As dunas ermas e o mar, ao passar por Espinho, e o Tejo alagadiço, ao lado, na lezíria, criam essa miragem de caminharmos sobre as águas, numa levitação irreal do olhar, muito breve. Que foge. Delapida-se a paixão, às vezes, em coisas inertes bem singulares, e pequenas. A guardá-la, na sua forma mais tensa , contida e intacta, poder-se-ia, talvez, caminhar sobre os rios, afastar as águas - e passar.
O basilisco foi talvez o inspirador fantástico do dragão, na Antiguidade, e ocupou algum espaço literário - ainda hoje. Há também, na família, um basilisco chamado lagarto-jesus - por óbvias e aceitáveis razões. Na sua corrida, que pode atingir os 12 quilómetros/hora, mantém-se à tona das águas, com um silvo que tanto pode ser medo ou aflição (para fugir de algum predador), como desejo e auto-incentivo para alcançar e caçar uma presa. Nessa vertigem cega, esse rastejante, ganha como que asas imaginárias - quase voa.