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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Quarta-feira de cinzas


Havia ainda "um cheiro salutar e honesto a pão de forno" (como diz Cesário Verde), no interior do lugar, mas notava-se que todos tínhamos acordado tarde. Não fora o perfume excessivo da balzaquiana, que saíu pouco antes de mim, e as frutas expostas nas bancadas exteriores ter-me-iam ficado na memória olfactiva da manhã.
Na tabacaria, concentrada sobre a banqueta, a mulher-a-dias preenchia, esperançada, o euromilhões. Uma velhota afagava com a unha uma raspadinha. Eu comprei tabaco e o jornal.
Um silêncio matinal de domingo enchia a rua - a todos era permitido acordar devagar. A escola da zona, fábrica maior de ruídos nos dias úteis, estava calada e sossegada. Uma empregada de bata lavava, parcimoniosa e lenta, a soleira da entrada. O tempo pascia, tranquilo. Não havia aulas, nem algazarra.
O sol brilhava nítido, no alto. Pacífico entrei, portuguesmente, em casa, na beatitude dos dias sem história - os mais felizes. Despertei, apenas, assustado, com a fotografia da Troika, na primeira página do jornal.