Não se pode dizer que, no Norte, aqui há 40/50 anos, e nas terras interiores, a oferta de peixe fosse muito alargada. O bacalhau, sempre, as sardinhas e carapaus, sobretudo no Verão; a pescada, e mais raramente, os pargos e os linguados. Não havia muito mais, no dia a dia. Semanalmente, passava um homem de bicicleta que se fazia anunciar tocando um cornetim de som desagradável: num pequeno cabaz, na retaguarda do velocípede, trazia peixes do rio, que eu detestava - tinham pouco sabor e muitas espinhas, finíssimas e traiçoeiras.
Mas por Agosto, anualmente, era a desforra e variedade. Lembro-me, especialmente, do "patêlo", que era uma espécie de raia pequena, muito saborosa. E que, em vez de espinhas, tinha cartilagens quebradiças e flexíveis. Frito e com batatas fritas e/ou arroz de tomate, era o meu prato de peixe preferido, na Póvoa de Varzim. Mas, era sabido, a partir de Setembro lá voltava a escassez.
Por isso, só em finais dos anos 80, travei conhecimento com o Peixe-galo e com a excelência dos seus filetes, acompanhados de um malandrinho e verde arroz de grelos. A "vernissage" foi no "1º de Maio", ao Bairro Alto, num jantar com a minha amiga B., que tinha a preocupação e faculdade de me descobrir e indicar bons restaurantes. Admirei então aquelas lascas brancas e onduladas, consistentes e saborosas, ficando devoto fiel. E, embora, não seja muito frequente nas ementas de restaurantes, sempre que há, opto.
Ora, há dias, num pequeno mercado outrabandista, o que é que eu vejo, na banca da nossa peixeira de referência? Um magnífico, e único, Peixe-galo, no esplendor da sua feiura de teleósteo, a 9,20 euros o quilo. Não hesitei um segundo, mas perguntei: "Pode prepará-lo em filetes?" A peixeira respondeu, surpreendida: "Mas ele é bom, é grelhado!" Embatuquei, mas assim veio e assim foi - grelhado e maravilhoso, a saber a mar. Com arroz de tomate e pimento vermelho. Acompanhado de perto, na excelência, por um Chardonnay, 13,5º, da colheita de 2011, produzido pela Casa Santos Lima.
Ah! esquecia-me de dizer que a sobremesa foi uma tarte de maçã-reineta, que HMJ aprimorou na perfeição. E que vai em imagem, para que conste.
Não sei se já comi peixe-galo grelhado, mas que gosto gosto imenso dele em filetes...
ResponderEliminarComprovo que a tarte estava deliciosa. :)
Vale o que vale, MR, mas grelhado ainda é melhor.
ResponderEliminarE obrigado pelo testemunho!..:-)