quinta-feira, 30 de abril de 2020

Título do dia


Não posso crer!? Privatizações, ou quase? Mundo às avessas, como Camões glosou?
Será um presente filantropo dos empresários aos trabalhadores, em vésperas do 1º de Maio?
Não me ocorre senão citar Fernando Assis Pacheco (1937-1995): Não posso/ com tanta ironia.

Citações CDXXXII


Detesto a originalidade. Evito-a o mais possível. É necessário empregar uma ideia original com as maiores precauções para não ter o ar de quem está a usar um fato novo pela primeira vez.

Jean Cocteau (1889-1963), in Opium.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Revivalismo Ligeiro CCXLVIII



Cheguei aqui vindo da página 129 de Nome de Toureiro, de Luis Sepúlveda, que assim escreveu:

Auf die Repperbahn nachts um halb eins*... Sabes quem canta, velha patagónia?
- Como hei-de eu saber, don Franz?
- Hans Albers. Era como o Carlitos Gardel. As mulheres mijavam-se por ele.
- E de que fala a canção, don Franz?
- De uma rua de Hamburgo com mais putas que as ovelhas de cá. Linda rua. Rua muito linda.
- O senhor está muito esquisito, don Franz. E porcalhão. O melhor é não beber mais vinho.
- São brincadeiras, velha bigoduda. Bebe vinho também. Temos de falar, mas antes repita...

* o título da canção, na tradução portuguesa, vem errado. Correcto é: Auf der Reeperbahn...

Natureza viva...


... com frésias e sardinheiras (gerânios), ao fundo.

terça-feira, 28 de abril de 2020

Pinacoteca Pessoal 164


Épocas demasiado pródigas em artífices de grande qualidade prejudicam, no futuro, os artistas de segunda água que, muitas vezes, acabam esquecidos, por os maiores secarem tudo à volta. Será o caso da Renascença, em que só os grandes (Da Vinci, Miguel Ângelo...) são lembrados, com frequência.
De Francesco del Cossa (Ferrara, 1435?-1478, Bolonha) muito pouco se sabe. E da sua obra são sobretudo conhecidos os frescos que realizou para o Palazzo Schifanoia (Ferrara), em parceria com um colega pintor, por encomenda do duque Borso de Este. Reproduz-se, acima, o Triunfo de Maio, que terá sido executado por volta de 1470.


São 12 frescos, com motivos astrológicos, de que, seguramente, Del Cossa pintou três. Os frescos, restaurados recentemente, decoram a Sala dei Mesi do palácio de Ferrara. Em carta, que sobreviveu ao artista, este queixa-se ao Duque italiano, por ter sido mal pago. Na restante obra de Francesco del Cossa, cujo pai era um modesto pedreiro, predominam os motivos hagiográficos e um ou outro retrato, como este último, curioso e intrigante, denominado: Jovem com anel. Alguns quadros podem ser vistos no Museu Thyssen-Bornemisza (Espanha), como, por exemplo, o que representa S. Vicente Ferrer.


segunda-feira, 27 de abril de 2020

Ideias fixas 55


O pensamento excessivamente linear é, com alguma frequência, um obstáculo ao progresso. Acompanha normalmente pessoas muito simples, tementes a deus. E que respeitam a autoridade instalada, acima de tudo.

domingo, 26 de abril de 2020

Trava-línguas dominical



Ontem, tendo visto o essencial das cerimónias do 25/4, dediquei uma boa parte do meu tempo aos pequenos  e interessantes contos encadeados de Nome de Toureiro, de Luis Sepúlveda (1949-2020). Fiz-me acompanhar da voz de Compay Segundo (1907-2003), em pano de fundo de um CD. Ou seja, uma bela parceria da América Central (Cuba) e do Sul (Chile).
E como gosto particularmente da canção Qué lío Compay Andrés, aqui a deixo arquivada, em jeito de trava-línguas divertido e matinal.

sábado, 25 de abril de 2020

Coro Gulbenkian em Casa: Liberdade, poema de Sophia de Mello Breyner



Inadvertidamente, mas com imenso gosto, uma geminação com MR, no seu Prosimetron.

25 de Abril


Felizes as gerações que têm uma data a comemorar. De pequeno, estranhava, no 5 de Outubro, as romagens dos velhos republicanos aos cemitérios para homenagear os companheiros falecidos, no entretanto da ditadura. Estranhava, até que se deu o 25 de Abril.
Tendo sido acto singular e único, como não havíamos de nos repetirmos, ano após ano, nas comemorações? Ou, pelo menos, nas palavras e na simbologia utilizada, já por aqui, no Blogue.
E se seria imperdoável não marcar ou registar a efeméride, voltámos a Pedro Chorão (1945) e  a Armando Alves (1935) pedindo ajuda, mais uma vez, em busca de iconografia adequada a um acontecimento inesquecível, para quem o viveu.


sexta-feira, 24 de abril de 2020

Rão Kyao - um clássico, por outros modos

As palavras do dia (39)


Se há coisas que proliferam, por aí, são os equívocos sobre poesia. Confunde-se e mete-se, normalmente no mesmo saco, a grande Poesia com a pequena, as quadras populares e os versinhos que as crianças fazem na escola e, às vezes, continuam a fazer na vida adulta... E, depois, ainda há os poetastros, de ambos os sexos, que vão publicando edições de autor e poluindo a net com blogues de pretensa e pretensiosa, luxuriante poesia. A que se juntam as arreitadas comentadeiras efusivas batendo palmas histéricas, verdadeiras santanetes desmioladas sem o mínimo de sentido crítico, capaz. É um fartar, vilanagem!...
Ora, hoje, António Guerreiro, na ípsilon, com a ajuda competente de Paul Valéry, põe o dedo na ferida, a propósito de um poetastro, que por sorte (dele) também é eurodeputado, que resolveu fazer umas rimas indigentes, apesar do motivo merecer outra sorte e  dignidade literária...

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Leilões, lá fora


Um rico leilão este que a Christie's levou a cabo, há quase 29 anos, por alturas do Natal, em Londres. Desde manuscritos com iluminuras (séculos XIII, XIV e XV) a cartas de Rilke, Orwell, Napoleão, para além de um importante acervo incluindo correspondência do poeta alemão Heinrich Heine (1797-1856).

Mas eu não poderia deixar de destacar, da almoeda, o lote nº 44, único título português nesse leilão. Um livro muito raro, na sua primeira edição (1616): Arte da Caça de Altaneria, de Diogo Fernandes Ferreira. Que só veio a ter uma segunda edição em 1899. Contam-se aliás pelos dedos os nossos livros sobre cetraria, até meados do século XX.
O volume tinha uma estimativa de venda que oscilava entre 5.000 e 7.000 libras.

Efemérides


Passa, hoje, o que se convencionou chamar Dia Mundial do Livro, a pretexto da celebração da morte de William Shakespeare (?/4/1564 - 23/4/1616). Um dia antes (22/4/1616), que fora, e Miguel de Cervantes poderia servir de patrono.
Se, para a civilização ocidental, quando se diz o Livro, se quer significar a Bíblia e, porventura, para o Islão, o Corão, para nós portugueses, o símbolo maior teria que ser de Camões, Os Lusíadas. Quanto a efemérides, cada qual escolhe a sua.
Convencionalmente...

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Em tempo


Induzido por um sempre bem-vindo comentário de Maria Franco, vou às estantes procurar Arte de Música (1968), de Jorge de Sena. E logo um exergo me chama a atenção. É de Manuel de Falla (1876-1946), e diz: Creo que el arte se aprende, pero no se enseña.
Eu acrescentaria: bem como a estética do bom gosto, assim como o sentido crítico.

para Maria Franco, particularmente.

Miscelânea matinal outrabandista


1. À vontade, pela raridade dos carros agora, o gato preto vadio que costuma albergar-se por baixo das viaturas, quando chove, ou no tejadilho dos automóveis, para se aquecer quando o dia é frio mas soalheiro, prantou-se, hoje de manhã, mesmo no meio da estrada, diletante e  despreocupado, ocupando o terreno...

2. Taralhouca, talvez também pela forçada reclusão, a senhora de "paupérrimas feições" e já de idade, demorou que tempos para atinar com as moedas para pagar o jornal e as raspadinhas, no postigo de acrílico do quiosque a que o Ricardo atende, sem máscara nem luvas.

2. Desolado pela qualidade já perdida, o meu amigo C. S. abriu um dos seus últimos Barca Velha, de 1991 - imprestável, disse-me por telefone. Mais sorte tive eu, que experimentei, da zona do Cartaxo, um modestíssmo branco Rendeiro, a acompanhar o caseiro e saboroso Bacalhau à Gomes de Sá, e cujo rótulo, perigosamente, nem a data de colheita tinha. Bem agradável estava o vinho! Teria Tália? Vital? Fernão Pires tinha no lote, com certeza.

4. Diz-me um Fabiano, em apreciação aparentemente efusiva (o farsante!), que gostou imenso de uma pequena (4 m. e 17 s.) obrinha musical, aqui no Blogue. Só que o dito esteve apenas 56 segundos a ouvi-la... Que concluir?
Que mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo. Ainda que o mentiroso seja um chico-esperto oportunista e burgesso.

5. Entretenimento pueril, vou 4 ou 5 vezes, por dia, à varanda a sul, para contar a bicha que serpenteia à porta do pequeno supermercado outrabandista. A fila nunca ultrapassou as 12 pessoas, pelo menos, até hoje, que eu visse. Mas cada vez há mais mascarados. Até parece que estamos já muito próximos, outra vez, do Carnaval.




Liszt / Gilels



Sendo um encore, no Arpose, de uma peça dos Grandes Estudos..., de Franz Liszt (1811-1886), é  porém inédita, no blogue, esta interpretação pelas mãos do talentoso pianista russo Emil Gilels (1916-1985).

terça-feira, 21 de abril de 2020

Retro (108)


O que dantes tinha, publicitariamente, um lado sério e credível, ou era quase um axioma científico, desperta em nós, hoje, no mínimo, um olhar risonho pelos ingénuos métodos utilizados.
Mas como, no momento presente, os curandeiros e charlatães proliferam na net, a darem-nos conselhos sobre a pandemia, este anúncio tem pleno cabimento.
Até por que pululam por aí montes de almas simples que precisam, desesperadamente, de certezas, de psicólogos, de livros de auto-ajuda ou de blogues edénicos (das Fernandes, das Milhazes...) para  sobreviverem ao cataclismo que inundou as suas existências desprotegidas...
E  porque a banana madeirense, embora maneirinha, é das mais saborosas que eu conheço.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Osmose 114


Haja empatia, mesmo que irracional, delicadeza por um ocasional primeiro contacto ou afinidade, e todos acabámos por nos darmos a conhecer, mais ou menos, quando em convívio. Às vezes, errámos, por benevolência, excesso de democracia, caridade ou ligeireza: vem ao grupo alguém que não tem nada a ver connosco, e que, por gentileza urbana, inicialmente, não temos a coragem de sacudir... Tentamos dar a entender a inconveniência dos seus propósitos, por pequenos sinais, mas a limitação mental do freguês (ou freguesa), que é bronco, impertinente ou burgesso, não lhe permite perceber e, por isso, não nos desampara a loja, de imediato. Ou porque gosta de se fazer ouvir noutros universos, que não são os seus, nem serão nunca.
Como diria Torga à filha, a propósito de VGM: quem compra o campo, também compra as pedras.

Últimas aquisições (23)


Desta vez, os livros usados não vieram das Portas de Santo Antão, da Calçada do Carmo ou da rua da Misericórdia, nem mesmo das mesas ou estantes da rua do Alecrim, nº44, em Lisboa, que eu costumo frequentar com mais assídua e longinqua fidelidade bibliófila. A clausura sanitária não permitiria a minha escolha local física e sempre agradável. Mediadas por um carteiro afável, as quatro obras de Luis Sepúlveda provieram da rua Formosa (Porto), e da Livraria Lumière, mais concretamente. E chegaram hoje.


domingo, 19 de abril de 2020

Uma fotografia, de vez em quando... (139)


Nascido na Califórnia, em 1988, o norte-americano Philip Montgomery pertence à nova geração de fotógrafos profissionais, muito embora tenha já uma longa carreira. Tem vindo a trabalhar para  a Vanity Fair, The New Yorker, entre outras publicações, algumas das quais estrangeiras (The Guardian, por exemplo).
Foi-lhe atribuído o prémio World Press Photo em 2019. 



Retratista talentoso, alguns dos seus instantâneos são famosos e reconhecidos. A sua actividade, ultimamente, ancorou-se na realidade da pandemia e no dia a dia dos hospitais norte-americanos.


Para responder a MR



Num comentário a um pequeno vídeo de música de Telemann, que muito recentemente surgiu no Arpose, MR perguntava se Eugénio de Andrade (1923-2005) gostaria da obra do compositor. Não creio que ele alguma vez o citasse, mas refere, que eu me lembre, Bach, Beethoven, Haydn e Schubert. E tem também um poema dedicado à memória de Webern. Em Obscuro Domínio (1971), no poema Envio, Eugénio de Andrade escreveu na terceira estrofe:

A Mozart
que escreveu o Alegretto do Concerto em Sol
(K. 453) à memória de um estorninho.

W. A. Mozart era por isso também uma das referências do Poeta.
É esse andamento que aqui surge interpretado, ao piano, por Maria João Pires.

Especialmente dedicado a MR, com as melhores lembranças.


Reabastecimento


Desabituadas a andanças mais prolongadas, ultimamente, as pernas começam mais cedo a claudicar. Próximo, o banco de cimento camarário convida-me a sentar, o que dá para notar os inúmeros brotos das velhas oliveiras, em frente, a família voadora das 5 rolas murmurantes e o orvalho perlado das ervas rasteiras. Até deu para ver uma rastejante minhoca esguia e coleante, bichinho que há meses não se me atravessava no caminho. Vem, fresca da chuva, rabiar ao Sol da manhã.
Chega de pausa, ala até ao Mercado!
Já dentro e de longe, aceno ao sr. Mário, que ainda tem o talho vazio pela hora matutina, o alentejano, hoje mascarado, que vende pão de boa qualidade artesanal, trouxe com ele um ajudante. A dona Irene falhou nos morangos, justificando-se com a chuva que, nos últimos dias, os melou de forma imperdoável, mas já tem pêras à venda e meloas temporãs, que só costumam vir em Maio. A banca do peixe está também fresca e abundante. Mas temos o frigorífico bem abastecido do produto.
No regresso, cruzámo-nos com mais uma mascarada, que o cão trouxe a passear pela trela... 

sábado, 18 de abril de 2020

De "Rente ao Dizer"


Eugénio de Andrade (1923-2005), in Rente ao Dizer (Março 1992).

Georg P. Telemann (1681-1767)

Recomendado : oitenta e quatro - Eugénio e JPP


Haverá poucas pessoas vivas, hoje em dia, tão habilitadas como José Pacheco Pereira (1949) para falar de Eugénio de Andrade (1923-2005). Pelo menos nos anos 60/70 do século passado, o seu convívio foi frequente e frutuoso. Por isso, tem duplo motivo a minha recomendação: a leitura da crónica do historiador, hoje, no jornal Público; a revisitação da poesia do Poeta, nestes tempos de provação e cuidado.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Apontamento 133: Por uma nova racionalidade



Paul Klee

Há bastante tempo que se vinha aflorando, em tertúlia particular semanal nossa, que havia qualquer “fim de festa” no ar, sem se saber o que viria a seguir. De certeza apenas “a consciência da vida caótica que o capitalismo engendra”, singularmente expresso por José Gil no seu último artigo:

“Vivemos, neste momento, dois tempos diferentes, em simultâneo: o nosso presente da vida confinada e o tempo da espera que a pandemia acabe. Nem um nem outro, nem os dois sobrepostos, ajudam a agir. Alguns pensam que este período de isolamento deverá ser aproveitado para tomar consciência da necessidade de mudar de vida, recusando voltar à “normalidade”. A normalidade representa o tecno-capitalismo e a vida caótica que ele engendra. (...) Mas mais profundamente, ela mostrou, segundo muitos, a futilidade e o vazio da vida sem sentido em que os povos viviam antes da pandemia”.
José Gil, Público, 13.4.2020

O que se deseja, certamente e de uma forma lúcida, é que a humanidade regresse a uma outra racionalidade, porventura numa retrotopia, palavra que fixei com interesse. O livro de Zygmunt Baumann, com o título Retrotopia está a caminho. Restam, para já, as palavras do autor, ditas numa entrevista ao El País: “Mirar atrás para recoger no significa ir atrás no volver”.

Post de HMJ

Citações CDXXXI


As adolescências demasiado castas fazem as velhices dissolutas.

André Gide (1869-1951), in Journal, 1889-1939.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Luis Sepúlveda (1949-2020)


Diz-me a minha amiga MR que o Escritor morreu. E eu, que dei por ele já tarde, fico ainda mais pesado na vida. Era um resistente político e resistiu algum tempo, porém já ferido de morte, ao covid-19. E numa altura do mundo em que muitos se vendem e as ideologias se tentam esbater, ele sempre manteve as suas convicções e as exprimia nas suas obras.
Se nunca o leram, tentem começar por este livro, que foi o primeiro que li de Luis Sepúlveda:


Manoel de Barros (1916-2014)


                                             5

A  água passa por uma frase e por mim.
Macerações de sílabas, inflexões, elipses, refegos.
A boca desarruma os vocábulos na hora de falar
E os deixa em lanhos na beira da voz.

Superlativos


Às vezes, embora habituado aos abusos da linguagem, à leviandade e excessos sentimentais expressos em palavras que, hoje, já quase nada significam (o verbo amar, nomeadamente, anda todo esfarrapado), à força de serem mal usadas, ainda me surpreendo com o desatino e ligeireza de alguns sujeitos. Ontem, por exemplo, um plumitivo, que escreve por aí e tem algum nome na praça, ao referir a morte de Rubem Fonseca (1925-2020) caracterizava-o como o "maior escritor brasileiro do século XX". Por muito que eu preze o falecido, então qual será o valor de Graciliano Ramos ou Guimarães Rosa, de Drummond ou Cecília Meireles, para não falar de outros?
Tento na língua, não faz mal a ninguém!

quarta-feira, 15 de abril de 2020

António Leal Moreira (1758-1819)

Lembrete 74


Hoje, às 16h00, no Canal Hollywood, o filme Grand Budapest Hotel. A não perder.

Expectativas


A minha experiência com os citrinos (3), saudosa do primeiro (que morreu) e expectante do terceiro (talvez até negativa, ou parca em produção) recomenda-me prudência. O segundo limoeiro produz pouco mas encontra-se bem. O terceiro subsiste, na varanda a Sul, com mais de 50 brotos juvenis, que auguram muito. Mas se sobreviverem 5 limões, que atinjam a maioridade, ficarei satisfeito. Baseio-me em safras  e números passados...
Darei contas, oportunamente.

terça-feira, 14 de abril de 2020

Leilões


Pela presente situação de pandemia, até uma das mais dinâmicas casas leiloeiras lisboetas, o Palácio do Correio Velho, suspendeu temporariamente as actividades. Em boa hora, tive notícia recente que retomará os trabalhos com um leilão de livros e revistas Online, já no próximo dia 17 de Abril de 2020, sendo esta a sua almoeda número 1.424. Do acervo interessante, destaco dois lotes que têm uma base de licitação equilibrada: um de BD e o outro sobre Cinema. Qualquer deles invulgar. Ei-los:

Lote 16 - 6 volumes, 4 de Obras Primas de BD e 2 de o Cavaleiro Andante (1954/5).............  15 euros.
Lote 23 - Conjunto completo dos Cahiers du Cinema, respeitante aos anos de 1958 a 1963... 30 euros.

Revivalismo Ligeiro CCXLVII

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Bibliofilia 145


O pequeno opúsculo (Hum Quarto de Palavra/ sobre/ O Padre,/ ou/ O Vergalho de Mariolas) tem 16 páginas e não é raro. Existe na BNP, outro está inserido numa Miscelânea (cota 12557) da BGUC, há um exemplar na Biblioteca Municipal de Elvas, nos Açores também, e na Harvard Library (talvez oriundo da Biblioteca de Fernando Palha). Num leilão de 2015, da Livraria Olisipo, vendeu-se um conjunto de quatro sob o mesmo assunto, em que aquele está incluído . Outros haverá, mas dei por estes, pelo menos e por agora.
O folheto foi impresso, em Setembro ou Outubro de 1822, na Tipografia de António Rodrigues Galhardo, e será porventura o segundo de uma série de 4, sendo dois (ou 3?) de um tal C. S. D. F. que não é nada mais nada menos senão o Padre José Agostinho Macedo (1761-1831), temido polemista, defrontando o poeta Nuno Álvares Pereira Pato Moniz (1781-1826) que, no opúsculo, é tratado por Censor Lusitano Senior; o tema da disputa é de mera lana caprina e pouca importância (definir a supremacia da capacidade de decisão, se ao poder régio ou ao eclesiástico, em determinada pendência ou querela), embora muito agressivo pelo tom de escrita usado por Agostinho Macedo.
O folheto custou-me, não há muitos anos, a módica quantia de 4,50 euros. A sua leitura é divertida.

domingo, 12 de abril de 2020

Mercearias Finas 156


Uma grande parte do chibinho assado no forno já se foi. Bem acompanhado de um Dão Quinta dos Carvalhais 2002, tinto, que estava no ponto dos seus dezoito anitos. Casou com as damas de honor: ervilhas tortas e batatas novas assadas. Havia mousse de manga, no final, ou morangos, para quem não quisesse Queijo do Fratel ( ou do Lourenço) que veio à colação pascal.
Um grato reconhecimento a HMJ, que o escansão limitou-se a ir à adega, buscar o néctar.

Comic Relief (154)



Recomendável a:

quem sobra tempo;
impacientes;
obsessivos;
deprimidos;
a quem tenha sentido de humor;
pessimistas;
a quem goste de Charlot
ou aos que mantenham alguma racionalidade saudável, pragmática e sem melodramatismos telenovelescos e pueris, nesta altura do mundo.
Bom proveito!
( Não é meu hábito, desculpem-me por isso, a lonjura do vídeo. Mas podem desligar, que eu perdoo...)

De Rachmaninov, para um Domingo de Páscoa

sábado, 11 de abril de 2020

A Idade de Ouro do Mobiliário Francês: Maquete de oficina



Como o saber não ocupa lugar, este brevíssimo vídeo que me mandaram, e aqui partilho, com gosto.

agradecimentos a N. C..

Do que fui lendo por aí... 36


Foi na música que o século dezanove cumpriu o seu sonho de criar formas trágicas comparáveis em nobreza e coerência às do drama clássico e renascentista: nos rituais e dores dos quartetos de Beethoven, no Quinteto em Dó Maior de Schubert, no Otello de Verdi e, perfeitamente, no Tristan und Isolde. (pg. 137)

George Steiner (1929-2020), in Tolstoi ou Dostoievski (Relógio D'Água, 2015).

Vivaldi / Brioli / Scimone

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Páscoa


As coisas fizeram-se mais comezinhas e circunscritas este ano, mas o meio anho já cá canta, no frigorífico. E já avançamos com umas finíssimas e laminadas, tenríssimas iscas de fígado do dito chibinho, ao almoço, que estavam bem saborosas. Não guardámos os miúdos para o arroz vir a acompanhar o cabrito pascal, no próximo Domingo. Que para o forno há-de ir.
E dentro das limitações, até tivemos uma novidade para a sobremesa, que foi um Folar de Alcobaça, muito próprio e agradável, com a sua cor mais acastanhada e o balsâmico sabor a erva doce, aqui usado, pelos vistos, na zona. Vou pensar, entretanto, num vinho que não desmereça estes preparos...
Boa Páscoa, a quem vier por bem, virtualmente!

As palavras do dia (38)


Nota: o pequeno excerto não dispensa a leitura cabal da crónica de António Guerreiro no jornal de hoje.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Um CD por mês (12)


O facto de cerca de 15% da população luxemburguesa ser luso-descendente explica a facilidade com que conseguimos encontrar, nos supermercados luxemburgueses, sardinhas de conserva portuguesas, cerveja Sagres, pastéis de nata ou até mesmo bacalhau curado. Mas também os alemães da Land Rheinland-Pfalz se deslocam ao pequeno país vizinho, pela proximidade, para fazerem compras, dado que os preços são mais em conta, por exemplo os dos cigarros. Pelo caminho, compram-se outras coisas...


De uma das vezes que, de Koblenz (Alemanha), nos deslocámos à cidade de Luxemburgo, em inícios dos anos 90 do século passado, fomos a um gigantesco Centro-Comercial, que incluía uma bem apetrechada discoteca com milhares de CD's. A dificuldade foi a escolha, mas como eu tinha começado a descobrir e a gostar das interpretações muito profissionais de Alfred Brendel (1931), optei por um conjunto de 9 CD's compreendendo diversas das primeiras gravações do pianista.


O acervo das composições é muito interessante, sendo de destacar todos os 5 concertos para piano de Beethoven, assim como os 2 de Liszt. Brendel é dirigido por diversos maestros, nomeadamente, por Zubin Mehta.
O conjunto das gravações da Tuxedo Music vai de 1956 a 1964 - uma espécie de juvenília do pianista. Foram reunidas na Suiça, em 1991. E dei pelos 9 CD's, na altura 1.845 francos luxemburgueses. Não me arrependi: valeu a pena.


terça-feira, 7 de abril de 2020

Curiosidades 80


Este poste não teria sido possível a não ter existido uma cumplicidade de simpatia e grande estima entre Óscar Lopes (1917-2013) e António de Almeida Mattos (1944-2020). Mas também se não houvesse uma fraterna amizade singular entre este último e eu próprio. O meu Amigo doou-me, ainda em vida, restos do arquivo pessoal dele, do extinto jornal Letras & Letras (do Porto), em que, entre muito material diverso e interessante, distribuído por envelopes de tamanho médio, se encontravam  originais e fotocópias relacionadas com a vida pessoal do crítico e professor universitário Óscar Lopes, que não tinham sido utilizados num anterior dossiê  do mensário literário portuense.
Destacavam-se, também, alguns documentos mais ou menos íntimos do Catedrático, nomeadamente, a cópia da caricatura do Livro de Curso (Lisboa, 1938?) e o recibo de alojamento (16/5/1955), nos calabouços da P. V. D. E. - testemunho  de um escandaloso acto da ironia fascista...

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Apontamento 132: Máxima antiga - Não há duas sem três



Na Alemanha, no meu tempo de meninice existia uma máxima: “Wer A sagt muss auch B sagen” – a saber, quem “pronuncia A tem que dizer B”.

Ou seja, a questão fundamental é apenas de coerência.

Assim, não vale a pena a Chanceler – como nos idos da crise de 2008 – falar da solidariedade europeia e virar as costas quando se aproxima o passo seguinte – de A para B – a fase subsequente e determinante de abrir os cordões à bolsa.

Nisso, e é bem lembrá-lo, que estão os dois de acordo, Merkel e Schäuble. Como diria Vitorino: são “Farinha do mesmo Saco”.

Tenho muito pena, mas por cá ainda existem algumas boas almas encantadas com os discursos da Senhora Merkel, avaliação, aliás, que nunca partilhei. Sempre a achei profundamente provinciana, tal como o seu outro ideólogo, vivendo num mundo reduzido aos “cifrões”, universo particular do endinheirado germânico, promovendo a cultura de pacotilha. Bayreuth a quanto obrigas !

De facto, nesse mundo maravilhoso dos cifrões da Alemanha há dinheiro para muita coisa, até fortunas transformadas em fundações de apoio a bicharadas diversas, asnos e toda a parafernália de animais domésticos.

No entanto, o universo dos idosos, no limiar da pobreza, situa-se numa faixa de 25% da população. Haverá maior vergonha do que esta para um país considerado rico ? Quando se fala, contudo, de aprovar, com o apoio da CDU da Senhora Merkel, um pacote de Reforma Base Universal para os pensionistas, vamos a passos.

Convém, no meio disto, ler artigo de 6.4.2020, publicado pelo Público, do Ministro das Finanças alemão, Olaf Scholz (SPD) e Heiko Maas (SPD), numa iniciativa conjunta saída em vários jornais da Comunidade Europeia. Tardiamente, depois do discurso indispensável, oportuno e urgente de António Costa.

Com particular necessidade da renovação do sentido último do “Imperativo Categórico” de KANT, nesta circunstância em que o mundo financeiro e global se afundou, espero que a Alemanha não se esqueça, mais uma vez, do profundo sentimento de humanidade de uma parte considerável da sua população que continua a estimar os valores essenciais. São eles que merecem o nosso apoio como povo do centro da Europa, abertos ao Mundo, humanos e solidários.

Infelizmente, são os menos esclarecidos que a imprensa coteja, designadamente toda a cáfila de forças de direita que se aproveitam da profunda ignorância que se instalou. Sinais do tempo.

Por último, e por razões substanciais, tenho muitas dúvidas sobre a excelência do sistema de saúde alemão quando comparado com o SNS, até por experiências desagradáveis recentes.

Por fim, continuo a batalhar pelo universo em que cresci, da União Europeia, de encontros culturais, humanos e apoiados, por políticas e finanças ao serviço da comunidade.

HMJ

Pinacoteca Pessoal 163


Sempre tive a tentação de considerar da mesma família artística os pintores Graham Sutherland (1903-1980), Lucian Freud (1922-2011) e Paula Rego (1935), muito embora entre o nascimento do primeiro e o da última medeiem mais de 30 anos. Ter-se-iam mutuamente influenciado? Não sei responder, com rigor.
Pelo menos, as suas obras têm alguma afinidade estilística, sobretudo a nível de retratos e representação de figuras humanas. Com uma forte e impressiva pincelada que sugere alguma agressividade subjacente.


Dos três, é Sutherland quem se dispersa por mais aspectos artísticos: gravura, vidro, tecido e pintura naturalmente, e em que o retrato tem um papel preponderante. São conhecidos os magníficos retratos do escritor Somerset Maugham (aqui representado por um desenho preparatório) e do crítico de arte Kenneth Clark. De grande qualidade era também o seu trabalho sobre W. Churchill, encomenda de um grupo de personalidades, e que o político - de gosto artístico excessivamente conservador - por não ter gostado, terá consentido que viesse a ser destruído pela Esposa (este facto foi registado em poste do Arpose, a 28/1/2018: Curiosidades 68).


Divagações 158


O confinamento existencial, recente, no mundo dos bloggers, prova à exaustão, pela prática dos postes, a limitação e indigência de quem os faz, maioritariamente. E o que há de doméstico, nesses universos pequeninos ligados ao que há de mais rasteiro pela net. De uma forma geral, os comentários acompanham... Quanto mais simplório e pobrezinho o poste é, mais bitates desmiolados e chapa zero vem a ter.  Em tudo isto há, ao mesmo tempo, uma globalizada monocultura de pensamento que a direita criticava, ainda não há muito tempo e noutros parâmetros, a Cuba por só cultivar açúcar ou a Angola, por só extrair petróleo. E apenas viverem disso. Agora, é o dito vírus de todas as glosas, que aí está omnipotente e avassalador, quase único, e de que até parece que ninguém se apercebe...
Deus o abençoe a ir-se.

Marianne Faithfull (1946) -- The Ballad Of Lucy Jordan HD



Votos de umas rápidas melhoras!

domingo, 5 de abril de 2020

Um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)


Crônica de Gerações


Silêncio. Morreu o Comendador.
Merecia ser eterno
com seu poder, seu gado, suas minas,
seu dinheiro na burra.
Então morre - silêncio - o Comendador
e não desabam as montanhas
e o mundo, já vazio, não acaba?
Injusto ele morrer - o filho exclama.
Por que, em seu lugar,
o Senhor não chamou seu netinho enfezado,
esse menino aí, fracote, feio?
O menino ouve e come estas palavras,
assimila-as no sangue, e cresce e é forte
e poderoso mais que o Comendador.
Nasce-lhe por sua vez um filhinho enfezado
mas este
cresce sem maldição, fica por isso mesmo.

Nem sempre o Senhor chama. Ele às vezes esquece.


Carlos Drummond de Andrade, in Boitempo (1968).

para H. N., que me lembrou Drummond.