quarta-feira, 29 de agosto de 2012

"Polas ribeiras dum rio..."


No cofre-forte, que era biblioteca, não se encontrava Bernardim nem Sá de Miranda, mas havia Camões, Torga e Botto, os dois últimos em primeiríssimas edições. E, como jóia da coroa, um pequeno fragmento iluminado do índice do "Leal Conselheiro", manuscrito, muito embora D. Duarte nunca por ali tivesse andado, que ele era mais de Leiria e do Lis, de Belas e da melancolia.
Da ampla sala, por cima dos livros, víamos do Guincho, quase até ao Cabo da Roca, que se adivinhava: todo o horizonte largo era de mar. Bernardim dissera: "Hiasse polas ribeiras...". E, realmente, antes, tinhamos passado pela ribeira de Barcarena, com nevoeiro, a da Laje, por entre chuviscos, a de Caparide, e já se viam embrulhados em neblina os píncaros de Sintra. No regresso, passaríamos ainda pela ribeira das Vinhas, que mal se via da estrada.
Vegetação acachapada e rasteira que ia crescendo, gradualmente, até se ver Lisboa, onde as ribeiras engrossavam o Tejo, para ele se entregar ao mar, no fim de tudo.

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