Olhando, despreocupadamente, para as estantes da minha biblioteca observo que, no linear da ficção portuguesa, o maior volume de lombada pertence a Os Maias, de Eça de Queiroz. Na ficção estrangeira, a maior largura cabe a Guerra e Paz, de Tolstoi, indiscutivelmente, bem mais extenso do que o romance de Eça.
O jornal Le Monde (15/9/2017) dedica ao tema dos livros-tijolos, um artigo de Éric Loret, a propósito da reentrada de Outubro, em que as editoras anunciam, para a nova temporada, romances de 700, 900, e mesmo um recordista, Alan Moore, com as 1.264 páginas, com o seu romance Jérusalem.
O suplemento literário do jornal francês admite que, na prática, os romances e obras de ficção têm vindo a crescer, na Europa. E que essa extensão se poderá dever à escrita em computador, que permite rasurar, com facilidade, e emendar sem trabalho os originais dos autores, sem o penoso sacrifício antigo da reescrita.
Por outro lado, ao ver nos transportes públicos estes calhamaços imensos a serem lidos por tantos leitores, pergunto-me se estas leituras não serão feitas com leviana sub-atenção. À tona. Mecanicamente, como quem reza e, simultaneamente, vai pensando noutras coisas... Numa ligeireza a que muitas dessas obras se prestam.