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quinta-feira, 25 de março de 2021

Citações CDLXI

 


Eva não tinha umbigo. Observa. Ventre sem mancha, pleno para toda a gravidez.

James Joyce (1882-1941), in A Portrait of the Artist as a Young Man (1916).

terça-feira, 24 de setembro de 2019

A propósito de leilões


Como grande parte das visitas que frequentam o Arpose vive em Portugal, uma exposição ou um leilão no estrangeiro serão, na maior parte dos casos e naturalmente, acontecimentos sem grande interesse directo - convém não esquecê-lo, em nome da realidade linear e objectiva. E, embora as viagens, hoje em dia, estejam ao preço da uva mijona e se note esse facto pela quantidade de turistas de alpergatas de plástico que nos visitam, nem todos se poderão deslocar a Berlim, Paris ou Londres, e muito menos a Nova Iorque, para assistir a um leilão de arte ou de livros, bem como para ver, com facilidade, uma exposição importante de um artista célebre, que por lá ocorra.

Seja como for, dentro de dois dias (26/9/2019), a Forum Auctions leva a efeito em Londres um importante leilão de manuscritos, incunábulos e  livros modernos, em primeiras edições.
Não tenho ilusões que grande parte das licitações serão feitas, não por amor ou paixão pela literatura, mas simplesmente por um mero acto racional de investimento que procura, em poucos anos, tirar lucros significativos na venda seguinte.
Se Dubliners, de James Joyce, ocupa, na sua edição original (1914), o lote 135, com uma estimativa de venda entre £ 100.000/ 150.000, valor que me não escandaliza excessivamente, que dizer do lote 148, Harry Potter and the Philosopher's Stone (1997), de J. K. Rowling, que aponta para uma venda previsível de 20.000 a 30.000 libras?

Quando o Orlando, na sua primeira edição (1928), de Virginia Woolf (lote 158) vai apenas a umas míseras e previsíveis £ 400/ 600, neste leilão da Forum Auctions...
Será que nenhum dos conhecidos tripeiros amigos da sra. Rowling, do tempo em que ela viveu no Porto, possui aquela edição do Potter com dust jacket?
É que seria uma boa altura para a pôr a render ou a trocar por um Porto Vintage, de qualidade imbatível e inalterável, até se abrir...

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Ultimas aquisições (13)


Aqui há cerca de 40 anos atrás, tive por casa Joyce, de empréstimo. Quero eu dizer, a versão brasileira (1966) de Antônio Houaiss, do Ulysses (1922), de James Joyce (1882-1941).
Ou por curiosidade minha ou pelo entusiasmo do meu falecido e saudoso amigo J. J C. G., o livro veio parar às minhas mãos e a casa, onde permaneceu durante pouco mais de seis meses.
Não sei se foi pelos tempos serem controversos, se pela minha falta de disposição para devassar a complexidade da obra, creio que não ultrapassei as primeiras 50 páginas de leitura.
Resolvi assim devolver o livro ao meu Amigo, confessando-lhe a minha incapacidade de leitor. Mas ficou-me a pedra no sapato, até hoje, em que comprei, por 18 euros, um exemplar no alfarrabista.
Vamos a ver, se agora vai...

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Uma canção tradicional irlandesa

Da canção Siúil a Rún não se conhece a sua data de origem, mas é referida por Joyce no seu Ulysses.
O vídeo foi filmado na Torre Museu de James Joyce, em Dublim (Sandycove). Nela se guardam alguns pertences pessoais do escritor irlandês, que lá passou uma semana, em 1904. Nomeadamente, a sua guitarra, que John Feeley utiliza na execução desta canção tradicional.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Divagações 124


É Claudio Magris (1939) que, no seu Alfabetos, fala de Praga como uma "cidade literária", no seu conceito mais restrito. Mas, no sentido amplo, por ordem de importância, e sobretudo no século XX, a sagrada trilogia de Veneza, Trieste e Praga foi um must de distinção de alguns escritores e poetas que se prezavam de o ser. Este fascínio, porventura estranho, contagiou muitos leitores e viajantes. Actual e infelizmente, no entanto, Veneza está condenada, principalmente, ao turismo democrático e popularucho, tendo perdido grande parte da sua população residente.
Também para pintores e para os amadores de pintura, no século XX, foram lugares míticos: Florença, a Provença, Paris e, depois, sucessivamente, Londres, Berlim, S. Francisco...
A tudo isto - creio - anda também associado algum snobismo intelectualóide, simultaneamente parolo, de alguns que se julgam ungidos do favor, graça e pertença a uma casta de eleitos e que, com alguma frequência, citam ou referem essas "cidades literárias" ou artísticas, pour épater le bourgeois. Visconti, como realizador e com dois dos seus filmes ("Senso", de 1954, e "Morte em Veneza", de 1971), também ajudou imenso à criação desses mitos, no caso particular, sobre esta cidade italiana do Adriático.
Se Joyce está ligado a Trieste, o seu nome leva-me sempre a Dublin. A Praga, chamava Kafka a sua "Mãezinha". E até acredito que Thomas Mann e Eugénio de Andrade tivessem falado de Veneza sinceramente, com verdadeiro afecto e profunda impressão, mas duvido que esse facto actue, hoje, nos seus leitores como se de um deslumbramento maravilhoso se tratasse, desencadeando, neles, um transe de hipnótico encantamento e atracção.

sábado, 27 de setembro de 2014

Música e Poesia LVIII : "The Lass of Aughrim"


Esta espécie de balada, The Lass of Aughrim, de origem irlandesa, já surgiu no Arpose, em 28/8/2010, secundarizada, porém, pelas dramáticas imagens que antecedem o final do filme "The Dead", de John Huston, baseado no conto homónimo de James Joyce, do livro "Dubliners".
A incontestável beleza da canção justifica que, aqui, a coloque de novo, na sua versão inteira. A guitarra usada no acompanhamento, e que foi restaurada, pertenceu ao próprio James Joyce.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Uma editora-livreira corajosa


Esta insólita fotografia, de autor desconhecido, tirada em Paris, nos anos 20 do século passado, e que faz capa do último TLS (nº 5789), fixou para a posteridade o irlandês James Joyce (1882-1941) e a editora-livreira norte-americana Sylvia Beach (1887-1962). Que, contra ventos e marés, e após recusas de várias editoras, resolveu publicar, em 1922, o romance Ulysses, de James Joyce.

sábado, 8 de setembro de 2012

A mosca e o cavalo


É conhecida a história de um sapateiro ateniense que, ao ver Apeles a pintar uma figura humana, fez algumas considerações sobre o desenho das sandálias representadas no quadro. O pintor grego acolheu, de bom grado e humildemente, as indicações do sapateiro, pela sua experiência profissional, e prometeu rectificar a pintura. Mas o crítico, entusiasmado com a recepção de Apeles aos seus reparos, resolveu continuar a criticar a obra. Aí, Apeles cortou cerce o diálogo, dizendo secamente: "Não vá o sapateiro além da chinela!"
Ora, no início deste mês de Agosto, o light e brasileiro escrevinhador Paulo Coelho (1947), em entrevista ao Jornal de S. Paulo, dignou-se declarar do alto da sua basófia, sobre James Joyce (1882-1941): "Os autores hoje querem impressionar os seus pares. Um dos livros que fez esse mal à humanidade foi «Ulysses» (clássico do irlandês James Joyce), que é só estilo. Não tem nada ali. Se você disseca "Ulysses", dá um tuite."
 As reacções ao disparate, não se fizeram esperar. A mais certeira, no entanto, pertenceu a Stuart Kelly, crítico de literatura no jornal The Guardian, que, citando Samuel Johnson, escreveu no seu Blogue: "Uma mosca pode picar um cavalo, mas o cavalo continua a ser um cavalo, e a mosca não mais que uma mosca."

segunda-feira, 27 de junho de 2011

João Guimarães Rosa


João Guimarães Rosa nasceu em 27 de Junho de 1908. Creio que é um autor de quem se gosta muito, ou não se gosta nada. Pertenço ao primeiro grupo. A leitura dos seus contos e dos seus romances leva-nos por caminhos difíceis, mas numa viagem maravilhosa. Com ele descobrimos as virtualidades infinitas da língua portuguesa, através de desmontagens e recriações das palavras, mas também pela ressurreição de antigos étimos que ele usa com um virtuosismo admirável. É como que um Joyce, sem secura, e porventura menos complexo. Por outro lado, abre-nos perspectivas novas em que sensibilidade, inteligência e um amplo domínio linguístico conduzem a diferentes entendimentos da realidade. Ou que, pelo menos, nos permitem supor outros mundos, talvez menos lógicos, mas muito mais largos e ricos de conteúdo. Mas o melhor é dar-lhe a palavra, através de um pequeno excerto de um dos quatro prefácios de "Tutaméia". Segue:
"...Menino, mandavam-me escovar em jejum os dentes, mal saído da cama. Eu fazia e obedecia. Sabe-se - aqui no planêta por ora tudo se processa com escassa autonomia de raciocínio. Mas, naquela ingrata época, disso eu ainda nem desconfiava. Faltavam-me o que contra ou pró a geral, obrigada escovação.
Ao menos  as duas vêzes por dia? À noite, a fim de retirar as partículas de comida, que enquanto o dormir não azedassem. De manhã...
Até que a luz nasceu do absurdo.
De manhã, razoável não seria primeiro bochechar com água ou algo, para abolir o amargo da bôca, o mingau-das-almas? E escovar, então, só depois do café com pão, renovador de detritos?
Desde aí, passei a efetuar assim o asseio. Durante anos, porém, em vários lugares, venho amiúde perguntando a outros; e sempre com já embotada surprêsa. Respondem-me - mulheres, homens, crianças, médicos, dentistas - que usam o velho, consagrado, comum modo, o que cedo me impunham. Cumprem o inexplicável.
Donde, enfim, simplesmente referir-se o motivo da escôva. ..."

sábado, 28 de agosto de 2010

Recomendado : Dois - The Dead (Dubliners)


John Huston que morreu em 28/8/1987, traduziu em imagens (e palavras), de forma admirável, Malcom Lowry (Debaixo do Vulcão), com o contributo imprescindível de Albert Finney, na figura do cônsul, e Hermann Melville (Moby Dick), com a importante ajuda de Gregory Peck. Mas num mimetismo fora do vulgar, conseguiu clonar, de forma excepcional, o conto "The dead", da colectânea "Dubliners", obra- prima de Joyce - na minha opinião. É toda uma vida, o monólogo final deste conto, e deste filme.