sábado, 26 de março de 2016

Craveirinha


No Pórtico (Prefácio), diz o poeta moçambicano, do livro acabado: "O Maria balada inteira aí está". Só pelo tom comedido será justa a classificação, do que eu diria antes ser uma longa e belíssima elegia, que José Craveirinha (1922-2003) foi compondo por entre os 9 anos que passaram, depois da morte da Mulher. É um poeta viúvo que perdeu meia face e, com a outra, própria e sozinha, foi continuando a escrever o dia a dia. Nas suas coisas mais simples, mas já desamparadas pelo monólogo da casa.
Porque entre Karingana ua Karingana (1982) e Maria (1998), os versos cada vez mais portugueses, e menos africanos, numa estridência que sempre foi medida, ganharam o granito da terra e a essencialidade da maior poesia. Que este último livro tenha sido pouco falado, e menos ainda recenseado, não me surpreende. É sempre mais fácil falar de coisas banais (parece que se publicam, diariamente, 2/3 livros de versos, hoje, em Portugal...), do que ter de elevar o tom, para apreciar uma obra singular e única.
Fiquemo-nos pelo poema que José Craveirinha designou por Ao gosto de Maria:

Dizem que o Zé Craveirinha
é um velho sempre na moda
que sabe vestir
e calçar bem.

Mas o Zé diz que tudo o que ele usa
não é ele mas Maria
que o faz escolher
ao gosto dela.

5 comentários:

  1. Gosto muito da poesia de Craveirinha.
    Bom dia!

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  2. E Maria é um dos meus livros preferidos dele.

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  3. Deste livro, eu conhecia uma versão sucinta, esta, que li recentemente, alarga-se para 256 páginas, mantendo um ritmo e qualidade muito bons.
    Boa tarde!

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  4. Se calhar a que tenho e li é a sucinta, editada há anos. Acho que a capa era diferente. Tenho de ver. Obrigada.

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