Sabermos, exacta e previamente, a data da nossa morte seria decerto uma tragédia prática, embora talvez pudesse ser útil para arrumarmos a nossa vida de forma conveniente. E para nos despedirmos e acertarmos contas definitivas com todos aqueles que merecessem a nossa estima e afecto. Por outro lado, essa previsão do fim iria perturbar, profundamente, a nossa forma natural de viver esses últimos dias. E introduzir um desespero e ansiedade acrescida na nossa rotina de vida.
Surpreendo-me, muitas vezes, extraordinariamente por ver a enorme herança que alguns artistas deixaram apesar da sua curta vida. Mozart, Schubert, Rimbaud, Van Gogh, são bons exemplos dessa afirmação. Portugueses, Nobre e Cesário, Soares dos Reis e Henrique Pousão, certificam de qualidade maior esse exercício notável de viver.
Como se todos eles possuíssem, íntimo, interior, um relógio biológico inconsciente que os obrigasse e apressasse a dizer ou fazer, nesses exíguos anos de vida, tudo aquilo que, de melhor, tinham para escrever, fazer ou pintar se, porventura, viessem a ter uma longa vida ou, pelo menos, de duração média e normal.