A apreensão ou capacidade atenta para admirar obras-primas é, humanamente, limitada. Em tempo e na fruição do prazer estético. E a memória desses encontros de fascínio, se numerosos em sincronia, transforma-se - para usar palavras de E. M. Cioran - num "assassinato por entusiasmo". Daí que eu tenha uma preferência acentuada pelos museus de pequena dimensão espacial.
Visitar, como eu visitei, em 1963, o Museu do Louvre, em passo de corrida, em pouco mais de 4 horas, é um exercício que não recomendo a ninguém. Embora tenha passado quase 20 minutos à volta da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. Mesmo o Prado, cuja qualidade estética geral é inferior, terá que ser visitado faseadamente, no tempo, para se apreciar devidamente.
Por isso, neste Dia Mundial dos Museus, eu gostaria de relembrar, uma vez mais, o discreto e maneirinho Museu Mayer van der Bergh, em Antuérpia. Com um acervo equilibrado e homogéneo, fruto do gosto pessoal de Fritz Mayer van der Bergh (1858-1901), cuja mãe, após a morte prematura do filho, fez instalar em casa própria construida para o efeito, e de raiz.
E faço esse exercício de admiração e recordação, através da imagem do quadro de Juan de Flandres (1465?-1519?) intitulado "A vingança de Herodíades", pintado por volta de 1496. E que integra o Museu.