sábado, 31 de julho de 2021

Citações CDLXI

 

Os velhos amigos são como os vinhos velhos, que perdendo o seu verdor e sabor penetrante, vão ganhando um calor suave.

C. A. Sainte-Beuve (1804-1869), in Correspondence (1838).

Pinacoteca Pessoal 176



De Jean Fouquet (1420-1481), pintor francês precursor do Renascimento, destacaria, porque sempre  apreciei pelo seu lado insólito, a metade da direita do díptico conhecida como A Virgem de Melun (hoje, no Museu des Beaux-Arts, de Antuérpia) de que, segundo reza a história, a Madona teria sido inspirada em Agnès Sorel (1422-1450), amante do rei Carlos VII (1403-1461), e que seria uma das mais belas mulheres gaulesas da época.
Ao que se sabe a pintura destinava-se a ornamentar áreas interiores de habitação. Mas a originalidade daquele seio esquerdo desnudo, preparando-se para amamentar o Menino, não sei como venceu a moralidade e  preconceitos das autoridades religiosas coevas e chegou aos nossos dias.





A obra de Jean Fouquet esteve algum tempo esquecida, tendo sido reavaliada e destacada, de novo, pelos românticos. Merecidamente, aliás.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Pedro Tamen (1934-2021)

 


(A melhor forma de celebrar e lembrar um poeta ainda será lermos os seus poemas.)

Curiosidades 87

 

Em 24 de Março de 1905, a rainha-mãe Maria Pia, viúva de D. Luís, aquando da visita da rainha inglesa Alexandra, esposa de Eduardo VII, ofereceu em Sintra um almoço protocolar, cujo serviço foi orientado por pessoal da casa Ferrari. Da ementa especiosa constava Língua Escarlate (Langue à l'Ecarlatte), como entrada. De imediato me lembrei, por lógica associação, que devia tratar-se de Língua Afiambrada. Era, realmente.




Era frequente eu comer Língua de Vitela estufada, nos meus tempos vimaranenses, até porque gostava muito. Acompanhavam-na batata, cenoura, ervilhas, couve-flor e pão torrado, quase sempre. Mas na Língua Afiambrada, provada escassamente até hoje (3 vezes?), só me vim a iniciar muito mais tarde, em Vila Verde, pelo Verão de 1978, num memorável almoço de baptismo, na casa anexa ao passal do monsenhor M. G. Diogo. Especialidade magníficamente trabalhada pela competência culinária da senhora dona Rosa.



terça-feira, 27 de julho de 2021

Filatelia CXLV



Breve explicação, a deste poste sobre selos de França. Que é também uma geminação com o Prosimetron e um poste de MR, sobre o mesmo assunto. Eu tinha comentado a menor qualidade dos selos franceses actuais, que aparecem no poste, comparando-os com selos gauleses gravados e de alta qualidade mais antigos. Aqui deixo como testemunho alguns selos gravados a talhe doce, dos anos 30 a 1953, que justificam, plenamente quanto a mim, a afirmação que fiz no comentário do Prosimetron.



Muzio Clementi (1752-1832)

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Quase um soneto


 Memoriae


Na varanda de begónias e avencas
no leve mofo e solidão do estio
se desprende silêncio  Ao largo a fonte o
quebra  Quantos anos eu botei menino

Rodou a bola  Partira-se o pião
E assustado no casarão enorme
a ver fugir-me o jogo do botão
tear infinito me fazia homem

Secaram os goivos no jardim em frente
cresce ainda murta aqui além informe
Os velhos passam  A estrada negra parte
para onde?  E tão longe da memória
da varanda de avencas e begónias  


António de Almeida Mattos (1944-2020)


Nota Pessoal: este poema de A. de Almeida Mattos foi publicado, inicialmente, no suplemento Cultura e Arte do jornal O Comércio do Porto, vindo a integrar depois (1985) a antologia "Poetas de Fafe". Aqui o lembramos no dia em que o António, se fosse vivo, completaria 77 anos.


domingo, 25 de julho de 2021

Otelo



Polémico, como todos aqueles que provocam mudanças, Otelo (1936-2021) nunca foi consensual, mas, legitimamente, ficará para sempre associado ao 25 de Abril de 1974. Não é coisa pouca, como é óbvio.

Revivalismo Ligeiro CCXLVI

sábado, 24 de julho de 2021

Citações CDLX

 


Os grandes artistas são aqueles que impõem à humanidade a sua ilusão particular.

Guy de Maupassant (1850-1893), in Pierre et Jean.

 

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Pontos nos is

 

Bem sei que tudo passa e muita coisa se altera, mais breve do que pensámos. Também sabia que na restauração a mudança de pessoal é muito volátil, dada a normalmente pouca especialização dos agentes de serviço, mas numa alteração tão rápida de qualidade é que eu nunca teria pensado...
Ainda há dias (28/6/2021) disse bem, no Arpose, do restaurante Rio Grande, na Travessa dos Remolares (ao Cais do Sodré), mas terei que me desdizer, pois hoje fomos lá e tudo saiu ao contrário. Pedimos, ao almoço, Rancho, que veio desnxabido e com o grão-de-bico encruado e com pouquissimo conduto de qualidade. O serviço foi desatento e descoordenado, muito pouco profissional. O anúncio na montra do restaurante, a pedir um(a) cozinheiro/a, com experiência devia ter-me servido de alerta...
Em tempo: a evitar, absolutamente.

Mercearias Finas 171

A princípio era a sopa... E até foi por isso que alguns restaurantes franceses se celebrizaram ( a última Electra dixit), no antigamente.



A nossa horta doméstica, na sua delegação da varanda a leste, às vezes e por alturas do Verão, parece gostar de nos fazer uma boa surpresa e, num dos vasos maiores, põe-se a produzir beldroegas. E tantas foram, desta vez, que seria um desperdício não as usar. Comprou-se, assim, um queijinho fresco, escalfaram-se dois ovos, usaram-se umas tantas cabeças de alho, bom azeite, cebola... e a sopa ficou uma delícia de sabor.
Acompanhou um branco de Pias (Arinto e Fernão Pires), também alentejano, como a origem da sopa de beldroegas.

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Um CD por mês (26)

 


Qualquer antologia ou selecção permite alternativas ou objeções, quando não suscita polémica. Em 1998 a EMI Classics ousou escolher as 25 melhores gravações de música clássica, registadas no século XX. Não tenho conhecimentos bastantes para ter uma opinião fundamentada e também não conheço a totalidade desses registos, mas atrevo-me a subscrever algumas dessas gravações e seus respectivos intérpretes:



5. Brahms: Requiem - IV: "Wie lieblich sind..." - Otto Klemperer - Philharmonia Chorus.
6. Haydn: Cello Concerto No 1 - Jacqueline du Pré - Daniel Barenboim - English Chamber Orchestra.
9. Chopin: Waltz No 7 in C, Op. 64 No 2 - Dinu Lipatti.
20. Dvorak: Piano Concerto in G minor - Sviatoslav Richter, O. B. Rundfunks - Carlos Kleiber.
25. Beethoven: Symphony No 9 - Chor and O. der Bayreuther Festspiele - Wilhelm Furtwängler.

Brahms / Klemperer

terça-feira, 20 de julho de 2021

Recuperado de um moleskine (38)

 

A grande e cómoda tranquilidade de um centro histórico citadino é que, uma vez percorrido e conhecido o seu labirinto eventual, não mais nos perderemos de futuro. Pois a sua arquitectura, arruamentos e paisagem é suposto não mais se alterarem. Até o velho castanheiro majestoso lá vai sobrevivendo através dos anos a passar, as muralhas mantêm-se e as casas vão sendo restauradas, minuciosamente, para não perderem as feições primitivas e originais. Por este terreno calcorreado é que nos vamos reconhecendo e reencontrando, num conforto grato que apenas se não conforma já com as nossas rugas e os passos mais frágeis, que o tempo não nos pode restaurar.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Da leitura (45)

 

Recentemente terminada a leitura de Caminhos de Evasão (1982), de Graham Greene (1904-1991), livro já aqui referido (30/6/2021), e cuja discutível tradução, no tocante a qualidade, não posso deixar de referir, além de uma certa desarrumação talvez autoral (?) que se ressente nesta versão portuguesa, a segunda parte da autobiografia (a primeira intitulava-se A Sort of Life) do escritor inglês não deixa de ter interesse, pelas muitas informações que nos traz. Sobretudo a nível da criação literária e da génese dos seus livros. Alguns dos quais tiveram o seu ponto de partida em sonhos de Graham Greene, mais tarde desenvolvidos e um pouco alterados.

Da leitura, e da página 204, aqui ficam algumas linhas que achei curiosas: "Para escrever um romance é necessário fazer um grande esforço, que obriga o autor a passar muitos anos fechado dentro do seu «eu» deprimido; foi sempre nos «entretenimentos» que procurei encontrar alívio - tanto o melodrama como a farsa são expressão  de um estado de semi-loucura. Assim, procurei encontrar a minha evasão habitual na minha terceira peça The Complaisant Lover; porém, quando cheguei à última cena descobri que o estado depressivo tinha entrado numa proporção quase igual à da mania. Talvez seja por isso que eu sentia tanto prazer em escrever."

domingo, 18 de julho de 2021

Fruta da época



A propósito da Volta a França em bicicleta, que decorre, aqui deixo esta memorabília, bem mais modesta e nacional, de 1911, em trajes da época e da mesma modalidade desportiva... 

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Mozart / Haskil / Grumiaux

Mais 3 fragmentos (traduzidos) do "Bloc-notes IV" de F. Mauriac (1885-1970)

 


Samedi 17 juillet 1965
(...)
«Grandeza de alma humana", escreve Pascal no seu Memorial. Valéry prolonga até ao infinito esta grandeza.
No entanto este pensamento pesa-me: «Aquilo que vos traz arrependimento nunca existiu...» Creio que não se pode dizer nada mais triste a um sobrevivente. Não é verdade senão em relação ao amor dos corpos. Mas, enfim, será que alguma vez amamos um ser humano pela sua alma? Podemos negá-lo, é certo: concedo ao amor, o que interessa ao coração carnal, e não diz respeito às relações de espírito a espírito. (pgs. 111/2)

Samedi 21 août 1965

Um jovem confrade, vindo para me entrevistar, pergunta-me se sou feliz ao pensar que os jovens ainda me lêem e gostam de mim. Respondo-lhe que a televisão, ao menos, serve para isso, para me dar a sensação da minha própria heterogeneidade. Não é somente a avançada idade que me isola desta geração, mas a minha própria natureza. Eu não estava menos só aos vinte anos, é verdade - só que alguns amavam-me e eu amava-os: a amizade era o único terreno possível... Mas a velhice apanhou o peixe longe desta água doce. Ele nada, mas mais fundo agora, a uma profundidade onde já não há mais ninguém. (pg. 121)

Jeudi 26 août 1965

Ontem, ouvi um disco de Clara Haskil. No outro dia era Roger Vailland que ocupava o espaço do pequeno ecrã. Os mortos não estão menos mortos do que outrora: fazem de conta de estarem lá. É a imagem de um instante, é a duração que se transforma em nada. Não sei o que ressentem aqueles e aquelas que amaram com verdadeiro amor estes regressados da televisão e estes intérpretes que o disco permite escutar, enquanto que eles se transformaram nessa coisa que já não tem nome em nenhuma língua. (pg. 125)

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Lembrar Villaret, em sequência de Gomes Leal

Bibliofilia 190

 


É a segunda edição esta (1901), revista e aumentada por Gomes Leal (1848-1921), de Claridades do Sul*, livro de poemas originalmente impresso em 1875. No início deste século o livro custou-me 18 euros. Bem encadernada, a obra terá sido estimada pelo seu anterior proprietário (Manuel Paço d'Arcos), cujo ex-libris consta do verso do frontispício.


* Que inclui o celebrado e muito declamado, antigamente, poema A Senhora de Brabante.




quarta-feira, 14 de julho de 2021

Retratos de Isabel de Portugal, mulher de Carlos V



 A imperatriz, três anos mais nova do que Carlos, era esbelta e airosa, ruiva e de pele levemente rosada, como a sua avó, e sua homónima Isabel; mas era mais feminina e, a julgar pelos retratos de Ticiano, Coello e outros, muito mais bela. Os seus olhos eram azúis como os do seu marido, mas muito mais escuros; as suas sobrancelhas largas, desenhadas com uma leve irregularidade encantadora; a sua fronte, lisa e fina, de ampla curva que traduzia uma personalidade harmoniosa e equilibrada; o seu lábio inferior era um pouco grosso, ainda que menos do que o do seu marido, Habsburgo; o superior era como um arco divino de amor; o seu abundante cabelo, dourado. Era em suma de um tipo bem mais nórdico do que do Sul e, segundo a opinião de todos, a mulher mais digna de ser amada na terra.

William Thomas Walsh, in Felipe II (Espasa-Calpe, 1968).



terça-feira, 13 de julho de 2021

Uma fotografia, de vez em quando... (149)

 

Por vezes, um só exemplo vale toda uma obra. Um poema singular justifica a vida de um poeta. Esta fotografia, das muitas que o inglês Tom Stoddard (1953) tirou em Sarajevo, expressa resumidamente várias perspectivas que, a cada observador, permita chamar a si um factor associado ou um motivo decorrente do viver quotidiano em tempos de guerra. Isso basta para validar os prémios e a qualidade da obra do fotógrafo britânico.



À venda



O número de Verão, o 13, da Electra já saiu e o dossiê é aliciante - A Comida. Os temas de gastronomia são abordados por colaboradores conhecidos e de qualidade. Aqui deixo a informação a quem aprouver.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Arquitectura e poesia, por palavras de Miguel de Unamuno

 

A catedral de León consegue contemplar-se de uma única mirada e pode compreender-se de imediato. É de uma suprema simplicidade e, por isso, de uma enorme elegância. Poderia afirmar-se que nela se resolveu o problema arquitectónico, em simultâneo da engenharia e da arte, ao ocupar o maior espaço com a menor quantidade de pedra. Daí a sua aérea ligeireza com aquelas grandes aberturas revestidas de vitrais com figurações polícromas, por onde a luz se matiza e alegra através de diversas cores.




Isso me sugeriu uma reflexão associada ou metafórica aplicada à arte da poesia e, em geral, à literatura. E é assim que como esta genuína arte gótica de arquitectura foi cobrindo amplos espaços com pouca pedra, sem mais que bem talhar e agrupar bem, também a poesia se há-de cobrir e encerrar-se no maior espaço ideal, expressando-se com o mais amplo sentido possível de representação, através do menor número de palavras...


Miguel de Unamuno (1864-1936), in Andanzas y Visiones Españolas (pg. 78).

sábado, 10 de julho de 2021

Ideias fixas 63



Talvez por mera coincidência, um pouco antes das campanhas eleitorais, a Justiça portuguesa manda tocar a rebate. E logo as televisões acorrem, pressurosas e frenéticas, a filmar mais uma telenovela de um magnate a ser capturado pelas forças da ordem. Para ser interrogado e lhe ser aplicada uma medida de coação. O fim destes enredos nem sempre é muito claro, sendo normalmente demorado no tempo, mas dá para pensar que, no topo da sociedade portuguesa, se esconde um enorme ninho de malfeitores...

Revivalismo Ligeiro CCLXV

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Conclusões (talvez) prematuras



Vistos 2 dos 6 episódios de De Gaulle - Prestígio e Intimidade, na RTP2, tenho-me ouvido a dizer, para mim mesmo: Se a série fosse britânica, e não francesa, os ingleses tê-la-iam feito com mais qualidade e profissionalismo. Se estou indeciso em avaliar ou não, pela positiva, o desempenho do actor que encarna a figura de Charles de Gaulle, já o canastrão que personifica Churchill, ainda para mais com aquele sotaque palerma, merece todo o meu repúdio crítico. A fotografia, no entanto, é boa, a verdade histórica parece respeitada, os cenários, interessantes. Nem tudo se perde e, por isso, vou continuar a ver os próximos episódios...



Citações CDLX

 

O verdadeiro mal da velhice não é o enfraquecimento do corpo, é a indiferença da alma.

André Maurois (1885-1967).

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Desabafo (63)



Creio que uma nova vaga já se iniciou...
Se dois ou três clássicos, publicados no pós-guerra, nomeadamente o Diário de Anne Frank, amplamente se justificavam, muita da temática sobre o holocausto que, ciclicamente, aparece nas montras de livrarias parece obedecer a critérios obscuros ou a algum lobby que faz pressão, de tempos a tempos. E, se não me admira este oportunismo de editoras ou plumitivos medíocres (também os há portugueses...), já me surpreende que haja leitores bastantes que continuem a comprar estas burundangas escritas. Ou por masoquismo obsessivo, decerto, ou só por falta de gosto e de sentido crítico, com certeza...


Paul Éluard (1895-1952)

 

Le travail du poète 
                                 à Guillevic.

1
As belas maneiras de ser com os outros
sobre a erva despida no verão
sob as nuvens brancas

As belas maneiras de ser com as mulheres
numa casa cinzenta e quente
debaixo dum tecido transparente

As belas maneiras de ser consigo mesmo
diante da folha branca

Sob a ameaça da impotência
entre dois tempos e dois espaços

Por entre o tédio e a mania de viver

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Lembrete 83

 

Admito que seja porque tenho vindo a ler, de há uns meses a esta parte, os volumes de Bloc-notes de François Mauriac (1885-1970), em que o escritor francês vai fazendo a apologia de Charles de Gaulle (1890-1970) renovando os seus votos de fidelidade política à figura do grande gaulês, mas creio que irei acompanhar, a partir de hoje, na RTP2 (22h01), os 6 episódios previstos e intitulados De Gaulle - Prestígio e Intimidade.
De facto, a partir dele e da sua qualidade política, o abaixamento da prestação de serviço na presidência francesa é notório, sobretudo a partir dos três últimos medíocres mandatos (Sarkozy, Hollande, Macron...).
Aqui, por isso, dou notícia desta série, a quem me queira acompanhar.



terça-feira, 6 de julho de 2021

Esquecidos (8)

 

Não terei mais do que dois livros de poemas de Eugénio de Castro (1869-1944). Lente da Universidade de Coimbra, e monárquico, simbolista a princípio e depois poeta neo-clássico, no final de vida. Os seus versos sempre me pareceram forçados, uma espécie de próteses rimadas (e isto hoje usa-se muito, entre os poetastros de moda...) com jeito e erudição bastantes de um autêntico cultor clássico. Muito embora, ainda nos anos 60 do século passado, as suas obras se vendessem bem, entre os amantes de poesia. Hoje, talvez imerecidamente olvidado (perante tanta mediocridade poética que se publica) se justificasse que não o esquecéssemos de todo...
Aqui dou, por isso, o meu modesto contributo.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Arrenego ou exorcismo



Não são fáceis de encontrar os arrenegos ou exorcismos que, de algum modo, se destinavam a intenções maléficas de lançar pragas ou maldições, sobre pessoas e coisas. Normalmente de origem popular, com erros e/ou corruptelas curiosas, aqui, pelo Arpose, há já dois arrenegos. E, há dias, encontrei outro que tinha apontado numa folha solta, guardada dentro de um livro. 
Aqui vai ele, para que se não perca: 

Cavalo de cara branca, home por nome Messia, mulher dos quartos de jia e pote que não esfria, coitadinhos deles quatro, credo em cruz, Avé Maria!

sábado, 3 de julho de 2021

Constatação

 


Ainda que outrabandista, a imagem é a comprovante prática da conhecida lei do químico francês Lavoisier (1743-1794), que afirma:

Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Citações CDLIX

 

O cavalo, como todos sabem, é a parte mais importante do cavaleiro.

Jean Giraudoux (1882-1944), in Ondine (1939).

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Apontamento 142: Literatura de Viagens


Para quem estudou, com proveito e orientado por Professores eruditos e sábios, para não falar de uma humanidade e humildade extremas que o profundo desejo de conhecimento do outro confere, não pode deixar de compreender o sentido profundamente negativo, mas actualíssimo, do termo «disneylandizara-se» que António Mega Ferreira utiliza, no seu livro Itália. Prática de viagem, Lisboa Sextante Editora, 2017, p. 236, ao falar da sua última visita a Pompeia, com a imagem da capa reproduzida acima.

O profundo desgosto que sinto, quotidianamente e completamente desumano, ao sair de casa e olhar para a indigência mental, cultural, social, ambiental – de sujidade inqualificável - do Largo de Camões, para não falar dos ruídos estridentes no Largo do Chiado e nas manifestações impróprias e barracas indigentes ao ar livre, apenas encontra um adequado relato nas palavras de António Mega Ferreira.

A saber:

“Só regressei a Pompeia mutos anos depois, nos anos finais do século passado. O sítio «disneylandizara-se»: para aproveitar a massificação do turismo favorecida pela redes industriais low-cost, a administração dos beni culturali italianos transformara Pompeia numa espécie de parque temático do Império romano, cuja porta de entrada, a Porta Marina, se encontrava sitiada por barracas de souvenirs, roulottes que vendiam panini e refrigerantes, vendedores ambulantes e guias de ocasião, autocarros de turismo e automóveis de aluguer, tudo numa algazarra que, aos meus ouvidos formatados para o silêncio dominante de vinte anos antes, me pareceu uma feira invadida por hordas de turistas sequiosos de qualquer coisa (não há pior que um turista sequioso de qualquer coisa, que se traduz, normalmente numa fotografia desenquadrada), andando de um lado para outro, olhando para tudo e não vendo nada, obstruindo o caminho e trocando dichotes em alegre gritaria. Pompeia já não era o que fora.”

Ora, o residente ficar confinado a sair de casa entre as 9.00 e às 10.00 horas, para encontrar o centro da capital de um país, num sossego aceitável, não me parece, DE TODO, saudável.

Contrariamente a umas promoções de uma espécie de MAGAZINS, utilizando uma falsa diversidade das cidades, especificamente Lisboa, para apoiar manifestações culturais – normalmente indigentes, ruidosas e até escabrosas no centro da cidade – não parece, sequer, que o seu “logo” represente a cidade. Um friso de energúmenos sem graça, nenhum dos facinórios encontra alguma parecença com um residente REAL, NORMAL. Qual a intenção, o propósito para além da degradação ?

No fundo é a negação da cidade para os residentes, promovendo as actividades dos prevaricadores como o fim último da existência, abrindo o espaço a manifestações sem critério, nem regra.

É também por isso, que os direitos dos residentes – ao sossego e à sua identidade – não costumam fazer parte das notícias.

Infelizmente sinais do tempo.

 Post de HMJ

 

Tiro ao lado

 

Eh, Valente!

Josef Suk (1874-1935)

Adagiário CCCXXIV



Quando a carroça avança é que as melancias se ajeitam.