1. Uma pomba escanzelada, de penas já arrepiadas pela morte, escolheu um canto do peitoril da janela, no primeiro andar. Está de costas para a rua, roçagando a pedra áspera, como se não quisesse que a vissem, nos momentos finais. Ou para recentrar a sua solidão animal. E não ter saudades da terra.
2. No jacarandá, cinco tufos de flores lilazes anunciam o Outono, lá do alto. A memória biológica (Brasil) continua a fazê-lo florir duas vezes por ano. Pela nossa Primavera, e pela Primavera americana - nosso Outono. Árvore feliz que tem duas juventudes, cada ano. Mas também duas mortes, temporárias.
3. Ainda na Av. D. João V, numa das últimas casas, antes de chegar ao Rato, um casal estrangeiro, de pé, apanha sol, na varanda. Ela, em trajes sumários, loura, ele, peito ao léu, já cor de lagosta. A praia citadina inventada, um pouco a despropósito.
4. No limiar do Outono, a juventude despede-se de nós, à boca do Metro. Mas deixou-me um Einaudi, para ouvir. E quase fico feliz, por momentos. O sol ainda brilha, embora anunciem chuva, para amanhã.
Bons dias!
ResponderEliminarTerá que ser boa tarde!, pela minha parte, MR.
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