domingo, 31 de dezembro de 2017

O que fica do que foi


Ao passear a vista pelos desaparecidos em 2017, no jornal de hoje, fiquei surpreendido por algumas figuras que pareciam ter morrido há muito mais tempo. Se o falecimento de Johnny Hallyday ainda me estava presente, na memória, por recente, a morte de Helmut Kohl (em Junho de 2017) parecia-me ter ocorrido há muito, num passado distante já muito obscurecido.
Nem tudo se pode arrumar na cave, fechando o saco, ou no poräo, se preferirmos a metáfora marítima. E, por outro lado, ninguém adivinha quem vai subsistir, verdadeiramente, por influencia, memória e imagem tutelar, nas nossas vidas, daqueles que väo desaparecendo. Como dizia Marguerite Yourcenar, só "o tempo, esse grande escultor" ditará os nomes que nos väo acompanhar, até um dia...

sábado, 30 de dezembro de 2017

Uma quadra muito tosca


Às dezassete
anoitece.
Nem por isso, pelas oito,
a manhã se esclarece.


Kbz., 29-30/12/2018.

Cuspidor, irreverente e malandreco


Sem o impudor inocente do Manneken Pis, de Bruxelas, também Koblenz tem o seu jovem adolescente que cospe, de 3 em 3 minutos, um jacto forte e inesperado de água sobre o turista desprevenido que o contempla. Dá pelo nome de Schängelbrunnen, e situa-se na Willi-Hörter-Platz, desde 1941.
Cuidem-se!...

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Marlene Dietrich - Lili Marleen



Um clássico, wieder, embora numa outra versäo...

Os acantonamentos nacionalistas, ou o estreitamento dos horizontes (culturais)


Na Lisboa antiga dos anos 60, eu era um felizardo. Para além do acesso a uma pequena, mas bem escolhida, biblioteca da embaixada japonesa, por onde li (em ingles) várias centenas de haiku e outras poesias nipónicas, tinha na Av. Duque de Loulé, à minha vontade, várias centenas de clássicos norte-americanos, para ler, gratuitamente, no Centro Cultural estadunidense. Depois, havia uma Livraria Britanica, perto do Cais do Sodré, duas livrarias espanholas bem abastecidas, uma delas muito próxima da Almirante Reis. E ainda havia a Buchholz. Sem esquecer as grandes livrarias portuguesas que eram pródigas em livros franceses, ingleses, espanhóis e teutónicos. Na verdade, Lisboa, nessa altura, era muito mais cosmopolita (e lida), culturalmente.
Hoje, é a miséria que sabemos, apesar da FNAC, que foi encurtando o seu espólio de escolha, pouco a muito, mesmo em obras gaulesas. Fechou entretando a Portugal, a Clássica, e a Sá da Costa hoje transformada em antiquário empalhado, com livros a custos à moda do Porto, que pouco acrescenta ao panorama livreiro. Restam 2 ou 3 alfarrabistas importantes. Mas noutros países, o mesmo vai acontecendo. Aqui, por Koblenz, é impossível encontrar "L'Obs." ou o TLS, para comprar. E, quase esgotada a minha reserva de livros para ler, pedi conselho (a quem sabe) sobre uma livraria da cidade, onde eu pudesse escolher obras, em língua inglesa ou francesa. Depois de muita pausa, foi-me indicada a Reuffel, no centro de Koblenz. E lá fui.



O panorama foi desconsolador. De livros ingleses, tirando os dicionários, havia meia prateleira, e grande parte dos títulos (talvez 30)  era para consumo escolar do Liceu (Shakespeare, Huxley...). Trouxe um James Baldwin, Sonny's Blues. Os livros franceses sempre ocupavam mais comprimento, talvez duas prateleiras, e aí uns 100 títulos, quando muito. Em desespero de causa, de lá trouxe La Cache, de Christophe Boltanski. Autor para mim desconhecido, tirando o facto de ser colaborador do Libération e o livro ter recebido o Prémio Femina de 2015. Dois tiros no escuro, a bem dizer...


Parece poder concluir-se que, apesar do linguajar norte-americano globalizante e cheio de erros e abreviaturas internéticas que por aí se fala e escreve, os europeus väo lendo cada vez mais e apenas nas suas próprias línguas nacionais. Ao menos, em papel.
Patrioticamente?

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Um museu à medida de Koblenz


Sem a riqueza do acervo do Museu Ludwig, de Colónia, o Mittellrhein-Museum de Koblenz integra, desde 2013, no centro da cidade e em edifício arejado e condigno, esteticamente bonito, vários focos museológicos, até essa data dispersos pela urbe renana. Variados segmentos, que compreendem a arqueologia, arte sacra, com um interessante grupo estatuário de madonas sorridentes, bem como um acervo pequeno, mas significativo de pintura antiga, de que eu destacaria um pequeno quadro representando Santa Ana, a Virgem e o Menino, de autor desconhecido, do início do século XVI;



muito próximo, se pode apreciar, do flamengo Lucas van Valckenborch (1535-1597), uma Torre de Babel (1585), finamente executada, apesar de nos lembrar outras obras da nesma época, sobre o mesmo tema, de outros pintores, embora talvez menos conseguidas.



O retrato está abundantemente representado, por obras de pintores regionais, menos conhecidos, alguns dos quais muito sugestivos na sua expressividade humana. O Mittellrhein-Museum tem também um acervo interessante de pintura moderna e contemporanea que integra, entre outras, pinturas de Munch e Nolde.
E quero por aqui arquivar, por gosto pessoal, uma pequena paisagem fluvial de Turner, de 1842, que muito me agradou e surpreendeu.



Ora, foi assim que gastamos, culturalmente, a nossa Quinta-feira, matinal, com prazer e proveito, em Koblenz, sem Sol, mas também sem que a chuva nos incomodasse.

O acinzentar da vida


Era Paul Cézanne que dizia, em conversa com Joachim Gasquet, que:  Näo somos pintores enquanto näo pintarmos um cinzento. O inimigo de toda a pintura é o cinzento, diz Delacroix.
Provavelmente, nem todos os pintores se associam a este pensamento radical. Depois, há cinzentos e cinzentos: o verde cinzento, o castanho cinzento, o azul cinzento... 
Porém, convivendo há mais de uma semana com céus cinzentos, eu arriscaria dizer que, embora monótono e talvez inimigo da alegria, pode conviver-se com ele, seriamente, e de boa fé...

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Desabafo (31)


É um sossego estar aqui (Alemanha), sem acesso aos verborreicos noticiários televisivos portugueses, nem aos minuciosos e paroquiais explicadores jornalistas e comentadores lusos. Há por aqui um filtro teutónico, adulto e saudável, que me poupa às frioleiras apatetadas e só deixa passar o essencial do que vai acontecendo pelo mundo.

Culturas e idades


Passará despercebido a muitos, que a Alemanha costuma dedicar um especial interesse político, económico e cultural, aos países vizinhos geograficamente colocados a Leste. Talvez mesmo superior ao que consagra aos seus vizinhos do Oeste europeu. Disso se faz eco, por exemplo, o livro (Pátria Apátrida) que ando a ler de W. G. Sebald.
Sendo do ano da minha colheita este escritor, isso poderá também indiciar uma escolha geracional, posterior à II Grande Guerra. O que, perante alguns autores da Europa Oriental, me deixa, por vezes, em branco, relativamente ao assunto de alguns capítulos mais específicos da referida obra. Nomeadamente, certos ficcionistas secundários do desaparecido império austro-húngaro, de que tenho um deficiente enquadramento.
A idade, no entanto, irmana as pessoas, frequentemente, pelas afinidades culturais comuns e referencias concretas, semelhantes, bem como históricas. Acontece que, por brincadeira e cá por casa, no convívio familiar temporário, eu e J. G., nos temos vindo a tratar pelos pseudónimos de Dr. Livingstone e Mr. Stanley, humoristicamente.
Porque, apesar de criados em países diferentes (Alemanha e Portugal), ambos temos presente o célebre episódio do encontro, em África, dos 2 exploradores. Que ficou consagrado pela expressiva pergunta inicial de Henry Morton Stanley: Doctor Livingstone, I presume?! Facto histórico comum, afinal, ao nosso (quem diria?) património cultural. Europeu. E, assim, ambos também, sabemos perfeitamente daquilo de que estamos a falar...

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Crónica sucinta dos antecedentes


O Helmut , aperaltado e dominical, trazia o ganso num cesto, muito bem acomodado. Congelado, claro, mas que chegava quase aos 6 quilos. A Karola, varoa sólida e renana de rosto prazenteiro, era portadora das delikatessen e da alegria. Várias compotas de manufactura doméstica, bolachinhas natalícias de oferta. O casal simpático somava, entre si, século e meio de idade, mas ninguém o diria. Isto foi no Domingo, matinalmente, seriam umas 9h30.
Às 7h00 de Segunda-feira, HMJ acantonou-se ao forno, dando voltas ao bicho, de hora a hora, e aspergindo-o de molho para que mantivesse a tenrura e macieza de pele. Meia-hora antes do comer ir para a mesa, iniciou-se o arroz de miúdos, já a couve roxa estava no ponto e as herzogin kartoffeln, substituídas por batatas fritas, que vieram a meu benefício. Que os pomos de recheio, no papo do ganso, também já rescendiam, divinais. A ágape iniciou-se às 12h45.
Nada faltou. Mas ainda sobraram uns fiapos tenros da ave natalícia, que estava saborosíssima...

Em Koblenz, neste ano gracioso de 2017, a 25 de Dezembro.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Louis Armstrong - White Christmas


Que me perdoem os puristas do género e das etnias, que, dos Reis (magos), só para aqui tenha trazido e convocado o nobre Baltazar...

domingo, 24 de dezembro de 2017

Uma ilha citadina, por entre o Reno e o Mosela


Oberwerth é uma espécie de Mouchao (adicionar o til, por cima do "a"), à moda da Alemanha. Ou seja, é uma ilha, na cidade de Koblenz, no meio do Reno, já depois deste rio ter absorvido o Mosela, após o singular triangulo do Deutsches Eck, donde também se pode ver a pesada Festung (Fortaleza) do Ehrenbreitstein. Por lá dormi uma noite, na existente Pousada de Juventude, da altura, num Agosto dos meus ainda verdes anos.



Oberwerth é uma ilha fluvial tranquila, com pouco comércio, muito arborizada e com uma fauna, sobretudo aves, bastante diversificada. É uma zona residencial, por excelencia.
Quando, pela primeira vez (1964) estive no Deutsches Eck, os dois rios reunidos podiam distinguir-se, perfeitamente, pelas suas cores diferentes, ao longo do horizonte visível.
Hoje, infelizmente, tem a mesma cor. Poluida, embora pouco.

Mas será em Oberwerth que o Ganso Assado constituirá o prato forte do nosso Natal familiar, a 25/12/2017, acompanhado por um vinho tinto de Baden, de que já experimentámos a boa qualidade...
Bom Natal, a todos, seja com peru ou bacalhau!

sábado, 23 de dezembro de 2017

Outroras


A singularidade de determinadas datas arrasta consigo a memória torrencial de tempos iguais, passados.
Se, nas primeiras Consoadas, a figura matricial da minha Tia Ermelinda pontificava, nos Palheiros, ocupando, como tema de conversa à ceia natalícia, vimaranense, as aventuras de conseguir o melhor bacalhau de lasca grossa, fosse ele do Rebelo, da Noruega, do Bernardino J., da Islandia ou da Inglaterra, esta próxima consoada, numa improvável ilha do Reno, terá contornos muito próprios, exóticos quase para mim, com ganso assado por entre couve roxa, airelas, e outros sabores estranhos de componentes tradicionais teutónicos.
Terá sido nos primeiros anos da década de 80, que o veterano da minha mesa natalícia resolveu enumerar as várias casas e natais, por onde passara, ao longo da sua vida. Militar na reserva, e com passado colonial, o seu nomadismo ultrapassava as 30 moradias. Eu meti a viola ao saco, porque todos os meus natais tinham sido continentais e, ainda hoje, os posso enumerar, quase todos, pelas ruas: Palheiros, Alberto Sampaio, vimaranenses; de Riba de Ave, 5 consoadas, de que esqueci o nome da rua. A Sul, depois: S. Sebastiäo da Pedreira, Rodrigo da Fonseca e Manuel Parada. Talvez, António Maria Cardoso, mas apenas uma vez.
Internacionalizo-me este ano, na Simrock Strasse, de Koblenz. Mesmo assim,  nem chego a 10 locais de consoada, diferentes, o que faz de mim um verdadeiro sedentário natalício. Conservador e tradicional, assim seja, por agora e pela época que atravessamos.

As fadas do lar e os mexidos vimaranenses


Todos os anos, atavicamente e por esta altura, quais borboletas nocturnas fascinadas pela luz, dezenas (centenas?) de donas de casa devotadas (ou meramente curiosas...) visitam um velho poste (de 24/12/2012) com a receita tradicional dos Mexidos ou Formigos Vimaranenses.
É assim que este poste ocupa o terceiro lugar (1.163 visitantes, hoje e até aqui), dos mais visitados do Arpose. Só este Dezembro de 2017, conta já 129 consultas...
Mas uma coisa é a coscuvilhice ou curiosidade, e outra, o respectivo labor de executar a receita para prazer lambareiro das famílias. Quantas destas "fadas do lar", que flanam pela Net, a pensam executar?
Creio que muito poucas, certamente...

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Balancete de um Dezembro heterodoxo


Evitando convocar, para aqui, John Lennon, imagine-se:

- um céu cinzento que nada promete.
- a morrinha galega de Rosalía, que polvilha a rua e os caminhos, por onde andamos.
- 9 (ou 11) periquitos Alexandre, formando uma colónia inesperada e alacre, numa aldeia à beira Reno.
- uma jovem empregada simpática, mas indiferenciada e ignorante, num quiosque de Koblenz, que nada sabia de revistas estrangeiras, nem sequer onde estavam arrumadas, nos escaparates.
- a recordada memória de 8 gatos (Miki, o pomposo "Il Divo" - que assim lhe chamei -, o Santos...), mais a Rita, muito vivaz rafeira que veio do Brasil. E  ainda 7 porcos-espinhos, quase prontos a hibernar.
- mais o ganso assado com couve roxa, mais um Primitivo tinto, italiano, ontem à noite, servido pelo Mario, croata que mais parecia italiano, na sua loquocidade gesticulante, e que, pelo seu aspecto físico, passaria muito bem por filho de Bashar al-Assad, na sua vera imagem.
- duas ou mais grappas, de Barolo, Chardonnay, Muscat, distribuídas por estes 3 dias, para acalentar o desconforto, relativo, de longes terras, e escrevinhar com gana estas notícias renanas, que por aqui deixo.

E agora acrescentem a personagem invisível do desesperado Blogger a escrever um poste, evitando o til e outros preciosismos ortográficos lusos, que o soberano computador renano, ostensivamente, ignora...

Citações CCCXXXIII


A gratidão é um dever que merece ser recompensado, mas que ninguém tem o direito de esperar.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Natal e Ano Novo


Vai o Arpose entrar em vilegiatura, descanso e velocidade de cruzeiro, nos tempos mais próximos. Desconheço até, de momento, se virei a poder acrescentar, tão cedo, alguns postes ao Blogue, do lugar para onde iremos, ou responder, a partir de agora, a comentários.
Nesse sentido, endereçamos antecipadamente, com estima, aos Amigos, Comentadores  e Seguidores, os melhores votos de Boas Festas.

E, entretanto, aqui deixo de Arcangelo Corelli (1653-1713) o Concerto fatto per la Notte di Natale.

Sem título


Pode viver-se por convencimento tácito uma situação, que se repete, ainda que lhe faltem os ingredientes originais e as personagens matriciais que lhe deram substância em tempos remotos. Pode até não haver a falsidade de nos enganarmos, mas simplesmente uma adesão afectuosa de aconchegarmos o corpo, do frio, e a alma, de saudosas memórias. Podemos até mudar de geografia, de casa, de gastronomia, mas o Natal acaba sempre por vir ter connosco, quer queiramos ou não, na sua nudez de criança e maravilha, na sua incomodidade desajustada, às vezes. Até um dia, em que faltaremos à mesa...

domingo, 17 de dezembro de 2017

Do que fui lendo por aí... 16


É impossível, creio, para qualquer poeta, enquanto escreve um poema, aperceber-se com total acuidade de aquilo que está a acontecer, bem como definir, com segurança, o que é devido à actividade subconsciente, sobre a qual ele não tem qualquer controlo, e o que é produto do artifício (craft) da criação. Tudo o que se possa afirmar, com certeza, é sempre pouco rigoroso. Um poema não é criado, em si, apenas no espírito do poeta, tal como uma criança se desenvolve no útero materno; algum grau de participação consciente do poeta é necessário; alguns elementos de artifício (craft) estão sempre presentes. Por outro lado, a escrita de poesia não é, como a carpintaria, um simples ofício; um carpinteiro pode decidir construir uma mesa de acordo com determinadas características e sabe de antemão que o resultado será exactamente aquele que planeou; mas nenhum poeta consegue saber o que vai ser o poema, até acabar de o escrever.

W. H. Auden (1907-1973), in The Dyer's Hand (pg. 51).

A insustentável leveza dos nóveis políticos


Às vezes, ainda fico pasmado com a falta de memória histórica de muitos dos políticos actuais. E com a sua pureza ingénua, alheia à lógica e coerência das consequências resultantes de algumas decisões tomadas de ânimo leve. Já não bastavam os pedidos de desculpa, perante factos do passado, de alguns Papas recentes e PR, que se desmultiplicaram a pedir perdão por acontecimentos, explicáveis na altura, mas hoje condenáveis pela moral vigente. O que é que adiantam, de facto? Para além de se reordenarem pelo execrável e hipócrita catálogo actual do politicamente correcto? Nada - concluo, pois o mal está feito, de pedra e cal, no passado.
Pasmei, de facto, com esta notícia do Le Monde (cuja imagem encima este poste) em que o sr. Macron se propôs, na sua leveza juvenil, devolver ao Burkina Faso, obras de arte africana, existentes em França. E não pude deixar de pensar na Bíblia dos Jerónimos, manuelina, levada de Lisboa, pelas hordas napoleónicas de Junot, e que teve de ser resgatada, mais tarde,  para voltar a Portugal. Será que o núbil PR francês estará a pensar, também, pedir à sr. May para restituir a Pedra da Roseta (hoje, no Museu Britânico) -  atendendo ao Brexit e na mesma coerência cristã - ao Egipto, raptada que foi, sob o alto patrocínio de Napoleão e do sr. Champollion, da terra dos Faraós, em 1799?
Porque, e como dizia o sapateiro de Braga: "ou há moralidade, ou comem todos".


sábado, 16 de dezembro de 2017

Impromptu (33)


Entre o intelectual da direita extrema e o fortalhaço da ponta esquerda, os três cavalheiros do centro equilibram o conjunto. E desafiam qualquer um a arrostar com o frio que se aproxima neste Dezembro de 2017...
É certo que, assim trajados, isto só poderia ter acontecido no Verão. De 1944.

Sobreavaliados e subavaliados


No penúltimo TLS (nº 5984), a direcção da revista literária inglesa resolveu repescar um inquérito que, em 1977, tinha feito junto de algumas personalidades conhecidas, sobre escritores e obras que eles consideravam sobreavaliadas e subavaliadas, na sua qualidade artística ou de importância. Passo a fazer uma pequena selecção das respostas de 5 dos inquiridos.

1. Roland Barthes. Sobreavaliado: Malraux; subavaliado: Raymond Queneau.
2. Philip Larkin. Sobreavaliado: "Women in Love", de D. H. Lawrence; subavaliada: Barbara Pym, com as suas novelas.
3. D. J. Enright. Sobreavaliada: "A Morte em Veneza" de Thomas Man; subavaliado "O Doutor Fausto", do mesmo escritor alemão.
4. Quer David Hockney, quer Bob Dylan, consideraram a Bíblia sobrevalorizada.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Uma breve entrevista de W. G. Sebald, abordando o quotidiano e a fotografia

O ralo estreito das escolhas pessoais


De vez em quando, mas muito raramente, um nome novo passa no meu crivo. Se quanto a pintores, os últimos a ganharem preferência (há 15?, 20 anos?) foram Turner e Hockney, os realizadores de cinema também não têm aumentado, muito, ultimamente. O mais recente, talvez tenha sido Tornatore, depois de Sorrentino e Moretti, na minha parca lista de favoritos de referência. E, quanto a escritores de policiais, já fechei o círculo restrito, em que ocupam lugar de honra S. S. van Dine e Simenon. Porque, com a minha idade, é salutar não perder tempo com frioleiras que nada trazem de novo e, por isso, tento exercer o meu sentido crítico com rigor austero.
Claro que não sou imune a nomes que se repetem freneticamente nas páginas literárias - quanto a escritores - e que são aconselhados por recenseadores sérios (críticos é que já não há...). Mas basta-me folhear, numa livraria, alguma obra muito falada, para tomar posição definitiva sobre um autor. Raramente me deixo impressionar com a moda. Muito menos, por esses enxames de (falsos) blogues, em que algumas domésticas (a soldo de editoras) e mulherzinhas, com vocação de costureiras, tecem loas altíssimas a obras pindéricas, normalmente mal escritas, publicadas por núbeis ou velhos "suspeitos do costume"...
Para mais, estamos a atravessar a época natalícia das miragens, com recomendações equívocas e fraudulentas de vinhos, livros, filmes e quejandos, de qualidade muito duvidosa. Acresce o facto de eu precisar de levar para longe, comigo, alguns livros (3?) que me acompanhem de entretém mental, nesse país distante onde, por esta altura, neva, e em casa alheia. Lembro-me que, de uma vez, me fiz escoltar de Vergílio Ferreira, Steiner e Xavier de Matos, para uma aldeia renana, a que se juntou um livro de René Char, comprado, depois, em Liége. E bem. Que a escolha foi avisada!...
Por agora, vai curta a selecção e próxima a partida, e tinha apenas para levar Pátria apátrida, de W. G. Sebald (1944-2001), autor alemão que recentemente passou na inspecção apertada do meu crivo de referências. Deus me inspire a descobrir mais dois ou três livros, para levar e ler! O que vai ser difícil e um bico de obra, no já pouco tempo que me resta, para seguir viagem.
Mas, hoje de manhã, lá consegui descobrir na (Livraria) Escriba, mais uma obra que promete, muito bem traduzida por Aníbal Fernandes. E de uma editora alternativa (sistema solar) que, como vai sendo hábito, as páginas literárias conceituadas nem sequer falam...


quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Curiosidades 67


Se o aperto de mão é consensual em quase todo o mundo, o beijo, como saudação física, já é mais restrito. Muito menos o beijo na boca que, efusivo e frequente entre os antigos dirigentes comunistas, julgo que o varonil sr. Putin deixou de praticar. Não me esqueço, porém, daquele beijo de Judas que o sr. Gorbachov deu ao seu camarada Honneker, da RDA, pouco antes de o deixar cair fragorosamente, bem como ao seu regime...
As saudações orais variam muito, de país para país. Na Mongólia, por exemplo e pelas agrestes condições climáticas, os seus habitantes costumam cumprimentar-se com uma frase, mais ou menos, nestes termos: Então vais passando bem pelo Inverno?
Regressando aos ósculos, registo que os belgas costumam saudar-se com 3 beijos na face. Em Portugal, um tio ou uma tia, oscula-se apenas uma vez - é de bom tom. Enquanto o lusitano comum dá dois beijos, repenicados ou não.
O caso mais diversificado, por norma, ocorre em França. Em Paris, são dois ósculos, tal como cá. Mas na Provença, usa-se dar 3 beijos, 4 no Vale do Loire e, na ilha de Córsega, talvez por serem mais beijoqueiros, vão até 5 - como nos informa Andy Scott, no seu livro One kiss or two?

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Idiotismos 43


Ao que parece, no inglês norte-americano os hífens têm vindo a desaparecer, ultimamente, enquanto na Grã-Bretanha se têm mantido. O que tem provocado algumas reacções daqueles que costumam escrever para publicações dos dois países, devido às diferentes grafias.
Em Portugal o movimento, se calhar, vai em sentido inverso. Dei-me conta que o antigo regabofe, agora, para ser correcto, deve escrever-se: rega-bofe. Com hífen, portanto. Porquê, não sei, porque o facto já é anterior ao AO. Mas a palavra não deixa de ser curiosa, em si.
Entendida literalmente significaria: molhar os pulmões (bofe/bofes). Mas os dicionários registam que um rega-bofe é uma festa onde se come e bebe à farta ou, então: vida airada; mas também poderá significar folia ou divertimento em larga escala.
Pessoal ou subjectivamente, tenho rega-bofe como muito próximo do ad libitum da praxe académica coimbrã que gritado pelo chefe de trupe permitia que um infeliz caloiro fosse rapado totalmente, pelo grupo. Mas também me lembro do é fartar, vilanagem, que Álvaro Vaz de Almada, Conde de Avranches (1390-1449), pronunciou na batalha de Alfarrobeira, antes de se entregar à morte, lutando.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

A propósito de um livro de exercícios


Durante muitos anos, pensei, intuitivamente, que todos os meus amigos e conhecidos sabiam nadar e andar de bicicleta. Pareciam-me daquelas competências básicas que, nas palavras do escritor Georges Perec, se pode traduzir (Pedro Tamen) por: a vida, modo de usar. Estava redondamente enganado.
Mas também eu nunca fui muito de exercícios físicos e, nesse aspecto, encontro-me na boa companhia de Churchill.
Na disciplina liceal de Ginástica, cumpria os mínimos, mas a subida da corda ou o salto sobre o fosso, na tropa, sempre me criaram alguma angústia existencial... Não era o caso do tronco, temível para os de pequena estatura corporal, a que eu chegava com extrema facilidade por ser alto.
Para quem tem muitos livros, a existência de nichos escusos de difícil acesso e volumes em segunda fila faz esquecer, com o tempo, obras significativas ou de particular estima que, momentaneamente, vamos arrumando em prateleiras secundárias, à falta de melhor espaço.
É o caso deste O Meu Systema, de I. P. Müller (1866-1938), que me coube por herança de pessoa muito próxima. 
Numa edição da Bertrand (como sempre, manhosa, sem data de impressão...), provavelmente de finais dos anos 30, terá custado a esse meu familiar, uns módicos Esc. 8$00. E, por ele, terá aprendido os rudimentos do exercício da Ginástica Sueca (embora o autor da obra tivesse sido um oficial do exército dinamarquês), muito em moda na época. Que as fotos e imagens são bem elucidativas.


Pois, lubrificado hoje, pela matinal e salutar natação da piscina autárquica, eu consegui debruçar-me, facilmente, para o lado esquerdo da secretária, e encontrar esta preciosidade bibliográfica, na prateleira do fundo.


De que, aqui, fica um pequeno respigo iconográfico, antes que o livro regresse à estante mais térrea...

domingo, 10 de dezembro de 2017

Natal, livros, fadas, arte e pesadelos...


Por esta época, retrocedemos. Ao menos, de memória. Uma fuga ilusória para o virtual aconchego de uma infância retocada de lareiras, brinquedos, livros de fadas e afectos desaparecidos, em que o futuro parece ser apenas o passado do presente. E não será preciso citar T. S. Eliot para reunir os três tempos do Tempo, numa confluência desejada, mas irreal.


A artista britânica Su Blackwell (Sheffield, 1975), tirado o curso de Belas-Artes, tem-se dedicado, desde 2003, a recortar livros infanto-juvenis, usados, que compra em alfarrabistas, transformando-os em pequenas esculturas de papel, alusivas às histórias aí narradas. Evidentemente que as palavras acabam por ser canibalizadas pela imagem. Como antes, as árvores tinham sido canibalizadas pelos livros.



Será muito discutível este processo. Para alguns, esta destruição dos livros pode assemelhar-se a um pesadelo desrespeituoso; para outros, sobretudo nesta época natalícia, a fantasia que desperta, anula, de algum modo, o acto criminoso.
Seja como for, cada um destes livros artísticos é vendido a 5.000 libras inglesas...
Alguém quer atirar a primeira pedra?

Uma fotografia, de vez em quando... (101)


Era Eugénio de Andrade que dizia, a propósito dos nossos fascínios e obsessões, que "não se escolhe, é-se escolhido". O argentino (Pedro) Luis Raota (1934-1986), filho de camponeses pobres, teve desde cedo uma particular atracção pela fotografia.




E captou, maioritariamente a preto e branco, figuras e rostos de desfavorecidos, carecidos no viver do dia a dia, desenraízados, muitos deles ancorados na esperança transcendente de outros mundos. A sua obra teve o reconhecimento de vários prémios internacionais.



Mas a algumas das suas fotografias não faltou, também, um ou outro sinal de humor e irreverência.

sábado, 9 de dezembro de 2017

Osmose 91


Há memórias que não jogam, entre si. Ou porque os intervenientes não chegam a acordo quanto a datas e pormenores, ou porque somos a única testemunha sobrevivente e já não temos ninguém que  possa certificar  o facto com rigor.
Por uma coincidência, de estatística altamente improvável, sei que eu e mais dois amigos nos encontrámos, afortunadamente, no Verão de 1973 ou 1974, em Londres, numa esquina de Picadilly Circus, por mero acaso. Como diziam os antigos cauteleiros: há horas felizes...
Eu sei que o mundo é pequeno.
Mas nem eu, nem o Carlos, nem o António, nos lembrámos de mais nada. Para além desse facto real.
Quando muito, a efabulação de um escritor poderia compor o resto, com imaginação afectuosa.
E escrever um romance. Se tivesse talento.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Os malefícios da ditadura do proletariado


Todos têm o Natal que merecem.
Até nós tivemos 10 cavacos natalícios, com os respectivos sermões de boas festas, abaixo de cão. Inofensivos, porém.
Os marcanos estão a pagá-las, também, pela sua boçalidade natural. Infelizmente, com reflexos incalculáveis para o resto do mundo.
O povo, normalmente, é burro, imediatista, inculto, sobretudo quando vota. E temos que aturar, democraticamente, os resultados daí decorrentes...
(Perdoem-me o elitismo, momentâneo.)

Divagações 128


Há prefácios que valem um livro. Outros, cujo texto principal seria esquecido completamente se não fosse o prefácio (de outro autor) que acompanhava a obra. Posfácios ou prefácios de Jorge de Sena - que raramente resistia a escrevê-los para os seus livros e traduções - são ainda hoje saborosíssimos de ler ou fontes de informação e/ou erudição preciosas para enquadramentos de história literária ou da república das letras portuguesas.
Um dos exemplos primeiros de um prefácio, que enriqueceu muito uma obra, foi escrito por Eça de Queiroz, em Bristol, em 1886, para acompanhar um livro de crónicas do seu amigo Conde de Arnoso ( o vimaranense Bernardo Pinheiro Pindela). Ainda hoje a obra Azulejos é procurada e conhecida por causa do interessante prefácio de Eça.
Outro caso, é um livro de poemas, Alma Errante (1932), do russo e judeu Eliezer Kamenezky, vago actor e boémio a viver em Lisboa que, conhecido de Fernando Pessoa, lhe pediu umas palavras de apresentação para as suas poesias, a editar. Os poemas são fracotes, mas o prefácio merece ser lido. E é por isso que o livro é conhecido, ainda hoje...
Tudo isto vem a propósito de eu ter estado, vai, não vai, para comprar, num alfarrabista, o livro de poemas Tangentes (1975), de Merícia de Lemos (1913-1996), só porque tinha um prefácio de Vitorino Nemésio.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Citações CCCXXXII


No estilo fui sóbrio, não empregando sequer um adjectivo inútil; creio que, nas obras didácticas, à seriedade da ideia deve corresponder sempre a seriedade da forma.

José Leite de Vasconcellos (1858-1941), no prefácio a Opúsculos (1886).

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Rameau / Woskowiak

Retro (97)


Têm normalmente vida breve, os programas de cinema ou teatro, servindo fugazmente uma temporada. Por razões subjectivas ou esquecimento, às vezes, acontece que sobrevivem e surpreendem quem os conservou. Foi o que aconteceu, com estes dois programas, que correspondem a espectáculos memoráveis, a que assisti, no Teatro de D. Maria II.



Referem-se a representações de grande qualidade, com um elenco de luxo. O primeiro, encarte de cartolina com 3 faces, refere-se à peça Virginia (1985), de Edna O'Brien, e contou com um desempenho brilhante de Carmen Dolores (1924), na protagonista. O segundo é quase um livrinho, de 60 páginas, contextualizando a Mãe Coragem... (1986), de Brecht, interpretada por Eunice Muñoz (1928).
Aqui ficam as imagens, para recordar duas grandes actrizes portuguesas, felizmente, ainda vivas.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Português em destaque (11)


Olhado com desconfiança, a princípio, cá dentro e lá fora. Objecto até de alguns dichotes e insinuações malsãs, por parte dos mediocres e invejosos nacionais e estrangeiros, Mário Centeno (1966) foi construindo o seu precurso, através da solidez dos resultados e da sua competência profissional.
Foi hoje eleito presidente do Eurogrupo. Não creio que tenha sido um presente envenenado.

Oaristo sem palavras


Não tendo o fulgor emblemático de "O Beijo" (1950), de Robert Doisneau (1912-1994), esta foto, provavelmente de autoria de Brigitte Lancombe (1950), fotógrafa francesa colaboradora da Vanity Fair, Vogue e algumas outras revistas, sugere de forma discreta, pela ocultação de ambos os rostos, o afecto de um casal, na sua expressão mais simples e natural.
O instantâneo serviu de capa ao livro At the Stranger's Gate, do escritor e ensaísta Adam Gopnik (1956), que é também colaborador de The New Yorker. Foi tirada em plena lua-de-mel, mais concretamente no dia seguinte ao casamento (1981), do escritor e da sua mulher, Martha Parker. Julgo que a fotografia dispensará qualquer acrescento, que eu pudesse vir a fazer...


domingo, 3 de dezembro de 2017

Revivalismo Ligeiro CCLXXV

para MR, esta minha canção predilecta de Barbara.

Filatelia CXXI


Em vários países europeus, as direcções dos Correios nacionais costumam presentear algumas instituições ou personalidades ligadas às Comunicações, bem como filatelistas de reconhecido mérito, com encartes de bom gosto artístico que incluem os selos de emissões a emitir. E contextualizam os motivos da celebração.



Portugal não fugia à regra e os selos das ex-Colónias eram também oferecidos, em caderninhos criados para o efeito, com enquadramento histórico explicativo das razões dessas emissões de selos. A Alemanha, ainda hoje, produz esses encartes para ofertas, de elevado gosto estético.



O primeiro deles, em imagem, destinava-se a celebrar Heinrich Hoffmann (1885-1957), escritor de livros para crianças. O Struwwelpeter não deixa de lembrar o Eduardo Mãos de Tesoura, do filme de Tim Burton... O segundo (terceira imagem) encarte recorda o pioneiro da aviação germânica Otto Lilienthal (1848-1896).