sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Sobre Poesia, em geral, e Antonio Machado, em particular

Donde vêm os poemas? Se eu tivesse que dar uma resposta simples, diria que são provocados por um conflito interior que procura um equilíbrio exterior; que resultam do desejo humano de perpetuar um momento ou, nebulosamente, de uma violência íntima que exige expressão concreta. E do desejo, na sua forma mais ampla. Seja como for, os temas matriciais ou arquétipos com que se exprime um poema, não serão muitos e penso que os cinco dedos de uma mão chegarão para contá-los. Não os vou referir.
Há pouco mais de dois anos e meio (6/2/2010), traduzi para o amigo blogue Prosimetron um poema, de que gosto muito pela simplicidade aparente, de Antonio Machado (1875-1939). Tentei, cumulativamente, traçar uma explicação pessoal para o desenvolvimento criativo da poesia, assim: a Torre seria a Giralda (Sevilha), a dama seria Leonor Izquierdo (mulher do poeta, que morreu muito jovem), e o cavaleiro seria a Morte. Esqueci-me de referir, na altura, o peso da tradição, ou seja, o que fica do que passa.
Recentemente, tive conhecimento de uma canção sefardita, castelhana, do séc. XII, onde os genes do poema de Antonio Machado se podem, quase todos, encontrar. Não sei se o Poeta a conhecia. A canção está, aqui, num poste de 19/9/2012, e chama-se: En la mar hay una torre. Se substituirmos a dama pela pomba (paloma), a praça pelo mar e o cavaleiro pelo marinheiro, a sobreposição do tema é evidente. Porque, também, o desejo, instintos e preocupações do Homem se perpetuam, interminavelmente...
Segue o poema traduzido, de Antonio Machado, para cotejo:

A praça tem uma torre,
a torre tem um balcão,
o balcão tem uma dama, 
a dama uma branca flor.
Passou lá um cavaleiro
- quem sabe porque passou! -
e levou consigo a praça,
com sua torre e balcão,
com o balcão e a dama,
a dama e a branca flor.

4 comentários:

  1. Gostei muito deste espécie de lengalenga de António Machado e da apresentação.

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  2. Obrigado, MR. É muito bonito, este poema linear e sugestivo.

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  3. Bom dia. Obrigado.
    Todos temos uma torre e ... uma pomba... Que se vão transformando em outros objectos e símbolos, com múltiplos significados, conforme o momento em que são olhados pelos olhos da nossa imaginação.
    Para mim o cavaleiro é um dos quatro do Apocalipse... O branco? Ou o negro? Pensei no Dürer e na sua maravilhosa gravura.

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  4. Boa tarde, JAD.
    Concordo com o que escreveu. E quanto mais impreciso for o poema, a mais pessoas se pode adaptar.

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