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segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Os segredos saloios e a poesia de taberna

 

Houve tempo em que não me preocupava, minimamente, com as castas de uvas dos lotes de vinhos que bebia. Com os anos esse facto passou a ter importância e, hoje, é raro comprar vinhos que não informem, no rótulo, a sua composição. Comecei por  atender aos rótulos exemplares da Vinícola do Vale do Dão, que comercializava a celebrada marca Grão Vasco e que, pouco afortunadamente, foi comprada pela Sogrape, em 1957. Até aí, lá vinha indicada essa que eu chamo a trindade santíssima do Dão tinto: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Jaen. Pois, decerto logo que pôde, a Sogrape apagou  as castas dos rótulos, fazendo jus talvez ao lema dos comerciantes atávicos: "o segredo é a alma do negócio".
E, hoje, ainda me sorri um pouco ao ler o rótulo de um Esteva tinto Douro 2021 (ex-Casa Ferreirinha) produzido e comercializado agora pela Sogrape que, em vez das castas que esconde, inscreve, no contra rótulo, esta pindérica maravilha:
" O intenso aroma da esteva, arbusto que adorna a paisagem do Douro, invade a região nos dias de Verão. Desde 1984, elegância, tradição, aromas balsâmicos e algo especiados conferem caráter a este vinho."
Realmente, para poetastro de província, o texto não vai nada mal!...

sábado, 15 de junho de 2019

Mercearias Finas 145


Admito que há pouca gente, entre os amadores como eu, a quem possa interessar saber as castas de uvas do lote que constitui o vinho que vão provar. Por várias razões, é muito raro eu comprar algum vinho que não possua esta informação no rótulo ou no contra-rótulo. Dou-me, habitualmente, mal, a nível de digestão, com a Castelão e a Trincadeira que são, no entanto, castas interessantes e saborosas,  que dão personalidade marcada a alguns vinhos de renome e são mais utilizadas no centro e sul de Portugal, por vários produtores.
Se a Sogrape, no que ao Dão Grão Vasco diz respeito, ora informa ora omite a referência às castas, numa incoerência caprichosa que eu não entendo, já a Soc. de Vinhos Borges é raro dar essa informação que me parece sempre útil e importante. Compreendo, no entanto, que alguns produtores a não indiquem, por mero desconhecimento da qualidade de uvas que utilizam. É que, em áreas de vinhas velhas, a mistura de castas prolifera, como era de norma geral nesses antigos terroirs plantados com cepas muito diversas.
Mas também há muitos novos produtores, chegados há pouco ao mercado dos vinhos que, além de omitirem as castas do lote (será que para eles o segredo é a alma do negócio?), substituem essa informação importante, pelo menos para mim, por pequenos textos com derrames líricos, normalmente pindéricos e exuberantes, realçando as excelências do néctar, no contra-rótulo, de forma despropositada. É o que menos perdoo, embora por vezes me ria destas incontinências verbais e saloias destes arrivistas modernaços.

domingo, 1 de maio de 2016

Passado, presente e futuro



Ao princípio, era o Charneco, vinho que já na primeira dinastia se exportava para longes terras. Com a fruta e o sal que eram as nossas únicas, grandes riquezas. Ao contrário do que se possa pensar, esse vinho era produzido na região de Lisboa. Desconhecidas são porém as castas de que era produzido. Até há poucos anos, no entanto, e na zona da capital, pontuavam apenas os vinhos de Colares, com a casta Ramisco, e os de Bucelas, brancos, feitos de Arinto. Mas, segundo notícias recentes, a Casa Santos Lima, produtora conceituada, irá reactivar uma velha quinta, ali para as bandas do Aeroporto. Que, até ao início do séc. XX produzia vinhos de alguma qualidade. Desconheço também que castas virá a utilizar, mas é possível que venha a usar as que constam no quadro da imagem acima.
Ladislau Batalha (1856-1939) que, com Azedo Gneco, fundou o primitivo Partido Socialista português, na sua interessante obra "Curiosidades da História Portuguesa" dá-nos algumas informações importantes, embora já desactualizadas sobre vinhos, e adágios portugueses, que passo a transcrever:

"...Os nossos vinhos eram  abundantes, chegando a ser considerados dos melhores e mais afamados os de Alvôr, Vila Nova de Portimão, Lagos e Évora, especialmente os de Peramanca.
Como povo impulsivo, levámos os excessos de cultura da vinha ao estado de febre intensa:
- «Em cada prado uma vinha e em cada bairro uma tia» - diz-nos o precioso adágio do século XVI.
Na conta dos vinhos finos entravam os brancos de Beja e os palhetos de Alvito, Viana, Vila dos Frades e Alcáçovas.
Os de Alcochete e Caparica destinavam-se á exportação para Flandres e outras partes da Europa, além dos que saíam para abastecimento das armadas e fornecimento para as Indias Orientais, Angola, Mina e Brasil.
Com disvelo dizia o povo envaidecido: - «Queijo do Alentejo e vinho de Lamego.»
Vendia-se então em Lisboa o vinho mau pelo preço do bom. Sobre o assunto havia opinião bem definida: - «Vinho é sangue de Cristo». ..."

E, entretanto, foram-se as coisas modificando. Que o mundo não pára e o homem é irrequieto.

terça-feira, 29 de março de 2016

Mercearias Finas 111 : a Tinto Cão


Richard Mayson (Os Vinhos e Vinhas de Portugal, 2005) chama-lhe fascinante, mas a melhor definição desta casta de uvas, de origem duriense, deu-ma HMJ: um fino rústico. Mayson acrescenta que a Tinto Cão tem baixa produção e amadurece tarde. Além disso, precisa de uma sábia exposição solar que lhe apure o justo equilíbrio entre a acidez e o álcool, que a faz famosa. Mas isto é no Douro...
Andei anos, aspirando provar um vinho da Tinto Cão, estreme, a preço razoável - é normalmente caro. Até porque já a conhecia lotada, dos bons vinhos tintos de Alves de Sousa: Quinta da Gaivosa e Quinta das Caldas. Calhou, há dias, realizar o meu desejo, através da Casa Santos Lima, mediante preço convidativo: 5,99 euros, bem merecidos. Produzido na região que fora da antiga quinta de Herculano, na Estremadura.
Poderoso, rústico mas rico em sabor, este vinho da Tinto Cão 2011, monocasta, com 14%, que está para as curvas dos próximos anos, desafrontou com galhardia uma Favada com Entrecosto. E melhor se bateu, no final, com um Queijo de Cabra artesanal. É vinho para comidas fortes, de Inverno, na boa tradição lusitana. Deixa boas memórias no palato, este néctar precioso.


sábado, 27 de junho de 2015

Curiosidades 44


Tal como as modas, também o cultivo das vinhas obedece a gostos temporais. Se a casta Códega do Larinho (transmontana de origem, creio), para vinhos brancos, vem colhendo muitas preferências nos produtores, actualmente, a celebrada Tinta Roriz (no Sul, Aragonês), que os espanhóis consideram imprescindível nos Vega Sicilia da Ribera del Duero (chamam-lhe Tempranillo), parece estar a ser menos cultivada, em Portugal.
Falta-nos um estudo amplo e detalhado sobre as castas de uvas lusitanas, apesar de, em relação ao território, sermos dos países europeus com maior diversidade de espécies autóctones. Mais de duas centenas, ao que se diz.
Chama-se Ampelografia, ao estudo e caracterização das cepas. E, nesse domínio, o monegasco e nonagenário Pierre Galet (1921) dá cartas, por este mundo fora. Com os seus amplos conhecimentos enológicos, publicou recentemente um Dictionaire Encyclopédique des Cépages em que caracteriza, descreve e explica uma enorme quantidade de castas de uvas. Nada menos de 10.000...


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Ordenações cuniculares


Como se teriam, livremente, organizado as coisas, neste caso as castas de uvas, desde o início dos tempos, quando agora parece ser imperioso e administrativo arrumá-las por Diário da República?
Se a Baga é retintamente bairradina, também a branca Alvarinho foi, até há bem pouco tempo, exclusivamente alto-minhota (e galega, valha a verdade). Bem como a Antão Vaz, genuinamente alentejana. Não está em causa a razão disciplinar da portaria (244/2014) do Ministério de Agricultura, o que eu acho é que o seu conteúdo é um autêntico "albergue espanhol", querendo meter o Rossio na Betesga, neste caso nas vinhas alentejanas. Nada menos de 68 castas, incluindo a Baga bairradina e, pasme-se, nada menos de 26 castas estrangeiras, que vão da Zinfandel à Nero-d'Avola, passando pela Sangiovese, para que o vinho possa ostentar a denominação: Alentejo...
Num país como o nosso que, na Europa, é um dos que maior diversidade de castas autóctones possui, esta portaria globalizante parece-me um enorme disparate. Uma autêntica corrida cega para a descaracterização de uma região vinícola demarcada.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Curiosidades 32


Não sei se a Universidade de Trás-os-Montes, vocacionada para o efeito, também se dedica a estas experiências. Mas com o desinvestimento na Investigação, destes últimos anos, é bem provável que não. Mas apraz-me registar a criação de 6 novas castas de uvas, levada a efeito pela Universidade de Friburgo (Alemanha). Com base nas tradicionais e conhecidas Merlot, Cabernet, Riesling e Sauvignon, estas novas castas de uvas são mais resistentes. Aqui se referem os seus nomes: Souvignier gris, Bronner, Cabernet Carbon, Merzling, Cabernet Cantor e Helios.

domingo, 2 de setembro de 2012

Mercearias Finas 58 : castas - um "gato" de todo o tamanho...


Se é verdade que os jornais, hoje em dia, não dispensam as crónicas gastronómicas e enológicas, não é menos verdade que a digna e utilíssima profissão de Revisor, é arte em vias de extinção. Com os resultados negativos inerentes. Por isso os jornais (e os livros, também) estão juncados de gralhas e erros, às vezes, clamorosos e ridículos. Aqui vai um exemplo bem recente surgido no suplemento Fugas do jornal Público, de ontem.
Como se pode ver na imagem, estava em causa apreciar e dar nota, em estrelas, ao vinho Quinta do Gradil - Viosinho 2011. Ora, a casta Viosinho, predominante na região demarcada do Douro, mas também existente noutras regiões, destina-se e é usada nos vinhos brancos, e só. No texto valorativo, o nome do vinho, a apreciação e a imagem estão correctos. E correspondem, entre si.
Mas eis que, na composição do lote e castas respectivas do referido vinho, consta este dislate de bradar aos céus: Aragonez, Touriga Nacional e Sirah!!! Castas, todas elas de vinho tinto. Não lembraria ao diabo tal passe de mágica...
E no jornal de hoje, na rubrica "o Público errou", aos costumes, dizem nada. Pois é, querem poupar nos revisores e, depois, é isto...

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Algumas castas de uvas portuguesas


As castas de uvas portugueses são numerosas, e já aqui no Blogue falamos desse facto. As autóctones ultrapassam largamente a centena e meia, muito embora de região demarcada para outra região demarcada, os nomes das mesmas castas assumam nomes diferentes, por vezes. Por exemplo a Tinta Roriz, do Douro e Dão, no Alentejo denomina-se Aragonez. E, também, a mesma casta pode ter mais do que um nome, como é o caso da Periquita que também é chamada Castelão ou Castelão Francês. Por outro lado, há classificações ou nomes curiosos e exóticos, o que prova a imaginação criativa do povo português. Vamos por isso referir alguns nomes mais interessantes, numa pequena amostra desta onomástica singular das castas de uvas portuguesas:
1. Região dos Vinhos Verdes: Avesso, Pedernã, Trajadura, Espadeiro.
2. Na região do Douro: Tinta Amarela (que existe também no Dão), Tinto Cão.
3. Região do Alentejo: Borrado das Moscas, Rabo de Ovelha, Roupeiro.
Como sempre, o Alentejo leva a melhor na nomenclatura nacional...

terça-feira, 29 de março de 2011

Mercearias Finas 28 : Castas de uvas portuguesas


Proporcionalmente ao território, Portugal é, muito provavelmente, o país europeu que tem maior diversidade de castas de uvas autóctones. São mais de 150. Algumas, no entanto, em vias de extinção, muito embora a Herdade do Esporão esteja a levar a cabo um projecto de preservação de grande parte delas. Algumas castas são, geograficamente, de implantação regional, como é o caso da casta Baga, na Bairrada, ou do Alvarinho no Alto-Minho. Vamos referir, por curiosidade as mais importantes, para além das duas acima citadas.

Para vinhos tintos: Touriga Nacional (considerada a raínha das castas portuguesas), Tinta Roriz que, no Alentejo, dá pelo nome de Aragonez; Alfrocheiro, Jaen, Trincadeira, Touriga Franca, Rufete... Para vinhos brancos: Loureiro (no Minho), Viozinho (Douro), Arinto, Encruzado (Dão), Antão Vaz (Alentejo), Fernão Pires, Rabo de Ovelha... Imensas ficam, ainda, por referir.

Pelo menos, na enorme variedade de castas portuguesas, não somos um país pobre.