
Já era quase meio-dia, e sábado, em Setembro de 2001, creio. Perto de Alpiarça, a entrada e a casa da Quinta da Lagoalva são muito bonitas. No último troço do caminho, já dentro da quinta, somos acompanhados, ladeando, por oliveiras retorcidas centenárias que o avô do actual proprietário (Holstein) trouxe de Itália. Produzem, ainda hoje, um magnífico azeite que amacia, sapidamente, qualquer bacalhau da Noruega, cozido ou assado. E põe, também, redondas ôlhas como ilhas, na superfície de um fumegante caldo verde.
Quando chegamos ao armazém-adega, vimos que estavam a "arrumar" para o fim-de-semana. Havia uma caleche, ao fundo, desocupada, e sem cavalo. Holstein Campilho perguntou-nos ao que vinhamos, porque estava para se ir embora. Tinha acabado de receber e acompanhar um grupo da TV holandesa que viera fazer, à Quinta da Lagoalva, uma reportagem sobre a criação de cavalos lusitanos - disse-nos ele, orgulhoso. Eu ripostei que vinha à procura de um vinho que me recordasse o saudoso "FR" ribatejano, de memória gustativa inolvidável. Falamos de Alves de Sousa (Quinta das Caldas e Quinta da Gaivosa, durienses): contou-nos que eram grandes amigos. E de castas portuguesas. Eu confidenciei que não gostava nada dos monocastas da Trincadeira, e ele, contrapôs, cavalheiro. Até me quis oferecer uma garrafa, para eu mudar de ideias, mas não a tinha à mão, na altura. Deu-nos um Rosé de Lagoalva, a que eu chamei "vinho de varanda" - sorriu, gostou da alcunha, adoptou-a. Despedimo-nos de Holstein Campilho: Palmela, pela mãe, com raízes nortenhas, pelo pai. E lá trouxemos uns "Reserva", tintos.
O Rosé, dias mais tarde, viemos a bebê-lo, na varanda a leste. Era seco e bom. Deu para gostar, mas não para ficar convertido. Aos rosés, acho que nunca me converterei. E já tenho a minha conta de Mateus, na juventude.
Depois, na terra natal de Rodrigues Lapa (Anadia), vimo-nos aflitos para almoçar. Parecia uma vila abandonada, após um cataclismo. Nem se via vivalma a quem pudéssemos perguntar onde é que havia um restaurante aberto. Quase ao sair da vila, lá vimos uma moradia, num terreiro, com um letreiro a anunciar refeições. Subimos a um primeiro andar, que era mais de habitação do que sala de jantar, e mandamos vir um bife com batatas fritas e ovo. Bem feito, recordo.
No regresso a Lisboa, e nos primeiros quilómetros, a estrada secundária estava atapetada de tomates, a maior parte esborrachados. Passamos por imensos camiões carregados, que os iam levar à Fábrica. Andavam na apanha do tomate, mas muitos "morreram" na estrada. Podíamos ter recolhido alguns quilos, dos que ainda estavam inteiros. Os pneus do carro devem ter ficado vermelhos de tanta tomatada.