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quinta-feira, 21 de março de 2019

Pois façamos-lhe o gosto, que hoje é dia d'Ela...


a Heitor da Silveira *

Ceia não a papareis;
Contudo, por que não minta,
Pera beber achareis,
Não Caparica, mas tinta,
E mil coisas que papeis.
E vós torceis o focinho
Com esta anfibologia?
Pois sabei que a Poesia
Vos dá aqui tinta por vinho
E papéis por iguaria.

Luís de Camões (1524?-1580).


* de um banquete dado, na Índia, por Camões aos seus amigos. A que se seguiu um certame poético... E não há nada como o bom humor camoneano, para não levar as coisas demasiado a sério. Mesmo estas comemorações um pouco forçadas. Neste caso, pela Unesco, que até merece a nossa consideração.
Em tempo, Caparica já foi zona de bom vinho, e até Francisco Manuel de Melo o louvava.

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Bibliofilia 170


Fernão Rodrigues Lobo Soropita (sendo que este último apelido seria uma alcunha) terá nascido em Leiria, por volta de 1560, e falecido depois de 1606. São escassos e incertos os dados biográficos do autor, sendo certo, no entanto, que estudou Leis em Coimbra, exerceu advocacia em Lisboa e, em 1595, fez publicar pela primeira vez as Rimas, de Camões. Por seus escritos se sabe que foi partidário de D. António, Prior do Crato. Provavelmente, Soropita terá professado no final da sua vida.
Em 1868, Camilo Castelo Branco, detentor de um manuscrito com obras do escritor, talvez oriundo do Mosteiro de Tibães, editou, na Livraria Nacional (Porto), as Poesias e Prosas Inéditas, de Fernão Rodrigues Lobo Soropita, com prefácio competente e digno de ser lido para melhor compreensão da obra do leiriense ilustre.
As poesias publicadas revelam um escritor mediano, com versos que reflectem alguns acentos camoneanos, mas auguram também um certo barroquismo nascente; as cartas, em prosa, é que são mais interessantes, de ritmo movimentado, pitorescas e com humor.
O livro, que não é raro, não aparece à venda, com muita frequência. Não tenho apontamento sobre o preço por que adquiri a obra, que tem falhas na capa, mas foi restaurada eficazmente por HMJ. E o único exemplar que se encontrava à venda, na Livraria Trindade (rua do Alecrim, 32-36), estava anunciado a 40 euros, recentemente, segundo pesquisa que fiz na net. 

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

As diferenças de grau e o sentido crítico, ou a eterna infância


Por extremo limite e desatenção flagrante, ou por amável estultícia infantil, é claro que podemos meter no mesmo saco, de Poesia, António Aleixo e Luís de Camões. Em cinema, não fazermos distinção entre  Ed Wood e Kubrick. Umberto Eco e Dan Brown, na ficção histórica. A noção de qualidade é, ou devia ser, uma exigência de quem cresce. A sua ausência denota, também, a inexistência de sentido crítico e a eternidade inocente de algumas infâncias que se perpetuam, para felicidade  pueril e inefável dos seus donos...

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Mera constatação


Num período inferior a 24 horas, o Arpose recebeu duas visitas institucionais: ontem, às 13h42, da Secretaria-Geral do Ministério de Administração Interna e, hoje, às 11h11, da Direcção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência. É provável e lógico que tenha havido um passa a palavra...
Ambas as visitas se dirigiram ao poste do Arpose: O bom humor de Luís de Camões, de 8/5/2011. Pese embora o Entrudo já ter terminado há uns dias atrás, louve-se este interesse institucional pelo nosso Épico maior, que mereceu o interesse e atenção de quem se debruça sobre o nosso passado, com desvelado carinho.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Como tornar-se iletrado e analfabeto em curso intensivo do Google e quejandos, na Net

Quando reabro, aqui no Arpose, o recentemente postado vídeo dos R. E. M. (At my most beautiful) surge-me, quase invariavelmente, logo no primeiro minuto da audição, ao fundo, um rectângulo impertinente e publicitário. De algum modo, já estou habituado, porque os marcanos aproveitam tudo para ganhar dinheiro...
Mas desta vez, excederam-se. O título é exemplar: Problemas De Próstrata - assim mesmo! E o resto do anúncio não destoa deste português reles, inicial.
Deve ser, em linguagem de ervilhaca, de que falava Camões, na sua carta da Índia, algum remédio para tratar dos Prós... Está muito bem.
E não pensem que isto tem a ver com o A. O.. Quando muito, é mais uma das traduções hilariantes do inefável Google, em conúbio foleiro com o Youtube. Para ganhar dinheiro, sem olhar a meios.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

José Saramago a Carlos Reis, com alguma ironia


Eu escrevi há anos um prefácio para uma exposição de retratos de Fernando Pessoa, prefácio que eu aliás meti nos "Cadernos de Lanzarote" este ano, e chamei-lhe "Da impossibilidade deste retrato". A certa altura digo, de Pessoa e também de Camões, que eles vão a caminho da invisibilidade. O Camões transformou-se numa coroa de louros e num olho fechado; e o Fernando Pessoa é um chapéu, uns óculos e um bigode. Vão a caminho da invisibilidade. E é assim que falamos de grandes autores porque sim, porque são grandes autores; mas isso não implica que estejam a ser lidos.

Nota: a citação acima foi colhida na obra Carlos Reis/ Diálogos com/ José Saramago (Caminho, 1998). Livro que recomendo, vivamente.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Perguntar


É o homem que faz o tempo, ou a época que faz o homem?
Se "Os Lusíadas" e a "Peregrinação" acompanharam, de algum modo, o dinamismo português do seu tempo, que dizer da obra maior de Pessoa, gerada num período nacional (quase todo ele) baço e parado, restritivo, talvez desinteressante, até?
E agora?

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Osmose 58


Transforma-se o amador na coisa amada. (Camões)

Sinto as escadas que se abatem sob a minha subida lenta dos degraus - trago alguns anos comigo -  e, a meio, ouço a voz que reconheço de há muito, na sua frescura louçã.
É quando os olhares se cruzam que me vejo a subir e a assomar: primeiro, a cabeça, depois, os ombros; gradualmente, o corpo todo, inteiro e de outrora. Reflectido por outros olhos, em mim. Como se fora um espelho real. Todavia, inexistente.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Um título, no jornal de hoje


Para a música pimba, a formação não é indispensável. E também é sabido como o anterior governo considerava a Cultura. O retoque da passagem de Secretaria a Ministério, recentemente, creio que denuncia apenas um malabarismo na maquilhagem. A menos que esta notícia da "apagada e vil tristeza" portuguesa, de que falava Camões, venha ser corrigida nos próximos dias, na realidade.

sábado, 31 de outubro de 2015

Filatelia CVIII


Em menos de 20 anos, a Primeira República não se esqueceu dos escritores portugueses e lembrou, em cuidadas emissões filatélicas, Luís de Camões, em 1924, e Camilo, em 1925, pelo centenário do seu nascimento. Ambas as séries, de 31 valores, foram executadas a talhe doce pela Waterlow & Sons (Londres), com base em desenhos de Alberto de Souza. Dos selos, em imagem, ficam algumas taxas das emissões.
À ditadura do Estado Novo, mais do que a literatura interessava-lhe celebrar a História. Nos seus 48 anos de vigência, os CTT, se não estou em erro, lembraram apenas Bocage, pelo seu 2º centenário (1966), e, anteriormente, em 1957, dedicaram emissões a Cesário Verde e Almeida Garrett. Chegamos assim ao 25 de Abril, com a temática Escritores Nacionais, composta por apenas 5 séries de selos. Não foi muito...
Nos últimos anos, pode dizer-se que o programa dos CTT tem sido pródigo em lembrar as figuras literárias portuguesas. Mas não deixa de ser curioso que, um dos mais conhecidos, lidos e populares dos escritores, Eça de Queiroz, tenha tido que esperar pelo ano 2000, para ser homenageado pelos Correios Portugueses, na passagem do centenário da sua morte.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Um lustro, com poesia à mistura...


Como dizia Antonio Machado, "o caminho faz-se andando...", muito embora, e ao longo destes cinco anos, tenha havido encruzilhadas, esmorecimentos temporários, hesitações.
Lembrar Wordsworth (Five years have past; five summers with the length/ of five long winters! And again I hear...) não será bem o retrato do que tem sido, porque há, também, a benefício de inventário: 249.264 visitas, até agora, e 6.935 (com este) postes colocados.
Neste 5º aniversário do Arpose, quero agradecer as colaborações (directas e indirectas), manifestando a nossa gratidão a quem nos acompanha diariamente, e àqueles que, com os seus amigos comentários, nos vão estimulando a prosseguir.
Oxalá, daqui por 2 anos, eu possa vir a citar Camões: "Sete anos de pastor Jacob servia..."

terça-feira, 22 de julho de 2014

Divagações 70


"Perdigão perdeu a pena  / não há mal que lhe não venha...", dizia Camões que, pelas medidas de hoje, não morreu velho - atendendo aos dados de que dispomos, não terá chegado aos 60 anos. Sena, que morreu com 58, no seu magistral conto Super Flumina Babylonis, deixa supor que Camões sofria de dores na próstata, ou que alguma blenorragia, mal curada, lhe afectava as partes, de forma dolorosa e cruel, nos seus últimos dias.
Conto a generosidade das primaveras e verões, pelos fins de tarde que passo na varanda a leste. E, este ano, tenho de concluir que o tempo foi avaro. Porque posso enumerar pelos dedos, os dias que vi a esvairem-se, pela noite dentro, e as aves, em voos finais, a despedirem-se da luz. E já vamos no fim de Julho, com dias cada vez mais pequenos.
Terminaria, um pouco a propósito, com a epígrafe de um livro que não há:

Aqueço-me ao vagar da minha sede
por onde a arte é mais triste...

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Retro (38)


Quando, folheando uma revista, deparei com este reclamo de 1933, talvez a despropósito, lembrei-me da camoniana e bela canção que começa: Vinde cá, meu tão certo secretário...
Porque, arrumadas cuidadosamente, tenho ainda duas máquinas de escrever, de boa recordação, mas que já não uso há anos. Da Remington portátil fiz-lhe uso intenso mais de 30 anos. Mas iniciei-me, laboriosamente, numa antiquíssima Smith Premier (Syracuse, U. S. A.), ainda com duplo teclado (maiúsculas e minúsculas), que, nas palavras de um conhecedor, terá sido a segunda marca de máquinas de escrever importada para Portugal. Quase uma peça de museu, portanto.
Como, aliás, serão todas as máquinas de escrever, hoje em dia...

sábado, 9 de novembro de 2013

De Luis de Camões, um soneto


Conversação doméstica afeiçoa,
ora em forma de boa e sã vontade,
ora de uma amorosa piedade,
sem olhar qualidade de pessoa.

Se depois, porventura, vos magoa
com desamor e pouca lealdade,
logo vos faz mentira da verdade
o brando Amor, que tudo, enfim, perdoa.

Não são isto que falo conjecturas,
que o pensamento julga na aparência,
por fazer delicadas escrituras.

Metida tenho a mão na consciência,
e não falo senão verdades puras
que me ensinou a viva experiência.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Uma louvável iniciativa (21)


Começando hoje e ao longo das próximas terças-feiras, o jornal Público, em estreita colaboração com a Biblioteca da Universidade de Coimbra, irá publicar e fazer acompanhar o diário de algumas edições fac-similadas das impressões originais de obras marcantes da Literatura Portuguesa, que os leitores poderão adquirir, por preço módico.
A iniciativa abriu com a reprodução integral, hoje, da dita 1ª impressão de "Os Lusíadas" (1572), pelo preço imbatível de 1,95 euros. As obras seguintes serão, no entanto, mais caras: 5,95 euros. Seja como for, é uma bonita e útil iniciativa que se deve acompanhar e destacar, com agrado.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Os defensores do Templo


No passado dia 10 de Junho, e na BNP que abriu propositadamente para o efeito, o Prof. Dr. João Alves Dias deu-nos notícia da existência, muito fundamentada, de uma nova versão do primeiro poema impresso de Luís de Camões, incluído no Colóquio dos Simples e Drogas da Índia, de Garcia de Orta, editado pela vez primeira em Goa, no ano de 1563. A comunicação do Investigador serviu de bom prefácio à exposição que a BNP inaugurou. Tive o grato prazer de assistir.
Hoje, no DN, Vasco da Graça Moura saíu-lhe à estocada, pelo feito.
Camões sempre teve os seus Sumo-sacerdotes que, mal ou bem, lhe defenderam o Templo. Refira-se que os bons pastos são poucos e muitos os pastores...
Quando Jorge de Sena, nos anos 60, começou a estudar Camões, o Sumo-sacerdote Pimpão, saíu-lhe ao caminho de cajado em punho, verberando-lhe a ousadia. E tentou fazer-lhe a vida negra, até no Brasil.
Entre a generosa inclusão de Hernâni Cidade e a usura exclusiva de Costa Pimpão, vão dezenas e dezenas de páginas, e  a obra camoniana tem dado para tudo, pela sua grandeza.
O mesmo vai acontecendo com a pessoana da arca sem fundo. Também aqui há alguns Sumo-sacerdotes.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Camões


Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida. 
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.

Os Lusíadas, Canto X, 145.

terça-feira, 12 de março de 2013

Pergunto eu


E se a desestruturação do Ensino, de uma forma geral, se insere, não num acaso facilitista e estatístico, mas numa estratégia política subtil e estudada, que visa provocar um regresso à ignorância, à barbárie, à iliteracia e à incultura servilista, que transforme gerações e gerações de jovens em futuros escravos? Pela anulação do pensamento.
Há dias, um conhecido empresário multimilionário português auto-reformado (que se vai dedicar à cultura de kiwis, no Norte), em entrevista, contava que, na escola primária, o seu competente professor não deixava passar e chumbava os alunos que dessem um erro ortográfico(?!) no ditado da prova final do ano. A minha experiência escolar, não sendo tão exigente nem fundamentalista, foi quase semelhante.
O que andamos para trás, deus meu!? Se não, compare-se o que era a escrita escorreita, clara, o discurso arrumado de antigamente, com estas duas search words que, recentemente, nos chegaram ao Arpose:
- "como cohe cer pinto o ke e galo ou oke e galiha" (sic).
- "joao chereno pe de o gen" (sic).
Que raio de "linguagem de ervilhaca"(Camões) será esta?

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

De um diário imaginário


Chove e relampeja. O comissário da Cultura parece que pediu escusa, por motivos de saúde, para sair do Governo. Mas já deve ter motivos suficientes, com a experiência que teve, para escrever alguns romances policiais cujo homicídio central tenha sido provocado por asfixia. E parece-me ser uma atitude avisada, profilática, agora que este governo atingiu os píncaros de popularidade... Não quero falar de ratos, nem de navios.
Continua a chover neste Outono do nosso descontentamento. E percebo, num momento de clarividência súbita, como e porque a maior parte dos filósofos europeus nasceram a Norte. Como eles são escassos em Portugal, na Espanha, na Itália... A Grécia é a excepção, mas na Antiguidade. Quando a Cultura floresce, todo um povo mostra o seu melhor, nas artes, nos ofícios e nas ciências.
Esta incomodidade, que hoje sentimos, mas que vem de longe, deve ter-se transformado, ao longo dos  séculos, na bem conhecida melancolia à portuguesa. Ou para mais uma vez citar Camões, nesta "apagada e vil tristeza". A que nos tem condenado o termos sidos governados, tantas vezes, por videirinhos, oportunistas, miguéis de vasconcelos, carreiristas...eu sei lá!
Sobram-nos poetas, e continua a chover.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

"Polas ribeiras dum rio..."


No cofre-forte, que era biblioteca, não se encontrava Bernardim nem Sá de Miranda, mas havia Camões, Torga e Botto, os dois últimos em primeiríssimas edições. E, como jóia da coroa, um pequeno fragmento iluminado do índice do "Leal Conselheiro", manuscrito, muito embora D. Duarte nunca por ali tivesse andado, que ele era mais de Leiria e do Lis, de Belas e da melancolia.
Da ampla sala, por cima dos livros, víamos do Guincho, quase até ao Cabo da Roca, que se adivinhava: todo o horizonte largo era de mar. Bernardim dissera: "Hiasse polas ribeiras...". E, realmente, antes, tinhamos passado pela ribeira de Barcarena, com nevoeiro, a da Laje, por entre chuviscos, a de Caparide, e já se viam embrulhados em neblina os píncaros de Sintra. No regresso, passaríamos ainda pela ribeira das Vinhas, que mal se via da estrada.
Vegetação acachapada e rasteira que ia crescendo, gradualmente, até se ver Lisboa, onde as ribeiras engrossavam o Tejo, para ele se entregar ao mar, no fim de tudo.