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segunda-feira, 3 de abril de 2017

Litorais a Oeste


Mais do que a zona ribeirinha de Cacilhas, que poderia ter outro melhor aproveitamento, a praça central de Porto Brandão, junto ao Tejo, apresenta ainda um aspecto mais confrangedor de ruína e abandono. Carreiras de barcos, de e para Belém, são de hora a hora e acabam às 21h00, os cães preguiçam deitados no chão, velhos circulam lentamente e alguns jovens, na única esplanada aberta, vão apanhando o Sol que podem.



À retaguarda a mesma desolação impera, ganha apenas pelo silêncio da tarde quente que mais parece de Junho do que de Abril. Por todo o lado há traços de actividades extintas e indústrias marítimas que se perderam para sempre. No cais esburacado dois pescadores e uma pescadora lançam a linha sobre o rio quase quieto onde várias taínhas rebrilham em reflexos sinuosos sob as águas. 



E até a garça, inesperada e vigilante sobre o Tejo, depois de se deixar fotografar por nós, se foi embora daquelas paragens, que pouco ou nada já podem oferecer.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Paisagem interior


A noite sabe a laranjas e afecto. E a farturas, acabadas de fritar, na praça plena de esplanadas e toldos brancos, onde a estátua metálica do cubo e da esfera ficou sumida na fotografia. Aqui parava eu, há muitos anos atrás, antes de regressar a casa. Vinha sozinho, quase sempre e, nem sempre, o pôr-do-sol era este esplendor no fim do dia. Este róseo e azul suave sobre as águas tranquilas.
Mas hoje estou com eles, ou melhor, com tudo o que vai ficar deste meu sangue paterno e ancestral, ao mesmo tempo - o que trago, o que deixo. Antigo presente futuro. O dia, todo ele, se inscreve ameno e feliz, na minha vida.

sábado, 7 de janeiro de 2012

A força das águas


Em finais dos anos 60 (Novembro de 1967, creio) experimentei, pela primeira vez, a grande força das águas, ao ter de atravessar a Av. Fontes Pereira de Melo, em Lisboa. A avenida parecia o leito de um rio enfurecido, fortíssimo e caudaloso, pelas grandes chuvas que tinham caído. Consegui fazer a travessia, mas a muito custo.
Depois, recordo as duas únicas vezes em que senti verdadeiro medo. Nos anos 70, no alto mar de Esposende, mês de Agosto e de madrugada, a bordo de uma frágil traineira. Cheguei a terra completamente ensopado em água salgada e a tremer de frio (e medo?). Da segunda vez, em finais dos anos 80 (1988?), numa simples travessia fluvial (Cais do Sodré-Cacilhas), em que o cacilheiro em que eu seguia andou à deriva durante mais de meia hora. Dentro do pequeno barco, só se ouviam rezas e choros. Quando conseguimos, finalmente, aportar a Cacilhas, esperavam-nos bombeiros, 2 ambulâncias e muitos populares curiosos, alguns deles, familiares dos passageiros, aflitos. E, mesmo assim, tivemos de saltar do barco para o cais, porque o cacilheiro não parava quieto, pela fúria do Tejo...
Ora, o meu amigo AVP, em retribuição da dedicácia que lhe fiz, no poste sobre as naus portugueses dos decobrimentos, teve a amabilidade de me enviar um vídeo, onde é bem visível a ira das águas e as vicissitudes por que passam, tantas vezes, os homens do mar. Pelo testemunho impressionante que representa, aqui fica. 

quarta-feira, 30 de março de 2011

Divagações 3


A chuva oblíqua tinha-me vindo de outra realidade. Que não do Pessoa, decerto, mas de uma raíz mais prosaica. E, do excesso, é sempre bom ter um bocado. Para momentos de heroísmo, de irreflexão, ou amores impossíveis. Para abrir, romper a rotina, sermos outros instantes sobre a vida - e não nos repetirmos sempre.

Há muito tempo, e no cais, o homem grisalho teria dito, quase ao pé de mim: "...o barco saíu daqui, com boa manobra e tudo..." - como dois versos perfeitos separados pela vírgula. Pensei, na altura, que era um belo começo de poema. E tomei nota das palavras, num pequeno papel, que perdi. Mas nunca consegui continuá-las...