quinta-feira, 31 de março de 2016

Saint-Preux / Haim Shapira

Comic Relief (122)


Uma agência ou revista de turismo (Turismo & Negócios) de Maceió (Brasil) produziu estas pérolas culturais aliciantes sobre Portugal, para divulgação junto dos potenciais clientes.
Não vale a pena acrescentar mais nada...


com agradecimentos a A. de A. M..

Desabafo (11)


Tenho visto, num propósito cívico de melhor me documentar para poder ter opinião, no Canal Parlamento, as audições sobre o caso Banif. Pareceu-me assistir a um remake do que foram os espectáculos do BPN, BES, embora com diferentes actores, sendo os diálogos semelhantes, com abundante utilização estrangeirada do economês. Num ponto, os testemunhos parecem coincidir: estava tudo bem nesses bancos, até à intervenção superior de... Ou seja, sempre a bondade da ficção virtual económico-financeira, a perturbar o happy-end do melodrama, na versão destes CEO's e gestores do argumento. Mal ou bem, pacientes ou algo irritados, os deputados lá vão fazendo o seu trabalho. E chegam a conclusões nos relatórios.
Entretanto, soberana e minudente, a montanha da Justiça à portuguesa ainda não pariu nenhum rato. E o caso BPN já quase começou há 10 anos... Não seria de pedir contas a estes juízinhos sonolentos e preguiçosos, ou complacentes? Estarão à espera que os actores morram para mandar arquivar os processos?

quarta-feira, 30 de março de 2016

As palavras e os factos


"...Valéry tinha razão quando comparava a arquitectura à música. Ao entrar na Catedral de Soissons - reconstruída imediatamente após a guerra 14-18 - senti uma alegria análoga à que por vezes me dá a música.  ..."

Simone de Beauvoir, in Balanço Final (pg. 164).


P. S.: diz-se que uma imagem vale mil palavras, mas há frases que são uma mais valia sobre a imagem.

arte menor (24)


Vida


Mesa
a que faltam corpos
e cadeiras sobram,
sempre.


Sb., 28-30/3/16.

terça-feira, 29 de março de 2016

Wim Mertens


Mais uma obra musical de Wim Mertens (1953), enriquecida pela sua voz entoada na linguagem inventada e pessoal que o caracteriza.

Mercearias Finas 111 : a Tinto Cão


Richard Mayson (Os Vinhos e Vinhas de Portugal, 2005) chama-lhe fascinante, mas a melhor definição desta casta de uvas, de origem duriense, deu-ma HMJ: um fino rústico. Mayson acrescenta que a Tinto Cão tem baixa produção e amadurece tarde. Além disso, precisa de uma sábia exposição solar que lhe apure o justo equilíbrio entre a acidez e o álcool, que a faz famosa. Mas isto é no Douro...
Andei anos, aspirando provar um vinho da Tinto Cão, estreme, a preço razoável - é normalmente caro. Até porque já a conhecia lotada, dos bons vinhos tintos de Alves de Sousa: Quinta da Gaivosa e Quinta das Caldas. Calhou, há dias, realizar o meu desejo, através da Casa Santos Lima, mediante preço convidativo: 5,99 euros, bem merecidos. Produzido na região que fora da antiga quinta de Herculano, na Estremadura.
Poderoso, rústico mas rico em sabor, este vinho da Tinto Cão 2011, monocasta, com 14%, que está para as curvas dos próximos anos, desafrontou com galhardia uma Favada com Entrecosto. E melhor se bateu, no final, com um Queijo de Cabra artesanal. É vinho para comidas fortes, de Inverno, na boa tradição lusitana. Deixa boas memórias no palato, este néctar precioso.


segunda-feira, 28 de março de 2016

A par e passo 163


Uma vez que a palavra sonho se intrometeu neste discurso, eu direi de passagem que nos tempos modernos, e a partir do romantismo, se estabeleceu uma certa confusão, bastante explicável, entre a noção de sonho e a da poesia. Nem o sonho nem a fantasia (rêverie) são necessariamente poéticos; podem-no ser: mas as figuras formadas pelo acaso não são ocasionalmente figuras harmónicas.
Desde sempre a nossa lembrança dos sonhos nos ensina, por uma experiência comum e frequente, que a nossa consciência pode ser invadida, inteiramente saturada pela produção de uma existência, cujos seres e objectos parecem os mesmos que existem na vigília; mas o seu significado, as suas relações e os seus modos de variação e substituição são outros e apresentam-se, sem dúvida, como símbolos ou alegorias, nas flutuações imediatas da nossa sensibilidade geral, não controlada pela sensibilidade dos nossos sentidos especializados. É assim também que, de algum modo, o estado poético se instala, desenvolve, e enfim se desagrega em nós.
O que é dizer que este estado de poesia é perfeitamente irregular, involuntário, frágil, quer quando o obtemos, quer quando o perdemos por mero acidente. Mas este estado não basta para fazer um poeta, muito menos é suficiente ver um tesouro em sonhos para o vir a reencontrar, no despertar, deslumbrante junto da nossa cama.
Um poeta - e não fiquem chocados com o meu propósito - não tem por obrigação reflectir o estado poético: isso é um assunto privado. Ele tem por função criá-lo nos outros. Reconhece-se um poeta - ou pelo menos, cada um reconhece o seu - pelo simples facto de que ele transforma o leitor num inspirado.

Paul Valéry, in Variété V (pgs. 137/8).

Em glosa camoniana, ou bíblica


sôbolos rios que vão desaguando nas trevas,
eu, sentado a este papel, escrevo
que o perdão sem piedade,
não pelos actos, mas
pelas palavras,
nunca me será dado, e rejubilo,
porque o perdão enfim veria os nomes anulados
pelo falso entendimento
coisa a coisa
- e eu não quero mais perdões de nada


Herberto Helder, in Letra Aberta (pg. 13).

domingo, 27 de março de 2016

Recomendado(s) : sessenta e um


Aqui ficam, como sugestão de leitura, duas obras de grande qualidade, para as férias da Páscoa, editadas recentemente.

Johann Pachelbel (1653-1706)


sábado, 26 de março de 2016

Uma Páscoa Feliz



Já há algum tempo que estava a guardar este postal para desejar aos nossos leitores uma Páscoa Feliz.

Post de HMJ

Lembrete 33


Esta madrugada, os amantes de Morfeu ficarão a perder uma hora de sono. À 1h00 da madrugada, os relógios deverão ser adiantados 60 minutos, passando para as 2h00. Aqui fica o aviso.

Craveirinha


No Pórtico (Prefácio), diz o poeta moçambicano, do livro acabado: "O Maria balada inteira aí está". Só pelo tom comedido será justa a classificação, do que eu diria antes ser uma longa e belíssima elegia, que José Craveirinha (1922-2003) foi compondo por entre os 9 anos que passaram, depois da morte da Mulher. É um poeta viúvo que perdeu meia face e, com a outra, própria e sozinha, foi continuando a escrever o dia a dia. Nas suas coisas mais simples, mas já desamparadas pelo monólogo da casa.
Porque entre Karingana ua Karingana (1982) e Maria (1998), os versos cada vez mais portugueses, e menos africanos, numa estridência que sempre foi medida, ganharam o granito da terra e a essencialidade da maior poesia. Que este último livro tenha sido pouco falado, e menos ainda recenseado, não me surpreende. É sempre mais fácil falar de coisas banais (parece que se publicam, diariamente, 2/3 livros de versos, hoje, em Portugal...), do que ter de elevar o tom, para apreciar uma obra singular e única.
Fiquemo-nos pelo poema que José Craveirinha designou por Ao gosto de Maria:

Dizem que o Zé Craveirinha
é um velho sempre na moda
que sabe vestir
e calçar bem.

Mas o Zé diz que tudo o que ele usa
não é ele mas Maria
que o faz escolher
ao gosto dela.

Citações CCLXXXIII


Sem relações humanas, não haveria em mim mentiras visíveis. O círculo limitado é puro.

Franz Kafka (1883-1924), in Diário.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Quase só boas notícias


Santa Sexta-feira, em que o jornal quase só me traz boas notícias, me dá conta de acontecimentos felizes e me dá a ler artigos interessantes. Da síntese bem sucedida, de António Guerreiro, sobre a obra de Vergílio Ferreira, da boa nova de saber que algum espólio de Herberto Helder ficará na Faculdade de Letras do Porto, até à programação de hoje, da RTP2, que inclui o Vermelho, às 23h07, da trilogia de Kieslowski, que é o meu filme predilecto do realizador polaco. Santa Sexta-feira!
E, para cereja em cima do bolo, a notícia de que: Vasco Pulido Valente está a preparar um livro, a editar este ano. Retomará a sua coluna em Outubro. Assim, o Papa do pessimismo nacional deixará de segregar o seu fel sobre mim e outros leitores, aos fins-de-semana, durante 9 meses. Evoé!
Nem de propósito vou comer favas ao almoço. Com entrecosto. Já abri, para respirar, um Tinto Cão 2014, estreme, da Casa Santos Lima, que é uma estreia, cá por casa. Uma celebração condigna, pelas boas notícias do jornal de hoje.

Antonio Vivaldi / Aafje Heynes: "Stabat Mater"

quinta-feira, 24 de março de 2016

Curiosidades 54


Uma das teses do livro "The Global Transformation of Time", de Vanessa Ogle, segundo a recensão do TLS (nº 5893), é que a importância do tempo sofreu uma aceleração crucial a partir do capitalismo. Se o tempo passava, começou a gastar-se e a medir-se, meticulosamente, para a execução de tarefas e produção.
Nos anos 60, do século passado, o historiador britânico Edward P. Thompson (1924-1993) fez um trabalho quase antropológico sobre a medição do tempo em comunidades algo primitivas ainda ou isoladas da vida social de todos os dias. Constatou assim que, em Madagáscar, nalgumas povoações rurais usavam, como comparação, para medir o tempo quer "o espaço que demora a cozer o arroz" quer o "tempo de assar um gafanhoto". A importância da alimentação é de sublinhar. Entretanto, na Birmânia, os monges de um convento marcavam o início do dia pela altura em que a "luz era suficiente para distinguir as veias da mão".
Ainda me lembro, também, de ouvir a expressão: o tempo de rezar um Padre-Nosso. Numa parceria curiosa entre a religião e o tempo.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Filatelia CXII


Nunca fui um entusiasta dos selos dos países com regime comunista, tirante a Hungria, que era uma estima da minha meninice. Na maior parte dos casos, as estampilhas eram bonitinhas, mas de traço vulgar,  imaginação conservadora e, frequentemente, um meio útil de propaganda política. É certo que não renegavam a História e divulgavam, de forma expedita, as belezas naturais do país, a sua fauna e flora, a sua identidade e cultura nacional. Enriqueceram-me em conhecimentos, portanto.
Virando a agulha, assisti, com muito agrado, aos discursos de Raul de Castro e de Obama, em Cuba. Dois políticos pragmáticos, inteligentes, raros neste nosso mundo. Acentuaram as suas diferenças, não se excluiram de um diálogo futuro, referiram as suas insuficiências mas, sobretudo, mostraram, sem vergonha nem pruridos, o seu orgulho nacional e o seu patriotismo.
Regressando ao início, a filatelia cubana exemplifica ao longo dos anos a sua História, os seus heróis, os regimes por que passou, as suas opções políticas. De colónia espanhola a casino e bordel dos E. U. A., sobretudo nos mandatos de Fulgencio Batista (vide: O Padrinho II, de Coppola), até uma certa independência inicial sob Fidel, que acabou por ser diminuída pela dependência da U. R. S. S., quase até finais do século XX. Esta pequena mostra de selos de Cuba, a que não falta Camilo Cienfuegos e o carismático Che Guevara, aqui fica para justificar o que disse.

Das figuras de estilo


Dizia Goethe que "a ironia é o grão de sal sem o qual a comida não teria o sabor que tem."
Camilo e Eça foram mestres, no seu uso literário. Mas a ironia é, talvez, das figuras de estilo, a mais ingrata. E uma arma de dois gumes que, muitas vezes, acaba por atingir o emissor. Nada pior do que ter de desmontar o artifício e ter de explicar ao distraído o que, verdadeiramente, se quis dizer. Em resumo, pode ser uma autêntica frustração humana.

terça-feira, 22 de março de 2016

Impromptu (25)


Num blogue a que vou, intermitentemente, encontrei hoje um poste com o título: distimia. Desconhecia a palavra e o Torrinha também a não registava. Foi preciso recorrer ao Houaiss.
Eu creio que o termo se poderia aplicar à Europa, depois do que aconteceu, esta manhã, em Bruxelas.

Karl Jenkins (1944) : "La Folia"


segunda-feira, 21 de março de 2016

No Dia da Poesia, do bom e velho Sá


Ao Príncipe D. João, mandando-lhe mais obras


Tardei, e cuido que me julgam mal,
qu'emendo muito e, qu'emendando, dano.
Senhor, porqu'hei gram medo ao mau engano
deste amor que nos temos desigual;

Todos a tudo o seu logo acham sal;
eu risco e risco, vou-me d'ano em ano:
com um dos seus olhos só vai mais ufano
Filipo, assi Sertório, assi Aníbal.

Ando cos meus papéis em diferenças.
São preceitos de Horácio - me dirão;
em al não posso, sigo-o em aparenças.

Quem muito pelejou como irá são?
Quantos ledores, tantas as sentenças,
c'um vento velas vêm e velas vão.


Nota: em geminação com MR, no seu Prosimetron.

Da ingenuidade, como disfarce


Da leitura do jornal Público, de hoje, colhi dois motivos de reflexão. E ambos de candura quase infantil...
Para onde quer que vá ou viaje, um Presidente norte-americano, havemos de vê-lo sempre rodeado de seguranças. Ora, todos eles (seguranças) são facilmente identificáveis: fatos sombrios foleiros, óculos escuros, quer chova ou faça sol, e cabelo rapado ou cortado à escovinha. Qualquer sniper banal e mesmo pouco dotado os reconhecerá à distância... Como nós reconhecemos, nas ruas portuguesas, aos pares, os Meninos de Deus da seita americana, na sua clonagem geminada e fruste.
A segunda reflexão veio-me dum título, reproduzido abaixo. Já suspeitámos ou ficámos a saber para que zona do mundo se irão orientar os negócios do nosso ex-vice-primeiro-ministro, desempregado. Ou, eventualmente, quem lhe irá dar trabalho e pagar-lhe o ordenado futuro...


Pecadilhos culturais


Não sou um puritano, muito menos um hirto e rígido moralista, mas, tanto quanto me lembro, nunca roubei nenhum livro, ao longo da minha vida. Confesso, no entanto, que algumas (poucas) vezes me aconteceu desejar que se esquecessem que me tinham emprestado algumas obras, de tal modo eu gostara de as ler... Mas nem premeditado se executou o crime. Por outro lado, muitos amigos e boa gente me confessou que tinha roubado livros, em tempos de tentação, juventude e parco orçamento. E todos eram pessoas sérias e com princípios, ainda hoje.
No último L'Obs (nº 2680), o tema é abordado. Genet, Chevillard, Godard confessam ter praticado o latrocínio cultural. Gide deixa-o supor. Mas Marguerite Duras tinha um medo terrível de ser apanhada, porque, disse, teve muitas tentações. Ao que parece, em França, os roubos em livrarias pouco ultrapassam o 1%. Não é muito, pelas regras da estatística. A nível das grandes superfícies, é de norma que só acima dos 3% vale a pena reforçar e investir na segurança e prevenção. Porque, até lá, acaba por ser mais dispendioso, e é "pior a emenda que o soneto".

domingo, 20 de março de 2016

Catrin Finch, para receber a Primavera


Desconversa de Domingo


Letão é o habitante da Letónia, se dúvidas houvesse, bastaria lembrarmo-nos do título do primeiro livro de Simenon, em que entra Maigret. Quanto à Lituânia, é seguro que é povoada pelos lituanos; mas, em relação ao Burkina Faso, não estou certo. Será que era mais fácil quando o país se chamava Alto Volta?
Ao que parece, Rilke considerava os gatos uma espécie de animais imateriais, pelas suas aparições e desaparições súbitas. No que dizia respeito aos cães era, porém, mais severo. Considerava-os uns bichos híbridos ou, nas suas palavras: "nem homem nem besta: um mestiço lamentável e comovente."
As datas de morte de escritores, quando se nos conscencializam na cabeça trazem-nos (pelo menos, a mim) alguma perplexidade. Saber que Cervantes morreu no mesmo ano que Shakespeare (1616), é estranho. Ou que Eça, Nobre e Oscar Wilde faleceram, os 3, em 1900, pode parecer improvável. Qual nos parece mais antigo? E qual, o mais moderno?

sábado, 19 de março de 2016

Retro (82)


Ora imagine-se a laboriosa vida, do dia a dia, de uma dona de casa em 1948, na altura do racionamento, em Inglaterra!? As compras frugais e possíveis: uma costeleta (ou bacon), 2 carapaus (embrulhados em papel de jornal), aí uns dois ou três quilos de batatas...
O bebé, com carapuço na cabeça por causa do frio, no seu carrinho, é que parece um príncipe!
(O vídeo do British Pathé não tem som.)

Da leitura (11)


Terei de confessar que, até há pouco tempo e talvez sem grande fundamento racional, a minha opinião sobre a obra de Eugénio Lisboa (1930) não era muito lisonjeira. O seu acrisolado afecto literário - que me parecia exagerado e acrítico - por José Régio, terá decerto contribuído para essa minha apressada opinião e preconceito.
Ando a ler As vinte e cinco notas do texto (IN-CM, 1987), pelo exemplar que Eugénio Lisboa ofereceu e dedicou a Ascêncio de Freitas (1926-2015). Bastaria o capítulo "O Teatro de Jorge de Sena" (pgs. 35 a 44) para alterar os meus preconceitos desajustados. É uma análise brilhante e comparativa, do ponto de vista biográfico, entre a peça O Indesejado e a personalidade psicológica de Sena.
Mea culpa... E, desde já, emendo a mão e recomendo, sem reservas, para quem se interesse pela obra do autor de "Sinais de Fogo", a leitura deste livro de ensaios de Eugénio Lisboa.


sexta-feira, 18 de março de 2016

A letra escarlate


Pois foi, até me lembrei do norte-americano Nathaniel Hawthorne (1804-1864) e do seu romance The Scarlet Letter, publicado em 1850. Mas entretanto, que diabo!, já se passaram mais de 150 anos, muito embora, durante o nazismo, os judeus também fossem obrigados a usar um sinal ou ferrete muito semelhante. Os denunciantes ou informadores é que tiveram sempre protecção superior.
Mas este rapaz, que dá pelo nome castigado de Paulo Pena, jornalista do Público, escreveu assim, hoje, no jornal: "...As casulas foram desenhadas pelo arquitecto português, comunista, Álvaro Siza Vieira. ..." Como é que o rapazote sabe a filiação do nosso prémio Pritzker? Eu não sei. E, por outro lado, e pelo razoado, este jovem parece ter pouco mundo, dentro da sua iluminada cabecita. Será que é clérigo? Terá andado no Seminário? Porque a notícia me parece extremamente paroquial...

Uma fotografia, de vez em quando (79)


Oriundo de uma família judia alemã, o fotógrafo norte-americano Alfred Stieglitz (1864-1946) nasceu em New Jersey. Cedo, veio a estudar na Alemanha (Karlsruhe e Berlim), para onde a família se deslocou temporariamente (1881-1884), tendo ele continuado por lá até 1890. E foi na Europa que se começou a interessar, definitivamente, pela fotografia, como profissão. Nos Estados Unidos começou a expor, com algum sucesso e reconhecimento público. É dado como certo que foi o primeiro fotógrafo a fazer uma mostra em Museu, no reconhecimento crescente de uma nova arte, que se ia desenvolvendo. O encontro com a pintora Georgia O'Keeffe (1887-1986) terá dado origem a uma paixão recíproca que só seria concretizada em casamento, bastante mais tarde, após o divórcio da primeira mulher de Steiglitz. A Pintora terá sido, aliás, um dos modelos mais obsessivos do fotógrafo.
Além do auto-retrato, deixo em imagem uma das fotos mais conhecidas e emblemáticas de Alfred Stieglitz, intitulada The Terminal (O fim da linha), bem como um dos muitos retratos que tirou a Georgia O'Keeffe.


quinta-feira, 17 de março de 2016

Entre cancioneiro antigo e fábula moderna

Deus proteja as ovelhinhas e os cordeirinhos!...

Cá de casa, com preâmbulo faccioso e imagem apelativa


Tenho umas vagas ideias sobre o que é que origina e motiva os utilizadores do feicebuque, as redes sociais, e a sua correlativa conversa da treta, muito chã, muito ruana, curta e debruada por exóticos erros ortográficos, abreviaturas preguiçosas, e em que não se consegue distinguir se seguem ou não o A. O.. O vulgo é assim, que se há-de fazer!?... Não é Portugal, na União Europeia, o país com mais analfabetos (outra vez?)?
Sobre as visitações a blogues, os motivos serão outros e, algumas vezes, terão preocupações culturais. Mas não convém esquecer que as imagens, a actualidade dos assuntos, o bizarro, têm uma atracção grande sobre as visitas dos ingénuos e inocentes. E há blogues que são quase só imagens, talvez para apanhar mais gente. Passiva porque, em qualquer dos casos, salvo assuntos polémicos, os comentários são, habitualmente, nulos ou parcos, e residuais, se comparados com os visitantes.
Serve este preâmbulo, porventura tendencioso, mas que não se afasta muito da realidade objectiva, para abordar a lista dos postes do Arpose que, desde o início (2009), mais foram frequentados. Seguem:
1º - Mercearias Finas 28: Castas de uvas portuguesas (29/3/2011) - 1.494 visitas.
2º - Do "Bestiário" de Leonardo da Vinci (28/12/2010) - 1.293 visitantes.
3º - Ainda Julio Camba: em louvor do linguado (24/6/2010) - 1.071 frequentadores.
4º - Pinacoteca Pessoal 6: Vincent van Gogh (27/2/2011) - 913 visitas.
5º - Bibliofilia 53: Eau de Cologne (29/10/2011) - 846 visitantes.
6º - Mexidos, ou Formigos de Guimarães (24/12/2012) - 785 clicantes.
7º - O leão, a águia, o galo de Barcelos (17/3/2010) - 714 visitas.
8º - Mercearias Finas 69: globalização, cavalos e batatas (19/2/2013) - 682 frequentadores. 

quarta-feira, 16 de março de 2016

Ad usum delphini (3)


Parece que a Coreia do Norte se vende muito bem, na Inglaterra. Em livro, quer-se dizer, e quem sou eu para duvidar, se é o penúltimo TLS (nº 5892) que o refere, pela pena de Aidan Foster-Carter. Que, neste mesmo jornal, faz a recensão de nada menos de 9 obras 9!, sobre esse aberrante país asiático que vive em ditadura, há já três gerações. A crítica lê-se com agrado, até porque tem algumas picardias bem achadas. Compara, por exemplo, o presente ditador bochechudo norte-coreano, no seu visual, a um vilão do velho-estilo dos filmes de James Bond, mas com mau cabelo...
Mas esta vocação, das obras sobre a Coreia do Norte, para best-sellers, deve ser conhecida de alguns portugueses, com certeza. Ainda não foi há muito tempo que um nóvel novelista luso, perfurado no sobrolho, para lá viajou e publicou, em livrinho, depois, a sua experiência singular e arriscada... 

Uma perspectiva transversal da literatura portuguesa, de Óscar Lopes, a propósito de Aquilino


A sistematização ampla de sintomas e a caracterização geral do perfil e temáticas, que pontuam e definem a literatura portuguesa, são raras. No entanto e do meu ponto de vista, a análise a que Óscar Lopes (1917-2013) procede, ao abordar a obra de Aquilino Ribeiro (1885-1963), na Colóquio-Letras 85 / Maio de 1985, parece-me uma exemplar sinopse. Daí a transcrição, que faço a seguir, de um excerto nuclear das palavras de Óscar Lopes:

"...Outro exemplo, e esse é que faz ao caso, é o seguinte: há na literatura portuguesa uma grande carência de tudo o que seja expressão exuberante da simples alegria de viver, de viver, viver, mesmo apesar e através das maiores agruras ou tragédias. A saudade e a tristeza são o grande emblema da nossa lírica e da nossa novelística, e já contra elas se levantava D. Duarte, que tinha costela inglesa. Ver os grandes dramas individuais ou colectivos como uma grande festa para os olhos, para os sentidos, para o corpo e para a inteligência, para a inteligência e para a fantasia, não é típico da atitude literária portuguesa, embora, evidentemente, ocorra aqui ou além em Fernão Lopes, Gil Vicente, n'Os Lusíadas e na Peregrinação de Mendes Pinto. A atitude literária portuguesa típica é a de meditar sobre as razões de se ser triste, sobre as contradições do nosso contentamento descontente, sobre o além (ou a ausência causal) de todas as nossas insatisfações. Tipicamente, o poeta ou ficcionista português não se permite um espectáculo, um conflito, um enredo, sem a competente retórica justificativa, sem que tudo isso sirva de pretexto a um encarecimento, uma apologia, uma lição de doutrina ou moral. A alegria em estado puro e ainda por cima bem consciente de si, a perfeita reconciliação com a natureza de que nascemos ou da natureza que connosco se descobre e refaz, ou seja, aquilo a que se chama o naturalismo do Renascimento, ou o aspecto por assim dizer solar (e não lunar) do naturalismo do séc. XIX, o próprio saborear da vitalidade humana a contas com as misérias e prepotências do mundo, tal como se espelha na novela picaresca espanhola, pode dizer-se que tudo isso irrompeu em força, e subitamente, nas letras portuguesas com Aquilino Ribeiro, e com uma exuberância ou diversidade de manifestações que contrasta com a raridade dos hossanas portugueses ao Sol, com o coro quase geral dos poetas da lua e da sombra, salvas poucas e pouco variegadas excepções em que, ao tempo de Aquilino Ribeiro, uma geração antes e outra geração depois, eu destacarei CesárioVerde, Almada-Negreiros e Miguel Torga. ..."

terça-feira, 15 de março de 2016

Wim Mertens : "Wandering Eyes"


Os 36 segundos finais do vídeo são de aplausos. E embora a composição e interpretação musical os mereça, ninguém é obrigado a ouvi-los - fica o aviso...

A par e passo 162


... a Poesia é uma arte da Linguagem; algumas combinações de palavras podem produzir uma emoção que outras não produzem, e a que nós chamamos poética. O que é esta espécie de emoção?
Eu conheço-a em mim sob o aspecto de que todos os objectos possíveis do mundo normal, exterior ou interior, os seres, os acontecimentos, os sentimentos e os actos que são normais quanto às suas aparências, se reflectem subitamente numa relação indefinível, mas maravilhosamente justa para com os modos da nossa sensibilidade geral. Isto é, que estas coisas e estes seres conhecidos - ou antes, as ideias que eles representam - transformam-se de alguma maneira no que diz respeito ao seu valor intrínseco. Atraem-se uns aos outros, associam-se de outro modo, diferente do normal; eles encontram-se (permita-se-me a expressão) musicalizados, ressoam entre um e outro, numa correspondência harmónica. O universo poético assim definido apresenta grandes analogias com aquilo que nós supomos ser o universo do sonho.

Paul Valéry, in Variété V (pg. 137).

segunda-feira, 14 de março de 2016

Adagiário CCXLVII



Dia nenhum sem bem algum.

domingo, 13 de março de 2016

Falar simples - Eduardo Lourenço sobre Jorge de Sena


Divagações 109


Não há nada como arrumar os sonhos, para começar o dia por inteiro. Ora, às vezes, é bem difícil...
Imagine-se um capítulo em que entram, de forma quase caótica, um Mestre parado e cristalizado nos anos, que nos recomenda, veemente, um crítico já falecido; uma rua ensolarada da Amadora envolvida em sedução e tatuagens (ou seriam graffiti?), Vasco da Graça Moura armado em duelista sobre o Acordo O., um prémio pouco esclarecido sobre um poema que nem tinha começado... sobre um broto redondo de um limoeiro que se vai formando em fruto oval, pela graça de deus. Mais uma rola invisível que, paralela a mim e saltitando de árvore em árvore, arrulha incessantemente. A isto se junte o desenrolar de um pedestre que tenta chegar a Campolide.
Fico-me pelo limão, arrumo as outras bugigangas para debaixo da cama, e vou à vida. Porque hoje é domingo...

sábado, 12 de março de 2016

A propósito de suinicultura


Que a carne de porco está barata, é uma evidência. Claro que não incluo o porco preto, criado com bolota nos montados do Alentejo. E que curiosamente, em meados dos anos 70, os compradores das grandes superfícies desprezavam, argumentando que o bicho tinha muita gordura e carne com mau sabor... Depois, veio a moda. E o consumidor seguiu-a como faz quase sempre, cegamente, como os carneirinhos.
Mas o porco branco, o mais normal, é comprado pelas grandes superfícies, sobretudo em Espanha, e cada vez menos em Portugal. A aceitar a teoria da conspiração dos suinicultores lusos, os espanhóis estão fazer preços abaixo do custo, para rebentar com a criação portuguesa. Andam nisto, pelo menos, há três anos e vão continuar. Curiosamente, só agora a suinicultura portuguesa se resolveu a manifestar, em grande.
Mão da CAP, ressuscitando Rio Maior do ano 75? Não sei. Ainda não chegaram, porém, as tias-donas de casa a bater em tachos e panelas pelas ruas, queixando-se, neste caso, da falta de carne de porco. Nada se perde, tudo se recria, em momentos oportunos...

Zbigniew Preisner / Teresa Salgueiro: "Silence, Night & Dreams"


Esta obra musical do compositor polaco Zbigniew Preisner (1955), cantada também por Teresa Salgueiro (1969), terá tido, creio, pouca divulgação em Portugal, infelizmente. De há muito que aprecio a música de Preisner, sobretudo desde que a ouvi, na trilogia (Cores) dos filmes de Krzysztof Kieslowski (1941-1996).
Neste vídeo, Preisner dá uma pequena explicação sobre esta obra musical, que se inspira em textos bíblicos: o Livro de Job e o Evangelho segundo S. Mateus, a que Teresa Salgueiro dá corpo e voz, em qualidade. Aqui deixo uma pequena parte de Silence, Night and Dreams. Em partilha, e para quem a não conheça.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Por falar em Hemingway...


O primeiro livro que li, de Ernest Hemingway (1899-1961), foi Fiesta ("The Sun also rises"), editado pela Editora Ulisseia, em 1958, numa magnífica e inultrapassável tradução de Jorge de Sena (1919-1978). Das obras do escritor norte-americano, foi a que mais vezes reli, e sempre com gosto. O prefácio de Sena é também exemplar, quer pela contextualização do romance, como também na caracterização do autor. Lá vem referida a célebre tirada irónica de Death in the Afternoon:
" - Deve então ser perigosíssimo ser um homem.
- E é, madame, e poucos sobrevivem."
No início dos anos 60, decidi arriscar uma das minhas primeiras leituras directamente do inglês, e não me dei mal. Calhou o livro cuja capa encima este poste, também de Hemingway, The Wild Years, editado pela Dell, em Dezembro de 1962. O livro abarca uma grande parte dos artigos e crónicas que tinham sido publicados no Toronto Star. O estilo directo, simples, realista e com grande ritmo de escrita, ajudou e facilitou a minha leitura, em língua inglesa. E fortaleceu Hemingway como um dos escritores mais importantes da minha juventude.


Citações CCLXXXII


O uso do preto (e branco) anula, de algum modo, o lado decorativo e intensifica a concentração.

Derek Jarman (1942-1994).


Nota: o realizador britânico referia-se aos filmes, mas a citação é também aplicável à fotografia...

quinta-feira, 10 de março de 2016

Uma louvável iniciativa (51)


Completa-se finalmente esta colecção de lendas das terras portuguesas, promovida pelos Cafés Chave d'Ouro. O último pacotinho de açúcar sobre Vila Nova de Gaia (13/20), chegou-me hoje às mãos, através da parceria cordial do meu amigo AVP, que mo consegiu, e a quem, mais uma vez, agradeço.
No Porto de antanho, teria vivido um califa que tinha uma filha de nome Gaya. Quando casou, o pai ter-lhe-ia dado em dote uma pequena aldeia, no outro lado do rio... É esta a história. 

1 haikai de Bashô


Oh, mariposa!
Que sonhas tu quando
agitas as asas?


Matsuo Bashô
(1644-1694)

quarta-feira, 9 de março de 2016

Uma dança inglesa da Renascença


Iconografia moderna e laica (24)


Quando vi este tríptico, fiquei deslumbrado. Partiu de uma encomenda do All Souls College (Oxford) ao pintor britânico Benjamin Sullivan (1977). Será talvez inserido na escola "hiper realista" (termo com que nunca simpatizei...) mas, do meu ponto de vista, trata-se de uma obra muito bem conseguida e impressiva.
Uma curiosidade: no tríptico, de 2009, estão retratados os 27 funcionários não-académicos do All Souls College - o que me parece ser uma concessão bastante democrática, como algumas outras com que os ingleses, no seu tradicionalismo habitual, nos conseguem surpreender. Por aqui, creio que não haverá luta de classes...

terça-feira, 8 de março de 2016

Perguntar, ofende?


Porquê Paris?
Eu sei que a capital francesa já foi a segunda maior cidade habitada por portugueses, mas haveria necessidade de lá celebrar o dia de Portugal, no próximo 10 de Junho?
Imagine-se o dia nacional da Turquia a ser celebrado em Berlim...
Ocorre-me uma palavra francesa para pré-definir o próximo mandato presidencial: flamboyant.
Oxalá me engane!

segunda-feira, 7 de março de 2016

5 esboços dispersos, com remate


1. Há vozes, por vezes, ao telefone ou quando ouvimos uma canção, em que não conseguimos identificar, de imediato, o género. E não é sequer pelo tom grave e áspero, que pode parecer masculino, ou pelo veludo suave da sinestesia, que poderia ser feminino. Nosso ouvido? Ou voz do Outro(a)?
2. Talvez por causa do vento frio, as mãos, de que não vejo o rosto, parecem acariciar a chávena de chá, morna provavelmente, e surgem na distância como uma aparente sobrecapa que recobre, acaricia e parece proteger a porcelana. É um gesto, um desenho que reencontra outros, na minha memória.
3. De muitas conversas, há quase sempre o registo apagado de uma palavra ou frase, que ressurge depois, e fica como um título, um sublinhado desse diálogo encerrado. Na altura da conversa, porém, não o fixámos devidamente. Ele impõe-se depois, autónomo, ganha força. E não mais se apaga.
4. Inesperadas e de acaso, há relações sociais que, discretamente, ganham substância e uma consistência imprevisível, com o tempo, sem que nada fizessemos para isso. Chegam, por vezes, muito próximo da amizade.  Mas há também outras que se apagam num silêncio gradual, sem lhe sabermos a causa e a razão de ser.
5. Haverá, porventura, vários graus de amizade. Difíceis, no entanto de hierarquizar. Requerem sobretudo fidelidade, lisura, atenção e inteligência. Quando verdadeiras e desinteressadas, as amizades conseguem resistir até à distância geográfica e mesmo ao silêncio. Porque podem retomar-se e ressurgir. Mas, não perdoam a mentira, embora possam sobreviver à omissão (quando o Outro a pratica, e nós a percebemos).

Algumas (amizades) me ficaram pelo caminho. E pareciam bem sólidas, antes da ruptura ou do término surgido, inesperadamente. Terá havido um apagamento gradual, um desinteresse ou, quem sabe, um incidente involuntário. Há gente assim e assado, gente que se resume ou mirra no silêncio, porque as escolhas não terão sido perfeitas. Minha culpa? Ou do Outro?
Seja qual for a razão, valerá a pena reconvocar Virginia Woolf: "Perdi amigos, alguns deles, por morte... outros, por mesquinha inabilidade em atravessar a rua."

Para MR, ...



... e com a ajuda de Mondrian (Piet), mai-la sua Amaryllys, de 1910, bem como com o apoio do British Pathé, no que diz respeito a Margot e Nureyev (1964), aqui vão os nossos cordiais parabéns, pelo seu Aniversário.
Que haja muitos e bons!


domingo, 6 de março de 2016

Filatelia CXI (e algumas memórias avulsas...)


São sempre muito raras as folhas completas dos selos clássicos portugueses, bem como as das ex-colónias. Esta, que ora se apresenta em imagem, do selo de 50 réis (azul), pertence à segunda emissão (1881-85) dos selos de tipo Corôa, das ilhas de S. Tomé e Príncipe. Com os seus 28 selos e em muito bom estado, foi comprada em 1978, num afável e sabedor comerciante filatélico, que tinha escritório na Baixa de Lisboa. Creio que nascera em Óbidos, morava no Algueirão, e já faleceu. Dava pelo nome de Adelino Cardoso, era muito culto, coleccionava primeiras edições de Eça de Queiroz e tinha quase toda a obra de Miguel Torga, autografada.
Voltemos ao início. Uma folha inteira de um exemplar filatélico (neste caso, o nº 14 de S. Tomé e Príncipe, pelo catálogo Ateneu/Afinsa) permite um estudo mais detalhado e, sobretudo, verificar as variedades e a sua localização em folha. Consegui detectar 6 variantes do cunho I, a que a folha pertence, e no denteado 12 1/2. Por informação de Adelino Cardoso, esta folha de selos de S. Tomé e Príncipe, teria pertencido à valiosa colecção do 5º Duque de Palmela, Domingos de Sousa e Holstein Beck (1897-1969), que tinha sido embaixador na Grã-Bretanha. Parte dos selos teriam sido comprados em Londres, na conhecida firma filatélica Stanley Gibbons.
A colecção (ou parte dela) foi, depois, por alturas de 1975, vendida pela família Holstein, em Espanha. Parte dela, posteriormente, terá sido recomprada por um comerciante luso-espanhol, que a revendeu, já residualmente, a Adelino Cardoso. E, foi deste modo, que esta folha íntegra de selos de 50 réis, de S. Tomé e Príncipe, me chegou às mãos...

Citações CCLXXXI


Deus amava os pássaros e criou as árvores. O homem amava os pássaros e inventou as gaiolas.

Jacques Deval (1895-1972), in Afin de vivre bel et bien.

sábado, 5 de março de 2016

Memória (107)


Parece-me que esta grande artista cómica, de seu nome Ivone Silva (1935-1987), anda bastante esquecida.
Depois, ao re-ouvi-la, lembrei-me de uma Senhora, mãe de um (quase ex-)político que se vai dedicar, em breve, aos negócios... Pese embora que essa Senhora me parece encarnar, normalmente, o nacional-porreirismo luso, enquanto a Senhora Ivone, (ou Madame Sarita) neste vídeo, oscila entre a tristeza (olho negro) e a raiva contida. O que não deixa de ser muito mais saudável e humanamente inteligente.

Classificações


Numa prévia declaração de interesses, devo esclarecer que nunca li nada do sul-africano J(ohn) R(onald) R(euel) Tolkien (1892-1973). O apelido final, foneticamente, sempre me pareceu pesado e de substância, soube há pouco que será de origem germânica. E tinha uma vaga ideia que era um autor muito popular e com muitos leitores entusiastas. O que eu desconhecia (TLS dixit) é que era um escritor fracturante (como agora se diz) entre os críticos literários. Há quem lhe atribua qualidade literária, e quem lha recuse. Creio que a sua posição equidistante se encontrará num limbo, muito semelhante ao de Júlio Verne...
A sua caracterização como pessoa, nas palavras de Roz Kaveney, que acabei de ler no TLS, parece-me, no entanto muito curiosa e, por isso, vou pô-la em português, para partilha com quem possa estar interessado:
"...Tolkien era um homem complexo - um académico mais do que um simples escritor, um sobrevivente de guerra no que ela tem de pior, um católico devoto, mas inteligente quanto à sua fé, um escritor cumprido de um tipo de versos ligeiros, que deve ser celebrado pela sua finesse em detrimento da frivolidade, um teorizador literário com alguma coterie que o aproxima de outros pensadores influentes. ..."
Como classificação, não me parece nada mal. Não sei é se corresponde ao perfil exacto de Tolkien...

sexta-feira, 4 de março de 2016

A evolução na descontinuidade...



A Galeria Presidencial ficará acrescida, proximamente, com o retrato do ainda presente PR, executado por C. Barahona Possollo (1967). Ironicamente, não resisto a comentar que o menos lido, dos 3 últimos Presidentes eleitos democraticamente, é aquele que aparece com mais livros no retrato... Como diria o povo: "Não há fome que não dê em fartura."


Mote e glosa, ou pensar para lá das palavras


Há muitas perspectivas para abordar as últimas obras de Wittgenstein, mas, fundamentalmente, a concepção Romântica da filosofia no seu cerne - que é uma luta pessoal, em busca de uma terapia contra a perversão do intelecto pela linguagem...

Este pequeno excerto de Tim Crane (TLS, nº 5891), que acabo de traduzir, a propósito da obra de Ludwig Wittgenstein (1889-1951), foi-me uma espécie de iluminação.
Eu sempre me dei mal com a filosofia, tirando Berkeley, Kierkegaard, Schopenhaur, Nietzsche (sobretudo, na minha juventude), embora frequente, com agrado, os pro-filósofos Cioran e Steiner, mais recentemente. Desisti, pura e simplesmente, de Espinosa, Heidegger e Adorno. Mas perdi uma boa parte dos meus complexos, ao saber que as leituras filosóficas de Wittgenstein, considerado um dos grandes filósofos do século XX, eram muito reduzidas. Por exemplo, nunca teria lido nenhuma obra de Aristóteles... Esta ignorância do filósofo austríaco terá assim contribuído para a singularidade do seu pensamento e uma maior liberdade da sua teorização.
Resta o mecanismo de aprisionamento que a língua (ou linguagem), por sua vez, exerce sobre a forma de pensar. Porque pensamos, sobretudo, através das palavras, por caminhos de contiguidade e atracção entre elas, numa espécie de círculo fechado da memória e do inconsciente. É, por aí, que a liberdade de poder pensar se torna mais difícil. E só pela criação de uma nova linguagem, será possível contornar esse fatal constrangimento. Como também na poesia, aliás...