sábado, 8 de setembro de 2012

A mosca e o cavalo


É conhecida a história de um sapateiro ateniense que, ao ver Apeles a pintar uma figura humana, fez algumas considerações sobre o desenho das sandálias representadas no quadro. O pintor grego acolheu, de bom grado e humildemente, as indicações do sapateiro, pela sua experiência profissional, e prometeu rectificar a pintura. Mas o crítico, entusiasmado com a recepção de Apeles aos seus reparos, resolveu continuar a criticar a obra. Aí, Apeles cortou cerce o diálogo, dizendo secamente: "Não vá o sapateiro além da chinela!"
Ora, no início deste mês de Agosto, o light e brasileiro escrevinhador Paulo Coelho (1947), em entrevista ao Jornal de S. Paulo, dignou-se declarar do alto da sua basófia, sobre James Joyce (1882-1941): "Os autores hoje querem impressionar os seus pares. Um dos livros que fez esse mal à humanidade foi «Ulysses» (clássico do irlandês James Joyce), que é só estilo. Não tem nada ali. Se você disseca "Ulysses", dá um tuite."
 As reacções ao disparate, não se fizeram esperar. A mais certeira, no entanto, pertenceu a Stuart Kelly, crítico de literatura no jornal The Guardian, que, citando Samuel Johnson, escreveu no seu Blogue: "Uma mosca pode picar um cavalo, mas o cavalo continua a ser um cavalo, e a mosca não mais que uma mosca."

4 comentários:

  1. Desconhecia esta pequena polémica "coelhesca", e realmente é de aplicar o dito de Apeles....

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  2. Pode até ter-se dificuldade em ler "Ulisses",LB, embora haja exegeses muito boas, que ajudam. Mas bastaria ler "Dubliners" ou "Portrait of the Artist as Young Man" para ver a grandeza de Joyce. Felizmente que, como diz o povo, "Vozes de de burros não chegam ao céu".

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  3. Pois eu também não consegui ler Ulisses (tentei duas vezes, a última das quais depois de ter ido a Dublin), mas o resto do Joyce adoro. E há livros que fazem evoluir a língua que, segundo os especialistas, é o caso de Ulisses.

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  4. Totalmente de acordo. E, em jeito de metáfora, há-de haver sempre muito poucos grandes Alfaiates, mas uma imensidade de medíocres costureiras e coelhos bravos.

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