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sexta-feira, 26 de junho de 2020

Esquecidos (1)


Escritor, tradutor, médico e jornalista, de seu nome completo Rodrigo Botelho da Fonseca Paganino Júnior, nasceu em Lisboa a 2 de Agosto de 1835. Teve vida breve, pois veio a falecer, em Carnide (Lisboa), a 22 de Setembro de 1863.


Foi amigo de Herculano e era figura muito conhecida nos meios literários lisboetas, sobretudo pela colaboração frequente na imprensa da época. A sua obra, em prosa, mais celebrada foram os Contos do Tio Joaquim,  editados em 1861, tinha Rodrigo Paganino apenas 24 anos de idade.
As diversas histórias da literatura portuguesa, a partir daí, foram-no sempre referindo.


O livro (306 páginas) foi muito falado e elogiado, embora com temas rurais e enredos singelos moralizantes, pressagiando, de algum modo, a carreira mais solidamente estruturada de Júlio Dinis (1839-1871), mais tarde. Tenho no entanto grandes dúvidas que hoje o autor ainda seja lido. Ou até mesmo referido. A insistência no pendor algo romântico da sua escrita afastará porventura os mais cépticos leitores empedernidos...
O meu exemplar, da edição original, tem dedicatória à irmã do escritor, Maria Máxima. Está em bom estado, encadernado, e custou-me 15 euros, recentemente (tinha sido remarcado dos 25 iniciais).


Óscar Lopes (1917-2013) denomina de "contos rústicos" estes, com alguma propriedade... Mesmo assim, na sua simplicidade e elegância da escrita corredia, podem ainda hoje ler-se desenfadadamente.

sexta-feira, 2 de março de 2018

Dos contos, como ficção

Não sei se hoje os leitores contumazes costumam ler muitos contos. Mas creio que as editoras preferem editar aqueles tijolos, que vemos muito pelos transportes públicos. E que permitem aos putativos e ocasionais leitores, sem grande concentração (eu creio que também há leitura automática!...), entreter, sem pensarem muito e à tona, o seu tempo de deslocação.



Durante uma boa parte da minha vida, sobretudo até à maturidade, eu comprava muitos livros de contos. E havia bons contistas portugueses. O meu tempo livre não era muito, mas era muito intercalado e havia contos, de 3 ou 4 páginas, admiráveis, que deixavam um rasto prolongado, e imorredouro, na minha memória. Estou a lembrar-me de pequenas narrativas de Somerset Maugam ou de Guy de Maupassant, por exemplo.



Na altura, eu não era esquisito. Quanto aos de temática policial, Edgar Allan Poe ou Conan Doyle eram dos meus preferidos. Na índole histórica, Alexandre Herculano e as suas Lendas e Narrativas mereciam-me emoção e respeito. De pura ficção, mais moderna, para ser justo, terei de lembrar vários contos de  Jorge de Sena e Cardoso Pires. E muitos outros, que seria fastidioso, aqui, enumerar.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Da leitura (22)


Vou a cerca de 4/5 do fim de uma leitura que me tem sido extremamente agradável. E é muito pouco provável que a parte final do livro me venha a anular o prazer de o ter lido. A obra, do escritor Mário de Carvalho (1944), tem o enorme título de: Quem disser o contrário é porque tem razão - Letras sem tretas, e foi editada, pela primeira vez, em 2014.
Quanto ao grafismo da capa, não será de meu agrado, mas a qualidade do produto, que embrulha, faz-me esquecer aquele desatino foleiro da Porto Editora. Por outro lado, eu teria grandes dúvidas em classificar este livro, assim ambiciosamente, como de ensaio e, para entre família, eu diria que é, apenas, (um livro) de conselhos a um futuro escritor.
Assim um pouco como as Cartas a um jovem poeta, de Rilke, mas destinado a um público de promissores prosadores e, ao contrário da seriedade rilkeana, aquele está recheado de uma quase constante ironia, de fundo. E bem actualizado, pela referência (sorridente e compassiva) a Workshops e a essa ciência oculta a que, nas modernas universidades, se dá o nome disciplinar e esperançoso de Escrita Criativa (que vai dando de comer a muitos publicitários-escritores-catedráticos, de terceira divisão da nossa paróquia literária nacional). 
Perene boa disposição é o que este livro de Mário de Carvalho nos traz, com a frescura de uma escrita num português limpo, claro e divertido. Vou transcrever três pequenas citações da obra, só para aguçar o apetite de algum futuro presumível leitor:

"Problema diferente é o da procrastinação. Significa, literalmente, «deixar para amanhã», mas aplica-se a toda a vontade de adiar o trabalho da escrita. Vergílio Ferreira disse, em tempos velhos, que nunca escreveria tal palavra. A verdade é que ela actualmente tem curso desenfreado." (pg. 67)
...
"Conta-se que a velha criada de Alexandre Herculano, quando um jornalista lhe perguntou o que fazia o mestre desterrado em Vale de Lobos, respondeu: «Nada. Nadinha. Passa os dias a ler e escrever.»" (pg. 70)
...
"Em Portugal costuma mencionar-se a este propósito (distracções de escritor) o caso de uma escritora (não sei quem foi) que deixou uma personagem grávida durante vários anos." (pg. 120)

Quem quiser balancear, a contrapeso, as agruras destes nossos tempos, pois que compre e leia este livro, em que irá encontrar leveza divertida, mas também palavras sábias, durante algumas horas de leitura. Em suma: eis uma obra bem escrita, e de qualidade muito acima das burundangas que se vão publicando (e lendo, infelizmente), em Portugal.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Sobre a Língua (portuguesa) e seus cultores


Eu respeito os frades, e não receio plagiar Eça de Queiroz afirmando que faz falta em cada geração um Castilho, imitador de frades; mas a Língua não faz profissão e não pode viver eternamente encapuchada no recolhimento de uma cela monástica. Herculano, mestre da prosa narrativa, mas propenso ao estilo tonítruo e oratório, tinha a mão um tanto pesada para esta tarefa. Coube a Garrett essa operosa e espinhosa missão, que nunca será suficientemente agradecida. Nem todos os autores se dispunham a descer num café do Cartaxo para o descrever, e levantar daí a mão para nos iniciar nos encantos da charneca ribatejana.

Álvaro J. da Costa Pimpão (1902-1984), in Gente Grada (pg. 24).

Nota pessoal: Álvaro Júlio da Costa Pimpão, tendo sido reitor de Liceu, foi depois leitor de português em Bordéus, vindo mais tarde a tornar-se professor catedrático da Universidade de Coimbra. Tive-o como mestre de Teoria da Literatura, creio que em 1963. Como episódio curioso posso informar que usava cerca de duas aulas para analisar a forma como Eça descrevia os modos diversos do bater das horas de relógio nos seus romances...

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Idiotismos 35


Expressões há que já nem damos por elas, de tanto as usarmos no dia a dia, outras que se foram desapropriando do tempo, e é com surpresa que as vamos encontrar nos clássicos, sob a pátina respeitável dos séculos. Outras ainda que, de súbito, nos interrogam a meio de uma conversa, perguntando-nos a nós mesmos a sua origem e razão. 
Ao ver tanta ave pelos céus e campos alentejanos, dei-me a pensar que até os pássaros têm o seu destino traçado, de nascença. Às águias e às gaivotas, ou mesmo às cegonhas, ninguém as caça e mata para comer. Outro tanto não acontece às perdizes que nos caíram no goto, como prato de eleição, ou aos tordos, infelizes, que os caçadores perseguem incansavelmente.
No meio destas variações, gastronómicas ou não, se estabelecem também oposições curiosas. Se cair no goto significa engraçarmos com, ou gostarmos de, a expressão entrou-me no goto pode ser uma aflição, porque nos engasgamos e podemos sufocar, já que goto é a forma popular de glote, que é o local da faringe com a função de saída e entrada do ar nos brônquios e pulmões.

Nota complementar: a primeira vez que a expressão cair no goto aparece, em literatura, data de 1555, na Comédia "Eufrosina", de Jorge Ferreira de Vasconcelos. Herculano utilizou-a também em "O Monge de Cister" (1848), bem como Camilo no romance "Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado" (1863).

agradecimentos a A. de A. M., pela colaboração e ajuda.

terça-feira, 29 de março de 2016

Mercearias Finas 111 : a Tinto Cão


Richard Mayson (Os Vinhos e Vinhas de Portugal, 2005) chama-lhe fascinante, mas a melhor definição desta casta de uvas, de origem duriense, deu-ma HMJ: um fino rústico. Mayson acrescenta que a Tinto Cão tem baixa produção e amadurece tarde. Além disso, precisa de uma sábia exposição solar que lhe apure o justo equilíbrio entre a acidez e o álcool, que a faz famosa. Mas isto é no Douro...
Andei anos, aspirando provar um vinho da Tinto Cão, estreme, a preço razoável - é normalmente caro. Até porque já a conhecia lotada, dos bons vinhos tintos de Alves de Sousa: Quinta da Gaivosa e Quinta das Caldas. Calhou, há dias, realizar o meu desejo, através da Casa Santos Lima, mediante preço convidativo: 5,99 euros, bem merecidos. Produzido na região que fora da antiga quinta de Herculano, na Estremadura.
Poderoso, rústico mas rico em sabor, este vinho da Tinto Cão 2011, monocasta, com 14%, que está para as curvas dos próximos anos, desafrontou com galhardia uma Favada com Entrecosto. E melhor se bateu, no final, com um Queijo de Cabra artesanal. É vinho para comidas fortes, de Inverno, na boa tradição lusitana. Deixa boas memórias no palato, este néctar precioso.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Uma louvável iniciativa (44)


Histórias singulares, as lendas nacionais personificam também, ou caracterizam a psicologia dos povos destacando, muitas vezes, a ingenuidade imaginária, mas também a bravura e o sentimento amoroso. Rocha Martins e Gentil Marques, em tempos não muito distantes, publicaram obras sobre essa temática tão interessante. Para não falar de Herculano e as suas Lendas e Narrativas.
Chegou a vez ao Café Chave d'Ouro chamar a si o tema, emitindo um conjunto de 20 pacotinhos de açúcar, diferentes, abordando lendas ligadas a algumas terras portuguesas. De Freixo de Espada à Cinta (nº 18) e D. Dinis, até ao saboroso Eu vi Ana no Castelo (nº 16), passando pelas duas bonitas meninas de Belas (nº 19), por aqui se contam, de forma sucinta, algumas histórias de encantar...

segunda-feira, 27 de julho de 2015

O quintal-bonsai


Conheci alguém que se sentava, ao fim da tarde, num banco de madeira, a contemplar, com delícia provável, o progresso da Natureza e o resultado do seu trabalho, na pequena horta familiar. E, vê-lo assim em contemplação silenciosa e feliz, fazia-me recordar a velha fotografia emblemática de Alexandre Herculano, em Vale de Lobos, derreado aparentemente, e sentado num cesto vindimeiro, em abandono relaxante, depois do trabalho agrícola. Convém lembrar que o nosso grande historiador produzia, na sua quinta, o melhor azeite português, na altura.
A Norte, no minifúndio secular, o meu quintal de infância era minúsculo: couves tronchas, alguns tomates, ameixas vermelhas deliciosas que, quando a árvore secou, foram substituidas por limões (...fruto de inverno/ por onde passa/ o verão.), escassas alfaces tenras, porque o terreno era muito limitado, embora fosse tratado com zelo exemplar por minha Mãe e pela sacrificada Maria.
Agora, ainda é menor o espaço, mas as emoções não se alteraram muito. Ao ver estes poucos e pequenos, lindos tomates, as pequenas azeitonas a crescer, os três limões rugosos, na varanda a leste, posso afirmar, sem vergonha nenhuma, que me sinto feliz.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Pinacoteca Pessoal 90


O motivo, fantasioso, foi a lenda que terá tido origem nos monges de Santa Cruz (Coimbra), para glorificarem D. Afonso Henriques. Que, se a batalha de Ourique existiu, é altamente duvidoso que Cristo, na ocasião, tenha aparecido ao nosso primeiro rei. Mas foram precisos muitos anos, até a palavra forte e honrada de Alexandre Herculano vir desmontar a fantasia hagiográfica do chamado milagre de Ourique.
O quadro homónimo, de Domingos Sequeira (1768-1837), foi pintado antes, entre 1791 e 1794, segundo Maria de Lourdes Riobom, e foi para o Brasil, com a família real portuguesa que fugia à invasão dos exércitos napoleónicos, no início de oitocentos. A pintura andou perdida, como se perdeu (para sempre?) "A morte de Camões", de Domingos Sequeira.
Já no século XXI - creio - este "Milagre de Ourique" (em imagem) foi redescoberto, identificado e localizado no Museu Louis-Philippe, de Eu (Normandia). Teria pertencido (dote?) a  Isabel de Orleans e Bragança (1911-2003), neta do imperador Pedro II do Brasil, que casou, em 1931, com Henrique, conde de Paris, pretendente ao trono de França.

terça-feira, 11 de março de 2014

História e ficção - algumas questões


Na esteira de Herculano, também Rebelo da Silva foi um romancista conceituado.
Será que a História exige, dos seus artífices, a criatividade da imaginação ou, pelo contrário, eles apenas devem obedecer a uma rigorosa neutralidade realista que os poupe ao desvario das efabulações?
Seja como for, creio que Alexandre Herculano e Rebelo da Silva foram os únicos historiadores portugueses, desde sempre e até há pouco, a dedicarem-se também à ficção. E nesta ambivalência será possível, num mesmo homem de letras, compartimentar rigorosamente a ficção, do rigor científico, no espírito humano?
Claro que há sub-espécies... De pretensos historiadores que efabulam sobre História, e até ganham bom dinheiro com isso, sem grandes preocupações de consciência.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Bibliofilia 95


Esta obra de Alexandre Herculano, em três volumes, "Da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal "(1854/1855/1859), editada pela Imprensa Nacional, é considerada rara, por alguns alfarrabistas, muito embora apareça com alguma frequência, em leilões.
O meu exemplar dessa primeira edição, com um Ex-libris naïf mas curioso, custou-me no início dos anos 80, do século passado, Esc. 3.500$00, num alfarrabista de Lisboa, e está encadernado e em bom estado.
Em 1964, o "Mundo do Livro" (Catálogo 4), no seu lote 2715, anunciava a venda dos três volumes, por Esc. 500$00. Em Junho de 1992, no leilão Silva's/Pedro Azevedo (lote 439), a mesma obra foi arrematada por Esc. 16.000$00. Finalmente, na Net, hoje, no sítio da Cimélio Books (Cascais), apenas o 1º e o 3º volumes (obra incompleta, portanto) estão marcados para venda por US$ 140,07 dólares, o que me parece excessivo.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Os desencantos de Herculano


 Ao folhear os livros que incluí em Bibliofilia 81, ontem, dei por mim a ler uma nota final de Alexandre Herculano (1810-1877), de que já não me lembrava, porque a li há muito. São cerca de 8 páginas de um português escrito puríssimo, de tensa varonilidade, de ironia, mas onde transparecem as decepções que o Escritor teve, quer na vida pública, quer por causa da sua obra literária e de historiador. Deixo aqui o início da nota de Herculano, para partilha, bem como um pequeno excerto bem humorado e irónico, posterior. Seguem:

"A Bagatella litteraria que hoje (1848) offerecemos ao publico, escripta ha oito ou nove annos, tinha ficado incompleta e esquecida quando em 1840 circumstancias, que não importa narrar aqui, baldearam o auctor no charco da vida publica.
A Providencia, que provavelmente não o achou assás corrompido para fazer delle um homem d'estado, deu-lhe uma hora de contrição, em que podesse desempégar-se, escorrer o lodo dos vestidos, lavar o rosto, e voltar ao gremio do mundo moral." (...)
"Apesar de não ter sido culpa da vontade, mas do entendimento, o extravio politico do auctor deste livro, a divina justiça condemnou-o a remir o bestial peccado que commettera, pondo-lhe ás costas uma cruz, e mandando-o caminhar por agro e escabroso sarçal. A cruz que o Senhor lhe impoz foi a monomania de escrever a  historia desta terra com lealdade e consciencia. Para isso, entendeu elle que era necessario estudar e meditar muito, e durante mais de tres annos, entregue á realisação desse pensamento, guardou um silêncio litterario raras vezes interrompido. Quando suppos que era tempo de provocar o julgamento dos esforços que fizera, disse ao seu paiz: - «Eis aqui um modesto specimen do methodo que eu creio dever seguir-se ao escrever a tua historia.»
Foi, porém, então, que os seus hombros tiveram de vergar sob o peso da cruz que tomára. Voz em grita, a sciencia infusa começou a bradar - escandalo! - blasphemia! - attentado! - Chiava, grasnava, piava, vociferava. O pobre cruciferario parou, e poz-se a escutar aquella matinada e revolta. Accusavam-no, calumniavam-no sanctamente, chamavam-lhe manicheu, iconoclasta, lutherano, proclamavam-no traidor á patria. Os mais zelosos (e, cumpre confessa-lo, os mais cortezes e honestos) pegaram na penna, e provaram-lhe até a evidencia que a arte historica não consistia no que elle pensava; consistia em cirzir algumas lendas de velhas com as narrativas semsaboronas de meia duzia de in folios, rabiscados por quatro frades milagreiros, tolos ou velhacos. Fizeram-lhe ver claro como a luz do meio-dia, que o primeiro mister do verdadeiro historiador portuguez era o demonstrar por um sem numero de cruas batalhas (as quaes, na hypothese de não passarem de brigas de saloios, se podiam magnificar, melhor que nunca, depois da bella invenção dos telescopios de Herschell), que a expressão do valor nacional se resumia com admiravel exacção na seguinte fórmula de patriotismo:
Portuguez 1 igual a Gallegos 4
Dito.........1 = Castelhanos 3
Dito.........1 = Francezes ou inglezes 2
Dito.........1 = Flamengos 2,91
Dito.........1 = Allemães e mais cainçalha do norte 2,50
Dito.........1 = Mouros 527
Dito.........1 = Turcos, abexins, parsios e rumes 73
Dito.........1 = Chins e lilliputianos 1.293
Dito.........1 = Patagões 1 e 3/4
que isto é que era dizer a verdade, ter amor de patria, e escrever historia; e que o mais era historia (...)."

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Bibliofilia 81 : Herculano


Não são livros raros, mas muito estimados por mim, e andam comigo há mais de 50 anos, porque terão sido comprados em 1961 ou 1962, na Livraria Académica, no Porto. Aos antigos proprietários, bem simpáticos e sabedores. Dei pelos 2 volumes de "O Monje de Cistér", de Alexandre Herculano, um pouco menos de Esc. 70$00 (preço marcado), que os livreiros (sogro e genro) faziam-me sempre uma pequena atenção...
Disse, a princípio, que o livro não era raro, porque se trata apenas da segunda edição (1859) da obra de Herculano, que saíu, originalmente, em 1848. A marca de posse manuscrita aponta, talvez, para o primeiro proprietário: "A. Alves Mendes, Porto, 1864".
Os dois volumes da obra de Alexandre Herculano, que integram O Monasticom encontram-se, ambos, encadernados e em bom estado de conservação.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Citações CXIII : Herculano


"...Aprender quasi sempre é esquecer; affirmar quasi sempre é negar: esquecer o que aprendemos; negar o que nós próprios affirmámos. É por isso que, no meio de milhões de duvidas, cada geração lega á que lhe succede poucas verdades incontrastaveis, e que a lentidão do progresso real é um bem triste e desenganador dynamometro de tão limitada potencia das faculdades humanas. Não assim pelo que toca ás formulas externas das manifestações do espirito. O incompleto, o barbaro, o vicioso, o tolhido, o desordenado, o obscuro não são o revolutear do oceano das idéas: são simplesmente ignorancia ou preguiçoso desalinho, mais ou menos indesculpaveis. ..."

Alexandre Herculano, in Advertencia Prévia aos "Opusculos" (Tomo I, 2º ed., 1873).

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Carlos Malheiro Dias



Romancista e historiador, homem de espírito largo, mas convicções profundas, Carlos Malheiro Dias nasceu no Porto, a 13 de Agosto de 1875, exilou-se no Brasil após a implantação da República, em 1910, regressou a Portugal, em 1935, e veio a morrer em Lisboa, a 19 de Outubro de 1941. Está sepultado no cemitério da Atouguia, em Guimarães, em jazigo sumptuoso e alto (creio que da família). 
Fervoroso monárquico, até ao fim da vida, não teve o menor problema em apadrinhar, livre e com espírito democrático, um dos primeiros livros de Aquilino Ribeiro, de contos, intitulado "Jardim das Tormentas" (1913). E, assim, explica o facto: "...Dir-se-ia, a um primeiro e superficial exame, que as nossas existências, por seguirem trajectórias diversíssimas, nunca se encontrariam. E, contudo, eis-nos aqui, fraternalmente juntos - e esta fraternidade, não é de Abel e Caim. - Porquê? Nenhum de nós fez às suas opiniões o mínimo sacrifício em benefício desta camaradagem. Eu me conservo fiel às convicções em que se educou o meu espírito, e nelas venero um património familiar. O Sr. Aquilino Ribeiro não necessita de que eu venha servir de fiador à constância inquebrantável da sua fé de revolucionário. ..."
O cenário de "Os Teles de Albergaria" (1910) - cuja capa da primeira edição, impressa no Brasil, se mostra em imagem - tem Guimarães como referência. Com "O Bobo", de Alexandre Herculano, e "Humus" de Raul Brandão (embora este o não diga), o romance de Malheiro Dias completa a trindade maior da ficção portuguesa, com localização vimaranense.
Anda esquecido Carlos Malheiro Dias, nos leitores de hoje, e é pena. Com tanta burundanga que se publica, hoje, em Portugal, a prosa escorreita e elegante dos seus romances vale bem o tempo de ser lida. Ou relida, para quem já a conheça.

domingo, 5 de agosto de 2012

No Mercado, logo pela manhã, com preços e tudo


Ver uma profissional competente "descascar" uma boa pescada e transformá-la em filetes, é um espectáculo digno de apreciação, logo pela manhã. A pescada, do alto, estava a 8,75 euros, mas nós tinhamos vindo por causa da sardinha que, fresca e apetitosa, se oferecia a 10,50, o quilo. Protestei. A filha (licenciada, mas trabalhadora) da dona da Banca que, hoje, estava de candeias às avessas com a mãe, replicou-me que, pelo Sto. António, tinha chegado aos 15 euros.
Entretanto o robalo e a dourada, pesca à linha e alto-mar, pousavam na Banca, por igual, a 17,50. Valia-nos o popular carapau pequeno, a 3,95 - e estava fresco. Lá vieram 6 sardinhas, bem cheias e gordas, como manda a lei. Mais uns pimentos vermelhinhos, pepino, umas simpáticas maçãs riscadinhas, pêssegos, e assim se foi compondo o almoço de domingo. Que será acompanhado por um Sauvignon Blanc, da Casa Santos Lima, em cuja Quinta o Herculano produzia, no séc. XIX, o melhor azeite de Portugal. Quando se abandonou à Lavoura e deixou, de lado, a História...

sábado, 3 de março de 2012

Bulhão Pato e Herculano


Nascido em Bilbau, a 3 de Março de 1829, filho de pais portugueses, Raimundo António de Bulhão Pato veio a falecer no, então, pequeno lugarejo outrabandista, Monte da Caparica, com 83 anos de idade. Caçador apaixonado, poeta, amigo dos seus amigos e gourmet que deixou seu nome a algumas receitas portuguesas, Bulhão Pato era também um homem supersticioso. Conta-se que, no último ano em que Alexandre Herculano festejou os seus anos, Bulhão Pato, que era um dos convidados, apercebeu-se preocupado que eram 13 à mesa. Para desfazer o enguiço, terão ido buscar a filha do caseiro, mas a moçoila, pouco habituada a grandes comezainas, teve um começo de indigestão, abandonou a mesa, e os convivas voltaram a ser 13. Em menos de 6 meses, em Setembro de 1877, Herculano viria a falecer. E, a partir daí, a superstição de Bulhão Pato ainda se tornou maior.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

A melhor da semana


Tivesse o insigne cibernauta escrito, por exemplo: mestre Ouguet (David), ou Afonso Domingues, Batalha ou a célebre frase "A abóbada não caíu...a abóbada não cairá!", e o pobre e mentecapto motor de busca do Google talvez tivesse percebido, mesmo na sua cegueira apalermada.
Mas o cibernauta, curioso e trapalhão, escreveu pernóstico, como search words: "a abobora o livro literatura de alexandre herculano", e foi o desastre total - até porque "não se deve confundir Germano com o género humano", como diz o povo, e com razão.
Mas o motor de busca do Google é caridoso e esforçado e, em vez de mandar "às malvas" o cibernauta desleixado, ou "abaixo de Braga", como ele merecia, humildemente indicou-lhe o Arpose, concretamente, e perante o mistério, o poste "Favoritos XLVII : Conan Doyle" de 22/1/2011.
Caíram, assim, as pedras todas da abóbada sobre o mestre Ouguet e, lá no outro mundo, o cego do Afonso Domingues deve ter-se rido às gargalhadas...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Lembrar Herculano, no dia de Portugal


"...Aprender quasi sempre é esquecer; affirmar quasi sempre é negar: esquecer o que aprendemos; negar o que nós proprios affirmámos. É por isso que, no meio de milhões de dúvidas, cada geração lega à que lhe succede poucas verdades incontrastaveis, e que a lentidão do progresso real é um bem triste e desenganador dynamometro de tão limitada potencia das faculdades humanas. Não assim pelo que toca às formulas externas das manifestações do espírito. O incompleto, o barbaro, o vicioso, o tolhido, o desordenado, o obscuro não são o revolutear do oceano das idéas: são simplesmente ignorancia ou preguiçoso desalinho, mais ou menos indesculpaveis. ..."
Alexandre Herculano, in Advertencia Prévia aos Opusculos (1873).

sábado, 23 de abril de 2011

Latino Coelho e os adjectivos régios



José Maria Latino Coelho (1825-1891) é, ainda hoje, um dos melhores e mais distintos portugueses do nosso séc. XIX. General de Engenharia, escreveu a "História Política e Militar de Portugal...", foi Ministro da Marinha e lente da Escola Politécnica. Sabia grego, era um apaixonado pela Matemática ("...uma das mais gratas voluptuosidades do entendimento") e um estudioso das Ciências Naturais. Mas era, também, um homem bem disposto e com humor. Alexandre Herculano dizia dele: "Latino sabe tudo e o que não sabe, adivinha." Era também conhecido pelos seus ditos oportunos e saídas curiosas e humoradas. A um amigo, uma vez, aconselhou: "Quando uma pessoa tem razão, deve argumentar como homem. Quando não tem, deve discutir como mulher." - pese embora algum machismo da tirada... De outra vez, e vem a propósito dos tempos de hoje, dizia: "Em Portugal, há coisas muito curiosas. Quando se quer engrandecer qualquer coisa, chama-se «real». Armada Real, Real Academia, Real Teatro de S. Carlos, etc. Mas quando se trata de calote, então chama-se-lhe Dívida Nacional ou Dívida Pública". Hoje, ao que parece, os portugueses procederam a algumas inversões, neste particular. Dizemos Teatro Nacional D. Maria II mas, também, Dívida Soberana. Mudam-se os tempos, mudam-se os adjectivos...