Não haverá muitas maneiras de pegar o dia. Pelos cornos. Nem mesmo de cernelha, hoje. No dia seguinte às pegas do fim-de-semana, C. B. arrastava os pés pelo corredor, num ruído surdo, plangente, dorido. Embora jovem ainda, o rosto denunciava rugas fundas de cruzamentos de sangue não aconselhados, nem legítimos. E o Inverno era, para ele, uma estação desencontrada, embora fosse verdade que descendia do navegador da Índia, pelo irmão Paulo.
Lembrei-me dele, hoje, em que parece que não temos por onde agarrar o dia. Pelo humor, será manifesto mau gosto, dadas as circunstâncias; pela poesia, afastamento imperdoável dos rituais da realidade. A opção dramática, recuso-a. Seria aceitável, apenas, a raiva de caras, com o touro, pegado pelos cornos como C. B. fazia. Num misto de desespero e alegria irada que lhe deixava sangue no rosto, mãos e peito, e os pés massacrados de dor, arrastando a vida. E um peso insustentável sobre os ombros.
Por motivos ponderosos, acabou por ser expulso da Comunidade. Estaria bem na Legião Estrangeira - pensei eu, na altura. Mas não foi assim. Apagou-se, por entre a multidão anónima, numa existência comum e sem história. Estou a vê-lo de costas, hoje, arrastando os pés, dorido, pelo corredor deste país, de rastos.
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