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sábado, 14 de março de 2020

Curiosidades 79


Vão desculpar-me, mas não vou falar do que toda a gente fala...
Recentemente, e aquando da releitura do romance A Sibila, de Agustina Bessa-Luís (1922-2019), deparei-me com o frequente uso, por parte de uma protagonista, da palavra Cantés! (pgs. 12, 18, 34...), que, de mim conhecida, há muito que já não via utilizada e não me lembrava sequer do seu respectivo significado. Releve-se o facto de que me não recordava de alguma vez a ter ouvido oralmente, em conversa, mas vira o vocábulo em algumas obras neo-realistas, no passado. A palavra, sempre a achara estranha.
Ao tentar saber o seu significado, verifiquei que o Houaiss não a registava, mas o simples Torrinha  (de 1945) indica-a, embora no singular, com a valência (Canté!) de: Quem dera!. O Dicionário Analógico, de Artur Bívar consagra o mesmo significado e também como: certamente!. O Moraes, na sua 3ª edição de 1823, também não o inclui (será o vocábulo moderno?). Entretanto, o Dicionário (1958) de José Pedro Machado refere em significado: Oxalá! Em nenhum deles consta porém a sua origem ou uso inicial...

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Algaravias (1)


O termo, que usei como título para esta temática, em bom rigor significa (segundo Houaiss): "fala ou escrita árabe; linguagem muito confusa, incompreensível; charabiá." Perdoe-se-me a utilização algo espúria da palavra.
Usando de alargada liberdade poética, usei-a para classificar regionalismos de origem algarvia, que constam do Dicionário do falar Algarvio (1988), obra a todos os títulos notável, da autoria de Eduardo Brazão Gonçalves (1903- ?), natural de Boliqueime.
É desta obra que, paulatinamente, irei seleccionar algumas expressões que me pareçam mais interessantes, para constarem desta temática já antiga no Arpose, mas desta vez dedicada ao Algarve. A sequência será alfabética, naturalmente, como sempre tem sido.
Comecemos, então:

1. Abaixaneira - dor de barriga violenta e prolongada, disenteria.
2. Acegar - açular; incitar cães a morderem, ou pessoas a lutarem ou discutirem.
3. Afegão de ganas - apertão de goelas.
4. Alcarnó - bacio; penico.
5. Alfaqueque ou Alfaquete - peixe-galo.
6. Alforges - testículos.
7. Almarjão - pessoa alta, encorpada, forte.
8. Amorcegado - aborrecido; triste; mal disposto; tonto; mal desperto.
9. Atuneiro ou Atunzeiro - pescador que se dedica à pesca do atum; barco preparado especialmente para a pesca do atum.
10. Avoão ou Corta-vento - nome dado a uma variedade de andorinha de cor muito escura e de voo muito rápido; alvão.
11. Azebibe ou Azebio - líquido meloso ou melaço que sai do olho dos figos. Tem a mesma origem de acepipe: vem do árabe az-zebib = passa de uva. Também se diz alzebibe e milhã ou melhã.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Sobre o Livro e a Língua portuguesa


Data consagrada, por altas instâncias misteriosas, hoje, como Dia Mundial do Livro, aceito de bom grado a efeméride, com naturalidade e simpatia.
Se me fosse perguntado qual o livro que mais frequentei, ao longo da minha vida, não teria dificuldade em afirmar que terá sido o Dicionário português, de Francisco Torrinha, na sua edição de 1945, e que, por esse motivo de tanto manuseamento, se encontra em paupérrimas condições, como se poderá ver pela imagem acima. Se, de há uns tempos a esta parte, o considero bastante desactualizado, preferindo-lhe o Houaiss, ainda o consulto muitas vezes. Até por que evito, sempre que posso, utilizar estrangeirismos que são, para mim, a abominação do economês e de muita gente beata do léxico informático. E não só, que os diplomatas também fazem gala em entremear de expressões alheias as suas discursatas, para mostrar que têm mundo. Bem como os novos cozinheiros e uma pretensa elite cultural, para alardear o seu cosmopolitismo - o que não deixa de ser saloio e paroquial...
Sempre achei que não é necessário usar estrangeirismos para dar mais força às nossas convicções e pensamento. É preciso é saber usar bem, e com legitimidade, a nossa muito rica língua portuguesa.



Voltando aos livros. Se o dicionário foi o livro mais consultado por mim, há também livros que frequento com persistente  assiduidade, de que elejo, em poesia, As Obras de Sá de Miranda  e os Poemas, de Eugénio de Andrade. Por vozes originais ou porque escreveram, em português de lei, magnífica poesia. A que poderia acrescentar, por admiração e gosto, Camões, Nobre, Cesário, Pessoa e Pessanha. A pequena distância, poderia incluir também Sophia e Sena, sem dificuldade.



Quanto a prosa, seria mais restritivo, mas escolheria, como preferidos, um livro de contos de Jorge de Sena e Directa, de Nuno Bragança. Mas também volto, periodicamente, a A Casa Grande de Romarigães, de Aquilino, e a Os Maias, de Eça de Queiroz. Para falar apenas de autores nacionais.
E é tudo o que me apraz dizer, neste Dia Mundial do Livro.

terça-feira, 22 de março de 2016

Impromptu (25)


Num blogue a que vou, intermitentemente, encontrei hoje um poste com o título: distimia. Desconhecia a palavra e o Torrinha também a não registava. Foi preciso recorrer ao Houaiss.
Eu creio que o termo se poderia aplicar à Europa, depois do que aconteceu, esta manhã, em Bruxelas.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Idiotismos 31


Se há palavras cuja filiação é imediatamente perceptível, outras há cuja origem não é fácil de descortinar. E as próprias pesquisas, que fazemos sobre elas, muitas vezes, ainda nos deixam grandes dúvidas.
A primeira vez que ouvi (ou li?) dizer a palavra gajé, foi em Lisboa. Do Norte, não a conhecia eu. Nessa altura, e por associação com calé, pensei que o adjectivo tivesse raiz cigana. Não tem.
Há dias, voltei a lembrar-me desse termo, ao ouvir mais uma vez o grande Marceneiro a cantar "O leilão da casa da Mariquinhas" ("...ainda fresca e com gajé..."), com letra de Linhares Barbosa, fado que coloquei, recentemente, no Arpose.
Ora, gajé significa garbo, donaire, elegância, airosidade, segundo vários dicionários. O Analógico, de Artur Bivar, dá o termo como: popular. Houaiss, porém, dá-o como derivado de gage (garantia), um francesismo, portanto. Em que ficamos? Que, por aqui, há discórdia, e da grossa...
Seja como for, a palavra, mesmo que alfacinha, continua a parecer-me estranha.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Idiotismos 29


Os anos que eu levei até saber que o curioso toponímico Marateca (concelho de Palmela) poderia ter-se originada na simples expressão: Mar até cá...
Das cores dos cavalos, entre outras, conhecia eu, baio (crina e rabo pretos), de cor isabel (entre o branco e o amarelo). Mas quando dei pelo poema de Alberti, cantado por Ibañez (poste de 1/3/2015), estranhei o verso: "/Galopa, caballo cuatralvo/". Esclareci a dúvida num competente dicionário espanhol. Um cavalo assim, teria as quatro patas em pelagem branca. Quanto ao termo português (Quatralvo, que eu não conhecia) os 2 dicionaristas, que eu consultei, não coincidem inteiramente. Se Houaiss regista como cavalo com pintas brancas nas quatro patas, já Moraes refere: "diz-se do cavalo malhado de branco até aos joelhos". A Coudelaria de Alter, talvez melhor que os dicionaristas, pudesse resolver com rigor esta questão... 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Idiotismos 26


Para quem, como eu, gosta de Arroz de Cabidela, talvez interesse saber como ele veio ao rol. Começando por Houaiss, o seu dicionário refere, logo de início, que cabidela é: "o conjunto das extremidades das aves (cabeça, pescoço, pés, asas), além do fígado, moela e miúdos em geral"; e, logo a seguir, regista: "prato que consiste nesses miúdos refogados no sangue da ave." A sua origem viria, portanto, de cabo = extremidade.
Posso ainda acrescentar que, já no século XVI, se usava a expressão, mas com forma ligeiramente diferente: Cabadela. Assim aplica Camões, no seu "Filodemo": "...caldo faço/ do coração escudela/ esses olhos são panela/ que coze bofes & baço/ cõ toda a mais cabadela".

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Por entre a compulsão, o alzheimer e a fantasia : o machadinho das arolas


A memória sobre a pequena história é vulgarmente curta. Mas eu lembro-me de, aqui há uns vinte ou trinta anos, ter havido um episódio caricato, de diz-se e não diz, entre Mário Soares e o inefável Machete. E, quem saía muito mal, na fotografia, era o Rui. Que, sibilina e clandestinamente, até escreveu uma carta ao Mário, a pedir desculpas, já depois do incidente patético. Provavelmente, não teria Alzheimer, mas já era compulsivo nas incoerências da sua verdade...
Machete pode ser muita coisa, até ministro. Segundo Houaiss, a palavra significa um sabre de dois gumes, uma faca grande; mas também um instrumento musical, maior que o cavaquinho (deliciosa companhia!) e menor que uma viola. Mas eu conheço a palavra, de há muito, com o significado regional de: pequeno machado ou machadinho. Por isso intitulei este poste, em subtítulo: machadinho das arolas. Em homenagem ao compulsivo mentiroso mais célebre da cena política portuguesa. Sobre arolas, é só ir ao dicionário, se se não souber...

sábado, 7 de setembro de 2013

Retro (36)


Não seria bem o montar à estardiota (que Houaiss também regista como: estradiota), usado para as cavaleiras amazonas, em Portugal, se bem que o termo, inicialmente, fosse aplicado a cavaleiros albaneses (usariam saias?). Mas esta gravura de 1869 demonstra, à saciedade, que, mesmo montando de lado numa bicicleta, uma dama não perde nem a elegância, nem a compostura, pese embora a admiração labrega dos cavalheiros e o desatino do cão. Seja como for, a senhora devia ser uma pioneira destemida.
Infelizmente, as calças femininas só foram inventadas muitos anos mais tarde...

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Idiotismos 22


Anteontem, MR, em comentário ao poste "Arte e especulação", referiu a expressão tuta e meia e, logo a seguir, perguntava-se: "De onde virá esta expressão?" Ora, eu também não sabia, e pus-me a caminho... Comecei por procurar no "Tutaméia", de Guimarães Rosa, a ver se o grande escritor brasileiro a explicava. Realmente, a páginas 166, ele dá o seu significado pessoal, assim: "nonada, baga, ninha, inânias, ossos-de-borboleta, quiquiriqui, mexinflório, chorumela, nica, quase-nada." Ora, isso eu sabia, embora resumidamente. Mas cadê a origem?
Pois fui encontrá-la no Dicionário de Houaiss: "uma macuta e meia, por assimilação, macuta deu matuta; por hiplologia, uma macuta reduziu-se a uma tuta;..." Resta acrescentar que "macuta" era uma moeda africana, de cobre, com pouco valor.
Quod erat demonstrandum...

para MR.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Regionalismos minhotos (38)


Mais 6 regionalismos começados pela letra S, escolhidos da obra que temos vindo a seguir:

1. Serigaita - franzina, lambisgóia. (Houaiss regista como "mulher vivaz, ladina, buliçosa".)
2. Serolhar - pôr a roupa a corar pelo tempo de chuvas ou ao relento da noite.
3. Serúdia - seruda, planta que se usa para a cura de empigens.
4. Setenta-nabos - bebedeira (calão de Barcelos).
5. Sirulé - coisa fraca, insignificante.
6. Sisgalho - bocadinho.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Idiotismos 14


A expressão andar aos gambozinos, creio, já foi mais usada do que é hoje. Porque isto de gíria ou calão também tem o seu tempo e as suas modas. Acresce que, actualmente, até há zonas de exclusão ou guetos onde parece predominar um linguajar próprio, quase um dialecto local. Para já não falar dos SMS...
Mas voltando à expressão inicial (andar aos gambozinos), julgo que não será muito antiga e, salvo opinião contrária fundamentada, situaria a sua origem provável no século XX. É referida por António Tomás Pires, em 1928, e Augusto Moreno, no seu Dicionário de 1936, também a refere.
A frase popular teria tido origem no Alentejo ou Algarve, como brincadeira carnavalesca. Os mais velhos costumavam, por alturas do Entrudo, dar um saco aos rapazes mais novos e ingénuos, pedindo-lhes que se colocassem ao pé dum muro ou dum buraco na terra, e lá ficassem à espera dos gambozinos... Entretanto, afastavam-se, dizendo que iam fazer uma batida, pelo mato, à procura desses animais.
Carvalho da Costa avança a hipótese de a palavra (gambozino) ter origem na Espanha ou na França (cambuse, gambuse). Mas os naturalistas aproveitaram-se do vocábulo, para assim nomear um pequeno peixe. Houaiss, no seu Dicionário, ignora ostensivamente o gambozino. Embora registe gambúsia para o referido peixe minúsculo (5 cm.), originário da América do Norte.

sábado, 25 de agosto de 2012

Idiotismos 4


Se a expressão popular encanar a perna à rã, de que gosto particularmente, tem para mim o significado preciso de "ganhar tempo ou demorar", sobre a frase idiomática estar acanaveado só poderia tentar imaginar-lhe o sentido. De comum às duas, o étimo cana e, por isso, desta última pensava eu que se referia a alguém debilitado que se apoiasse a um pau, uma cana, um cajado ou bengala, para caminhar com mais segurança.
Estava enganado. Efectivamente, segundo nos diz Alexandre de Carvalho Costa, no seu "Portugal - Sua linguagem - Seus costumes" (Portalegre, 1982) - já aqui referido na rubrica - a expressão estar acanaveado provém do "martírio que os missionários cristãos sofriam no Japão onde lhes introduziam rachas de canas pelo sabugo das unhas". O que confere com Houaiss que regista, no seu dicionário: "ferir, torturar, enfiando lascas de cana sob as unhas". O que ele não refere é que esta tortura fosse japonesa.
A expressão, no entanto, gradualmente foi ganhando espaço e mais amplos contornos, em dois sentidos. Um, físico, significando fraqueza, debilidade e magreza; o outro, de natureza económica, correspondendo a: falta de recursos. Assim vão crescendo as palavras, com o tempo...

sábado, 11 de agosto de 2012

Afectos


Há palavras que, de tanto gostarmos delas, quase as fazemos nossas. Uso maneirinha, mas intimamente acrescento-lhe, sempre, um pouco de ternura, ao dizê-la e saboreá-la, embora o seu significado seja, simplesmente: pequena (e harmoniosa de formas).
A minha amizade com o António passa também, e muito, pelo amor comum à língua portuguesa, e pelo gosto das palavras; pela curiosidade de novos (velhos) vocábulos, por lhes saber a família, o passado e de onde vieram. Como, às vezes, o passado de uma mulher nos torna curiosos de saber mais.
Sobre a mesa de trabalho, tenho um pequeno papel com duas palavras escritas que o meu Amigo, ontem, me deu a conhecer. Não lhe vieram de livros, nem por pesquisa que tivesse feito. Ouviu-as ele de pessoas simples, que as usaram com propriedade, e ele tomou nota. Depois transmitiu-mas com o significado próprio que lhes foi atribuído. São elas: farrascão e forrejo.
Farrascão, ouviu-a ele de uma alentejana que a integrou na frase: "Ontem, comi um farrascão de pão!"
Houaiss não regista o vocábulo, mas ambos chegamos à conclusão de que a palavra valia por: um grande naco de pão. Noutra refeição, que foi acompanhada de salada (alface, agrião...), uma conviva apelidou o acompanhamento de: forrejo. Houaiss regista como "cevada que se sega em verde para, misturada com outros grãos, alimentar" o gado. Ora, aqui, o significado foi alargado aos humanos...
E aqui ficam as duas palavras, para que se não percam da memória.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Microclimas e toponímia


Em apodar, eu penso que os portugueses são mesmo originais e criativos.
Deste lado do Tejo, habituado, já não me admiro nem estranho ao passar pela placa toponímica que nos indica: Alcaniça (mesquita, informa Houaiss). O sol ia ralo, quando passamos pelo local, e as nuvens ameaçavam, de cinzentas. Vento, quase nenhum.
O sol abriu, mais um pouco, sobre Lisboa e começou um vento brando, mas ligeiro. No rio, tão liso como um espelho, com manchas alternadas de verde alface e verde azul, barcos deslizavam suavemente. Depois, para não nos perdermos, o percurso era restrito e obrigatório: Vila Verde, Terrugem (Houaiss, não refere), Godigana (não consta, também) e Carne Assada - estas duas últimas, inesquecíveis patronímicos. Mas, logo em Vila Verde, cerrou-se um capacete de nuvens e começou a molha-tolos. Saímos para comprar morangos e batatas, e ficamos como pintos...
Poder-se-ia concluir que andámos de microclima em microclima porque, quando regressamos à zona outrabandista, o sol voltou a receber-nos, radioso e amigo.
Falta dizer que não almoçamos carne assada. A massa tinha ficado a levedar. E a pizza, doméstica e boa, levava salame, cenoura e salsichão, mais um molhinho muito especial. E um tinto leveiro, a acompanhar.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Um rapaz da Moody's


Aqui há uns tempos, ao falar das agências de rating, uma espécie de cáftens (ver Houaiss) da nossa global sociedade, traduzi Moody's, em português literal, por "dos mal-humorados". Mas, hoje e pela primeira vez, tive oportunidade de ver um dos seus rapazes, na TV. Parece que é sub-director, e dá pelo nome de António Tomás (Anthony Thomas) - o que me tranquilizou. É certo que é um pouco monossilábico, parece dizer, mas diz pouco ou nada. É loiro e parece frio - como diz o poema - e, à primeira vista, parece um pouco anoréxico, no aspecto físico. Se ele cá passasse um mês, em Portugal, melhoraria o seu look, com certeza. Dieta mediterrânica e sol, dar-lhe-iam um aspecto mais agradável. E aperceber-se-ia da economia real portuguesa ( de que ele falou, não falando, na TV), com mais propriedade. Mas o que mais me tranquilizou neste rapaz loiro da Moody's foi o nome: António Tomás. O que indicia, seguramente, uma ascendência plebeia pura - graças a deus! Em Portugal, quando o apelido é um nome, isso significa, normalmente, que a gleba está próxima, e os pais do detententor, vieram do campo. A menos que fossem reis, que só costumam usar nomes próprios (o que não será o caso do jovem António Tomás, com certeza).
Entretanto, com Moody's ou sem Moody's, parece que a economia portuguesa vai indo um pouco melhor. Pelo menos, as subscrições do Tesouro foram colocadas a 4%. Valha-nos deus, e quem acredita nos portugueses.

(este poste vai dar uma trabalheira para o Google traduzir, convenientemente..."Dá-lhes trabalho, dá-lhes trabalho!..."- como dizia o João César Monteiro.)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Em louvor da Calhandra


Não é todos os dias que tenho o grato prazer de me deparar com uma palavra desconhecida ou nova para mim. Da calhandra sabia eu que era uma pequena ave da família da cotovia. E, não sendo muito frequente em Portugal, pode encontrar-se na Beira Interior e no Alentejo. No entanto, e segundo o Dicionário de Houaiss, calhandra pode ser também: "mulher pouco asseada". Calhandro, além de ser o macho da calhandra, é, simultaneamente, "vaso grande onde se colocam dejectos e águas sujas"(vulgo, penico). Ou seja, calhandrice é, à partida, uma palavra inquinada, embora possa ser apenas, e volto a Houaiss:"sucessão de intrigas, boataria, falatório".

A simples palavra lacão pode ser "presunto ou pernil de porco" e ainda "habitante da Lacónia"; finalmente o vocábulo crespo pode ser sinónimo de "agitado, encapelado,eriçado", mas, segundo Houaiss, pode também significar: "indecente, indecoroso e escabroso". Parece que, por mais voltas que demos, nos aproximamos sempre da escatologia que, por sua vez, também tem 2 significados distintos, no Dicionário de António Houaiss...

No meio destas traiçoeiras ambiguidades da língua portuguesa, louve-se a calhandra que não tem culpa nenhuma destas calhandrices. Que ela possa continuar a voar, livre e ligeira, nos céus de Portugal!