sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Tempo de lembrar Drummond


Comunhão  

Todos os meus mortos estavam de pé, em círculo,
eu no centro.
Nenhum tinha rosto. Eram reconhecíveis
pela expressão corporal e pelo que diziam
no silêncio de suas roupas além da moda
e de tecidos; roupas não anunciadas
nem vendidas.
Nenhum tinha rosto. O que diziam
escusava resposta,
ficava parado, suspenso no salão, objecto
denso, tranquilo.
Notei um vazio na roda.
Lentamente fui ocupá-lo.
Surgiram todos os rostos, iluminados.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), in A Falta que Ama.

Nota: o Poeta morreu a 17 de Agosto de 1987.

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