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domingo, 2 de setembro de 2018

Em desamor de Coimbra


Há todo um imaginário e vocabulário próprios de Coimbra. Remanescente em quase toda a gente que por lá passou. Inesperadamente, e apesar de lá ter nascido, assim como, por dois anos, lá ter cabulado, caloiro e semi-puto, parece-me que fiquei imune a esse fascínio que a cidade parece despertar.
Dizia-me o bom amigo A. C. S., na Penha, aqui há uns meses, a propósito de outras coisas: Coimbra é uma cidade morta. Sem futuro. Formam-se e fogem... Devia ter razão. Logo que a troquei por Lisboa, com a sua liberdade mais ampla, prontamente a esqueci, sem saudades.
Ficaram-me algumas palavras que a praxe académica cultivava, alguns nomes de Repúblicas, alguns trinados de serenatas, na Sé Velha, um falar limpo sem grandes entoações nem sotaques. Mas pouco mais me vem à tona, para além do Mondego, que, pelo Verão, era um fiapo ou fiozinho de água envergonhado, que mal dava para refrescarmos os pés...

quinta-feira, 3 de março de 2011

Inventário sucinto sobre os rios que vão


Ao princípio do Verbo, foi o Mondego. Mas não devo ter dado por ele, porque mal tinha aberto os olhos para a luz, nesse fim de Maio tão distante, muito embora ele corresse para a foz, ali defronte. Logo depois o pequeníssimo Selho, muito mais a Norte, que no Verão desaparecia, mas ainda dava água para as fábricas de curtumes que lhe fizeram à beira, logo depois do Campo da Feira.
Veio depois o Ave, que era o meu rio de Setembro, em Santo Estevão de Briteiros, há muitos anos atrás. Um pouco traiçoeiro, porque tinha fundos inesperados que pareciam querer-nos sorver para baixo. O Chico vendeu a quinta e nunca mais por lá passou para evitar as saudades e a tristeza. De um tempo em que nem sequer havia luz eléctrica, mas as noites eram lindíssimas. E lá voltei ao Mondego, ainda desordenado, que no Verão não corria: um fiozinho de água que parecia ficar pasmado a olhar Coimbra. Por amores, herdei o Cávado e a sua linda foz de Esposende. Mas, em simultâneo e um pouco antes, o Tejo tinha feito a sua aparição na minha vida, em todo o seu esplendor, ainda cheio de barcos e navios. E, em 1968, o Lisandro de má memória - será melhor nem dizer nada dele... Anteriormente, um amigo falara-me com muito afecto do Sabor, um dos últimos rios selvagens de Portugal. Só me vim a banhar no seu leito pedregoso nos anos 90, num tórrido Verão transmontano. Que bem me soube aquela água fresca!...
Mas não posso deixar de falar do Vouga, o "rio mais tímido de Portugal" (Ruben A. dixit), que conheci em 1979, ali para as bandas de Albergaria-a-Velha. Passava por uma quintinha frutuosa e bonita, com um chalet mandado construir por um engenheiro suiço que ali se aboletou durante a II G. Guerra, por causa do volfrâmio. E o Vouga, remansoso, a lamber aquelas terras úberes era quase apaixonante - ainda hoje tenho saudades. Da quintinha, do chalet e do rio...
O Douro, o Reno e o Mosela ficarão para outro dia.
Porque, hoje, foi dia de molhar os olhos nas águas do Tejo como, às vezes, faço. À conversa, com a límpida luz primaveril, reflectindo-se em espelho, quase cegando. Depois, havia um pato selvagem rasando as águas, em idas e voltas. A que se juntaram mais dois em az, que subiram mais alto, e por ali andaram, interminavelmente, sobre o rio.