Soube, há pouco tempo, que um colégio lisboeta de referência, em relação à literatura portuguesa do século XIX, incluia no seu programa escolar apenas o estudo de Eça de Queiroz. Quanto ao século XX são contemplados unicamente Pessoa e Saramago. O panorama público de ensino não será muito diferente... Perde-se assim um enquadramento e contexto temporal e cronológico de autores, bem como se soterram no esquecimento a maioria dos escritores nacionais. Mas creio que também Teixeira de Pascoaes (1877-1952), um mal-amado, nunca pertenceu ao cânone português das escolas. Muito embora tivesse merecido importantes estudos de Jacinto do Prado Coelho, Jorge de Sena, Mário Martins, Alfredo Margarido, entre outros ensaístas.
Prado Coelho refere a infância como sendo o tema central na sua obra poética, eu optaria antes pela temática da morte como omnipresente nos seus versos. Não sendo um modernista, a poesia de Pascoaes retém acentos de algum romantismo e, sobretudo, sinais de um simbolismo original e panteísta que difere muito do estilo da obra excessivamente marcada e artificiosa de Eugénio de Castro (1869-1944).
Como contributo de lembrança, aqui deixo um poema de Terra Proibida (1899):
Hora Final
Aí vem a noite... Sente-se crescer...
E um silêncio de estrelas aparece.
Quem é, quem é, meu Deus, que empalidece
E se cobre de cinzas, no meu ser?
Alma que se desprende numa prece...
Que suave e divino entardecer!
Como seria bom assim morrer...
Morrer, como a paisagem desfalece,
Morrer quase a sorrir, devagarinho.
Ser ainda do mundo pobrezinho
E já pairar, sonhando, além dos céus,
Morrer, cair nos braços da ternura;
Morrer, fugir, enfim, à morte escura,
Sermos, enfim, na eterna paz de Deus!