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sexta-feira, 1 de março de 2019

Adagiário CCXCII


Mulher janeleira, raras vezes encarreira.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Uma fotografia, de vez em quando (100)


A fotógrafa norte-americana, de ascendência francesa, Vivian Maier (1926-2009), levou uma existência apagada, com empregos diversos e indiferenciados, nunca chegando a expor, em vida, obras suas. Discreta ou tímida, provavelmente pouco confiante na qualidade das suas fotos, até uma boa parte dos seus auto-retratos foram tirados indirectamente, muitos deles por reflexão do seu corpo em espelhos.



Captava cenas de rua, banais, fixando gente anónima e sem história, mas também, dissimuladamente, se juntava a paparazzi, na esperança de fixar um instantâneo de celebridades que iriam aparecer. Como foi o caso de um retrato de Salvador Dali, que veio a ser descoberto no seu espólio, composto por milhares de fotografias e filmes, muitos dos quais não tinham sequer sido revelados, e que apareceram, depois da sua morte, armazenados em caixas de cartão.



Pressionada por dificuldades financeiras, Vivian Maier, em 2007, vendeu uma parte do seu acervo fotográfico, que foi adquirido pelo coleccionador John Maloof. Foi este que primeiro reconheceu a qualidade artística do seu trabalho e o divulgou. Mas só após o seu falecimento, e com a descoberta do enorme acervo da fotógrafa, lhe foram consagradas algumas exposições e a fama estética lhe foi atribuída, mais do que merecidamente.


domingo, 4 de outubro de 2015

Osmose 57


Na maré baixa, há sempre um espaço intermédio, um pouco húmido, entre o mar e a areia seca. É lá que, por vezes, pousam aves marinhas, sobretudo as gaivotas, bicando os despojos e detritos das águas salgadas ou, simplesmente, assenhoreando-se da área a descoberto.
Uma vez, muitos anos atrás, em A-ver-o-Mar, encontrei nesse espaço o crâneo branco e limpo de uma gaivota, que tinha uma forma quase daliniana. Talvez por isso, apanhei o despojo e trouxe-o para casa. Compacta de ossatura, a caveira pouco tempo se manteve íntegra. Os ossos desuniram-se em poucos anos.
E as peças soltas deixaram de configurar esse puzzle antigo de uma harmonia passada, extinta.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Uma fotografia, de vez em quando (52)


São duas fotografias de juventude - Gala, a mais velha do grupo de amigos, teria 37 anos -, tiradas em Cadaqués, por Paul Éluard (1895-1952), no Verão de 1931.
Em ambas surge Nusch Éluard (1906-1946), segunda mulher de Paul, que morreu jovem, mas serviu de modelo a Picasso e foi fotografada por Man Ray, dada a sua beleza singular. Muito haveria a dizer deles, a propósito, por exemplo, do triângulo amoroso que se veio a constituir entre Paul Éluard, Gala e Dali - que, nesta altura, teria 27 anos. Só de René Char (1907-1988), com 24 anos de idade, nada há a dizer: a sua poesia, falará por ele...

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Pinacoteca Pessoal 85


A escultura tem sido minoritária nesta rubrica do Blogue. Por outro lado, e por razões algo subjectivas, a iconografia religiosa não é também muito frequente aparecer por aqui.
Quanto à representação de Jesus Cristo, em pintura  moderna, tirando Gauguin, Rouault e Dali, creio que pouco mais, daquilo que conheço, me entusiasmou, esteticamente.
No entanto, este "Cristo em Majestade" (1954/5), do escultor Jacob Epstein (1880-1959), judeu americano naturalizado inglês, colhe todo o meu agrado. A escultura pode ver-se na Catedral Llandaff, em Cardiff.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Uma fotografia, de vez em quando (33)


Nascido a 19 de Março de 1922, o fotógrafo catalão Francesc Català Roca veio a falecer, em Barcelona, poucos dias antes de completar 66 anos, a 5 de Março de 1988. A arte estava-lhe no sangue, porque já o pai exercia a profissão de fotógrafo.
Os seus temas abordam sobretudo o quotidiano, captado com imaginação, humor, sempre com o sentido exacto do momento próprio para fixar a realidade. Mas também não foi indiferente ao Surrealismo. Um retrato de Dali, muito interessante, e esta nuvem (na imagem) "presa na gaiola" fazem-nos lembrar Magritte.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Pinacoteca Pessoal 72 : Magritte


Os dois quadros em imagem, de René Magritte (1898-1963), foram pintados quando ele iniciava a terceira década da sua vida. Quando se afastava de um certo hibridismo de influências que dominou a sua fase inicial, em que há vestígios de impressionismo, Braque, e até algumas marcas de F. Léger. O internamento gradual num surrealismo poético, onde o mistério e a ironia têm lugar cativo, marcam toda a sua obra até ao final. Apelativas e muito sugestivas, as suas pinturas, pela grande capacidade de associação criadora, vão muito além de Dali, colocando o observador num plano de suprarrealidade onírica, ainda que concreta pelo figurativismo acentuado das suas telas. Mas a sugestão agressiva ou o prenúncio de ameaça nem sempre estão ausentes das suas representações pictóricas. Os títulos, que cuidadosamente escolhia, robusteciam, também, a imaginação de quem via os seus quadros.
A primeira tela, intitulada No limiar da Liberdade (1930) pertence ao Museu Boijmans van Beuringen (Roterdão); a segunda, Os encantos da Paisagem (1928), integra uma colecção particular.

sábado, 27 de julho de 2013

Provocatoriamente


O fermento demora a levedar, e há que dar-lhe o tempo necessário para que o pão seja perfeito.
Olhando o passado, sem grandes preocupações de rigor, pode concluir-se que haverá, em cada país, no máximo uma ou duas revoluções por século. E depois de uma revolução, as gerações seguintes vão amolecendo como a gelatina dos relógios de Dali. O conformismo instala-se: atiram-se, de vez em quando, umas pedras, à polícia, por desfastio; acampa-se, indignadamente, nas praças mediáticas, ou, cacafonicamente e de forma acarneirada, mostra-se uma revolta cristã e inconclusiva, pelos feicebuques e linquidins que a NSA, com paranóia mormónica persistente, vai registando. Tudo fogo de vista.
O que sobra de revoltados autênticos não chega para fazer uma revolução, mas apenas para pequenos atentados suicidas que, no fundo, pouco adiantam. Porque grande parte da adolescência se vai preparando, muitas vezes a conselho indirecto dos pais, para o desemprego, a resignação, a impotência ou o individualismo desenfreado. Mas também se pode entreter (depende da cultura) com as revistas róseas, os bebés reais, os papas franciscanos, os futebóis, as novas tecnologias e os aviários políticos. É só escolher a disciplina...
É por isso que os governantes e pacifistas europeus podem dormir descansados. Não haverá, tão cedo, Brigada Rossa, nem Baader Meinhof (RAF) ou FP-25. Nem sequer, em forma mais soft, um novo MFA.
Quando muito poderá haver Primaveras Árabes ( que é feito da Síria, não me dirão?!) que depois dão para o muito torto ou, como diria o povo, na sua sabedoria milenar: é pior a emenda que o soneto...

terça-feira, 25 de junho de 2013

Paisagem


O surdo e cavo tom do silêncio domina o fim da tarde ainda quente, como se o dia não pudesse, de todo, acabar assim. E tivesse que haver um final inesperado e estridente, que não chega. Como se dois versos antigos esperassem, suspensos, uma coda súbita que iluminasse de fulgor, finalmente, o terceto inacabado, e lhe desse toda a razão de ser.
Vozes exteriores acatam este ar parado onde parece impossível respirar, e onde o vento não tem lugar. Até as folhas se alinharam imóveis, como cabeleiras secas e inertes sobre o tronco das árvores. Nem os pássaros, exaustos, dão sinal de si, sobre as águas paradas. O tempo plasma-se como os relógios no quadro de Dali. Lânguidos, e preguiçosamente.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

As razões díspares do riso e do sorriso


Não deixa de ser curioso constatar como coisas, tão diferentes na sua origem, podem provocar uma mesma sensação no indivíduo receptor.
As greguerías de Ramón Gómez de la Serna têm origem intelectual numa mente privilegiada em cultura, inteligência, imaginação filológica e verbal de associação, e também de fino humor. Quando as leio, não posso deixar de me rir ou, pelo menos, de sorrir.
Num paralelismo insólito e aberrante, provindas da pouquidão mental de alguns cibernautas com cabeças desarrumadíssimas e um grau avançado de iliteracia galopante, chegam ao Blogue, frequentes search words hilariantes e desconexas. Atente-se nestas duas últimas, bem recentes:
- "bribiografia espresso particaalfredo amilcar escher".
- "cancan comeca na na ra ra  na na macrtey".
Como é que eu não podia deixar de me rir às gargalhadas?

quinta-feira, 28 de março de 2013

Pinacoteca Pessoal 48 : Salvador Dali


Vamos entrar no tempo de Páscoa.
Não haverá, porventura, tema recorrente mais repetido e executado, na pintura europeia, do que a Crucificação. A proliferação é tanta, pela iconografia religiosa ocidental, que quase me deixa indiferente, a mim que sou um agnóstico empedrenido e um pobre amador de pintura, com conhecimentos muito rudimentares. Porque me parece que as variações nessas inúmeras pinturas são mínimas e dependem apenas dos tiques característicos das escolas, ao longo dos séculos, do vestuário de época, do menor ou maior número de figurantes nos quadros. E da caracterização do Pathos expressivo dos rostos, que podem assumir crispação, dramatismo acentuado, ou apenas a expressão de uma compassiva serenidade, perante a morte de Cristo.
Apesar disto, das pinturas mais antigas, a Crucificação de Mattias Grünewald (Arpose, 2/4/10), não me deixa indiferente e considero-a uma obra-prima, também pelo dramatismo quase selvagem do tratamento do corpo de Cristo. E que faz toda a diferença, em relação a muitos dos quadros banais coevos. Preciso de vários séculos para chegar às obras de que volto a gostar pela sua simplicidade ou povertá: as crucificações pintadas por Gauguin (em 1889) e Rouault, em 1920. Mas a Crucificação moderna de que mais gosto, foi pintada em 1951, por Salvador Dali (1904-1989). Porque, ao fim de tudo, tem ainda algo de novo. 
Por isso, aqui fica.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Rafael Alberti (1902-1999)




Espantalho

Já na minha alma pesavam de tal modo os mortos futuros
que eu não podia dar um passo sem que as pedras revelassem as suas entranhas.

Que gritam e defendem essas roupas retorcidas por exalações?
Sangram olhos de machos atravessados de arrepios.
O céu torna-se impossível entre tantas campas alagadas de setas corrompidas.

Para onde ir com as ânsias dos que vão morrer?
A noite desmorona-se por um excesso de equipagem clandestina.
Louvai o choque eléctrico que fulmina os bandos e os rebanhos.
Um homem e uma vaca perdidos.

Que novas desventuras esperam as folhas, este outono?
Minha alma não suporta já tanta carga sem destino.
O sonho para resguardar-se das chuvas procura uma cabana.
Pela noite de ontem já uivaram as lobas.

Que espero rodeado de mortos no gume de uma aurora indecisa?

Rafael Alberti, in Sermones y Moradas (1929-1930).

domingo, 25 de julho de 2010

De Dali a Botticelli, a caminho da metafísica nocturna...


O tempo plasma-se como os relógios no quadro de Dali ou algum queijo babão que fique fora do frigorífico. As aves calam-se, não soltam pio - é a fornalha de deus. Nem mesmo as andorinhas e os zilros, habitualmente tagarelas, dão sinal. Por onde andará a lua?, já que o "aladino", às 21,05, já estava de olho aberto e persistente. Na sua plenitude, de cheia, a lua deve estar a compor-se no espelho de algum lago, antes de aparecer em toda a sua magnificência. Com 31º a rua, deserta, o silêncio é total.
Mas lá vem ela! Começo a ver-lhe a calote superior por cima das casas: são 21,13. E, hoje, não vem acompanhada da Vésper. A estrela da manhã ou, simplesmente, Vénus, ficou a tomar banho ou a ressurgir das águas, como no quadro de Botticelli.
Num "zapping" impaciente, depois do frugal jantar, assisti a um inquérito feito na TV a vários seres humanos. Pedia-se que dissessem qual a coisa que mais temiam. Respondeu uma sul-americana: "- As cobras!". Um nativo de Papua Nova-Guiné, de meia idade: "- O vulcão." Uma siberiana, já velha, disse que não tinha medo de nada ( pelas feições, podia bem ser parente de Putin). Mas um habitante de Jerusalém, dos seus quarenta anos, ao ser-lhe perguntado por aquilo que mais temia, respondeu simplesmente: "Deus".

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Citações XXIII : Francisco Manuel de Melo



De um dos nossos grandes prosadores, Francisco Manuel de Melo (1608-1666), sobre imaginação e solidão, vale a pena lembrar uma pequena parte, no início, do Prólogo de "Os Relógios Falantes", na lição de Maria Judite F. de Miranda (Edição Crítica, Coimbra, 1968) que, com pequenas actualizações ortográficas minhas, segue assim-

"Senhor: Já ouviríeis a graciosa indecência com que disse um dos nossos discretos que a imaginação era curral do concelho donde, por não ter portas, todo o animal tinha entrada. Se isto alguma vez foi verdade, na imaginação dos solitários se verifica. Persuado-me que, do próprio modo que ao homem só o investem seus inimigos, ao homem só o assaltam seus pensamentos, entre os quais não há nenhum tão cobarde que deixe de fazer sorte naquele a quem ninguém defende. Todavia não sei que feitiços nos dá a solidão que, apesar desses inconvenientes, quem uma vez a experimentou sempre a procura. Será porque, nela, entre o entendimento e o céu há pequeno intervalo, larga distância entre a vida e o perigo, quando racionalmente se busca e sabiamente se dispende..."