
Ao escolher um vídeo para acompanhar o poste sobre o filme "O Cinema Paraíso" (Em tempo, e para os nostálgicos), de Giuseppe Tornatore, dei-me conta de que o realizador italiano tinha "amputado" ou reduzido, de uma forma sucinta, as cenas, e a história, no final. Deixou, no entanto, na versão oficial, um vestígio ténue que lança a dúvida, ou obriga, a quem vê e se apercebe, a preencher esse espaço em branco, e a supôr a outra parte do enredo.
Na versão comercial acabada, na cena do funeral, a viúva de Alfredo (Philippe Noiret), o homem que projectava os filmes e que cegara, diz para Totó (Jacques Perrin) que passe, depois, lá por casa, porque o falecido tinha deixado 2 coisas para ele. Nesta versão final, apenas 1 coisa, a caixa de bobine com peliculas cortadas e cenas de beijos censuradas pelo Padre, é entregue a Totó. A segunda coisa, da "herança" não mais é referida.
Ora, pela outra versão, apercebi-me de que a segunda coisa seria a indicação do paradeiro (ou forma de contactar) de Ellena, que fora o primeiro e grande amor adolescente de Totó e que ele nunca mais conseguira reencontrar. Esse facto vai permitir, na versão inicial de Tornatore, o reencontro dos dois ex-namorados, 30 anos depois. Que nessa versão se voltam a encontrar, fisicamente, em Giancaldo, para que o amor renasça.
Mas não foi esta a versão do final que Giuseppe Tornatore escolheu, para definitiva. Seguiu talvez a máxima: "não voltes aos lugares onde já foste feliz". Ele lá saberia porquê...