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domingo, 6 de julho de 2025

Mercearias Finas 210

 


Calhou termos de ir ao mercado, de manhã, buscar uma garoupa que estava encomendada, para o almoço. A banca da Ângela estava repleta de bom peixe, onde imperavam uns bonitos salmonetes. Mas havia também peixe-espada nas suas duas variedades: branco e preto. Que me foi sugerido e declinei: "Temos o frigorífico cheio, já não cabe mais nada!"
E depois acrescentei: "Não como peixe-espada desde os anos 70. Saturei." Explicando que, em Coimbra, tinha as refeições contratadas ao mês, por 600$00 e, por causa dos preços, tive que gramar carapaus e peixe-espada branco, 3 a 4 vezes por semana, porque eram peixes mais baratos. De carapau ainda recuperei, agora de peixe-espada bastou. Para nunca mais!


A nossa garoupa a caminho do forno...
E, como hoje é o Dia Nacional do Vinho, irá ser acompanhada por um Alvarinho Deu La Deu 2024.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Uso Pessoal 20

 

No tempo em que nem todos os hotéis tinham serviço de engomadoria, este ferro de engomar miniatura ia de viagem, pela mão de minha Mãe. Duvido, no entanto, que alguma vez eu o tivesse utilizado, nem mesmo nos meus breves tempos de Coimbra, mas lembro-me bem dele, e como era útil, para podermos andar asseados.

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Uma louvável iniciativa 63


Em tempos, já em Coimbra e na Faculdade de Letras, eu tivera uma oportunidade semelhante e aprazível. Numa ampla mesa da cave e por decisão superior havia uma grande quantidade de publicações universitárias, entre elas da revista  Biblos, que podíamos escolher e levar gratuitamente para casa. Trouxe uma abada, nessa altura.



Desta vez, foi na Universidade Nova de Lisboa que, no terceiro e quarto pisos de um dos blocos (de Ciências Sociais, mais exactamente) havia duas mesas com publicações disponíveis e gratuitas, que podíamos trazer. Vieram dez volumes, connosco.


E já os começamos a ler...


domingo, 11 de dezembro de 2022

Memória 145



Andámos às voltas, mas eu esqueci-me de registar, para memória futura, a boa usança de dois néctares à mesa - no último almoço de Amigos -, retirados da garrafeira a tempo de oxigenarem abertos, e que estavam à espera do vento que os merecesse (para usar de forma mais prosaica uma bela metáfora de Eugénio de Andrade (1923-2005). Ora aí vão eles:
1. Do Monte da Ravasqueira alentejano, apenas fresco, o branco Coutada Velha - Signature 2017 (Arinto, Antão Vaz e Viognier), nos seus 13º equilibrados, acompanhou dignamente a Pescada no Forno.
2. De A. Bessac, o Châteauneuf-du-Pape, tinto de 2016, de entre Orange e Avinhão, e com 14,5º particularmente suaves, lotado por Grenache, Syrah, Murvèdre e Cinsault, que casou lindamente com os queijos (curado e amanteigado) do Vale da Estrela, mais um Fratel e outro Azeitão.

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Bibliofilia 201



Qualquer manuscrito, de índole literária, pode ser uma fonte inesgotável de investigação e descoberta. Tratando-se de um autógrafo o interesse e o valor aumentam consideravelmente. Não possuo, na minha biblioteca, muitos manuscritos, sendo que dois deles incluem poemas de Cruz e Silva (1731-1799), poeta de minha grande estima, que faleceu no Brasil. Um destes últimos, bem encadernado, é O Hyssope, numa versão provavelmente de finais do século XVIII, que terá pertencido ao estudioso F. M. de Sousa Viterbo (1845-1910). O segundo (em imagens), desencadernado, regista 22 odes de Elpino Nonacriense, pseudónimo do co-fundador da Arcádia Lusitana ou Olissiponense.
Inexplicavelmente, este manuscrito tem a página de guarda, em parte, riscada...




No que diz respeito às odes* de Cruz e Silva, este manuscrito não as abrange todas, mas tem a particularidade de incluir, ao que me parece, uma inédita (a 22ª na numeração), que está intitulada Pela aclamação dos Reis D. Maria 1ª e D. Pedro 3º.  A cerimónia terá tido lugar a 13 de Maio de 1777 e, por isso, esta ode inédita (?) terá sido escrita por essa altura para celebrar o faustoso acontecimento régio.


Vou transcrever o seu início:
1
Das virtudes guiados
Subi ao alto Trono, ó Reis augustos.
Nem sempre equivocos Fados
Se nos hão de mostrar surdos e injustos:
Abrem vasto Thezouro,
E nos mandad por vós a idade d'ouro.
...

* Para melhor esclarecimento sobre as odes do poeta Cruz e Silva, dá-se conta do seu número  nas várias edições impressas, cronologicamente:
- 1801 Imprensa da Universidade de Coimbra, inclui 34 odes pindáricas. Edição póstuma e primeira.
- 1815 Lisboa, Na Impressão Régia, contém 16 odes pindáricas (Que contém a primeira Parte das Odes Pindaricas.). Tomo V das Poesias de Antonio Diniz da Cruz e Silva...
- 1817 Lisboa, Na Impressão Régia, insere 30 odes (Que contém a segunda Parte das Odes Pindaricas.). Tomo VI das Poesias de Antonio Diniz da Cruz e Silva...
- 1820 Londres, Na Officina de T. C. Hansard, Peterboro'_Court, Fleet Street. Esta impressão, com 34 odes, segue maioritariamente a primeira edição conimbricense, de 1801, e "he conforme com um Manuscripto que não differe essencialmente da Edição de Coimbra de 1801, senão em alguns poucos versos e palavras, que..." segundo advertência dos editores, de 3 de Março de 1820.

Nota final: as iniciais (F. M. T. de A. M.), que surgem nos volumes (6) das Poesias de Cuz e Silva, editados inicialmente pela Typografia Lacerdina e depois pela Impressão Regia, referem-se a Francisco Manuel Trigoso de Aragão Morato (1777-1838), que dirigiu a organização e publicação dos poemas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Memória 141



A correspondência antiga na sua forma clássica  e formal é, muitas vezes, uma fonte inesgotável de informação e pormenores ligados à realidade. Presente e futuro, pelas circunstâncias conhecidas, não prometem grandes correspondências...
O postal (em imagens), datado de 12/7/1933, foi enviado de Bruxelas pelo diplomata e poeta Alberto d'Oliveira (1873-1940) para a sua filha, Maria d'Oliveira Reis, em Lisboa (rua da Escola Politécnica 195), tendo sido reexpedido (13/7/1933) para o Estoril (Hotel Palácio), onde porventura a dita Senhora passava férias de praia, nessa altura do Verão.
Adquiri o bilhete postal, nos anos 80, na rua do Alecrim, porque na época ia a meio de um pequeno trabalho sobre o poeta António Nobre (1867-1900), de quem Alberto d'Oliveira fora grande amigo. E ambos tinham habitado, enquanto estudantes da universidade de Coimbra, a conhecida Torre de Anto, que Oliveira conservou alugada até 1939. A Torre vem impressa, em jeito de ex-libris, no verso do postal. Na caligrafia, algo críptica de Oliveira, consegui descortinar uma referência ao escritor Carlos Malheiro Dias (1875-1941).


terça-feira, 1 de dezembro de 2020

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

À volta de um simples livro


O livro, que encontrei no meu alfarrabista de referência, estava muito manuseado e via-se que tinha sido útil. Era de um escritor que eu tinha em consideração, natural de Barcelona: Fernando Díaz-Plaja (1918-2012). O título (da Alianza Editorial, 1972) prometia - El Español y los Siete Pecados Capitales. Sendo que o preço era muito acessível. Comprei-o, pois.



Vim a saber, surpreendido, que, em 6 anos, a obra tivera 15 edições e vendera, no interim, 120.000 exemplares. Em suma, fora um sucesso editorial.
Agradado, na página de guarda, encontrei ainda um ex-libris de um nome meu conhecido, mas só em casa é que localizei a personagem. Joaquim de Moura Relvas (1898-1982), licenciado em Medicina, era o presidente de câmara da Lusa Atenas, quando por lá andei, no início dos anos 60.



E cá vou eu, embalado na leitura agradável da obra, já na página 89, do primeiro capítulo - Soberbia

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Memória 133


A imagem reproduz, da Revista Vértice (nº 450/1, 1982), e do volume em homenagem ao escritor Carlos de Oliveira (1921-1981), a folha do livro de curso de licenciatura (Histórico-Filosóficas) concluída em Coimbra, no ano de 1947, e correspondente ao poeta. E em que colaboraram alguns dos seus ilustres amigos e confrades da escrita.


sábado, 5 de outubro de 2019

Produtos Nacionais 26


Nunca será demais louvar a qualidade das bananas madeirenses. Embora mais pequenas, normalmente, do que as suas congéneres sul-americanas, as da Ilha da Madeira têm outro aroma e sabor incomparável.
Algo ingénuo, nos termos, embora fundamentado cientificamente, este anúncio é de Julho de 1940 e apareceu numa publicação conimbricence ( O Ponney ) editada para difundir as festas locais da Rainha Santa Isabel.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Uma fotografia, de vez em quando... (128)


Talvez a citação, no alto da parede, do lado direito, resulte de um pessimismo ontológico ou de uma dúvida realista, antecipando um futuro. O presente registado e retratado permite, no entanto, algum optimismo de expectativas. Quanto a leituras, ainda que académicas...

domingo, 7 de julho de 2019

Júbilo


Congratulo-me profundamente com a nomeação para o Património Mundial (Unesco) de três instituições portuguesas, mas não posso deixar de destacar, pessoalmente, o Museu Machado de Castro (Coimbra), que visitei há pouco tempo e que me surpreendeu, quer pela adequação perfeita dos espaços, quer pelo riquíssimo acervo.

Uma palavra especial para o criptopórtico romano pela sua singularidade imponente, apesar de subterrâneo. Mas, sobretudo, pela qualidade da estatuária que o Museu conserva. De obras belíssimas de João de Ruão, os apóstolos da Última Ceia em terracota, de Filipe Hodart, Mestre Pero e Nicolau Chanterenne, entre outros.
Nem que seja pelo prémio recente, o Museu Machado de Castro é merecedor de uma atenta visita.


sexta-feira, 5 de julho de 2019

Sintonias


Terá sido da humidade do criptopórtico do Machado de Castro? Ou da fresca esplanada da praça do Comércio conimbricense, ao fim da tarde?
O que é certo é que a constipação não me larga e me vem à ideia, como sempre nestes casos, uma chaleira das antigas, fervente e entupida, a expelir vapor. Ou um tecido de flanela grosseira húmida, que pinga constantemente. Pessoa era mais prosaico e simples, ao dizer que a metafísica era uma consequência de estar mal disposto. Seja como for, uma constipação em Julho é sempre uma maldição inesperada.
Não foram uns sonhos amáveis, que me têm povoado as noites por compensação, não sei como aguentaria esta provação...

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Ultimas aquisisições (15)


Foi uma aquisição muito especial, em que não despendi sequer um cêntimo.
O tesouro, foi HMJ quem o descobriu e me indicou o lugar: na cave da Faculdade de Letras, da Universidade de Coimbra. Da minha parte, apenas a tarefa de escolher, racional e sucintamente, os volumes que mais me interessavam, para trazer. A colheita consubstanciou-se em 5 revistas (melhor dizendo, calhamaços) Biblos (todas por abrir), 2 Boletins Culturais da CMP, 1 Revista Portuguesa de História, 1 folheto e, finalmente, um curioso dossiê de concorrência ao lugar de assistente da disciplina de Paleografia e Diplomática (anos de 1986 e 1998). Este último deve ter ido parar ao monte, por engano...


Gastei cerca de 3 horas, em duas surtidas de 1ª e 2ª escolhas, arrumando a parafernália, que estava disposta de forma caótica numa grande mesa e num balcão de madeira, com centenas de publicações de índole diversa, desde revistas de universidades sul-americanas até publicações de uma instituição cultural búlgara - era um mundo!
Inicialmente, a Biblos estivera marcada a 4 euros, depois remarcaram para 1,5 euros, até que a Faculdade ter-se-á decidido a  oferecer, gratuitamente, estes fundos decerto repetidos no seu acervo. Mas nem assim eles desapareceram, que a cultura em Portugal parece andar pelas ruas da amargura...


No tempo que gastei, na vindima, dezenas de estudantes passaram por lá e nem olharam. Apenas duas senhoras de meia idade me fizeram perguntas, folhearam algumas publicações e, rapidamente, abandonaram o local sem levarem nada.
No que trouxe, há colaborações notáveis, artigos interessantíssimos e temáticas muito especiais.
Destaque curioso para o dossiê de candidaturas ao lugar de assistente de Paleografia que contém informações curriculares dos pretendentes e até cartas manuscritas de recomendação de vários professores universitários, muitos deles ainda vivos.

domingo, 30 de junho de 2019

Letras, Coimbra juvenil


Os degraus estão lá, ainda. Mostrei-os a HJM. Onde, em 1962 (Maio?), se me deu o clique mental  político que acompanhou o som do puxar da culatra  da metralhadora de um polícia de choque que, integrado no pelotão repressivo, invadiu o campus universitário, pela primeira vez, em séculos. Até aí, eram os archeiros que cumpriam essa autoridade, a contento do poder e dos estudantes. Aberto o precedente, havia de repetir-se a intrusão policial, em 1969, com mais aparato e dureza.
Agora, os archeiros e os bedéis têm novas fardas e até tive dificuldade em identificá-los, mas os murais no interior de Letras são os mesmos, marcadamente figurativos como os soviéticos da mesma época. E o meu olhar fixou-se, como antigamente, no canto inferior direito e na imagem digna do cego Homero, que não envelhecera, na sua meia idade eterna de aedo e patrono das Humanidades conimbricenses. E, nessa recordação votiva, me veio à memória a amorável imagem de Maria Helena da Rocha Pereira (1925-2017), professora que me leccionou Cultura Clássica, há quase 60 anos...

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Coimbra, menina e velha


Só este espaço, em imagem, me pareceu mais pequeno. O resto de Coimbra cresceu, desmesuradamente, e no pior sentido. Em casas devolutas, em ruinas cujas paredes se esfarelam de humidade e chinoiseries pululantes, em hamburgarias, em lixo, também.
Descer do museu Machado de Castro até à Sé Velha, pelas ruelas exíguas, nos primeiros 60 metros, é tarefa deprimente pelo estado das casas, a seguir é tasca sim, tasca não, até ao Arco de Almedina. Fora as lojas para turistas low cost.
Por outro lado, nunca pensei que a degradação da pedra (de Ançã?) pudesse atingir tais proporções na Igreja de Sta. Cruz e na Sé Velha. Retirados ou erodidos, há uma série de nichos vazios nestes dois templos vetustos. Misérias, da que já foi a terceira cidade do país...
A Ferreira Borges vai ficando cada vez mais uma chinatown lúgubre, a que se segue uma rua da Sofia anárquica e suja, de comércios duvidosos. A praça do Comércio, entre a capela de Santiago e a igreja de S. Bartolomeu, está morta. Resta o dédalo labiríntico de pequeno comércio, no interior da Baixa, que cerca o beco do Manuel dos Ossos, onde já havia bicha à espera, ainda não eram 19 horas.
Não fora o movimento e vida na Alta, em volta dos polos universitários, Coimbra mais parecia uma cidade fantasma, visitada por turistas por todos os lados onde houvesse alguma coisa para ver, comer, beber ou fotografar. Ainda que fosse uma pindérica e ancuda tricana metálica, plantada no escadório, entre as duas Sés.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Migrações


Há fenómenos que me ultrapassam e tenho enorme dificuldade em percebê-los. Mas comecemos pelo princípio, enquadrando os factos, tal como os conheço.
Sempre conheci Coimbra desprovida de alfarrabistas. Mais precisamente, havia apenas uma pequeníssima loja de livros usados, na Alta, numa ruela que ia dar ao C. A. D. C. Sempre me perguntei, nesse início dos anos 60, se o potencial universitário de leitores não justificaria a existência de mais livreiros-alfarrabistas. Pelos vistos, não, fazendo jus ao provérbio: Em casa de ferreiro, espeto de pau.
Bastantes anos mais tarde, em Coimbra, se inaugurou a Livraria Miguel de Carvalho que, alguns anos depois (Março de 2018), talvez pela malfadada lei Cristas das rendas, se transferiu para a Figueira da Foz. Fiquei perplexo: então a balnear Figueira tem mais potenciais clientes do que a Coimbra universitária? Pareceu-me um contra-senso.
A entrada em vigor da lei Cristas, em Lisboa, provocou um autêntico pogrom nos alfarrabistas. Quase uma dezena de casas de livros usados desapareceu, duas ou três mudaram de sítio, várias outras estão ameaçadas, ainda hoje. Uma das que mudou de lugar foi a Livraria Artes e Letras, de Luís Gomes, que saiu da zona do Chiado para as Avenidas Novas.
E agora, para mim inexplicavelmente, ruma de Lisboa para Óbidos. Óbidos?!
Só posso desejar a Luís Gomes, e apesar de tudo, os melhores sucessos comerciais, nesta sua nova migração.

domingo, 2 de setembro de 2018

Em desamor de Coimbra


Há todo um imaginário e vocabulário próprios de Coimbra. Remanescente em quase toda a gente que por lá passou. Inesperadamente, e apesar de lá ter nascido, assim como, por dois anos, lá ter cabulado, caloiro e semi-puto, parece-me que fiquei imune a esse fascínio que a cidade parece despertar.
Dizia-me o bom amigo A. C. S., na Penha, aqui há uns meses, a propósito de outras coisas: Coimbra é uma cidade morta. Sem futuro. Formam-se e fogem... Devia ter razão. Logo que a troquei por Lisboa, com a sua liberdade mais ampla, prontamente a esqueci, sem saudades.
Ficaram-me algumas palavras que a praxe académica cultivava, alguns nomes de Repúblicas, alguns trinados de serenatas, na Sé Velha, um falar limpo sem grandes entoações nem sotaques. Mas pouco mais me vem à tona, para além do Mondego, que, pelo Verão, era um fiapo ou fiozinho de água envergonhado, que mal dava para refrescarmos os pés...

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Idiotismos 43


Ao que parece, no inglês norte-americano os hífens têm vindo a desaparecer, ultimamente, enquanto na Grã-Bretanha se têm mantido. O que tem provocado algumas reacções daqueles que costumam escrever para publicações dos dois países, devido às diferentes grafias.
Em Portugal o movimento, se calhar, vai em sentido inverso. Dei-me conta que o antigo regabofe, agora, para ser correcto, deve escrever-se: rega-bofe. Com hífen, portanto. Porquê, não sei, porque o facto já é anterior ao AO. Mas a palavra não deixa de ser curiosa, em si.
Entendida literalmente significaria: molhar os pulmões (bofe/bofes). Mas os dicionários registam que um rega-bofe é uma festa onde se come e bebe à farta ou, então: vida airada; mas também poderá significar folia ou divertimento em larga escala.
Pessoal ou subjectivamente, tenho rega-bofe como muito próximo do ad libitum da praxe académica coimbrã que gritado pelo chefe de trupe permitia que um infeliz caloiro fosse rapado totalmente, pelo grupo. Mas também me lembro do é fartar, vilanagem, que Álvaro Vaz de Almada, Conde de Avranches (1390-1449), pronunciou na batalha de Alfarrobeira, antes de se entregar à morte, lutando.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Memória (114)


Os jovens são normalmente cruéis, desatentos a atribuir idades aos mais velhos. E pouco rigorosos quanto à idade das crianças. Porque, de algum modo, a adolescência é uma encruzilhada: fazermos a viagem crescendo, naturalmente, ou nunca mais amadurecermos...
A primeira vez que vi a Profª. Dra. Maria Helena da Rocha Pereira (1925-2017), naquele enorme anfiteatro da Faculdade, em Coimbra, a Senhora pareceu-me muito idosa e pensei que deveria estar quase a reformar-se. Aquela espécie de chapéu-turbante, que costumava usar, também não ajudava.
Ora, nessa altura, a Professora não tinha sequer 40 anos. Tinha, no entanto, a autoridade da sabedoria sobre as civilizações grega e romana, além de uma fina sensibilidade em relação à poesia, antiga ou moderna. Maria Helena da Rocha Pereira faleceu hoje. Posso dizê-lo, com sinceridade: dos meus professores de Coimbra, é aquela que recordo mais afectuosamente.