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sexta-feira, 8 de março de 2013

Da Janela do Aposento 31: A dança do cânone literário



Ainda existem, de facto, jornais e semanários que estimulam a reflexão, embora o seu número seja cada vez menor, tanto a nível nacional como europeu. Para mim, o semanário alemão DIE ZEIT consegue essa proeza de continuar a oferecer “pasto” aos seus leitores, nas mais diversas áreas: política, economia, viagens, culinária e literatura. E é sobre a literatura, mais propriamente a “dança do cânone literário” que se debruça um editor, numa entrevista publicada hoje no referido semanário.
O entrevistado, responsável da editora Manesse, que se dedica à publicação de clássicos – antigos e modernos – da literatura universal, enumera, de forma clara e sucinta, as alterações rápidas que se verificam no mundo editorial e de leitura.
A editora Manesse, fundada em 1944 na Suiça, criou uma “Biblioteca da Literatura Universal” que, ao lado de edições mais económicas da Reclam, forneciam a “burguesia cultural” – como refere o editor – com os clássicos. Esse consumo cultural e tradicional dos leitores, formados por funcionários públicos, médicos, juristas, professores e “até políticos”, entrou em declínio nos anos setenta. E como diz o editor, também foi por essa altura que começou a “dança do cânone literário”.
De facto, para leitura dos clássicos recorria-se e recorre-se, ainda hoje, à editora Manesse e à Reclam, esta com edições mais fracas, enquanto a Manesse ainda fabrica livros com os cadernos cosidos, como se pode observar, com interesse, na página da editora em que se explica o processo de encadernação. Mas, para já, duas imagens, do mesmo título, publicado pelas editoras referidas.



Como sobrevive, então, a editora Manesse, integrada actualmente na Random House, nestes novos tempos, em que a necessidade social procura, permanentemente, “a novidade e a encenação” ? Numa altura em que o ciclo dos livros, em vez dos 2 ou 3 anos de há 20 ou 30 anos, passou para uns escassos 6 meses, sem condições comerciais para os chamados “longsellers”. A opção foi para os clássicos modernos.
Contudo, o número de exemplares, em traduções novas ou revistas, para garantir a rentabilidade mínima faz pensar. O editor refere que são, no mínimo, 10.000 exemplares vendidos para pagar a edição. Em obras acima de 600 páginas é preciso que haja uma segunda edição para não perder dinheiro.
Com o abandono da leitura dos clássicos no ensino, em Portugal e também na Alemanha, editoras para a publicação do “cânone literário” terão, certamente, um triste fim.

Post de HMJ