sentido crítico e o convívio com outros poetas fará, no entanto, abrandar o entusiasmo emocional que esses versos nos despertaram. A que acresciam, também, as lendas românticas que envolveram o poeta. Como, por exemplo, o de ter sido envenenado pelos esbirros de Pinochet, quando afinal Neruda morreu em resultado de um prosaico cancro da próstata.
Creio que a melhor síntese sobre a obra do poeta foi feita, em 1939, por Juan Ramón Jiménez: Siempre tuvo a Pablo Neruda por un gran poeta, un gran mal poeta, un gran poeta de la desorganización; el poeta dotado que no acaba de comprender ni emplear sus dotes naturales.



Os críticos, e mais uma vez os anos, encarregaram-se de desmontar uma boa parte da obra do Poeta chileno nobelizado, atribuindo-lhe influências notórias de Ruben Darío, C. Sabat Ercasty e do indiano Tagore. Não se livrou até de o acusarem de ter plagiado alguns versos do argentino Jorge Enrique Ramponi, no seu poema Alturas de Macchu Picchu. E o crítico inglês C. M. Bowra chegou a escrever que cerca de metade da poesia de Neruda era "very poor stuff indeed".
O penúltimo TLS (nº 6006), pela pena de Ben Bollig, a propósito da saida de duas traduções inglesas de e sobre o poeta chileno, encarrega-se, no entanto, de pôr alguma água fria na fervura e reavaliar, com certo equilíbrio, a obra de Pablo Neruda.






sábado, 13 de agosto de 2016

Animosidades poéticas


Para além de grande poeta e Nobel da Literatura (1956), Juan Ramón Jiménez (1881-1958) era um homem austero e rigoroso. Que, na sua plenitude humana, não escapava a ter algumas antipatias viscerais. Esses ódios de estimação compreendiam Gongora, falecido há muito, mas também Pablo Neruda, ainda vivo quando o poeta do Moguer compôs este dístico acerbo, matando assim dois coelhos de uma só cajadada:

La antigua juventud gongorica
que tornado se ha nerudataria.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Bibliofilia 124


O livrinho, algo usado e com uma das folhas descolada, estava na prateleira do fundo, rasa ao solo, local de saldos (1 euro), de obras que, não sendo vendidas, em poucos dias, irão para o refugo. Eu já o vira, na antevéspera, no alfarrabista, mas Pablo Neruda (1904-1973), hoje, já não faz os meus encantos, nem preferências poéticas. Mas já fez, na juventude. Mesmo assim, baixei-me e comecei a folheá-lo, até porque tenho a edição original desta obra (1973, da Editora grijalbo), que deixo em imagem. Acabei por o comprar.
Duas surpresas me esperavam: a tradução era de Alexandre O'Neill (1924-1986), e o livrinho tinha sido editado pela Agência Portuguesa de Revistas (!). A data da  impressão, 1975, explica tudo...

sábado, 16 de maio de 2015

Bibliofilia 120


Não sei quando me terei apercebido de que, arremedando o castelhano, autodidacticamente, podia ser entendido pelos espanhóis. Provavelmente, quando fui pela segunda vez a Santiago de Compostela, teria eu entre treze e catorze anos. E onde comprei uns 4 ou 5 livrinhos, de índole diversa, para ler. O que vim a fazer depois, sem grande dificuldade, entendendo quase tudo.
Mais tarde, quando cheguei à poesia de Neruda, as coisas começaram a complicar-se; ainda um pouco mais tarde, com os versos de J. R. Jiménez, começaram a fiar mais fino, e cheguei à conclusão de que teria de comprar um dicionário de espanhol-português para compreender aquela "música das esferas". Acabei por comprar um modesto volume (Editora LEP/S.A., São Paulo) de bolso, em imagem, editado no Brasil, em 1956, na sua sexta edição, com autoria de H. P. Santos. Custou-me, na altura, Esc. 17$50. Mas era de léxico muito rudimentar e deixou-me frustrado, muitas vezes, pelas constantes omissões.
No anos 80 do século passado, comprei um novo dicionário em dois volumes (espanhol-português e português-espanhol), pelo preço muito acessível de Esc. 300$00. Fora editado pela Garnier, de Paris, por volta de 1920, obra do Visconde de Wildik. E era já bastante mais completo. Mesmo assim, uma e outra vez, deixava-me na ignorância de algumas palavras...
Finalmente, cheguei ao completíssimo e competente dicionário de Manuel do Canto e Castro Mascarenhas Valdez (1820-1886), cidadão nascido no Rio de Janeiro, que faleceu em Lisboa. Em 1864 e na Imprensa Nacional (Lisboa), fez publicar a sua monumental obra, em 3 grossos volumes. É trabalho aturado e precioso, onde nestes últimos 6 anos, fui procurar o significado de palavras espanholas, e sempre encontrei respostas. Os meus exemplares estão belamente encadernados, tendo dado por eles 45,00 euros. Não preciso de mais e por aqui me fico, quanto a dicionários de espanhol.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Bibliofilia 92


Pablo Neruda (1904-1973) foi um dos meus poetas de eleição, na adolescência. Hoje, e apesar do retrato impiedoso, mas certeiro, que dele traçou Juan Ramón Jiménez, ainda há alguns poemas do poeta chileno que eu releio, com gosto.
Os dois livros, em imagem, são primeiras edições e das últimas obras preparadas por Neruda, para publicação, embora Incitación al Nixonicidio..., seja já póstumo e tenha sido editado no México, cerca de dois meses depois do golpe de Pinochet. Plenos Poderes (1962) foi publicado em Buenos Aires (Argentina).
Comprei novas as duas obras, pouco depois de terem saído, e em Lisboa. Plenos Poderes custou-me Esc. 60$00 e o segundo livro, de 1973, foi-me vendido por Esc. 80$00, na Livraria do Apolo 70.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Uma fotografia, de vez em quando (15)


Provavelmente, o fotógrafo chileno mais conhecido, Sergio Larraín (1931-2012) teve, no entanto, um exercício profissional bastante curto. Da sua integração na Agência Magnum, em 1959, até ao abandono gradual da actividade ao longo dos anos 70, deixou pelo caminho importantes contribuições para a fotobiografia do poeta Pablo Neruda e alguma inspiração para o "Blowup", de Antonioni, bem como uma galeria impressiva de retratos das gentes do povo chileno.

domingo, 16 de setembro de 2012

Um desapiedado retrato de Neruda, por J. R. Jimenez


"Sempre considerei Pablo Neruda (porque não Neftalí Reyes, porquê Gabriela Mistral e não Lucília Godoy?) como um grande poeta, um grande mau poeta, um grande poeta da desorganização; o poeta dotado que acaba por não compreender nem utilizar os seus dotes naturais. Neruda parece-me um torpe tradutor de si mesmo e dos outros, um pobre explorador dos seus filões e alheios, que às vezes confunde o original com a tradução; como se não soubesse completamente o seu idioma nem o idioma que traduz. Por isso naquilo que escreve, bom ou mau, há uma aparição evidente com as falhas do ignorado. Ouvi Rafael Alberti dizer que ele gosta de ler livros estrangeiros que não compreende de todo. Creio que ele supre com algo melhor, seu, aquilo que não entende do outro. Mas Alberti é mais lince que Neruda, que é o assimilador universal. ..." (1939)

Juan Ramón Jimenez, in Españoles de Tres Mundos (pg. 115/6).

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Neruda e o Outono


Pablo Neruda faleceu a 23 de Setembro de 1973, poucos dias depois do golpe militar de Pinochet. Em tradução de Fernando Assis Pacheco, integrada na "Antologia Breve" (1969), editada pelas Edições D. Quixote, passo atranscrever o poema Volta o Outono:

Um enlutado dia cai dos sinos
como teia tremente duma vaga viúva,
é uma cor, um sonho
de cerejas afundadas na terra,
é uma cauda de fumo que chega sem descanso
para mudar a cor da água e dos beijos.

Não sei se me entendem: quando lá do alto
se avizinha a noite, quando o solitário poeta
à janela ouve correr o corcel do outono
e as folhas do medo calcado estalam nas suas artérias,
há qualquer coisa sobre o céu, como língua de boi
espesso, qualquer coisa na dúvida do céu e da atmosfera.


Voltam as coisas ao lugar,
o advogado indispensável, as mãos, o óleo,espesso,
as garrafas,
todos os indícios da vida: sobretudo as camas
estão cheias de um líquido sangrento,
as pessoas depositam a confiança em sórdidos ouvidos,
os assassinos descem as escadas,
e afinal não é isto, mas o velho galope,
o cavalo do velho outono que treme e dura.

O cavalo do velho outono tem a barbada vermelha
e a espuma do medo cobre-lhe as ventas
e o ar que o segue tem forma de oceano
e perfume de vaga podridão enterrada.

Todos os dias desce do céu uma cor de cinza
que as pombas devem repartir pela terra:
a corda que o esquecimento e as lágrimas entretecem,
o tempo adormecido longos anos dentro dos sinos,
tudo,
as velhas roupas traçadas, as mulheres que vêem chegar a neve,
as papoilas negras que ninguém pode contemplar sem morrer,
tudo vem cair às mãos que levanto
no meio da chuva.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Pablo Neruda



O que eu gostava da poesia de Neruda!, numa altura da vida em que as metáforas vulcânicas nos deixam fascinados. Como deixavam, também, as de Natália Correia. Hoje, já não me provocam grande encantamento, nem paixão. Depois, e num paralelismo singular, coincidente e romântico, como a lenda sobre a morte de Camões (que teria morrido aquando do início da dominação castelhana sobre Portugal), Pablo Neruda faleceu a 23 de Setembro de 1973. Pouco depois do golpe de Pinochet e, há quem diga, de tristeza, pelo fim da democracia no seu país - o Chile. Hoje, passa mais um aniversário sobre o seu nascimento (12/7/1904) e é uma boa altura para o lembrar, traduzindo-lhe um poema. Segue.

Corpo de mulher, brancas colinas, musgos brancos,
assemelhas-te ao mundo no seu acto de entrega.
O meu corpo de labrego te socava
e faz nascer o filho do fundo da terra.

Fui só como um túnel. De mim fugiam pássaros,
e pela minha noite entrava a sua invasão poderosa.
Para sobreviver-me forjei-te como se fosses arma,
como flecha no meu arco, pedra na minha funda.

Mas chega a hora da vingança, e amo-te.
Corpo de pele, musgo de leite ávido e firme.
Ah os vasos do peito! Ah os olhos da ausência!
Ah as rosas do púbis! Ah a tua voz lenta e triste!

Corpo de mulher minha, persistirei na tua graça.
Minha sede, minha ânsia, meu caminho indeciso!
Caules escuros onde a sede eterna persiste,
e a fadiga continua, e a dor infinita. 

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Música e Poesia XXVIII : Pablo Neruda/ Paco Ibáñez



Esta canção de Paco Ibañez, com versos apaixonados de Neruda, sempre me pareceu um magnífico contraponto a "Tu ne dis jamais rien", de Léo Ferré.