sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A foleirice e o desemprego

Ontem, o Chiado era uma algazarra gárrula e alarve de capas e batinas pretas praxando uns púberes caloiros e caloiras à futrica. O alarido foi pela noite adiante como, de tarde, já os tinha visto no Metro, suados e bebidos, bem agasalhados nos seus trajes negros académicos - que, em Lisboa, são de recentíssimo uso. Exibem-nos como quem mostra ténis Nike para identificar o estatuto...
Quando, nos anos 60, deixei Coimbra para vir estudar para Lisboa, foi uma libertação poder abandonar a capa, a batina e o colete negros, e voltar a trajar à civil. Era no tempo em que  as etiquetas das marcas, discretamente, vinham no avesso da roupa, fosse ela qual fosse. Por outro lado, o ambiente universitário de Lisboa era muito mais arejado do que o de Coimbra, fechado e quase reaccionário nas atitudes e praxes.
Mas, também nisto, a globalização estandardizou tudo. Até nos costumes académicos.
E, ontem, ao ver aquele negrume juvenil, não pude deixar de pensar, melancolicamente, que era uma espécie de luto antecipado pelo desemprego que os espera, dentro em breve...

6 comentários:

  1. Aproveito para desabafar que detesto praxes e detesto ver as pessoas em trajes académicos. Felizmente, por um acaso do destino, não fui praxada. Por vontade própria não praxei ninguém. Para ir a uma visita de estudo, não fui à queima das fitas. E congratulo-me por isso.
    Acho um costume degradante, sobretudo sabendo algumas coisas que se passaram em praxes - e nem me refiro àquelas que chegam aos tribunais. O costume lisboeta, muito mais interessante e saudável, era no fim do curso fazer um livro de curso com poemas e caricaturas dos alunos e professores. Penso que não há nada mais ridículo e triste do que ver adultos aos gritos, sobre-vestidos de preto (com o calor que está!), a maltratar outros jovens-adultos. É este o nosso futuro e qualquer dia ou vão para o desemprego ou (pior ainda?) vão ser ministros e mandar em nós. Acho que explica muita coisa... Desculpe o desabafo.

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  2. Pois é, meus Amigos, é um espectáculo deprimente e, tanta vez, de uma selvajaria animalesca...

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  3. Para Margarida Elias:
    pobres professores de tal gentinha brutinha e ordinária, porque a linguagem é ofensiva pelo nível "abaixo de cão". Quanto aos "exercícios selvagens" = praxe, nem falo, porque é do mais reaccionário que se pode imaginar. O nível "mental" não deve dar para mais do que pedir "ditar apontamentos" ou solicitar as antigas sebentas (= da natureza do sebo !). Um retrocesso que envergonha !
    Insurgi-me, ontem, numa estação do Metro, porque não entendo o aproveitamento do espaço público para tamanha demonstração do "poder selvagem". O que faria a Administração do Metro se grupos de desempregados utilizassem o espaço para se manifestar ???

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