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quinta-feira, 6 de abril de 2023

arte menor (37)

 


Se escrevo
é de longínquas placas da memória 
que me vem o sono sonâmbulo das sílabas
e o que eu quero dizer traz já um transtornado,
muito inquinado sentido de desordem no seu plano
de imprevisto
inesperado.


Sb., 29/1/21 - 4/4/23.

domingo, 12 de março de 2023

Polémicas...



Agora a polémica pessoana transbordou, do hebdomadário do regime e de um blogue fundacional, para a revista Visão, talvez por falta de melhor assunto. Os dois biógrafos encartados digladiam-se, entretanto, a tentar apascentar (o pasto é pouco e os rebanhos pequenos, em Portugal...) o poeta Fernando.
Felizmente, sinto-me fora da corrida. Ainda que antiquado, fico-me pelo clássico e antigo trabalho de Gaspar Simões, que já li há muito e me basta para saber da vidinha de Pessoa.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Desabafo (76)



Pessoa dá para tudo...
Anda por aí uma polémica, que veio a eclodir num hebdomadário, entre um gringo e um luso, a propósito de duas biografias coevas e recentes do autor de Mensagem.
Mal por mal, prefiro quem fale num português límpido e escorreito. Sem sotaque, para marcar diferença...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Bibliofilia 202



Recebi recentemente um catálogo de Natal de um livreiro alfarrabista de Lisboa, promovendo a venda de alguns livros interessantes. De uma forma geral apercebi-me que havia uma acentuada quebra de preços, muito embora, por outro lado, algumas obras mais procuradas e raras se tinham estabilizado ou até, nalguns poucos casos, subido de valor. No primeiro caso, estava a Antologia de Poesia Erótica e Satírica, na sua contrafacção do Rio de Janeiro, sem as ilustrações de Cruzeiro Seixas, que se vendia por 30 euros; ora a mais próxima venda anterior tinha alcançado os 68 euros, segundo os meus apontamentos. Da Artis, vinha proposta a venda, da colecção de as mais belas poesias trovadorescas, da écloga Crisfal, a 25 euros. Esta colecção é de grande qualidade estética, e foi editada durante parte dos anos 50/ 60.



As obras, de cada um dos autores, numeradas, tiveram orientação e escolha de José Régio, tendo sido ilustradas pelos melhores pintores portugueses da altura. Nomeadamente: João Abel Manta, Alice Jorge, Rogério Ribeiro, Júlio Pomar, Lima de Freitas...



Fui ver o que tinha: os números 7, 10 e 12. Respectivamente, de Sá de Miranda, Diogo Bernardes e Frei Agostinho da Cruz. Pois todos eles tinham sido comprados (em muito bom estado) por apenas 6 euros, cada um.

Ora, de 25 para 6 euros, de há uns anos atrás, sempre é uma diferença de tomo muito significativa.

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Mercearias Finas 167

 


Ao princípio poderia ter sido a marmita operária, que Pomar eternizou, por outras vias, no Almoço do Trolha, nos anos 70/80 com a Comida Pronta e os Come-em-Pé, aburguesou-se; agora os Take-away acabam por ser uma alternativa de levar para casa de restaurantes em que já não podemos amesendar, como dantes, à vontade. Do nosso predilecto já veio Arroz de Pato, Ensopado de Raia e Pataniscas de Bacalhau com arroz de feijão vermelho - deliciosos. O Pernil, parente afastado do germânico Eisbein (bem diferente), creio que só o tínhamos provado uma vez, na sua magnitude. No restaurante do Arco, na medieval rua de Sta. Maria vimaranense, era por um dia pavoroso de chuva, de inícios de Novembro. Bisámos, aqui há dias, e fomos buscá-lo à Trafaria, à Taberna do Zé da Lídia - esplendoroso. Na fotografia, acima, ainda ele está no ninho, aconchegado, ao lado das frésias, amarelinhas, que já tinham dado um ar da sua graça olorosa... O vinho portou-se bem (Aragonez, Trincadeira e Alicante Bouschet, alentejano, 14º), mas precisava de mais 2 ou 3 anos para amaciar melhor os taninos. Como dizia Alexandre Dumas, citado por João Paulo Martins: "...o vinho é a parte intelectual da refeição!" E quem sou eu para contradizer tal axioma, de gente tão fina?!

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Arquivo morto


Nem todas as histórias infantis são para crianças. Lembro-me de, em tenros anos, ter lido algumas que me deixaram uma desagradável impressão. Creio que uma delas tinha por título A Princesa dos sapatos de ferro, ou qualquer coisa assim parecida... Não me lembro, porém, do nome do autor. Mas recordo que o conto tinha ilustrações de Augusto Gomes.
Este pequeno trecho de Ilse Losa (1913-2006) foi mandado para o extinto JL&L, em 1989, através do meu amigo A. de A. M., acompanhado de um post-it, a ele endereçado, como se pode ver na imagem. Não sei se chegou a ser publicado, ou se está inédito, mas também me parece que é uma história para adultos e menos para crianças.



com agradecimentos a A. de A. M..

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Memória 122


Para um país pequeno, como é Portugal, o desaparecimento de três figuras carismáticas nacionais, no pequeno espaço de pouco mais de uma semana, é uma perda irreparável. Por razões que não vem ao caso, não falei delas, na altura própria. Mas relembro, hoje, as mortes recentes de Rosado Fernandes (1934-2018), António Arnaut (1936-2018) e do pintor Júlio Pomar (1926-2018), todas acontecidas neste mês de Maio. Vidas plenas, exemplares nas suas áreas, deixaram-nos obras significativas das suas passagens pela terra.
Das três personalidades, talvez Rosado Fernandes seja o mais controverso, por aliar uma, por vezes, agressiva emotividade, quase sempre de cariz político e ideológico, a uma sensibilidade e erudição ancoradas num profundo conhecimento da Antiguidade Clássica, em que foi mestre e catedrático jubilado, respeitado pelos seus pares. 
E lembro-o porque me senti próximo, recentemente, da sua memória. Enquanto consultava, na sala de leitura dos Reservados, da Biblioteca Pública de Évora, inúmeros manuscritos do século XVIII, estava rodeado, nas três das quatro paredes que me acolhiam, por estantes ocupadas pelos livros que tinham sido da sua biblioteca pessoal. E que ele doara, generosamente, à B. P. E..

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Das Aves


Diz, quem sabe, que o Corvo é das aves mais bem apetrechadas para imitar os humanos, e não destituido, de todo, de sentido de humor e originalidade própria, consoante o seu convívio, maior ou menor, com os homens. Creio que os Papagaios também os acompanham, nessas qualidades singulares, bem como os melros, embora com muito maiores limitações. E alguns periquitos, treinados, também fazem algumas pequenas habilidades...
Mas, há dias, li uma história sobre rouxinóis, que me deixou pasmado. Um Pastor do sul da Alemanha costumava levar as suas ovelhas, acompanhadas do seu cão, para um campo de pasto determinado, havia tempos. Até que para lá foi nidificar um bando de rouxinóis.
O Pastor costumava comandar o seu cão através de assobios modulados para cada uma das actividades que pretendia que ele executasse junto do rebanho. Até os rouxinóis terem aprendido a imitar esses assobios. E, de tal maneira, aperfeiçoaram os seus pios, que o cão-pastor passou a andar numa fona, tipo barata tonta, sem saber a que assobio contraditório obedecer...
Claro que o Pastor germânico teve que mudar de pastagens.
Donde se poderá talvez concluir que algumas aves são mais inteligentes do que alguns cães. E têm gosto em se divertir. Só talvez não tenham ainda aprendido a rir...

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Deambulações simplórias sobre o Figurativo e o Abstracto


Dizem que o olhar de um observador, perante uma página ou uma tela, desliza, natural e inconscientemente, para o lado direito do objecto em questão, em detrimento do lado esquerdo da folha ou do quadro.
Um mero amador de pintura, não muito habituado a frequentar museus ou exposições, creio eu que tenderá, em grande parte dos casos, a privilegiar obras figurativas, em prejuízo de pinturas abstractas. Talvez porque aquelas lhe dizem alguma coisa...
A pintura abstracta suscitará, porventura, interrogações a nível racional; a pintura figurativa actuará mais a nivel sensorial ou da emoção, sobretudo, nas grandes massas humanas, que a possam frequentar, ainda que episodicamente. As artes ao serviço dos regimes da U. R. S. S. ou da Revolução Chinesa tinham, na sua função figurativa, um propósito político objectivo. Como a censura nazi, sobre aquilo que denominaram arte degenerada, tinha um fim estratégico. A formatação das sociedades, que hoje tanto é desejada pelo Poder, e aplicada, faz-se, sobretudo, no sentido da criação de clones abúlicos e acríticos, para que deixem de pensar, e se transformem apenas em animais emocionais. O que vai de encontro àquela velha frase das criaturas sensíveis, tantas vezes ouvida: Nem quero pensar!...
Pelo meio destas divagações maniqueístas, há que afirmar que, mesmo nos pintores actuais e/ou mais recentes, a expressão artística nem sempre é totalmente definida. Muitas vezes, há uma hesitação profunda, quando não constante, entre o figurativo e o abstracto.


domingo, 9 de julho de 2017

Em louvor da Velhice (criativa e irreverente) : David Hockney


Tenho, para mim, que a velhice é, normalmente, mais do mesmo, passado. Ou como dizia o outro: é chegar ao fim do dia, e ver que nada aconteceu. Mas há curiosas excepções, mais raras ainda com artistas ou criadores. Estou a lembrar-me, por exemplo, de Herberto Helder que inflectiu, de forma poderosa, a sua poesia, nos últimos anos de vida. Menos, talvez Picasso, mas, com certeza, Matisse. Sá de Miranda é outro bom exemplo. Porque, na maioria dos casos, o que sobra é uma penumbra habituada, uma sombra pálida do que se fez, já sem o fulgor e pujança madura dos melhores anos. Como que uma desistência direccionada ao apagamento. Júlio Pomar disse, numa relativamente recente entrevista, que já andava cansado...


David Hockney (1937), que hoje faz 80 anos, é também um bom exemplo dessa vitalidade criativa que se renova, teimosamente, apesar da idade. Em 2012, em Colónia (Alemanha), tive a felicidade de ver uma exposição das suas últimas obras, que me surpreendeu pela frescura e qualidade estética, até mesmo, pela inflexão profunda do itinerário que tinha seguido até ali. É certo que ele tinha voltado à infância, voltara às paisagens juvenis da Inglaterra (East Yorkshire), onde tinha decorrido a sua adolescência, para pintar de novo. Alguns dos vídeos-instalações eram surpreendentes. E deixaram-me fascinado. Não os esquecerei tão cedo, como soberbas realizações de velhice ou maturidade tardia. E de apuramento estético, naquilo de que um criador é capaz.


É canónica e foi consensual a teoria de Leon Battista Alberti (1404-1472), durante muito tempo, para que o centro de um quadro organizasse os motivos de tal forma que obrigasse ou fizesse convergir o olhar do espectador para o tema central da obra. Muito poucos pintores, e ainda assim muito raramente, desafiaram esta teoria sobre a perspectiva, ou "desmanchar(am) a regra" - como disse, em verso e muito bem, o meu amigo António.
David Hockney tem, presentemente, no Centre Pompidou, uma exposição das suas obras, patente ao público até 23 de Outubro de 2017. A propósito da mostra, concedeu a Le Monde (22/6/2017) uma interessante entrevista em que explica a sua glosa (Annonciation 2) sobre o quadro de Fra Angelico (1395-1455), "A Anunciação a Maria", pintado em 1437. Recriando o interesse do presumível espectador pelo lado esquerdo, onde acrescentou uma paliçada diferente, e pelo lado direito, com o negro da noite. Por outro lado, modificou a posição da paliçada, de modo a alargar o campo de visão do observador. Levando-o para outros caminhos. A geometria do quadro de David Hockney é também totalmente diferente da de Fra Angelico, et pour cause...


Hockney refere também na entrevista que o que vinha pintando, natural e inconscientemente, numa tendência de inversão das perspectivas, se lhe esclareceu com a leitura da obra de Pavel Florenski (1882-1937), "A Perspectiva Inversa", em que o teórico russo advogava uma concepção da pintura totalmente contrária às ideias renascentistas do italiano Leon Battista Alberti. Daí os seus vídeos- instalações dos últimos anos, que, pelo seu movimento contínuo, obrigavam à participação acompanhada do olhar do observador.


Terminemos com uma nota mais ligeira, e de humor, de David Hockney que, quase no final da entrevista a Philippe Dagen, em Le Monde, afirma:
"Sim, eu sou um pintor feliz, e continuo a fumar. Na minha idade, não faria muito sentido parar: já não arrisco grande coisa. Sabe o que dizem na Califórnia? Que a opção, em breve, será entre fumar e a imortalidade. A imortalidade..."

sábado, 7 de janeiro de 2017

sexta-feira, 4 de março de 2016

A evolução na descontinuidade...



A Galeria Presidencial ficará acrescida, proximamente, com o retrato do ainda presente PR, executado por C. Barahona Possollo (1967). Ironicamente, não resisto a comentar que o menos lido, dos 3 últimos Presidentes eleitos democraticamente, é aquele que aparece com mais livros no retrato... Como diria o povo: "Não há fome que não dê em fartura."


sexta-feira, 31 de julho de 2015

Para a história de "O almoço do trolha", de Júlio Pomar


É sabido que o emblemático "Almoço do trolha", de Júlio Pomar (1926), foi vendido, num recente leilão do Palácio do Correio Velho, em Maio passado, pelo considerável montante de 350.000 euros, um recorde em pintura portuguesa. O que nem toda a gente saberá é que, na exposição inicial (SNBA) desta conhecida obra de recorte neo-realista, em Outubro de 1950, o seu preço de catálogo, conforme se poderá ver na imagem, era de Esc. 7.500$00.
De início, e após o leilão de Maio de 2015, não ficou a saber-se quem o teria adquirido, embora transpirasse que o licitador vencido teria sido uma estranha parceria entre a Secretaria de Estado da Cultura e a Fundação Gulbenkian.
Tive, hoje, a grata alegria de saber que o famoso quadro fora adquirido pela Fundação Manuel de Brito, e que a obra integrará, futuramente, uma exposição retrospectiva da obra de Júlio Pomar. São boas notícias, sobretudo por saber-se que esta conhecida e importante pintura do século XX português, se encontra em mãos e território nacionais.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Alerta


A conhecida obra "O almoço do trolha", de Júlio Pomar, é, provavelmente, a mais icónica e expressiva da pintura neo-realista portuguesa do século XX. Executada entre 1946 e 1950, há quem nela veja uma alusão simbólica e involuntária, do Pintor, à Sagrada Família.
O quadro vai a leilão na próxima almoeda do Palácio do Correio Velho, nos próximos dias 27 e 28 de Maio de 2015.
Escusado será dizer que esta pintura poderia enriquecer, consideravelmente, o Museu do Chiado. Mas do desGoverno, que deixou perder (e facilitou a venda), para o estrangeiro de um importante Crivelli, e que se exprime, débil e titubeante, sobre a alienação de vários quadros de Miró, para fora de Portugal, não se podem esperar grandes coisas. Nem sequer a clarividência inteligente, lúcida e culturalmente patriótica, para decidir na arrematação por uma opção sensata desta obra, a favor do acervo nacional.

domingo, 7 de dezembro de 2014

90 anos


Fará diferença aos tíbios ou timoratos, aos politicamente correctos, aos tartufos e aos esquecidos, que este homem possa ainda erguer a sua voz - como sempre fez, corajosamente - pela indignação e pela liberdade.
Não se o acuse de puerilidade, em nome de um comodismo a que muitos gostariam de o ver conformado. Antes se louve a frontalidade de ele poder ser ouvido e poder falar em nome dos ofendidos e calados.
Mário Soares faz, hoje, 90 anos.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Pomar - Exposição


Na Galeria do Millenium-BCP, à rua do Ouro (Lx.), está patente, até 6/1/2015, uma exposição de várias pinturas e desenhos de Júlio Pomar (1926). Cerca de 25 anos da obra do Pintor estão representados, através duma escolha criteriosa de entre a colecção do Banco. De Le Bain Turc (d'aprés Ingres), de 1968, até Santo António a pregar aos peixes, de 1984-85, passando por Tigre (1980), esta mostra bem merece uma visita.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Pinacoteca Pessoal 86


Há amores assim, irresistíveis e à primeira vista. Olhamos, ficamos conquistados e não há explicação, nem capacidade de resistência ao fascínio.
O meu Amigo, quando chegou a nossa casa, abriu o "saco" - como faz habitualmente - e mostrou os livros que comprara, havia pouco tempo, no alfarrabista da nossa preferência. Comecei a folheá-los. Um dos livros, com iconografia belíssima, reproduzia quadros sobre cafés europeus, e fora editado em França. Por lá andava, também, Pessoa, Pomar e Lisboa, mas eu fiquei seduzido, de imediato, por esta tela (85 por 91 cm.) de Félix Valloton (1865-1925), pintada em 1909. Tem por título Au Café (Le provincial) e pertence a uma colecção particular.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Pinacoteca Pessoal 79


Nunca ousaria dizer muito de um pintor que está amplamente estudado. Desde a sua fase que acompanhou o neo-realismo, com o emblemático e conhecido "Almoço do Trolha", até ao sugestivo, brilhante e descomprometido retrato, que fez, de Mário Soares. O que posso afirmar, seguramente, é que Júlio Pomar (1926) continua a ser, dos pintores portugueses vivos, um dos que mais aprecio.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Pessoana e diplomática, já antiga


"O pobre do Pessoa transformado hoje no drugstore do pensamento nacional."

Marcello D. Mathias, in Diário da Índia - 1993- 1997 (Gótica, 2004).

sábado, 12 de outubro de 2013

Divagações 57


Se um poema breve pode provocar, num leitor atento, um coup de foudre instantâneo e fulminante, um extenso poema, se for bom, é como uma flor que se vai abrindo, lentamente, e nos vai conquistando, pouco a pouco, pela sua beleza. É o caso, por exemplo, de Anabase, de Saint-John Perse, ou do fragmento inacabado de  Endymion ("A thing of beauty is a joy forever..."), de John Keats.
Li, hoje, para alguém muito jovem, e em voz alta, o poema Tabacaria, de Fernando Pessoa. Eu próprio fui sendo envolvido nos seus versos, apesar de já o ter lido muitas vezes. E o poema envolveu, também, a juventude de quem o ouviu. Mesmo que o Dono da Tabacaria (com maiúsculas iniciais, no original) seja Deus (como alguns sugerem), não é por isso que este longo poema de Pessoa nos conquista. Algo de mais profundo se insinua, apesar do dramático final:

                                                                      "..., e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu."