quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Bibliofilia 201



Qualquer manuscrito, de índole literária, pode ser uma fonte inesgotável de investigação e descoberta. Tratando-se de um autógrafo o interesse e o valor aumentam consideravelmente. Não possuo, na minha biblioteca, muitos manuscritos, sendo que dois deles incluem poemas de Cruz e Silva (1731-1799), poeta de minha grande estima, que faleceu no Brasil. Um destes últimos, bem encadernado, é O Hyssope, numa versão provavelmente de finais do século XVIII, que terá pertencido ao estudioso F. M. de Sousa Viterbo (1845-1910). O segundo (em imagens), desencadernado, regista 22 odes de Elpino Nonacriense, pseudónimo do co-fundador da Arcádia Lusitana ou Olissiponense.
Inexplicavelmente, este manuscrito tem a página de guarda, em parte, riscada...




No que diz respeito às odes* de Cruz e Silva, este manuscrito não as abrange todas, mas tem a particularidade de incluir, ao que me parece, uma inédita (a 22ª na numeração), que está intitulada Pela aclamação dos Reis D. Maria 1ª e D. Pedro 3º.  A cerimónia terá tido lugar a 13 de Maio de 1777 e, por isso, esta ode inédita (?) terá sido escrita por essa altura para celebrar o faustoso acontecimento régio.


Vou transcrever o seu início:
1
Das virtudes guiados
Subi ao alto Trono, ó Reis augustos.
Nem sempre equivocos Fados
Se nos hão de mostrar surdos e injustos:
Abrem vasto Thezouro,
E nos mandad por vós a idade d'ouro.
...

* Para melhor esclarecimento sobre as odes do poeta Cruz e Silva, dá-se conta do seu número  nas várias edições impressas, cronologicamente:
- 1801 Imprensa da Universidade de Coimbra, inclui 34 odes pindáricas. Edição póstuma e primeira.
- 1815 Lisboa, Na Impressão Régia, contém 16 odes pindáricas (Que contém a primeira Parte das Odes Pindaricas.). Tomo V das Poesias de Antonio Diniz da Cruz e Silva...
- 1817 Lisboa, Na Impressão Régia, insere 30 odes (Que contém a segunda Parte das Odes Pindaricas.). Tomo VI das Poesias de Antonio Diniz da Cruz e Silva...
- 1820 Londres, Na Officina de T. C. Hansard, Peterboro'_Court, Fleet Street. Esta impressão, com 34 odes, segue maioritariamente a primeira edição conimbricense, de 1801, e "he conforme com um Manuscripto que não differe essencialmente da Edição de Coimbra de 1801, senão em alguns poucos versos e palavras, que..." segundo advertência dos editores, de 3 de Março de 1820.

Nota final: as iniciais (F. M. T. de A. M.), que surgem nos volumes (6) das Poesias de Cuz e Silva, editados inicialmente pela Typografia Lacerdina e depois pela Impressão Regia, referem-se a Francisco Manuel Trigoso de Aragão Morato (1777-1838), que dirigiu a organização e publicação dos poemas.

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