quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A par e passo 7

A inferioridade do espírito mede-se pela grandeza aparente dos objectos e circunstâncias de que tem necessidade para se emocionar. E sobretudo pela enormidade das mentiras e de ficções de que precisa para não ver a humildade dos seus meios e dos seus desejos.
...
O despertar dá aos sonhos uma reputação que eles não merecem.
...
A criança e o distraído tocam, mexem naquilo que está à mão, - fechaduras, torneiras; abrem os armários, etc.
Os dentes comem os lábios, - o bigode - as unhas. O pensador arranha a testa.
Quando a alma está ausente, as partes do corpo não se reconhecem mais como partes do mesmo. São bestas que magoam; que actuam cegamente, à menor excitação, sobre a única coisa que sabem fazer.
O Mesmo não existe senão por momentos.
O sério perde-se no sensível ou no vago.
As crianças preferem brincar entre elas, porque entre elas, o sério acontece, elas estão de pedra e cal no sério.

Paul Valéry, in Tel Quel (pgs. 111, 120, 125).

Sem comentários:

Enviar um comentário