segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Beethoven / Liszt / Glenn Gould



Cerca de 11 minutos, de audição, é meio caminho andado para vencer a paciência da quase totalidade dos visitantes do Arpose - diz-mo a experiência... Mas não venho aqui para fazer a vontade às mariposas inefáveis.
As transcrições de Franz Liszt foram um trabalho inestimável que ele dedicou aos seus confrades, adaptando, sobretudo ao piano, o cerne mais importante ou mais belo das melodias de outros compositores: Bach, Schubert, Donizetti...
Esta transcrição do Allegretto da 7ª Sinfonia de Beethoven tem uma grande beleza. Dizem que, pouco antes de morrer, Pio XII pediu para o ouvir.

domingo, 29 de setembro de 2019

Apontamento 125: Recordar



Do meu tempo de estudante na Faculdade de Letras de Lisboa ficaram algumas, não muitas, boas recordações de Professores, com letra grande. Os que reuniam qualidades intelectuais e humanas não abundavam, mas encontrei-os tanto na área da Literatura, como em História e, igualmente, nas disciplinas de Linguística.

O Professor Ivo Castro merece o destaque, sobretudo pelo seu saber e distinção com que nos introduzira na História da Língua. Sabia-o também ligado a trabalhos científicos sobre “espólios”.

A recordação agradável das suas aulas contribuiu, pois, para adquirir o livro acima reproduzido. Recordo-me também de ouvir falar, na altura, do “legado” do Dr. Leite de Vasconcelos. Assim, para além do interesse na matéria abordada, fiquei a saber mais sobre os “papéis” do Dr. Leite na Faculdade de Letras de Lisboa.

Já conhecia o restante espólio, sobretudo alguns dos livros da sua biblioteca depositados no Museu Nacional de Arqueologia, em Belém.

E assim se fecha um ciclo, ficando o livro junto da “sua”  Etnografia Portuguesa, e recordando a figura deste “velho magro e meão”, nas palavras de Vitorino Nemésio.


Post de HMJ

Memorabilia (4)


Estas vinhetas, vendidas com o objectivo de subsidiar acções profiláticas, lúdicas, de caridade ou outras, tinham normalmente vida efémera, acompanhando selos dos CTT, na correspondência.
De apoio aos tuberculosos (1943 e 1947) e para publicitar a Queima das Fitas (1961), no Porto, aqui ficam em imagem, para que constem, três tipos diferentes.

Nota pessoal: creio que a personagem maternal e régia, da segunda vinheta em imagem, representa a rainha D. Amélia (1865-1951), esposa do rei D. Carlos.

sábado, 28 de setembro de 2019

As palavras do dia (37)


Tenho vindo a pensar se não estarei de acordo com estas palavras (sublinhadas) de V. P. V....

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Livrinhos 27


Os três livrinhos, de cuidado aspecto e estado, com encadernações em pele com ferros a ouro, são já mais do que centenários, pois foram editados em 1902 e 1905, em Chicago (E. U. A.).
Edições de bolso com decorações arte nova, as obrinhas destinavam-se a uso quotidiano, para suprir qualquer falta vocabular, confirmar a pronúncia correcta de cerca de 3.500 palavras, em inglês, e ainda fornecer alguma citação apropriada, em casos de emergência.


Os pequenos volumes, de bolso, têm todos os três as dimensões de 6,3 por 13,9 centímetros.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Chirac


Na sequência descendente de qualidade dos mais recentes PR franceses, Jacques Chirac (1932-2019) foi o último digno ocupante do Eliseu. De direita, embora, era um homem de vistas largas e de ampla cultura.
Bom presidente da Câmara de Paris, atribuem-lhe o bom sucesso de várias rapidinhas, entre negócios de Estado, bem como um affair, nunca desmentido com Claudia Cardinale. O que só prova o seu bom gosto estético.
Que descanse em paz! Repousadamente.

Costura Literária


Há por aí umas costureiras de retalhos, por conta de grandes editoras, que eu admiro pela negativa duvidosa: não sei quem se vende mais... Se a modista modesta que só sabe remendar, se a empresa dos livros por atacado, que têm que se vender. Mas também há uns algibebes mercenários, que passam por críticos literários, até em jornais de referência, que estão por tudo para ganhar o pão deles de cada dia.
Ora, reparem-me, entretanto, nos títulos apelativos e reveladores da imaginação rasteira ou nula, de livros, que uma destas costureiras de remendos diz que tem junto à sua máquina Singer, para ler:

- Crime, disse o livro.
- Cthulu.
- Temperos da Argas.
- Milkman.

É de fugir!


quarta-feira, 25 de setembro de 2019

terça-feira, 24 de setembro de 2019

A propósito de leilões


Como grande parte das visitas que frequentam o Arpose vive em Portugal, uma exposição ou um leilão no estrangeiro serão, na maior parte dos casos e naturalmente, acontecimentos sem grande interesse directo - convém não esquecê-lo, em nome da realidade linear e objectiva. E, embora as viagens, hoje em dia, estejam ao preço da uva mijona e se note esse facto pela quantidade de turistas de alpergatas de plástico que nos visitam, nem todos se poderão deslocar a Berlim, Paris ou Londres, e muito menos a Nova Iorque, para assistir a um leilão de arte ou de livros, bem como para ver, com facilidade, uma exposição importante de um artista célebre, que por lá ocorra.

Seja como for, dentro de dois dias (26/9/2019), a Forum Auctions leva a efeito em Londres um importante leilão de manuscritos, incunábulos e  livros modernos, em primeiras edições.
Não tenho ilusões que grande parte das licitações serão feitas, não por amor ou paixão pela literatura, mas simplesmente por um mero acto racional de investimento que procura, em poucos anos, tirar lucros significativos na venda seguinte.
Se Dubliners, de James Joyce, ocupa, na sua edição original (1914), o lote 135, com uma estimativa de venda entre £ 100.000/ 150.000, valor que me não escandaliza excessivamente, que dizer do lote 148, Harry Potter and the Philosopher's Stone (1997), de J. K. Rowling, que aponta para uma venda previsível de 20.000 a 30.000 libras?

Quando o Orlando, na sua primeira edição (1928), de Virginia Woolf (lote 158) vai apenas a umas míseras e previsíveis £ 400/ 600, neste leilão da Forum Auctions...
Será que nenhum dos conhecidos tripeiros amigos da sra. Rowling, do tempo em que ela viveu no Porto, possui aquela edição do Potter com dust jacket?
É que seria uma boa altura para a pôr a render ou a trocar por um Porto Vintage, de qualidade imbatível e inalterável, até se abrir...

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Francamente


Batidas pelo sol, as lombadas dos livros empalidecem, nas prateleiras atingidas pela luz. Laterais, as cãs vão-se prateando, se resistem à queda outonal que hoje começou.
Não somos imunes aos vizinhos, alguma coisa passa até dos blogues por onde passámos. Noto por mim, e também me apercebo de pistas e sinais que deixo nos outros.
Por questões de princípio, refiro as origens do que cito ou falo em geminações, para atribuir autorias iniciais. Mas há quem não o faça. São, por natureza, os plagiadores inatos. Ou distraídos.
Que, normalmente, têm poucas ideias e, quase sempre, muito mau gosto iconográfico...

Bibliofilia 140


Não sendo rara, esta edição de 1925 de Il Canzoniere, de Francesco Petrarca (1304-1374), impressa em Milão,  tem um aparato competente e muito completo de notas produzidas pelo filólogo e docente universitário Giuseppe Rigutini, que vieram a ser ampliadas por Michele Scherillo, também  ele especialista na matéria.


Comprado em meados dos anos 80, por valor que não anotei na altura, o livro fora bem estimado pelo anterior proprietário que o mandara encadernar dignamente a um artífice  de comprovados méritos - Frederico d'Almeida, que tinha casa aberta, em Lisboa, na rua António Mª. Cardoso, nº 31.
Ficou assim a obra bem protegida, para largos anos vindouros.


domingo, 22 de setembro de 2019

Tan Dun (1957) : Song of Peace

Divagações 153


É raríssimo, hoje em dia, ter estados de alma frenéticos ou obsessivos que me façam dizer, caprichosamente: tenho que ver este filme ou tenho que comprar este livro. O tempo, o sentido crítico e a experiência permitem -me ver a fugacidade e a vida efémera de tantas obras e tantos autores. Bem como as modas breves de tantos sucessos de "há quinze dias"...
O jornal inglês The Guardian resolveu publicar uma lista dos 100 "melhores" livros de século XXI. Provavelmente, e até ao fim deste século, ainda publicará mais 4..., mas já não estaremos cá para ver.
Consultando a relação geral, concluo que li apenas 3 das obras eleitas, o que nada me preocupa. Refiro as minhas conhecidas e o seu lugar, quanto a importância:
68 - The Constant Gardener (2001) - John Le Carré.
36 - Experience (2000) - Martin Amis.
5 - Austerlitz (2001) - W. G. Sebald.
Da lista, Coetzee não consta, nem sequer George Steiner, o que será no mínimo estranho. Mas quem sabe (?) se as editoras não terão pago ao jornal britânico para os seus autores constarem do rol? Tal como as empresas comerciais pagam às grandes superfícies, para os seus produtos irem ornamentar os topos de gôndola.
Não me admirava nada...

Citações CDXVI


O homem não toma consciência do seu ser senão em situações limite.

Karl Jaspers (1883-1969), in Autobiographie philosophique (1957).

sábado, 21 de setembro de 2019

Filatelia CXXXIII


Qualquer acervo temático, quer ele seja bibliográfico, numismático, medalhístico ou outro, acaba por integrar, necessariamente, outros conjuntos ou colecções anteriores que, muitas vezes por acaso ou vontade alheia, lá foram parar. E que, de forma inesperada, muitas vezes, vieram ter connosco, ora de forma arrumada, ora desorganizada.
Há, no mínimo, na minha colecção de selos, quatro fundos mais antigos que, por morte dos anteriores proprietários, acabaram por se reunirem, unitariamente, ao meu inicial conjunto pessoal filatélico.
A parte mais significativa, na minha colecção de selos, dos Antigos Estados Alemães e do Deutsches Reich pertencia a um jovem (F. S.), que morreu na Guiné colonial, em tempos difíceis de guerra dos anos 60. A colecção foi-me doada pelo irmão, C. S., meu grande amigo.
De Moçambique, me ficou um acervo significativo de selos que T. P. juntara. Jovem ainda, no regresso nocturno da Póvoa de Varzim, adormecera ao volante e embatera num poste, que lhe caiu sobre o tejadilho do carro, atingindo-o fragorosa e fatalmente. Não tinha chegado aos 30 anos... Mais uma vez, o irmão mais velho pensou em mim, como digno e respeitador herdeiro dessa colecção.
Em anos mais recentes de final do século passado, e por morte natural, em provecta idade, do dono de uma boa colecção de selos novos (apenas da República), recebi cerca de metade desse acervo interessante e muito bem cuidado, que veio enriquecer o meu conjunto filatélico.


Se hoje são já muito poucas as lojas filatélicas com alguma importância (Molder, Domingos Sacramento e Filatelia do Chiado, com dimensão e fundos significativos) em Lisboa, nos anos 60/70 elas prosperavam e seriam talvez quase um dezena distribuídas pela cidade (na rua do Arsenal, na avenida da Liberdade, na rua do Crucifixo, a Eládio dos Santos, Adelino Cardoso, a Afinsa...). Além disso, havia as actividades marginais de agentes sem banca própria e intermediários que facilitavam contactos, davam notícias (filatélicas) e favoreciam transacções de colecções importantes, ajustando ainda pormenores dos acordos de negócios.
No capítulo dos profissionais secundários, havia a especialidade dos "pacoteiros" que arrebanhavam toda a especialidade de selos, os tratavam e, depois, os agrupavam em montinhos de 100 unidades iguais, vendendo-os depois às casas filatélicas, para estas fazerem envelopes de 50, 100, 150, 200 diferentes... por países que, por sua vez, eram adquiridos por filatelistas em início de carreira.
Pois, foi um acervo desta natureza que veio a integrar a minha colecção, recentemente, por oferta amiga. Se não há raridades, em princípio, no conjunto, os inúmeros pacotes dar-me-ão imenso entretém procurando variedades (cores ou tonalidades e pequenos erros), carimbos pouco frequentes (Escalhão, por exemplo, localidade no concelho de Pinhel, como já encontrei dois) e outras particularidades filatélicas.


Vou a meio desse trabalho lúdico...

Obrigado, A. de A. M.!

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Últimas aquisições (18)


Os dois volumes da Biblioteca Breve, iniciativa do Ministério da Cultura, pertencem a um conjunto que foi editado durante os anos 70/80, sob a direcção de especialistas das várias temáticas abordadas. Eugénio Lisboa analisa, no nº 22 da colecção, a obra de José Régio, de quem foi amigo e é talvez o maior admirador, vivo, no presente. O nº 47 da Biblioteca Breve é um apanhado descritivo das principais publicações de olisipografia que, ao longo do tempo, se foram editando. 


Trouxe também, usado mas em bom estado, do alfarrabista, um catálogo (1984) extenso mas sucinto da Tate Gallery (Londres), que é talvez, fora de Portugal, o museu que eu mais gosto de visitar. A capa reproduz uma obra de Matisse - The Snail (1953).
Dei pelos três livros 5 euros, o que me pareceu ser um preço muito em conta e justo.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Pinacoteca Pessoal 155


Sendo esta temática individualizada e dedicada, normalmente, a um artista da minha preferência, abra-se, por uma vez, a excepção para contemplar três pintores que, por mero acaso, foram incluídos, simultaneamente, num mesmo leilão da Sotheby's. Cronologicamente, Honoré Daumier (1808-1879) com a tela "Antes da audiência".

Segue-se Henri Fantin-Latour (1836-1904), com um seu auto-retrato. E, finalmente, o pastel-aguarelado de Paul Gauguin (1848-1903) representando uma jovem rapariga, pintado entre 1885 e 1886. Das três obras, e se eu tivesse que escolher apenas uma, era com esta última que eu ficava.



Agradecimentos a H. N..

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Desabafo (49)


Em Coimbra, a cabra* venceu a vaca, definitivamente.
O magnífico reitor da Lusa Atenas, com pompa e circunstância, anunciou que a carne de vaca será erradicada, em breve, das ementas das cantinas universitárias de Coimbra.
Aguarda-se para breve a sua adesão ao PAN, numa atitude intelectual de enorme coerência animal.

* é conhecido por "cabra" o badalo do sino da torre da Universidade de Coimbra, nos Gerais.

Idiotismos 46


Em finais dos anos 80 do século passado, tive ocasião de visitar no Gürzenich, em Colónia, uma magnífica exposição-venda de Livros Antigos, com inúmeras bancas de conhecidos alfarrabistas europeus e norte-americanos, principalmente. Do catálogo luxuoso, que pude consultar, constava apenas um livro português: Arte da Cavallaria de gineta, e estardiota, bom primor de ferrar & alveitaria... (1678), obra de António Galvão de Andrade (1613?-1689). O volume, obra-prima da impressão portuguesa, e em muito bom estado, estava precificado a 1.100 marcos alemães. Ainda hoje sai muito caro em Portugal, quer em leilões de livros, quer nos alfarrabistas.


Do longo título do volume, sobressai o termo estardiota (ou estradiota) que eu já conhecia e sempre achei exótico. Palavra que traduz uma forma própria e clássica de montar das senhoras, de lado. Hoje, creio que raramente se usa e as modernas amazonas cavalgam exactamente como os homens, com cada perna para o seu lado.
Alguns dicionários registam o termo como sendo: "arte de montar firmando-se o cavaleiro nos estribos e estendendo as pernas." Há quem anote o significado de soldado mercenário albanês, e quem dê a palavra como proveniente do italiano stradiotto (soldado).


Creio, no entanto, que cavalgar à estardiota era apanágio e privilégio de damas nobres e rainhas, que assim se faziam representar, mais femininas, compostas, e dignamente. Como a rainha Victória, em Balmoral, neste quadro de Charles Burton Barber, de 1876.

Comic Relief (151)


Últimas três graças, que seleccionei, do esfuziante livrinho Galáxia de Berlindes (2012), do jurista e diplomata Pedro Monteiro (1969). Obra imaginosa que me deu momentos de muito boa disposição, e que aqui venho partilhar, gostosamente.


Diagnóstico Idiomático

O paciente informou que tinha dor de cotovelo. O ortopedista concluiu que teria dado o braço a torcer.

Racista en Herbe

Já em pequeno gostava de enforcar no bonsai da irmã os pequenos índios de plástico com que brincava.

O Anjo

O anjo Rafael espezinhou a coroa de espinhos de Cristo, insultou a Nossa Senhora, roubou a lança a um soldado romano e espetou São Pedro no traseiro.
O padre Bento tirou-lhe as asas e escorraçou-o da procissão.



segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Iannis Xenakis (1922-2001)



Na perspectiva da chuva. E para nos irmos habituando...

Retratos (25)


Era enorme e de carnes mal arrumadas. Embora não fosse alto nem excessivamente gordo, era corpulento pela ocupação do espaço quadrangular do corpo. Compensava, entretanto, por alguma elegância de gestos, que nunca eram amaneirados. Nunca cheguei a saber se era viúvo, divorciado ou simplesmente solteiro, mas o asseio da roupa sempre escura e as calças bem vincadas, denunciavam que havia alguma mulher cuidadosa, lá por casa, ainda que fosse a dias.
Irmão de um médico célebre, hoje, com busto numa rua lisboeta, M. da Rocha era apenas veterinário, o que, naqueles anos aristocráticos do ancien régime, era considerado um curso de segunda. O seu trabalho, na área da segurança e qualidade alimentares era, no entanto, louvado e enaltecido quanto à seriedade, isenção e rigor das decisões que tomava. O desrespeito da administração por um seu relatório (que mandava abater largas centenas de quilos de peixe, por impróprio) numa empresa de congelados, de dimensão nacional, levou-o a pedir a demissão.
E embora estivesse em vésperas dos 60 anos, não esmoreceu. Manteve a sua dignidade e sustento sobrevivendo de pequenas avenças ao serviço de pequenas sociedades de comércio alimentar. E continuou de calças vincadas, na perfeição. E de lenço branco no bolso da lapela do casaco escuro, como se nada se tivesse passado de dramático, na sua vida. 

domingo, 15 de setembro de 2019

Ao público, em geral, e ao Brasil em particular


Por súbita indisposição do conferencista, motivada por uma inscrição desusada e antecipada de surdos-mudos (presságio de tumultos, silêncios desmesurados e atropelos vários), que iriam assistir à sua exposição sobre poesia neorrealista portuguesa, mas também pelo inusitado número de inscritos, amigos de uma associação Braille (facto concreto que augurava o pior...); bem como pela recusa peremptória dos artistas que iriam acompanhar, com música, o evento cultural, a Gerência do sítio lamenta informar o público em geral que o espectáculo previamente anunciado, para hoje, não se realizará.
Mas há mais blogues, felizmente...

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Memória 132 (sobre poesia, em geral)


Calhou, recentemente, ter adquirido, usado, Entre Duas Memórias (1971), de Carlos de Oliveira (1921-1981), que era o nº 21 dos Cadernos de Poesia, das Publicações dom Quixote. A pequena colecção, em tamanho, mas prestigiada em qualidade, tinha-se iniciado com Micropaisagem, em Novembro de 1968, livro de poesia inovador, também de Carlos de Oliveira.


Sobre o Lado Esquerdo (1968), da Iniciativas Editoriais, rompera já com um tipo de discurso com ressaibos neo-realistas que predominava ainda e se arrumava uniforme, ou pelo menos coerente, no volume Poesias (1962), da Portugália, volume 3 da colecção Poetas de Hoje, que abrangia toda a obra poética de Carlos de Oliveira, até Cantata (1960).


O revisitar dos poemas do escritor criou-me, agora, algumas perplexidades. Normais e justificadas, porque a inovação se atenuou com o tempo, menos claras porque a leitura me pareceu mais árida e abstractizante, mais experimental e menos agradável ao meu acompanhamento pessoal.


E constato, objectivo. Que, com os anos, me mantive equidistante e próximo da poesia de Eugénio de Andrade, me aproximei incomparavelmente, nos últimos anos (dele e meus), dos poemas finais de Herberto Helder. E me afastei, infelizmente, dos versos de Carlos de Oliveira. Salve-se, embora, o prosador de Finisterra ou de Uma Abelha na Chuva
Nem tudo se perdeu!

J. S. Bach / T. Koopman

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Interlúdio 71


Devido à fraca afluência de público, hoje não há Circo.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Regionalismos dos Arguinas (2)


A imagem, que encima este poste, reproduz o enquadramento da praça de Santa Ovaia (Oliveira do Hospital), no meio do qual se encontra o monumento de homenagem aos Arguinas, nome que é dado aos pedreiros e canteiros da região.
Na sequência do primeiro poste temático, damos hoje continuação ao tema com alguns regionalismos começados pela letra c, seleccionados da obra Os Verbos dos Arguinas, de Francisco Correia das Neves.

1. Caruncho - carpinteiro.
2. Celibré - cabra.
3. Chara - carne.
4. Chastro (ou garfanhoto) - alfaiate.
5. Chibau - sim.
6. Chispes - pés.
7. Chóina fusca - noite escura.
8. Chumurro - embriagado, bêbado.
9. Couto (ou saltarico) - coelho.
10. Curvelas - castanhas (fruto).

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Tu cá, tu lá


Confesso a minha fraqueza olfactiva, sobretudo em ocasiões especiais, por usar Monsieur Carven, o Givenchy Gentleman ou o Allure, da Chanel, que são, para mim e dos que conheço, dos melhores After-shave, na vertente de frescura acitrinada e suave. 
Mas não sou esquisito. No dia a dia, uso marcas banais e populares, desde que o aroma me agrade. E ainda me lembro que, em Mafra (1968), usava o bruto Pitralon - que sempre me cheirou a petróleo - talvez para acompanhar o odor bélico e entranhado das casernas...
Até compreendo que, em rótulos e contra-rótulos de sumos industriais e super-açucarados, dirigidos a jovens e obesas criaturas, as empresas usem de sem-cerimónia e tratem por tu os potenciais consumidores infanto-adolescentes sequiosos.
Há dias vi, numa grande superfície, embalagens do antigo Nívea Men, que eu já não usava há muitos anos. Cheirei e não me desagradou.  Desagradou-me e muito, depois em casa, no contra-rótulo, tratarem-me familiarmente por tu. Será que a hanseática Beiersdorf, de Hamburgo, já desaprendeu a boa educação das regras de tratamento, em relação a senhores maduros e de barba rija?
Assim vai o mundo...

Mompou / Segovia

Versão, para português, de um poema de Emily Dickinson (1830-1886)


352

Talvez eu tenha perguntado demais -
Não me contento - senão com os céus -
Porque as Terras, crescem pesadas
Como bagas tensas, na minha cidade -

O meu Cesto leva - apenas - Firmamentos
Aqueles - que leves flutuam - no meu braço,
Pequenos espaços - me saciam e bastam.

domingo, 8 de setembro de 2019

Quem não trabuca, não manduca !


O que fazer quando nos entram pela casa adentro 7 kg de marmelos no meio de outros trabalhos sérios, elevados e exigentes ?

Não vale a pena a criatura queixar-se de falta de tempo. Lá estão os marmelos na caixa a olhar para nós. Mãos à obra ! Que a Senhora Odete Cortes Valente nos valha, como todos os anos, mais 9 kg de açúcar. 

Primeiro foi a marmelada que ficou pronta, secando ao sol, em tijelas e outros continentes.


E, no final da tarde de ontem, foi a vez da geleia.


Está, pois, tudo a postos para aconchegar o Outono e o Inverno na(s) nossa(s) casa(s).

Post de HMJ

Para os francófonos, muito especialmente...



...este Domingo de 1957, para matarem saudades de Paris.
(Que eu sou mais de Londres.)

Citações CDXV


Quando um homem aponta um dedo para alguém, deveria lembrar-se que quatro* dos seus dedos apontam para si próprio.

Louis Nizer (1902-1994), in My Life in Court (1961).


* creio que o conceituado jurisconsulto, de origem inglesa, deveria ter dito: três (dedos)...

sábado, 7 de setembro de 2019

Osmose 109


Se há frases que se nos impõem pela sua intensidade contagiante, há versos que nos iluminam o caminho e nos podem incendiar o pensamento. Ou a imaginação.
Em 1962, a então jovem estreante, em prosa, Yvette K. Centeno (1940), através da Portugália, editou um livro que tinha como título o início de um poema de Pessoa: Não só quem nos odeia.
Já nessa altura, Ricardo Reis era o meu heterónimo preferido. E, ainda hoje, aquele que mais releio. Esse poema era um dos que me acompanhava, de cor, como evidência sentida, intimamente.


Se quem nos ama/ Não menos nos limita. completa esse poderoso axioma, ele foi, com a idade, tornando-se-me verdade absoluta e incontornável evidência prática.
Quantas vezes nos auto-censuramos, calando o que sentimos para não ferir ou ofender quem amamos? Quantas vezes omitimos por amor aos outros? Assim nos limitando ou restringindo a própria liberdade individual.
Será que a solidão total é o preço a pagar pela liberdade inteira? Talvez.

Beethoven / Karajan



Para "prefácio" do próximo poste, mas também convite para re-ouvir uma das 9 sinfonias de Beethoven...

Um CD por mês (5)


Dificilmente se pode escapar a Beethoven (1770-1827), para quem goste de música clássica. E a Karajan, como seu intérprete preferencial, pelo menos, até há bem poucos anos atrás. Embora eu, garoto de 14 ou 15 anos, tivesse começado, na altura, por comprar e ouvir uma boa gravação, em LP (Arpose, 7/4/2012 - Retro [10]), da 9ª Sinfonia, tendo como maestro Jascha Horenstein (1898-1973).
Herbert von Karajan (1908-1989) veio mais tarde. E, apesar de considerar os seus desempenhos com excesso de poses teatrais, não posso deixar de lhe atribuir um enorme profissionalismo e de o incluir no pequeno grupo dos melhores maestros do século XX.
Em imagem, o primeiro CD, da Références - EMI, que é uma remasterização (1988) da gravação de 1948, da Nona, e tem a mais valia de contar com a interpretação, como soprano, de Elisabeth Schwarzkopf (1915-2006). A orquestra é a Sinfónica de Viena. O segundo CD é da Deutsche Grammophone (Karajan Gold) e foi editado em 1984, incluindo a 5ª e 6ª sinfonias de Beethoven. Karajan dirige, neste caso, a Berliner Philharmoniker. Escusado seria dizer que as gravações são excelentes.


sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Inventário da safra


A hortelã vai bem, folhas verdinhas e cheirosas. Numa teimosa existência, por entre a secura de um Agosto um pouco pardo, o pequeno pé de salsa resistente conseguiu sobreviver e já vai em três caules fininhos progredindo em direcção à luz solar.
As rústicas e espontâneas beldroegas vão na sua segunda produção, vigorosa e alargada. Estão aqui, estão a dar para uma segunda sopa, este Verão. Vão dar é trabalho a depenicar os ramos, mas compensa bem a minuciosa tarefa.
No limoeiro da varanda a leste, o serôdio broto bejamim do fim de Junho, atrasado embora, lá vai crescendo e recuperando, a acompanhar os irmãos verdes, mais velhos. E vão cinco limões, com o prematuro e último.
Da oliveira, na varanda a sul, já se colheram os frutos - 56. Exactamente igual a 2018 ( mas que grande coincidência!), mas muito inferior à safra de 2017, que produziu 119. Mas, ao menos, as azeitonas são bem rechonchudas e parecem suculentas. E já se puseram a curtir...


Deferências e gentilezas


De uma forma geral, a clássica nomenklatura nacional reagiu, na net e redes sociais, incomodada ou despeitada (invejosa?, mas quem, inteiramente laico de espírito, quer ser cardeal, hoje em dia?). Eu próprio, me lembrei de Dantas, a propósito de Tolentino.
É evidente que não tenho nada contra ele. E a única vez que o vi, ao vivo, foi na Estefânia, a comprar Pastéis de Chaves numa loja gourmet. Se calhar, para levar para Roma e presentear Francisco e a sua cúria vaticana, altíssima e celestial.
Não muito diferente dum tal Martins que, mestrando na Aberta, nunca se esquecia de mimar as suas professoras, antes das aulas, com bolinhos doces, comprados amorosamente na Cister (ali, próxima), e com carinhosos vocábulos a acompanhar a oferenda. Foi assim que ele chegou a Real, na nossa pequenina república das letras. Lembre-se o povo: com papas e bolos...
Chegar a cardeal no enclave do Vaticano, sempre é outra louça - e desculpem-me a bisbilhotice pequena, porque ainda estamos na silly season. Ou assim parece...

Uma fotografia, de vez em quando... (131)


Aurélio Paz dos Reis (1862-1931) foi um dos grandes entusiastas e talvez o mais conhecido pioneiro do Cinema em Portugal. Portuense, republicano convicto e maçom, dedicava-se à floricultura nos terrenos e horto de sua casa, explorando no centro da cidade uma loja de venda de flores, com resultados compensadores para a sua sobrevivência financeira e de sua família.


Uma ida a Paris pô-lo em contacto com as primeiras tentivas de cinema em França que, depois de adquirir material, ele quis também ensaiar em Portugal. Ainda se deslocou ao Brasil, pelo mesmo motivo, e onde os resultados acabaram por não ser animadores. A partir daí a sua actividade restringiu-se apenas ao campo da fotografia. A inauguração da Livraria Lello, no Porto, foi fixada por A. Paz dos Reis, em Janeiro de 1906.