Mostrar mensagens com a etiqueta Sogrape. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Sogrape. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 20 de maio de 2025

Mercearias Finas 209

 

Perguntar-se-á o que virão aqui fazer as imagens, em fotografia, de algumas preciosidades enológicas portuguesas, que passo a descrever cronológicamente:

1. Bairrada Garrafeira 1980 das Caves D. Teodósio, e que custou, na altura (anos 90), Esc. 1.055$00.
2. Barca Velha 1985, ícone dos vinhos nacionais que me foi oferecido pelo meu Amigo A. de A. Mattos.
3. Sogrape Garrafeira Bairrada 1985 que, numa mercearia da rua do Arsenal (Lisboa), me custou Esc. 890$00.

Ora, estes tintos de gabarito vieram à colação por os associar, em qualidade, a um Barolo de 2018 (oferta gentil do meu Amigo H. N.) que decidi abrir para acompanhar um rosbife de vitela maronesa excelente, há poucos dias atrás. O tinto italiano portou-se lindamente, nos seus 13,5º equilibrados. Como é costume deste Nebbiolo monocasta a que chamam o rei dos vinhos do Piemonte - com inteira propriedade.

sábado, 28 de setembro de 2024

Divagações 197



Talvez por sermos, sobretudo agora, um país geograficamente pequeno, quase sempre fomos um povo de alma reduzida, desconfiada e invejosa, por onde sobressaem alguns gigantes: o infante D. Henrique, D. João II, Afonso de Albuquerque, o marquês de Pombal...
Até em coisas corriqueiras escondemos aspectos básicos de elementar saber, com medo de nos copiarem a receita e perdermos o negócio. É o caso, por exemplo da "discreta" Sogrape, que nunca revela as castas de que fez os vinhos, ainda que anteriormente, elas constassem, noutros produtores mais descomplexados, seguros de si, e que ela absorveu entretanto. É o caso do Planalto, branco, Douro, que fora da Casa Ferreirinha. 

Nota pessoal: por vias travessas, aqui vai o lote das castas, à partida, que a Sogrape não queria revelar - viosinho (25%), malvasia fina (20%), gouveio (20%), rabigato (10%), códega do larinho (10%) e moscatel (5%). Assim fica desfeito este mistério enológico de polichinelo.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Os segredos saloios e a poesia de taberna

 

Houve tempo em que não me preocupava, minimamente, com as castas de uvas dos lotes de vinhos que bebia. Com os anos esse facto passou a ter importância e, hoje, é raro comprar vinhos que não informem, no rótulo, a sua composição. Comecei por  atender aos rótulos exemplares da Vinícola do Vale do Dão, que comercializava a celebrada marca Grão Vasco e que, pouco afortunadamente, foi comprada pela Sogrape, em 1957. Até aí, lá vinha indicada essa que eu chamo a trindade santíssima do Dão tinto: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Jaen. Pois, decerto logo que pôde, a Sogrape apagou  as castas dos rótulos, fazendo jus talvez ao lema dos comerciantes atávicos: "o segredo é a alma do negócio".
E, hoje, ainda me sorri um pouco ao ler o rótulo de um Esteva tinto Douro 2021 (ex-Casa Ferreirinha) produzido e comercializado agora pela Sogrape que, em vez das castas que esconde, inscreve, no contra rótulo, esta pindérica maravilha:
" O intenso aroma da esteva, arbusto que adorna a paisagem do Douro, invade a região nos dias de Verão. Desde 1984, elegância, tradição, aromas balsâmicos e algo especiados conferem caráter a este vinho."
Realmente, para poetastro de província, o texto não vai nada mal!...

sábado, 1 de junho de 2024

Acontecimento enológico


Não é todos os anos que sai para o mercado um Barca Velha. A Sogrape lançou para venda a sua 21ª edição personificada pela colheita do ano de 2015. O lançamento de apresentação ao público teve lugar no Paço Ducal de Vila Viçosa. O consagrado vinho é lotado, desta vez, pelas castas Touriga Franca, Touriga Nacional, Sousão, Tinto Cão e Tinta Roriz e tem uma graduação de 13,5º.
Rateado, como é, pelos pretendentes a comprador, a Sogrape dá o peço indicativo de venda a 860 euros, por cada garrafa.

domingo, 20 de setembro de 2020

Mercearias Finas 161


 

É a vigésima edição deste icónico vinho. Sai este ano a colheita de 2011, do Barca Velha. E se no passado a casta maioritária era a Tinta Roriz, desta vez a Touriga Franca contribuiu com 45% do lote, anexando 35% de Touriga Nacional, mais aquela referida, e a Tinto Cão (10%) que julgo ser estreia.

Em meados dos anos 70, eu costumava namorar a montra de uma charcutaria da Braamcamp, que enriquecia, gulosamente, o escaparate de Barcas Velhas, e cujo preço costumava andar pelos Esc. 600$00 - era muito dinheiro, e eu não lhes chegava... Depois disso bebi 5 ou 6, oferecidas.

Embora não tenha preço marcado, esta colheita de 2011 do Barca Velha, deve andar pelos 400 euros, se não for mais. Daqui por uns anos, talvez chegue ao Pétrus ou ao Château d'Yquem, se lhe derem asas...

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Mercearias Finas 151


O Mateus é mais velho do que eu. Rosé, quero dizer. Porque a colheita inicial, criada pela família Guedes, da hoje Sogrape, aponta o ano de 1942 para o seu nascimento enológico.
Contaram-me, mas não garanto a absoluta veracidade da história, que a sua promoção e marketing se fez de forma artesanal, embora intensa, inteligente e pertinaz. Entre outras oferendas, mandavam todos os anos uma caixa de garrafas do vinho para a família real inglesa. E, ao que parece, Isabel II habituou-se...
O lançamento das magnum Mateus Rosé, pomposamente, aconteceu no ano de 1978, no Zoo de Londres. Por essa altura, já Jimmy Hendrix, da mesma colheita (1942) estava conquistado e convencido. Mas também já morto.
Os Guedes diriam como Leonard Cohen: "First we take Manhattan!". Porque o resto dos marcanos vieram a seguir, acarneiradamente, como é costume. E os EUA são hoje o maior mercado do Mateus Rosé, neste nosso mundo.
Quanto a mim, o último rosé que bebi era da Quinta de Lagoalva. E também não fiquei freguês...

domingo, 14 de outubro de 2018

Mercearias Finas 134


É sempre triste, o primeiro sinal de um desamor.
Provavelmente, o vinho branco, e verde, que me acompanha há mais tempo é o Casal Garcia. Quanto ao tinto seguramente é o Grão Vasco, do Dão. Que integrou a carteira da Sogrape, nos últimos anos. Mudaram-lhe o rótulo, já por duas vezes, para pior. E, mais grave, para mim, trocaram no lote a casta Jaen, pelo Alfrocheiro. Da antiguidade, perdeu a raça e o ADN, desapareceu-lhe a elegância que caracterizava os vinhos do Dão. Mas eu lá o ia bebendo, para celebrar ao menos o passado.
Provei, neste Domingo, a colheita de 2016: é para esquecer.
Tem a rudeza áspera dos piores vinhos de Trás-os-Montes, que não do Douro, evidentemente. É deselegante, de todo. E, sendo do Dão (?), é dos piores vinhos tintos da região que bebi, ultimamente.
Mudem lá de enólogo, que é o que se faz, no futebol, quando os treinadores não são capazes!

sábado, 13 de maio de 2017

Altos patamares


Luís Sottomayor (1963) é o enólogo responsável pelas últimas colheitas do Barca Velha, vinho do Douro e de alta qualidade, que foi criado, em 1955 (data recentemente certificada, e com apenas 19 edições), por Fernando Nicolau de Almeida (1913-1998). À colheita de 2008, já orientada por aquele enólogo da Sogrape, foi atribuída, pela Wine Enthusiast, a classificação máxima de 100 pontos, situação inédita na enologia portuguesa. 
Pelo feliz acontecimento, o jornal Expresso entrevistou Luís Sottomayor, de quem eu gostaria  de transcrever a sua última resposta, à pergunta que lhe foi feita:

A maior parte das pessoas nunca provou um "Barca Velha". Como é que lhes apresentaria o vinho?

Pensem numa pessoa por quem tenham respeito e consideração. Alguém a quem reconheçam carácter, personalidade e, ao mesmo tempo, sentimentos. É assim o Barca Velha.

domingo, 19 de março de 2017

Mercearias Finas 120


Alheira, pensava eu que provinha do uso do alho, nos seus temperos. Mas também é de tradição que terá sido uma criação engenhosa dos antigos cristãos novos portugueses para iludir os velhos cristãos e a Inquisição, fazendo-os acreditar que não evitavam a carne de porco, às refeições, e eram, por isso, católicos cumpridores.
A esta, que era de caça, e ainda estava na incubadora, na altura da foto, com os macios espinafres, a abeberar, havia que juntar-lhe batatas cozidas ou fritas, à escolha, um ovo estrelado, dos de pica-no-chão. E arroz branco, uma forma maneirinha, para quem for arrozeiro. Eu havia de sugerir um simples Duque de Viseu tinto, do Dão, da Quinta dos Carvalhais, que é sempre uma escolha que não nos deixa ficar mal, não fora ele da Sogrape, que tem pergaminhos velhos, de sangue limpo, a defender...

sábado, 9 de maio de 2015

Mercearias (muito) Finas 102


Registe-se, a título de curiosidade e para memória futura, que, na passada quinta-feira, 7 de Maio de 2015, nos salões da casa leiloeira Sotheby's, em Londres, foi vendido um Vintage bicentenário, pela quantia de 5.000 libras, o equivalente a 6.800 euros. Tratava-se do celebrado Vinho do Porto Ferreirinha de 1815, cognominado Waterloo, por pertencer à colheita do ano em que Napoleão foi definitivamente derrotado, em terras, hoje, da Bélgica, e na batalha de nome homónimo.
As caves da Sogrape-Ferreirinha albergam ainda no seu interior, em Vila Nova de Gaia, mais 49 garrafas deste precioso néctar. Pobre de mim!, que o mais antigo Vinho do Porto, que bebi (em 1979), decantado que foi, pertencia a uma reserva particular de 1871. Mas era boníssimo, também...

domingo, 11 de agosto de 2013

Bibliofilia 85 : Garrett (com algumas transmigrações espúrias)


Abriu-se o Sogrape tinto de 1983, de que aqui dei imagem e notícia, há dias, nas "Mercearias Finas 76" (2/8/13). Um pouco a contra-natura, pela canícula. Mas estava excelente, este vinho do Dão com trinta anos, que se bateu lealmente com uma tábua de queijos, à altura: Azeitão, branco e finíssimo, um Emental de olheiras pronunciadas e um Serra, fidalgo austero.
Na varanda a leste, depois, sopeso e acaricio um voluminho de Garrett (1799-1854), de formosa feição. E constato que, ao falar dele, hoje, vai o Arpose ficar, inteiramente, sob o signo celta da Irlanda. Porque Almeida Garrett tinha ascendência irlandesa. E se irritava, solenemente, quando lhe pronunciavam o final do apelido à francesa: ê. Replicava logo que se devia ler e dizer: éte.
Pois este livrinho, que não é raro, mas foi, em mais de 140 anos, bem estimado e encadernado, já o comprei no dealbar do séc. XXI (2002), por 20 euros. Numa edição de 1871, promovida pela Imprensa Nacional, ocupa-se, substancialmente, com um texto inédito até à altura, que era um projecto de romance, intitulado Helena.
Anos antes (1989), fora vendido um exemplar semelhante, num leilão da Soares & Mendonça (lote 89), por Esc. 9.000$00. Devia merecê-los...
Começava assim este inédito de Garrett:
Acabava de passar uma d'aquellas trovoadas espantosas que, nos paizes tropicaes, repentinamente se formam, estalam, e de repente se dissipam tambem, deixando o ar mais puro, o ceo mais azul, e toda a natureza respirando uma frescura, um viço, uma lasciva animação de todo o ser, que não parece senão que alli foi agora a creação e começa a vida pela primeira vez. ...
Prosa límpida, não é?

sábado, 3 de agosto de 2013

Mercearias Finas 76


É um risco que já corri várias vezes, pelo meu apreço a vinhos velhos, mas que, na maior parte dos casos, compensou. Diz-se que "a sorte protege os audazes" e, apesar de eu ser cauteloso por natureza, na compra de vinhos antigos, normalmente, arrisco, por não conseguir resistir à tentação que me assalta...
Numa loja improvável, pelo seu ramo específico, comprei, há cerca de um mês, dois vinhos tintos trintões. O mais idoso (Garrafeira 1980), de produção limitada (garrafa nº 63.172), da Vinícola do Cartaxo, Lda.; o menos antigo (Reserva 1983), da Sogrape, fora lotado com castas de uvas da região do Dão: Touriga Nacional, Tinta Pinheira, Tinta Carvalha, Alvarelhão e Jaen.
Quem mos vendeu, cordialmente me disse: "É um tiro no escuro... Levo-lhe 5 euros por garrafa." - e eu aceitei o repto. A única bússola de segurança, que me norteou, era a altura do vinho nas garrafas. Na do Cartaxo, o líquido estava muito ligeiramente acima, no gargalo, e no da Sogrape, muito pouco abaixo, ainda antes da curva da garrafa. Pela tabela da Christie's (ver imagem) para os vinhos de Bordéus, havia uma certa margem de segurança.
Abri, hoje ao almoço, a Garrafeira do Cartaxo, com 12,2º, para acompanhar um bom bife de alcatra, com batata frita e feijão verde (refogado em cebola, temperado com segurelha). Deixei a garrafa aberta, duas horas, para o vinho respirar e nem foi preciso decantá-lo. De cor rubi pálido, parecia um clarete quase transparente. Tinha um aroma suave e requintado ao tempo (Touriga? Castelão? Aragonês?), muito tranquilo na boca, sem nenhuma aspereza. Excelente, em suma, para um tinto velho de 33 anos.
O da Sogrape fica para outra vez...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Mercearias Finas 34 : o mal das rolhas


Acontece que, muito recentemente, mandei vir no mesmo restaurante onde, anteriormente, já o tinha pedido por 2 ou 3 vezes, o "Duque de Viseu", Dão branco de 2009, da Sogrape. É um vinho agradável, para um Verão não excessivamente quente, e que acompanha bem pratos leves de carne, ou de peixe. Desta vez era para fazer as honras a um despretensioso folhado de carne (grande, tipo timbale), com arroz branco solto e salada de alface, rúcula, agrião e tomate. As viandas estavam bem feitas, o folhado, como deve ser, e bem apaladado. Tudo estava no ponto. Mas o vinho, não. Tinha o chamado "cheiro a rolha", e foi prontamente substituído. Por outro, da mesma marca e ano, que estava em perfeitas condições. Soube-nos bem. É a segunda vez, este ano, que me acontece este percalço, embora com vinhos diferentes.
Mas, lá fora, já me tem acontecido o mesmo, também. Pelo menos, na Bélgica e Alemanha, e com vinhos estrangeiros. É sempre um desprazer, numa refeição, e pior ainda, quando há convidados à mesa. É um fenómeno misterioso, este do "cheiro a rolha". Dizem que provém dum fungo, que pode ser causado por mau armazenamento do vinho ou das garrafas, ou por um deficiente engarrafamento. Como não sou especialista, nem versado em química, não tenho opinião. Mas detesto que aconteça.
Entretanto, e por causa deste problema originário da cortiça, há já, pelo mundo, vários produtores de vinho que deixaram de usar rolhas de cortiça, principalmente na América e na Austrália. Usam uns contraplacados de plástico e outras burundangas afins..., enfim. E há sobretudo uma coisa que eu não consigo entender: sendo Portugal o 1º produtor e exportador mundial de cortiça, por que é que ainda não se estudou e investigou, séria e objectivamente, este problema. Para o resolver. A Sogrape, o Sr. Berardo (Bacalhoa e Aliança...), a José Mª da Fonseca, o Ministério da Agricultura, o Sr. Américo Amorim (o da cortiça), e outros interessados investiam, através duma parceria, qualquer "coisinha" e encarregavam uma Universidade (a de Trás-os-Montes, porventura a mais vocacionada) para investigar o problema, e tentar resolvê-lo, como deve ser. Talvez não aumente a produtividade, mas decerto ajuda a competitividade e exportações portuguesas. É uma proposta objectiva que aqui fica.