domingo, 12 de agosto de 2012

Diversos planos, ou por outros olhos


Não é grande a minha experiência de tribunais. Creio que conheci, ao longo da minha vida, apenas 4 ou 5 salas de julgamento. A disposição do espaço obedece a, pelo menos, 2 níveis, que o arquitecto da obra, logo de início, deverá ter tido em consideração, ao fazer a maqueta.
Mas, até psicologicamente, a visão que têm o réu, a(s) testemunha(s), o juiz ou juízes, os advogados de acusação e defesa hão-de ser muito diferentes, entre si, em relação a este espaço de debate, decisão e justiça. Escuso-me a imaginá-los, ou avançá-los.
Agora, a visão que pode ter um cineasta é que pode ser única e muito singular. E não resisto a transcrever as palavras do realizador português Fernando Lopes (1935-2012) sobre como via esse espaço. Disse ele:
"...Uma coisa é curiosa: existem dois olhares num tribunal. Explico isto cinematograficamente: os juízes estão no topo, num palco. Do ponto de vista cinematográfico, os juízes têm o plangê, ou seja, têm o olhar de Deus por cima deles e olham para baixo, para os outros. Os advogados e os acusados olham de baixo para cima para os juízes. Nunca se olha à altura do homem. ..."

com agradecimentos a c. a..

4 comentários:

  1. "Os tribunais são os órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do povo", diz a Constituição. É esta ideia que determina a "situação" dos juízes, também na sala de audiências (mesmo que, de quando em vez, alguns pareçam não ter consciência disso...) :-)

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  2. Necessariamente, cada um verá à sua maneira, muito embora esta disposição cénica (de Fernando Lopes) introduza uma abstracta ironia sobre a arquitectura, eventualmente, pesada e dramática..:-)

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  3. Plongé (os juízes), não será?
    Não resisto a resumir aqui uma história minhota de juiz e advogado (verdadeira), em que o segundo alegava, com alguma liberdade, e o primeiro interrompia-o, com respeito:
    - "Senhor doutor, esta secretária está mais alta do que essa"...
    E o advogado responde, nada impressionado com o aparte:
    - "Senhor Dr. Juiz, mero erro de carpintaria"!

    A.M.

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  4. Pouco familiarizado com a linguagem cinematográfica, meu caro Albino M., limitei-me a transcrever a frase de "O Advogado visto por..." (CDL, 2005),pg.60. O livro, aliás, tem várias gralhas. Agora que levantou a questão, fui ao Larousse. Deverá ter razão, a palavra deverá ser "plongée".
    Agradeço também a sua saborosa história. Obrigado pela visita!

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