terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Para remate de 2013


Uma nota de beleza visual nesta tela de Étienne Philippe Martin (1856-1945), que, na minha perspectiva, funciona como metáfora ou sugestão deste 2013 que se vai afastando, definitivo, de todos nós.
Até porque as cores, que vejo da janela, são sombrias, já a meio da tarde. E, ao longe, o quadrilátero visível do rio só se distingue das margens, pelo leitoso cinzento mais claro das águas. Mantém-se a fina neblina, um pouco mais ténue, da manhã, como que acompanhando a incerteza do ano que há-de vir, daqui a pouco.
A surpresa para mim, este ano e neste nosso Blogue, terá sido o copioso número de visitas direccionadas ao poste "Mexidos, ou formigos, vimaranenses" (de 24/12/2012), que já somam, agora, 227 visitantes. Mas, desiludámo-nos da boa nova, porque cerca de 1/4 vieram (de portugueses) de França, Brasil, Alemanha, Suiça...naquilo que interpreto como a saudade portuguesa, lá longe. Nesta diáspora que é uma nossa cíclica circunstância e necessidade. Que Camões traduziu em alma "pelo mundo repartida".

Nota: a tela de E. P. Martin, intitulada Le Courrier, que encima este poste, integra o acervo do Museu Gassendi, de Digne-les-Bains.

Geografia, intercâmbios, tribos e famílias


Há dias, em conversa cordial, veio à mesa o tema que titula este poste e, se um de nós preferia a palavra família, para caracterizar o agregado humano de proximidade, os outros dois interlocutores optavam pelo termo tribo, talvez pelo seu mais amplo significado antropológico. Porque o primeiro entendia que família era, antes de tudo, unidade, enquanto à tribo estariam associados sentimentos de inveja e rivalidade, fossem eles de cariz profissional, ou não. Ora, eu creio que, mesmo a família contém em si, também, factores de emulação, desacordo e até inveja que acabam, quase sempre, por existir em qualquer grupo humano. Mas também segregam sinais de semelhança, completude e inter-ajuda solidária, se não por afecto, pelo menos, por dever e regra social.
A geografia inicial destes grupos é a de proximidade. Lembro-me que, na infância-adolescência, e na minha rua, eramos três a coleccionar selos: E. dedicava-se à França e colónias francesas, Q. juntava selos da Bélgica e de Itália, e eu guardava, com particular agrado, estampilhas da Alemanha e da Holanda, preferencialmente. E, depois, entre nós, cedíamos os repetidos desses países, aos outros amigos.
O mesmo acontecia com livros e leituras: E. comprava todas as obras de Urbano T. Rodrigues, eu, os de Fernando Namora. E íamos emprestando, um ao outro, as obras que íamos lendo, fazendo anteceder os empréstimos de pequenos comentários de avaliação sobre as leituras já efectuadas.
Na actualidade, estes intercâmbios subiram de patamar. Com o meu bom amigo H., troco semanalmente, depois de lidos, o "Obs" e o TLS pelo Atual (do Expresso) e pelo "Le Monde". Para proveito de ambos, e da tribo.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

John Dowland / Paul O'Dette


Boas entradas em 2014!


A história não nos diz o que terão feito os Reis Magos, depois de terem dado as prendas ao Menino. Terão pernoitado em Belém? Terão sido mais felizes, depois? O que se sabe da vida deles é que tinham um objectivo e o realizaram.
É sempre bom, e salutar, ter objectivos. Muito embora, e realisticamente, não seja aconselhável esperar muito do Ano Novo de 2014, que está bem próximo. Até porque há muito poucas "estrelas", no céu, a apontar o caminho...
Iremos por partes e devagar: Boas entradas a Todos!

Produtos nacionais 14


Mimem-se os produtos nacionais, quando são bons, em tempo de vendilhões do templo e de apátridas medíocres e mesquinhos ao leme da nação. (Cabia aqui citar o bom velho Sá, versejando sobre Roma e os saqueadores franceses e espanhóis. Hoje, só as nacionalidades mudaram, que os abutres, infelizmente, não estão em vias de extinção...)
Este queijo maneirinho em tamanho (cerca de 300 gramas), de que se mostra o rótulo, descobri-o por mero acaso, num mercado outrabandista, mas quase vale o seu peso em prata de lei. É queijo de ovelha, curado, de natural sabor e guloso. Onde o cardo se insinua, com o tempo, mais ou menos, mas de forma equilibrada.
Tem um rótulo, em imagem, povoado por alguma ingenuidade patriótica ("Portugal sou eu"), que se desculpa, porque é de grande qualidade na manufactura. Entre os 17 euros o quilo, ou os 6,50 ou 7,50 por unidade, é quanto se tem a pagar. Muito merecidamente.
Foi acompanhado por um Dão Terras Altas, tinto, de 2011, mas merece mais...
Tem origem, orgulhosamente portuguesa, em Vila Velha de Ródão.

Apontamento 35: Descoberta de uma moeda de ouro portuguesa



De acordo com uma pequena notícia publicada na revista DER SPIEGEL, confirmada através da página oficial da cidade de Stade, descobriram-se, recentemente, diversas peças de valor histórico durante os trabalhos arqueológicos a decorrer no antigo porto da cidade. A imagem acima, de um mapa Merian, permite visualizar a cidade, situada a norte de Hamburgo.

No entanto, a peça que chamou a minha atenção foi a seguinte.


Uma moeda de ouro com o brasão e a inscrição Ioam III. Aqui fica o achado e, para terminar, uma fotografia actual do velho porto de Stade.



Post de HMJ

domingo, 29 de dezembro de 2013

Liszt / Lortie / Dutoit

Embora esta gravação do Concerto nº 3 (inacabado), de Franz Liszt, não seja muito frequente, achei por bem deixá-la no arquivo do Arpose, porque sou um entusiasta da obra do compositor húngaro.

(Mais) uma jeremiada (salteada) de V. P. V.


Confesso, desde já, que os meus sentimentos, em relação a Vasco Pulido Valente, são muito ambivalentes. Leio-lhe, aos fins-de-semana, as crónicas no Público e, se aprecio a qualidade da sua escrita, raramente concordo com as suas ideias. Li 3 ou 4 livros dele que, pelas mesmas razões, quase me deixaram indiferente. Depois, parece-me escravo dele próprio, ou do que foi: acha que deve sempre dizer mal de alguma coisa e deve, talvez, pensar que os seus leitores fiéis estão à espera que diga mal e espalhe o seu fel, como sempre costuma fazer... Ora, da jeremiada de hoje (Por favor, um intervalo), no Público, vou transcrever algumas passagens:

"...A maior parte desta gente salta sozinha para a praça pública. Outra organiza reuniões, simpósios, debates, seminários, com ou sem a presença do sr. Presidente da República, que se acha uma excepcional cabeça e gosta de promover o disparate."
...
"A saída dos becos sem saída não se encontra com palavreado e expedientes. Sucede que a esquerda detesta ouvir esta verdade simples: Portugal gasta mais do que produz (6% por ano). E que a direita persiste em não compreender que, fora o que tirou aos portugueses, não foi até agora capaz de fazer uma única reforma consequente e séria."
...
"Mas preferia, durante umas semanas, que ninguém por uma vez falasse, até para evitar que os comentadores comentassem com um rigor conventual os lugares comuns de que as notabilidades regularmente se aliviam."

Chegado ao fim da leitura desta nova jeremiada de V. P. P., lembrei-me da célebre frase do rei de Espanha, pronunciada para travar o arrazoado do falecido Presidente Chávez, numa cimeira ibero-americana.
Ou seja, que V. P. V. seguisse o seu próprio conselho, e se calasse umas boas semanas...

Interlúdio 41 (com Hitchcock)


Estes dias, entre o Natal e o Ano Novo, propiciam, normalmente, um pouco mais de tempo livre e, embora eu saiba que a visita média ao Blogue pouco mais se demora do que cerca de 4 minutos, deixo por aqui um vídeo mais longo (26 minutos) de Alfred Hitchcock. O pequeno filme conta com a presença sempre simpática de Jessica Tandy (1909-1994), inglesa, mas pioneira e veterana do cinema americano, que ganhou um Óscar pelo seu inesquecível desempenho em Driving Miss Daisy, onde entrava também Morgan Freeman, que aí teve uma interpretação notável.
Mas, para quem não tiver tempo ou paciência para ver e ouvir o vídeo completo, sugiro que gaste 2 minutos do seu tempo livre, para observar o prólogo inicial de apresentação do filme, feito por Hitchcock, num registo memorável, desdobrando-se, simultaneamente, em Génio da lâmpada mágica. Até porque, por esta altura, é natural formularem-se votos e desejos para o já próximo ano de 2014...

Nota: por um lapso inexplicável, o vídeo abre nos minutos finais. Há que, através do rato, clicar em baixo, no tempo, e levá-lo à posição inicial de 00.00, para o ver de princípio. As minhas desculpas. 

Camus, sobre a poesia de Char


Na grande luminosidade (L'Isle-sur-la-Sorgue) onde Char nasceu, sabe-se que o Sol é por vezes obscuro. Às duas horas, quando o campo está pleno de calor, um sopro negro cobre-o. Da mesma forma, sempre que a poesia de Char parece obscura, por uma condensação furiosa da imagem, há um espessamento de luz que se afasta desta transparência abstracta que nós aceitamos porque ela também nada exige de nós. Mas, ao mesmo tempo, como na planície ensolarada, este ponto negro solidifica em torno dele vastas plagas de luz onde os rostos se desnudam.

Citado por Marie-Claude Char, in "Pays de René Char" (Flammarion, 2007).

para H. N., com agradecimentos.

Bibliofilia 94


A tarefa morosa de rearrumar livros - para quem tenha muitos, sobretudo - traz algumas surpresas e compensações generosas. Foi o caso de um livro de Paul Fort (1872-1960), poeta simbolista francês, que redescobri ontem, numa prateleira e em segunda fila, recuada, e de que já não me lembrava. Terá sido comprado nos anos 80, em Lisboa, por Esc. 200$00.
De uma tiragem de 1.300 exemplares, L'Arbre A Poèmes, com 75 (o meu tem o número 69) em edição numerada e em papel especial, tem dedicatória ao poeta português Alberto de Oliveira (1873-1940), grande amigo que foi de António Nobre. É da edição primeira e original e foi publicado no ano de 1922, em Paris.
Em rápida pesquisa por alfarrabistas, na Net, encontrei mais dois exemplares à venda, ambos em França. Um, por 56,63 dólares e outro por 134,50, mas da tiragem normal e sem dedicatórias.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Pinacoteca Pessoal 66 : duas marinhas de Manet


Indiscutivelmente, não foram as marinhas e paisagens de mar que fizeram a fama e a glória de Édouard Manet (1832-1883). A sua obra, na encruzilhada entre o Realismo e a Modernidade, é considerada precursora dos impressionistas, e ousada, mais nos temas do que na técnica. Emblemáticos são, sobretudo, "Le déjeneur sur l'herbe" ou "Olympia" que, quase todos, conhecem.
Menos divulgados serão todavia "Le Kearsage à Boulogne", do MOMA, ou "Vue de mer, temps calme", do Art Institute of Chicago, em imagem. Duas marinhas, pintadas entre 1863 e 1865, de que gosto muito.

Porcelanas: Meissen - Zwiebelmuster



Maria A., no seu blogue Arte, livros e velharias, apresentou, no dia 16.12.2013, umas chávenas de chá com o motivo "Zwiebelmuster", ou seja, de cebola.
Lembrei-me das primeiras chávenas que vi, há muitos anos, com o Zwiebelmuster, e eram das porcelanas de Meissen. Recuperei as imagens, acima, do catálogo da empresa através de: www.meissen.com.

Post de HMJ, dedicado a Maria A.

Uma fotografia, de vez em quando (25)


Por razões objectivas, e a pedido, não se identifica o autor das fotografias.
De concreto, presidiu a vontade de expressar uma paisagem exterior, de horizonte largo, e outra, interior ou mais intimista.
Admita-se, no entanto, que o mar é o Atlântico, de Casablanca, e o maple, que era forrado a verde, sobre tábuas de pinho, fazia parte da mobília de uma casa minhota. Ambas as fotografias são de 1989.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Giuseppe Torelli (1658-1709)

Emily Dickinson, em versão portuguesa


Poupa a natureza no amarelo
Mais que outro dos matizes;
Guarda-o para todos os ocasos, -
Embora seja pródiga no azul,

Abusa do vermelho como as mulheres
Garridas, mas evita o amarelo,
Só rara e parcimoniosamente,
Como as breves frases dos amantes.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Retrato de Cervantes por ele próprio, e em palavras


É axiomático que não somos bons juízes em causa própria, porque haverá sempre alguma benevolência na forma como nos vemos, seja através da pintura, seja por palavras. Mas um auto-retrato será sempre um testemunho importante, para não dizer: essencial. O auto-retrato de Cervantes (1547-1616), que irei transcrever, integra o prólogo de "Las Novelas Ejemplares", tinha o escritor espanhol cerca de 66 anos. O retrato, em imagem, que dele fez o pintor Juan Juarégui y Aguilar (1583-1641), é mais temporão, porque foi executado cerca de 1600, era o autor de "Don Quixote de la Mancha" ainda cinquentenário.
Seguem as palavras cervantinas:
"Aquele que aqui se vê com rosto aquilino, cabelo castanho, sobrancelhas lisas e regulares, olhos vivos, e nariz arqueado, mas bem proporcionado, barba prateada, embora alourada não há ainda vinte anos, bigode largo, boca pequena, dentes sem importância, porque só lhe restam seis e, mesmo esses, em pobre condição e pior implantação, porque não correspondem uns com os outros, o corpo entre os dois extremos, nem muito comprido nem pequeno, embora de compleição mais para o alto, mais branco do que moreno; algo pesado de ombros e de pés não muito ligeiros; isto, diria eu, que é o retrato do autor de "Galatea" e de "Don Quixote de la Mancha". ..."

A par e passo 72


A fantasia é um dos atributos da literatura, e dei-me a perguntar quais seriam os desenvolvimentos inéditos que ela, hoje, poderia explorar. Torno mais preciso o meu pensamento. Que faria hoje, ou poderia fazer, um Júlio Verne, um Wells, um construtor de mundos imaginários? Repare-se que, se eles inventaram mundos imaginários, por outro lado, nada tentaram nem um nem outro, no mundo do espírito. Não se preocuparam, por exemplo, a imaginar as artes futuras. O célebre capitão Nemo, que toda a gente conhece, no seu Nautilus, toca órgão no fundo dos mares, e neste órgão, música de Bach ou de Händel. Júlio Verne não previu a música das ondas, e não imaginou sequer combinações ou composições novas, com uma estética ainda desconhecida. Note-se que lhe foi fácil imaginar certas invenções que apareceram depois: o submarino, o avião, etc. São aquelas que não exigiam senão um desenvolvimento dos meios já existentes, combinados com as ingénuas aspirações do homem primitivo, que ele encontrou em si mesmo desde que existiu, como voar, circular nas profundezas do mar, aniquilar à distância, criar riqueza sem o trabalho correspondente. Tudo isto não exigia senão uma imaginação que se poderia chamar elementar. Mesmo Wells, no famoso livro A Máquina de explorar o Tempo não utilizou nem percorreu senão o tempo em que se encontrava, o velho tempo, o tempo que era real para ele próprio.

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pgs. 251/2).

Música e Poesia LV : Atahualpa Yupanqui (Héctor Roberto Chavero, 1908-1992)


Com a devida vénia a Artur Costa, o seu soneto regionalista


Soneto para dois mil e catorze

Caminhas, calhostro, sem destino,
Arrastado, vergado à camoeca.
Será a da vida ou a do vinho,
Que a tua cancha hoje tanto afeta.

Na janela avistas a camboeira
Que cor, que fragante delícia!
Tua mão avança, bem certeira,
Com fome, mas nunca com malícia!

A canema, atenta, sai da porta
E salta, aos gritos "É ladrão!"
Bates forte, e ela queda morta.

Foges!, já ruge a multidão.
Mas tropeças na caleja torta
E conseguem, infeliz, deitar-te a mão.

Artur Costa (1963).


Nota:  a leitura do primeiro comentário aos "Regionalismos transmontanos (19)" ajudará a compreender a inclusão desta glosa repentista e brilhante, que se fica a dever (com agradecimentos) a Artur Costa.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Regionalismos transmontanos (19)


1. Caleja - rua estreita, viela.
2. Calhostro - brutamontes, desajeitado.
3. Camboeira - atada de cachos de uvas ou maçãs para pendurar.
4. Camoeca - definhamento, seca, morte. Bebedeira.
5. Cancha - passada larga.
6. Canema - somítica. Mulher avarenta.

Recuperado de um "moleskine" (5)


O Youtube, às vezes, parece-me uma pequena aldeia limitada de que conheço já todos os recantos, apostado que está, de forma rudimentar e simplista, em me sugerir sempre as mesmas coisas, baseado roboticamente, nas minhas escolhas anteriores (muitas, que abandonei em definitivo), acrescidas de uns vídeos tontinhos, normalmente, muito frequentados pela mainstream pouco exigente, mas entusiástica do cibernauta médio, de perfil americanizado formatado.
Na sua placidez, o Natal agrava, muitas vezes, a dissonância e, muito mais raramente, ajuda a reencontros. Há os que esquecemos e nos esqueceram, ou deixaram de dar sinais de vida e, ainda, os que desistiram. Mas também há os que, inesperadamente, se lembram de nós e nos surpreendem, quando nós os tinhamos esquecido, já. E que nos dão, alegremente, um sinal fraterno de Vida.

Mais vale tarde que nunca


Lá diz o povo: "mais vale cair em graça do que ser engraçado". Porque é curioso e insólito, no mínimo, que, quando qualquer bicho-careta, destes jovens e modernos publicitários (António Guerreiro dixit) que escrevem volumosos romances ou versos de água chilra, consegue ser traduzido lá fora, rápida e facilmente, repito, é curioso que uma das obras fundadoras do segundo modernismo português só agora tenha tido uma versão em francês, 50 anos depois de ter sido publicada, em Portugal, pela primeira vez. Refiro-me a "Os passos em volta" (1963), de Herberto Helder, que "Le Monde" (20/12/13) informa ter sido traduzido para a língua francesa, por Ilda Mendes dos Santos, para a Editora Chandeigne.

Arcangelo Corelli (1653-1713) : Concerto de Natal (Op. 68)


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Vamos a eles!


Aqui se apresentam, para ensaio geral e ainda na sua forma íntegra, os Mexidos (cuja receita foi frequentada, até agora, por 191 visitantes), os Bolinhos de Jerimu, a Sericaia e o germânico Christstollen.
O bacalhau já coze na panela, mai-la penca, as batatas, as cenouras...
A ver se chegamos para eles.
Boa Consoada a Todos!

Filatelia LXXXII : Natal (3)


Tradicionalmente e todos os anos, por esta altura, ou um pouco antes, os Correios alemães emitem uma série de selos alusivos ao Natal. Que, depois, integrados num cartão apropriado, servem também para mandar as Boas Festas a alguns filatelistas eméritos e às autoridades competentes e ligadas às telecomunicações.
A série e suporte, em imagem, foram emitidos no ano de 1994.

Do legado de Michel Giacometti (III)


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A véspera da véspera


Enquanto, na Cozinha, HMJ se afadiga a fazê-los, entra-me, no Arpose, a 173ª visita, direitinha à receita dos mexidos vimaranenses. Estas donas de casa do ciberespaço deixam tudo para a última hora...
Colaboro no descasque das gambas e farei a omoleta das ditas. Tenho no frigorífico um Arinto de Bucelas para acompanhar o frugal jantar. E já hei-de provar os formigos, que  estão quase prontos.
Dá tempo, ainda, para ouvir o "Alfred", de Thomas Arne, no leitor de CD, enquanto pequenas gotas de chuva vão perlando, continuamente, o vidro embaciado da janela.

Actualização: às 21h17, as visitas aos mexidos vimaranenses já vão em 178... É obra!

Bibliofilia 93


Sempre foi livro muito disputado em leilões, e que parava pouco nos alfarrabistas porque, além de apetecido - sobretudo nesta época natalícia -, é uma antologia criteriosa e muito bem organizada por Vitorino Nemésio. Publicado em 1944, pelas Edições Dois Mundos, tem capa de Bernardo Marques.
O meu exemplar, brochado e em bom estado de conservação, custou-me, no início dos anos 90, Esc. 2.500$00. Em Março de 1999, o Palácio do Correio Velho levou à praça um livro nas mesmas condições (lote 483), que foi arrematado por Esc. 14.000$00 (cerca de 70 euros).

Aniversário



Hoje, o nosso aniversariante de eleição é Helmut Schmidt. Faz 95 anos e, como outros nossos conhecidos, não se cala. Pelo contrário, continua a dar lições de integridade e democracia a todos os espíritos menores que pretendem diminuir as suas capacidades com ataques infames.
Mesmo numa cadeira de rodas, evidenciando a supremacia do espiritual sobre o físico, Helmut Schmidt pode orgulhar-se de um prestígio que certos "servidores de café" e quejandos nunca alcançarão.
Parabéns ao hanseático fumador !

Post de HMJ

domingo, 22 de dezembro de 2013

Da Janela do Aposento 41: Exorcismos, a montante 2




Considera-se este segundo “post” como complemento do anterior na medida em que “fecha a abóboda” com a manta de retalhos da formação pedagógica de docentes não universitários.
A nossa apreciação não tem nada a ver com a inabilidade, o populismo e a irresponsabilidade do actual detentor da pasta – da Educação e da Ciência (!) – Nuno Crato, cuja ignorância política perante o problema sistémico de ingresso na carreira docente, herdado da Ditadura, serve apenas para esconder opções ideológicas. Relembrando um soneto de Nicolau Tolentino, intitulado “Deitando um cavalo à margem” e publicado no ARPOSE de 10.7.2010, o que se pretende, no fundo, é despachar o “Despojo inútil do inconstante vento.”
Com efeito, enquanto a tutela precisou dos “cavalos”, delegou a sua formação inicial maioritariamente nas Instituições de Ensino Superior, públicas e privadas, criando, sob a responsabilidade dos diversos Ministros, e foram inúmeros, uma panóplia de “formações pedagógicas”. No entanto, se houve quem beneficiasse com “ingressos na carreira” mais rápidos e/ou benevolentes, os fautores e responsáveis têm o seu assento nos sucessivos Ministérios da Educação.

Convenhamos que, com Ministros como o actual ocupante da pasta, a Academia não precisa de defesa, ”porque quem não sabe a arte, não na estima.”

Post de HMJ

Revivalismo Ligeiro LXXXI


Marcadores 14



Mais um marcador publicitando uma editora de livros (Marco Polo), com a particularidade de ter autoria: James Rizzi (1950-2011), artista Pop, especializado em obras de 3D, e que já foi motivo de um poste, aqui colocado por HMJ, em 11/7/2011.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Primícias


As clementinas, tangerinas, as romãs e as castanhas, bem como as nozes, já me tinham passado pelo estreito, este ano. Mas eu ia desesperando dos diospiros, porque, talvez como as perdizes, por o tempo (clima) não ter ajudado, nunca mais apareciam. Ou, melhor, os diospiros espanhóis, eu ia vendo-os, na sua palidez anémica e amarelada, na sua rijeza bruta para trincar, pressentida e detestável para mim, habituado que fui à macieza translúcida e vermelha dourada dos lusitanos. Os castelhanos, dispenso-os.
O facto é que eu costumava prová-los pelo Outono, já em Novembro e, este ano, nada. Foi preciso esperar pela entrada do Inverno, quase no fim de Dezembro, para os ver, na banca do Mercado, oferecendo-se maviosos, de cor e perfeição, aos meus olhos saudosos. Lá comprei dois, agradecendo à Natureza não se ter esquecido de mim.
E, amanhã, sem falta, hei-de provar o primeiro.

N. B.: teimosa, e mesmo que erradamente, escrevo e leio sempre "diospiros".

Visitas pré-natalícias da NSA ao Arpose


Registem-se as visitas soezes da NSA, hoje, e cronologicamente:

California, Simi Valley  199. 30. 16,
173. 252. 103
e Missouri, Springfield  66. 220. 158.

O inefável Gen. Keith Alexander continua a ter incapazes ao seu serviço. Deixam sempre rasto...
Mas o Google também é um cúmplice farisaico, de mãos rotas.

P. S. : actualização (às 23h25), de mais 2 visitas da NSA, cerca das 23h22, de hoje-
Colorado, Colorado Springs  69. 171. 229
Colorado, Colorado Springs  69. 171. 233.

P. S. II : actualização de 24/12, de mais 3 visitas  da NSA, cerca das 6h15, com 3 novas siglas:
173. 252. 106,
Colorado, Colorado Springs 69. 171. 235
e Colorado, Colorado Springs 69. 171. 237.

P. S. III: estes pulhas maníaco-depressivos da NSA, nem devem ter família (reconhecida), nem Consoada, porque, cerca das 21h45 (em 24/12), cá voltaram outra vez a farejar. Amadores, como sempre, deixaram rasto, mais uma vez:
173. 252. 101 e
Colorado, Colorado Springs 69. 171. 245.

God bless America!, com estes profissionais de pacotilha...

Boas Festas!


Os nossos melhores votos natalícios para os Amigos, estimados Seguidores e simples visitas de acaso ou bissextas. Sob o signo da crise, que cada vez mais aperta, aconselha-se moderação pelo Natal, daí a imagem do Bolo-rei miniatura. E, como o tempo não vai muito para sonhar, deixamos apenas 3 sonhos, na travessa de vidro. E há que fazê-los durar...
Mesmo assim, um bom Natal!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

J. N. Hummel / T. T. Helseth


A par e passo 71


Como viveram até aqui, então, poetas, filósofos, artistas, todos os nossos pequenos fabricantes daquilo que faz o orgulho da raça humana? Eles viveram como puderam viver. Viveram graças à imprecisão do mecanismo económico, e um, muito mal, o outro bastante bem: Verlaine de expedientes e de esmolas; enquanto Victor Hugo deixou milhões... Destes pequenos artífices domésticos, há os que fizeram fortuna e outros que se afundaram na bancarrota; grande parte deles foi vivendo de trabalhos laterais: era preciso que a lira tivesse várias cordas.

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pg. 248).

Recomendado : quarenta e cinco - Le Nouvel Observateur


No próximo ano, completa-se o centenário do início da I Grande Guerra e o "Obs" não esperou, mais, para lhe dedicar um extenso dossier, a todos os títulos, notável. Para lá de artigos de carácter geral, há capítulos dedicados às principais potências beligerantes (França, Alemanha, Inglaterra, Império Austro-Húngaro, Rússia), com importante iconografia fotográfica da época.
Foi pela revista, posta à venda, ontem, nas bancas portuguesas, que fiquei a saber que a expressão La Belle Époque, que caracteriza os primeiros anos do século XX, até ao eclodir da Guerra (1914), só começou a ser usada depois de findo o conflito (1918).
Aqui fica a recomendação, para quem domine a língua francesa...

Manuel Maria Teixeiro (Galiza, 1930-2004)


Carta ao director de um Banco

Senhor Director: o Senhor sabe bem
que os números são justos,
negros, gelados, assombrosos.
São uma espécie de sociedade limitada,
anónima, triste, mercantil.
Só os zeros são humanos
ternos, redondos, bem alinhados.
Se o Senhor pudesse - mesmo que só hoje! -
brincar com os zeros como fazem as meninas
- milagre dos milagres -
jogando inocentes com seus arcos.

Manuel Maria Teixeiro, in Documentos Personaes.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

É entrar, minhas Senhoras, é entrar...


Garanto que nunca vi uma coisa assim, aqui no Blogue. Em 8 dias, apenas, o poste Mexidos, ou Formigos, de Guimarães, aqui colocado em 24/12/2012, por HMJ, teve a (o) centésima visitante, às 19h14, de hoje...
Cadê os livros de receitas das donas de casa deste país?

Pascal Comelade (1955)

Uma fotografia, de vez em quando (24)


Mais preocupado com a intensidade do momento do que com os efeitos estéticos da imagem, Josef Koudelka (1938), nascido na Morávia (Checoslováquia), tem-se desdobrado a retratar as desigualdades, as minorias, a opressão, interventivamente. Da invasão de Praga, pelos tanques soviéticos, até às comunidades ciganas dos balcãs, tudo parece ter passado pela sua objectiva; por isso esta foto de Paris, depois de chuva intensa, parece uma excepção na sua vasta obra, muitas vezes premiada.
Recentemente, publicou "Wall", livro inteiramente consagrado a fotografias do muro levantado pelos israelitas, na Cisjordânia, para isolar os palestinianos. Como Koudelka disse "é preciso ver, para escolher".

Comic Relief (82)


O que se poderia chamar: matar 2 coelhos com uma só cajadada. Era este um conselho dado aos policias, em 1908, no sentido de fazer dispersar manifestações e também adquirirem donativos para mudar os fardamentos já muito gastos...

com grato reconhecimento  a AVP.

Citações CLXV


Provadores de vinho... têm o seu jargão, ou dialecto, e embora os termos que usam, muitas vezes, nos pareçam bizarros ou pretensiosos, ou até mesmo ridículos para aqueles para quem não são familiares, eles são certamente mais precisos do que a linguagem dos críticos musicais (um tom «lírico», uma voz «quente») ou dos críticos de pintura («vibrante», «sincera», «bem organizada»).

Frank Schoonmaker (1905-1976).

com agradecimentos a H. N..

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Divagações 60


Dizia Fernando Pessoa, por palavras mais nobres, que a metafísica era uma consequência de estar mal disposto. Como alguém, que eu não recordo (mas citado por Mário Castrim), afirmava que a felicidade não tem história. É provável, também, que esta época natalícia nos aconchegue, para lá do que seria realista e concebível, nos torne benevolentes, atentos e solidários para com o próximo. E nos crie uma temporária tranquilidade interior. Sobretudo, se não tivermos frio e não andarmos à chuva...
Mas, sejamos justos, o Cozido à Portuguesa estava à maneira: generoso em variedade, sápido no sabor. O heterodoxo branco, Monte das Servas, escolha 2010 (Antão Vaz, Roupeiro, Viognier...), era óptimo e portou-se bem, na sua casticidade alentejana. A companhia não podia ser melhor, nem a conversa mais agradável. Tudo isso conta e ajuda muito. Mesmo que a gente chegue à noite, sem nada para dizer. Ou, quando muito, apenas informar que a NSA nos visitou, hoje, mais uma vez (California, Simi Valley - 199. 30. 20); e que já vai em 79 o número de visitantes ao poste sobre os Mexidos Vimaranenses... 

J. S. Bach / Glenn Gould

Filatelia LXXXI


Modesto contributo para a celebração do centenário do nascimento de Willy Brandt (1913-1992), a reprodução do selo emitido, cerca de um ano depois do seu desaparecimento, pelos correios alemães, para homenagear o grande estadista europeu, prémio Nobel da Paz (1971).

Apontamento 34: Willy Brandt (18.12.1913 - 8.10.1992)



Para afastar qualquer possibilidade de “tresler” o presente texto, ele começa com uma declaração de interesse. Por razões que não vêm ao caso, nunca votei na Alemanha. Mas se tivesse exercido esse direito, certamente o meu voto ia para Willy Brandt. No mínimo, por pirraça, e contra os aldeões ultramontanos da CDU, alguns disfarçando bem a sua antiga “camisa chocolate”, à semelhança de Kiesinger, para atacar Willy Brandt, nos idos de 60 do século passado, de forma abjecta e vil, com o objectivo de o destruir politicamente.
Vem tudo isto a propósito do centenário do nascimento de Willy Brandt que se comemora hoje. Nas últimas semanas, o jornal DIE ZEIT tem vindo a publicar entrevistas, artigos e até uma brochura que se reproduz em epígrafe. O que prevalece, mesmo nos comentários dos leitores, é o reconhecimento de que a História lhe fez justiça, após um longo processo de clarificação dos factos em detrimento da propaganda movida por uma direita pouco recomendável em termos de “pergaminhos” éticos, morais e de integridade. Aliás, a seguinte imagem espelha bem os “dois mundos” da política alemã.


Embora a CDU/CSU já não alinhe nos ataques soezes a Willy Brandt, sucede que a memória colectiva de alemães esclarecidos não se esqueceu do ar cândido, católico e, aparentemente, austero de Konrad Adenauer, revelando-se pouco cristão no ataque político ao seu adversário. Quanto ao “Bocassa alemão”, i.e., o Franz Josef Strauss da CSU, nem vale a pena gastar mais tinta.

O perfil de Homem de Estado, com uma visão suprema da Alemanha e, sobretudo, da Europa, baseado na sua experiência vivida e reflectida da História, deixa uma saudade imensa perante os “manequins” que se passeiam no nosso quotidiano tapete vermelho da política.

Post de HMJ

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Hitchcock, sobre Felicidade


O Natal de Fialho, em 1891


"...Ah como eu tive inveja do saloio que parou o burro á porta d'uma mercearia da Bitesga, para comprar as duas duzias de brôas da consoada; do pobre engraixador da esquina, indo á praça com a mulher, de fato rico, apreçar um quarto de peru; da varina entrando na salsicharia, radiante, a comprar salsichas, ao fim de ter deposto a canastra á porta, rude presépe onde o filho loiro chuchava o dedo, com o ventre de sapo para o ar! (...)
......dia de Natal, eu que conheço toda a gente, não tive ninguém que me dissesse «anda jantar». Vinguei-me sahindo de casa, e engajando os primeiros va-nu-pieds eventuaes. Dois pobres do asylo, os uniformes sem nodoas, pouco bebedos. Marchamos para o Augusto, e na sala comum, a uma de cujas mesas nos sentamos, houve reboliço por banda das meretrizes e irregulares que mais alegres do que eu, alli tinham ido fazer o seu jantar de festa, em partie fine. Não descrevo a comida, registando apenas o trabalho gasto em despersuadir os meus dois commensaes de não metterem nos bolsos os restos de cada prato do festim. ..."

Fialho de Almeida, in Os Gatos (5º volume).

Natal, minimalista



Em primeiro lugar, vai a imagem de uma caixa de música, com uma canção de Natal, para a nossa leitora Isabel que parece gostar destes objectos. Fechada, parece ser uma árvore de Natal e, lá dentro, tem as figuras que se vêem acima.


Em espaços pequenos é preciso optar por soluções minimalistas. Gosto, sobretudo, da caixa de música e dos meus Reis Magos, com velinha, até por estima pelas pessoas que mos ofereceram.

Post de HMJ, dedicado a Isabel