quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A propósito de uma tradução


Em Dezembro de 2009, dediquei algum do meu tempo livre à tradução de 3 poemas de W. H. Auden (1907-1993). Aquele que me deu mais trabalho e preocupação foi, sem a menor dúvida, "Funeral Blues", de 1936, que inicialmente, integrado em "Twelve Songs", se intitulava "Song IX". Em 1975, Auden mudou-lhe o título para: "Tell me the truth about love". Seja como for, considero o poema como uma das mais belas elegias do séc. XX.
Dois dos poemas, que traduzi, vieram a ser incluídos no blogue amigo Prosimetron, em 1 de Janeiro de 2010 ("A. S.: Escolhas Pessoais XII"). "Funeral Blues" é, provavelmente, o mais conhecido poema de W. H. Auden, graças à sua inclusão e leitura no filme "Quatro Casamentos e um Funeral" (1994), muito embora eu não goste, particularmente, da forma como ele é dito na película. Mas acredito, também, que não será fácil dizê-lo, com autenticidade e perfeição.
Penso que chegou a altura de o re-publicar aqui no Arpose, até para que fique a constar do arquivo do Blogue. A revisão a que procedi, aconselhou-me a alterar, apenas, algumas palavras, na tradução. Segue o poema traduzido e um vídeo alusivo, da BBC 4.

Funeral Blues

Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Evitem que o cão ladre, com um osso saboroso,
Silenciem os pianos e ao som cavo de tambores
Tragam o caixão, deixem entrar quem vier de luto.
Que os aviões possam gemer sobre as nossas cabeças
Escrevendo no céu a mensagem Ele Está Morto.
Ponham crepes, tarjas negras no pescoço branco dos pombos
Da rua, que os sinaleiros usem luvas pretas de algodão.
Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Leste e Oeste,
A semana de trabalho e o descanso de domingo,
O meio-dia, a meia-noite, a minha fala e canção;
Eu pensava que o amor era eterno, mas estava enganado,
Agora as estrelas são inúteis: apaguem-nas todas;
Embrulhem a lua, desmantelem o sol;
Despejem o oceano e desfaçam-se da floresta
Porque nada do que vier servirá de consolo.




6 comentários:

  1. É um poema extraordinário. A tradução é belíssima.
    Mas eu tenho um terror horrível da morte... não da minha, mas de perder pessoas de quem gosto. O que me faz lembrar uma citação, bem mais prosaica, de A. A. Milne (Winnie de Pooh): “If you live to be a hundred, I want to live to be a hundred minus one day so I never have to live without you.”

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  2. Sendo prosaica, a citação é perfeita como sentimento humano, que quase todos experimentámos, em relação a algumas pessoas que nos são queridas.
    Obrigado, Margarida.

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  3. Já coloquei esse poema no meu blogue ( em português ).
    Acho-o muito bonito.

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  4. Concordo consigo, Isabel, é uma bela elegia. Fui ver a tradução no seu Blogue: discordo de algumas opções da tradução e também acho mal resolvido o verso final. Mas uma tradução de poesia tem sempre opções subjectivas e discutíveis.

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  5. Eu também acho este poema belíssimo. Faz parte da minha liste de poemas preferidos, assim com Auden está entre os poetas que leio mais frequentemente.
    Gostei da sua tradução.
    Conheço mais duas traduções para português, mas prefiro a de Maria de Lourdes Guimarães à de José Agostinho Baptista. E gosto deste poeta.

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  6. Muito obrigado, MR. Auden tem sido minha "leitura de fundo", nas últimas semanas. Tenho pena que grande parte da obra seja composta por poemas longos porque, se não fosse, "arriscava" mais algumas traduções, para além das que tenho feito, de poemas curtos.

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