Ainda existem, de
facto, jornais e semanários que estimulam a reflexão, embora o seu número seja
cada vez menor, tanto a nível nacional como europeu. Para mim, o semanário
alemão DIE ZEIT consegue essa proeza de continuar a oferecer “pasto” aos seus
leitores, nas mais diversas áreas: política, economia, viagens, culinária e
literatura. E é sobre a literatura, mais propriamente a “dança do cânone
literário” que se debruça um editor, numa entrevista publicada hoje no referido
semanário.
O entrevistado,
responsável da editora Manesse, que se dedica à publicação de clássicos –
antigos e modernos – da literatura universal, enumera, de forma clara e
sucinta, as alterações rápidas que se verificam no mundo editorial e de
leitura.
A editora Manesse,
fundada em 1944 na Suiça, criou uma “Biblioteca da Literatura Universal” que,
ao lado de edições mais económicas da Reclam, forneciam a “burguesia cultural”
– como refere o editor – com os clássicos. Esse consumo cultural e tradicional
dos leitores, formados por funcionários públicos, médicos, juristas,
professores e “até políticos”, entrou em declínio nos anos setenta. E como diz
o editor, também foi por essa altura que começou a “dança do cânone literário”.
De facto, para leitura
dos clássicos recorria-se e recorre-se, ainda hoje, à editora Manesse e à
Reclam, esta com edições mais fracas, enquanto a Manesse ainda fabrica livros
com os cadernos cosidos, como se pode observar, com interesse, na página da
editora em que se explica o processo de encadernação. Mas, para já, duas
imagens, do mesmo título, publicado pelas editoras referidas.
Como sobrevive, então,
a editora Manesse, integrada actualmente na Random House, nestes novos tempos,
em que a necessidade social procura, permanentemente, “a novidade e a
encenação” ? Numa altura em que o ciclo dos livros, em vez dos 2 ou 3 anos de
há 20 ou 30 anos, passou para uns escassos 6 meses, sem condições comerciais
para os chamados “longsellers”. A opção foi para os clássicos modernos.
Contudo, o número de
exemplares, em traduções novas ou revistas, para garantir a rentabilidade
mínima faz pensar. O editor refere que são, no mínimo, 10.000 exemplares
vendidos para pagar a edição. Em obras acima de 600 páginas é preciso que haja
uma segunda edição para não perder dinheiro.
Com o abandono da
leitura dos clássicos no ensino, em Portugal e também na Alemanha, editoras
para a publicação do “cânone literário” terão, certamente, um triste fim.
Post de HMJ