O que eu gostava da poesia de Neruda!, numa altura da vida em que as metáforas vulcânicas nos deixam fascinados. Como deixavam, também, as de Natália Correia. Hoje, já não me provocam grande encantamento, nem paixão. Depois, e num paralelismo singular, coincidente e romântico, como a lenda sobre a morte de Camões (que teria morrido aquando do início da dominação castelhana sobre Portugal), Pablo Neruda faleceu a 23 de Setembro de 1973. Pouco depois do golpe de Pinochet e, há quem diga, de tristeza, pelo fim da democracia no seu país - o Chile. Hoje, passa mais um aniversário sobre o seu nascimento (12/7/1904) e é uma boa altura para o lembrar, traduzindo-lhe um poema. Segue.
Corpo de mulher, brancas colinas, musgos brancos,
assemelhas-te ao mundo no seu acto de entrega.
O meu corpo de labrego te socava
e faz nascer o filho do fundo da terra.
Fui só como um túnel. De mim fugiam pássaros,
e pela minha noite entrava a sua invasão poderosa.
Para sobreviver-me forjei-te como se fosses arma,
como flecha no meu arco, pedra na minha funda.
Mas chega a hora da vingança, e amo-te.
Corpo de pele, musgo de leite ávido e firme.
Ah os vasos do peito! Ah os olhos da ausência!
Ah as rosas do púbis! Ah a tua voz lenta e triste!
Corpo de mulher minha, persistirei na tua graça.
Minha sede, minha ânsia, meu caminho indeciso!
Caules escuros onde a sede eterna persiste,
e a fadiga continua, e a dor infinita.
Gostei deste poema.
ResponderEliminarTambém eu li muito Neruda.Hoje, de vez em quando, muito de vez em quando. :)
Dostei do poema e da tradução.
ResponderEliminarGostei do poema e da tradução.
ResponderEliminarMuito obrigado, MR.
ResponderEliminarSoube-me bem reler Neruda, coisa que, também, já não fazia há muito.
Parabéns pela tradução. Acho que tenho este livro traduzido pelo Assis Pacheco.
ResponderEliminarSe for o livrinho da "D. Quixote", não tem este poema traduzido, Miss Tolstoi. Não sei se ele terá traduzido mais Neruda, depois.
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