Este senhor Carrère, francês de nacionalidade, terá exagerado um pouco, segundo Castelo Branco Chaves, nas suas anotações sobre Portugal e, sobretudo, a propósito de Lisboa e seus costumes, no já remoto ano de 1796. Mesmo assim, dêmos-lhe a palavra no que à mendicidade, na capital, dizia respeito:
"Lisboa está cheia de mendigos. O forasteiro fica escandalizado com tal abundância; pululam em toda a parte, enxameiam em todos os sítios. Investem-nos nas ruas, nas praças, nos estabelecimentos, à porta das igrejas, invadem os templos do Senhor e interrompem as orações dos fiéis com as suas choradeiras. Sobem às residências, batem a todas as portas e quase não chega um só criado para atender às suas impertinências. Por toda a parte se encontra estes seres sujos e repugnantes, que, em vez de inspirarem piedade, fazem fechar a mão esmoler pela repugnância que inspiram enchendo-nos os ouvidos de lástimas arrastadas e gemebundas, ao mesmo tempo que apavoram e nauseiam pela sua sujidade e bicharia que os mina." (pgs. 88/9)
E eu acrescentaria que este sr. Carrère não viu nada, comparando com os dias de hoje e a chusma de romenos romani, esses sim, profissionais apurados da pedinchice como modo de vida, com as suas chocalhantes latas de esmolas, mais o seu resmonear ininteligível e plangente, por essas ruas de Lisboa...